A Cemig vive um per�odo de incertezas ap�s o Superior Tribunal de Justi�a (STJ) determinar que a estatal mineira n�o tem direito a renovar a concess�o de importantes ativos na �rea de gera��o. Sem as hidrel�tricas de Jaguara, S�o Sim�o e Miranda, que juntas correspondem a aproximadamente um ter�o de sua capacidade instalada de gera��o, a Cemig precisar� definir quais ser�o seus pr�ximos passos. E essa escolha, segundo analistas ouvidos, deve ter uma forte influ�ncia pol�tica.
O desempenho dos pap�is mostra que os investidores n�o consideram, neste momento, que a Cemig ter� �xito. Enquanto isso, os advogados da companhia se preparam para questionar a decis�o do STJ e cogitam, inclusive, conduzir uma discuss�o jur�dica no STF, a qual n�o deve ser conclu�da em um prazo inferior a um ou dois anos.
Ao mesmo tempo, a diretoria da Cemig deixa claro que negocia com a Uni�o alternativas para manter o controle dos ativos, em troca de assumir protagonismo em um ciclo de novos investimentos em gera��o el�trica. "Acredito que a Cemig buscar� algum tipo de acordo no STF, ou tentar�, politicamente, algum acordo com a Uni�o", prev� o advogado Pierre Moreau, do Moreau Advogados.
Embora a possibilidade de a Cemig alcan�ar um acordo com o governo federal seja real, dado que o governador de Minas Gerais (controlador da Cemig), Fernando Pimentel, � aliado pol�tico da presidente Dilma Rousseff, o mercado trabalha neste momento com a expectativa de que a Cemig n�o conseguir� renovar a concess�o das usinas nas condi��es desejadas. E, nesse cen�rio, a postura pol�tica da Cemig tamb�m pode ser preponderante para determinar o futuro da companhia.
"Para pensarmos em como ficar� a Cemig sem as tr�s usinas, precisamos saber qual ser� a postura do governo mineiro em rela��o a essa situa��o. Se uma empresa tem perda importante de receita, ela tamb�m precisa ter uma redu��o relevante de despesa. Mas n�o sabemos qual ser� a postura da nova diretoria", afirma o analista da consultoria Lopes Filho, Alexandre Montes. O ajuste de despesas dependeria do corte de pessoas.
A preocupa��o do analista tem respaldo na situa��o enfrentada pela Eletrobras. A estatal federal, ao contr�rio da Cemig, aceitou as condi��es impostas pelo governo federal no processo de renova��o das concess�es. Manteve os ativos, mas viu a receita com a venda de energia cair substancialmente. Com isso, amargou preju�zos de R$ 6,9 bilh�es em 2012, R$ 6,3 bilh�es em 2013 e R$ 3 bilh�es em 2014.
O impacto na Cemig tamb�m ser� expressivo. Estimativas do Ita� BBA e do JP Morgan sugerem que o balan�o de 2015 da estatal mineira mostrar� lucro l�quido inferior a R$ 1 bilh�o. No ano passado, a estatal reportou lucro de R$ 3,1 bilh�es. O balan�o j� refletiria, dessa forma, o fim das concess�es das usinas de Jaguara e S�o Sim�o. A concess�o da hidrel�trica Miranda se encerra apenas no final de 2016.
"Neste momento essa empresa � uma inc�gnita do ponto de vista financeiro, j� que ela depende de pol�tica e Justi�a. O risco de errar o diagn�stico � bem grande", pondera o analista-chefe da Gradual Investimentos, Daniel Marques.
Expans�o
Embora descarte a possibilidade de n�o conseguir renovar a concess�o das tr�s usinas - a Cemig divulgou em maio passado dados e proje��es futuras que inclu�am tais opera��es -, a companhia j� deu passos importantes para continuar a crescer.
Criada oficialmente em 2015, a partir da uni�o de ativos da estatal mineira e da Vale, a Alian�a Gera��o de Energia surge com a ambi��o de se tornar uma das maiores empresas de gera��o do Pa�s nos pr�ximos anos. O movimento seria poss�vel porque a empresa n�o est� endividada, ao contr�rio da Cemig, e j� nasce com faturamento potencial de R$ 1 bilh�o no ano.
"A montagem da Alian�a aponta a dire��o para a qual a Cemig caminha, no longo prazo, para tentar compensar a perda de receita. Mas, se a empresa ser� agressiva nos leil�es ou n�o, ainda n�o � poss�vel saber", diz Montes, da Lopes Filho. "A empresa precisa ter responsabilidade com a taxa interna de retorno (TIR), mas ainda existem muitas d�vidas em rela��o � postura da administra��o atual", complementou.
A Cemig poderia, por exemplo, participar da concorr�ncia pelos ativos que vai deixar de operar em fun��o do fim das concess�es - s�o 17 usinas menores, al�m das tr�s grandes hidrel�tricas. Mas a rentabilidade desses ativos, cuja energia ser� disponibilizada no sistema de cotas, � bastante limitada quando comparada aos padr�es atuais. Por isso, a disputa por novos projetos poderia garantir maior rentabilidade.
Preocupa��o
A desconfian�a de Montes em rela��o � postura da administra��o atual tem origem ainda em declara��es dadas por aliados de Pimentel durante as elei��es para o governo de Minas Gerais. Integrantes da campanha do ent�o candidato petista afirmaram que a Cemig deveria assumir uma postura mais pr�-sociedade e menos pr�-mercado, em resposta a um discurso mais pr�-mercado do antigo governo do PSDB. Durante o processo eleitoral, as a��es da Cemig chegaram a se desvalorizar quase 30%.
Ap�s a elei��o de Pimentel e a nomea��o de Mauro Borges para a presid�ncia da Cemig, o discurso mudou. "Temos compromisso com nossos consumidores e com os nossos acionistas. Assim ser� a gest�o da nova diretoria da Cemig", afirmou Borges semanas ap�s assumir o cargo. O executivo tamb�m defendeu a continuidade da trajet�ria de crescimento da Cemig, estrat�gia que elevou a companhia ao posto de el�trica mais valiosa do Pa�s - hoje ela ocupa a terceira posi��o no ranking, atr�s de Tractebel e CPFL Energia.
Para continuar a crescer, a Cemig depende do desfecho do impasse sobre as concess�es, ao mesmo tempo em que precisar� ter compet�ncia para participar do processo de consolida��o no segmento de distribui��o de energia. Aquisi��es de ativos nas �reas de transmiss�o e gera��o, e tamb�m a participa��o em grandes projetos hidrel�tricos, s�o alternativas de crescimento para a estatal mineira, analisa o JP Morgan.