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Estado de Minas FIM DA LINHA

Fim da ferrovia Bahia-Minas deixou deserto de empregos

Sem os trilhos da Baiminas, o que era sin�mino de ganha-p�o virou desesperan�a, afastando os moradores mais jovens


postado em 04/08/2015 00:12 / atualizado em 04/08/2015 09:17

Maria do Carmo Nunes Silva, na época em que a Baiminas estava ativa, como os mais antigos se referem à linha, ganhou a vida negociando o feijão que a família plantava numa roça no Jequitinhonha(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Maria do Carmo Nunes Silva, na �poca em que a Baiminas estava ativa, como os mais antigos se referem � linha, ganhou a vida negociando o feij�o que a fam�lia plantava numa ro�a no Jequitinhonha (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Argolo (BA), Caravelas (BA) e Ara�ua� (MG) –
A saudade dos quatro filhos que “foram morar bem longe” corta o cora��o de Maria do Carmo Silva, de 66 anos, como se fosse a�o de navalha. Ela n�o v� Chico, o primog�nito, desde 2010. Dineide, Paula e Renata aparecem “ano sim, ano n�o”, conta. Todos deixaram Ara�ua�, no Vale do Jequitinhonha, em busca de emprego, diante das oportunidades escassas de trabalho em v�rias cidades que um dia tiveram suas economias alimentadas pela Ferrovia Bahia-Minas.

A estrada de ferro, constru�da em 1881 e desativada em 1966, ligava o Sul da Bahia ao Jequitinhonha. No auge das opera��es, empregou 2 mil pessoas e fomentou o trabalho em diferentes setores. Hoje, diferentemente daquela �poca, o desemprego reina no solo que foi cortado pelos trilhos, como mostra mais uma reportagem da s�rie que o EM e o em.com.br publicam desde domingo em alus�o aos 50 anos do fim da linha.

Em Ara�ua�, ponto final da locomotiva, o saldo entre as vagas formais geradas e os postos de trabalho fechados ficou negativo em 21 vagas no acumulado do primeiro semestre de 2015. Em Te�filo Otoni, que na �poca da maria-fuma�a foi a terceira cidade mais populosa do estado, atr�s de Belo Horizonte e Juiz de Fora, a estat�stica � mais alarmante: 513 empregos eliminados. Os saldos do trabalho com carteira assinada tamb�m ficaram no vermelho em Francisco S�, onde houve 153 demitidos a mais que os contratados; Serra dos Aimor�s (108) e Carlos Chagas (8).

Os dados s�o do Minist�rio do Trabalho e Emprego (MTE). Em todo o Brasil, o saldo de vagas ficou negativo em 111,2 mil de janeiro a junho. Foram 1.453.335 pessoaso admitidas e 1.564.534 demitidas.

“O Chico tem 33 anos. Foi para o interior de S�o Paulo, para uma usina. N�o vejo meu filho h� cinco anos. As meninas tamb�m est�o l�, no corte de cana ou em casa de fam�lia. A saudade deles d�i. E muita”, lamenta Maria, que na �poca em que a Baiminas estava ativa, como os mais antigos se referem � linha, ganhou a vida negociando o feij�o que a fam�lia plantava numa ro�a no Jequitinhonha.

Boa parte da clientela dela chegava nos vag�es da Baiminas. O trem corria num peda�o de ch�o que hoje � o quintal da casa da ex-agricultora. “Bem ali”, faz quest�o de mostrar da janela, de onde costuma desejar a volta em definitivo de Dineide, Paula e Renata. Para que isso ocorra, por�m, o emprego precisa voltar a brotar no solo das redondezas.

Enquanto o sonho de Maria n�o se realiza, o ex�rcito de desempregados leva muita gente a recorrer � informalidade. � o que restou a Gilmar Pinheiro Ara�jo, um negociante de cacha�a em casca de coco. “Cinco reais cada uma. Est� barato, mas dif�cil de vender, porque o povo n�o tem grana”, afirma. Gilmar mora em Argolo, distrito de Nova Vi�osa, na Bahia, cujo nome homenageia o engenheiro Miguel Teive de Argolo, idealizador da ferrovia.

“Ele trouxe o progresso, que n�o existe mais por aqui”, reclama Gilmar, f� do compositor Fernando Brant (1946-2015), que percorreu o trecho e comp�s Ponta de Areia, m�sica que fala da Baiminas. Gilmar aprendeu a letra, sucesso na voz de Milton Nascimento e de outros cantores, ainda na juventude. Duas das estrofes descrevem a situa��o atual da pra�a onde a esta��o de Argolo foi constru�da. O im�vel foi jogado ao ch�o na d�cada de 1970, o que reduziu o charme do lugarejo: “Na pra�a vazia, um grito, um ai / Casas esquecidas, vi�vas nos portais”, diz a can��o.

Urbano Maria, de 65, tamb�m conhece a letra. Saudosista, ele garante que o povoado j� foi o centro econ�mico da regi�o: “Digo que era at� maior que Nova Vi�osa. Quando arrancaram os trilhos, as coisas boas da economia foram tamb�m”. O MTE n�o divulga a gera��o de vagas em distritos e povoados, mas Nova Vi�osa n�o fugiu � situa��o em n�vel nacional. Entre janeiro e junho deste ano, 325 postos de trabalho foram fechados na cidade.

RETROCESSO

O fim da Baiminas n�o prejudicou apenas a gera��o de empregos do Sul da Bahia ao Jequitinhonha. Em Ponta de Areia, in�cio da linha, o veterano Valdemar da Costa Manoel, de 83, conta que a ferrovia mantinha um hospital. Sobraram as ru�nas. “Havia at� ag�ncia banc�ria”, recorda o ex-ferrovi�rio.

Valdemar trabalhou na Baiminas por 17 anos. “Foi uma �poca que deixou saudade em muita gente. A m�quina partia daqui �s 4h. Chegava a Ara�ua� quatro dias depois. Eu ia junto, porque era o guarda-freio. Sabe o que eu fazia? Ajudava o trem a frear”, disse, torcendo para que um dia novas locomotivas ajudem a acelerar a economia das cidades que ficaram �rf�s da Bahia-Minas.


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