
“Voc� pode optar pelo preto (feij�o), que tem aquele gostinho de feijoada.” � com 'jeitinho' que o dono do restaurante Bom Dia, Jos� Ferreira Lopes, tenta convencer a clientela a optar pelo feij�o-preto, no lugar do tipo Carioca, que encareceu 58% de janeiro a junho na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. No mesmo per�odo, o �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) - 15, pr�via do indicador oficial do pa�s, subiu 4,90% na Grande BH, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). Embora tenha se tornado o vil�o da infla��o, o gr�o n�o desapareceu do tradicional prato feito (PF), mas tem pressionado os comerciantes a buscar op��es para n�o perder o consumidor, seja adotando a substitui��o do ingrediente caro, seja contendo a margem de lucro ou reduzindo custos.
Queridinho nos almo�os dos mineiros fora de casa, o PF, em outros tempos, teria sido remarcado, como reconhecem os empres�rios ouvidos pelo Estado de Minas. Por�m, com receio de mais um tombo no movimento dos restaurantes, a refei��o t�pica segue intacta, “como um milagre”, na defini��o de Jos� Ferreira Lopes. Para quem n�o aceita o feij�o-preto, ele serve o Carioquinha � mesa. N�o � para menos. No primeiro semestre, dados do IPCA-15 divulgados na �ltima semana pelo IBGE indicaram aumento do pre�o do arroz de 5,21% no pa�s e 5,58% na Grande BH. A lingui�a, outro item t�pico do PF, sofreu alta de pre�os de 11,14% em BH e entorno, o ovo encareceu 20,94% e a batata-inglesa, 54,49% (veja quadro).
“Todos os itens subiram muito, mas n�o tem como repassar a alta para o cliente, porque, sen�o, vamos perd�-lo”, comenta o dono do Imp�rio Restaurante e Bar, Adriano Caetano. Localizado no Mercado do Cruzeiro, no bairro hom�nimo, o estabelecimento de Adriano cobra R$ 14 pelo PF e R$ 18 pela feijoada oferecidas nas sextas-feiras e nos fins de semana. Ele conta que, por causa da crise e tamb�m da concorr�ncia com outros restaurantes no mercado, o movimento caiu 30%. “Pagava R$ 198 por 60 quilos de feij�o e, na semana passada, paguei R$ 300 pela mesma quantidade. Nunca havia ficado no vermelho, mas estou nessa situa��o desde dezembro”, conta.
Neste ano, Adriano se viu obrigado a demitir tr�s funcion�rios e est� tentando reduzir os custos. “Agora estou com a margem de lucro minguada. Antes, ficava aberto at� mais tarde. Hoje, n�o estico mais o hor�rio. Estou tentando negociar os pre�os dos itens com os fornecedores, mas aumentar o pre�o do PF, n�o tem jeito”, refor�a.
O mesmo tem feito o tradicional Caf� Palhares, instalado no Centro do BH. Segundo Andr� Ferreira, gerente do local, o conhecido e queridinho Caol, h� mais de 50 anos servido ali, n�o sofreu altera��o no valor pago pelo consumidor, nem na quantidade servida. Vendido a R$ 16, 90, o prato leva ovo, arroz, farofa com feij�o, couve e lingui�a, ou outra carne escolhida pelo cliente.
“Diminu�mos o lucro, porque n�o podemos repassar essas altas. Servimos, por dia, de 300 a 400 refei��es e, como somos tradicionais e temos um p�blico fiel, qualquer aumento no pre�o n�o seria bom”, comenta Andr�. Ele diz que, para equilibrar as contas, a equipe do restaurante tem tentado economizar energia e no uso de produtos b�sicos, como at� mesmo detergentes. “Com a crise, j� tivemos uma redu��o de 20% da clientela, n�o podemos perder mais. Em outros anos, seria l�gico o aumento do PF, mas, desta vez, o valor n�o muda”, afirma.
Op��o incerta
Uma das medidas esperadas pelos empres�rios para sair do sufoco, pelo menos no que diz respeito ao feij�o, seria a libera��o da importa��o do feij�o de pa�ses do Mercosul, M�xico e tamb�m da China, anunciada pelo presidente interino Michel Temer. A inten��o do governo � de incentivar as redes varejistas a importar um volume maior desse item tradicional da mesa brasileira, para, ent�o, for�ar a queda dos pre�os no mercado interno. No entanto, al�m de desagradar produtores, a ind�stria, supermercados e especialistas apontaram que, com a alta do d�lar, � poss�vel que o gr�o chegue �s prateleiras ainda caro, o que pode durar at� o fim do ano.
Sem certeza alguma do que vir�, pelo menos para o PF, Jos� Ferreira Lopes, do Restaurante Bom Dia, instalado no Mercado Novo de BH, diz n�o haver muitas sa�das e a tentativa de substituir o tipo preto pelo Carioquinha tem lhe rendido um bom retorno. “Eu falo que parece com o gosto da feijoada e o cliente aceita, mas para aqueles que n�o gostam mesmo, coloco o Carioca sem acr�scimo de custo”, confessa. Com a substitui��o, ele conseguiu redu��o de 30% dos gastos. Os pre�os dos pratos feitos servidos no estabelecimento variam de R$ 8 a R$ 11. “Se eu aumentar, perco. Tenho que ganhar no volume”, avisa.
No self-service, Lopes conseguiu dar um jeitinho. Sem retirar o feij�o Carioca da oferta, ele aumentou o pre�o do quilo em R$ 1, para R$ 16,90. “N�o mexi no PF, mas mexi no self-service”, diz. Ele afirma que, curiosamente, depois que o feij�o sofreu remarca��o, tem percebido que o movimento de clientes no estabelecimento cresceu 10%.
Cliente fiel, mas exigente

Ao conter o repasse dos aumentos de pre�os dos itens fundamentais do tradicional prato feito, os comerciantes de bares e restaurantes t�m tido resultado importante, a satisfa��o da clientela. “Frequento aqui h� mais de 50 anos e, sempre, refor�o o que digo: o PF � bem servido e tem pre�o justo”, comenta o analista de sistemas Nilson Cota, cliente fiel do Caf� Palhares. Ele conta que, com a alta do feij�o e outros itens, os gastos com o almo�o n�o ficam por menos de R$ 23. “Aqui, como mais e pago menos. Eles mantiveram o valor, mesmo com esse aumento. Isso � muito bom para n�s”, avalia.
A pol�tica do com�rcio especializado tamb�m agradou o supervisor operacional Odorindo Pio Alvarenga. Ele diz que almo�a no restaurante Bom Dia, instalado no Mercado Novo de Belo Horizonte, toda semana e paga um pre�o justo para o que est� sendo servido. “Reclamo com eles que vem comida demais no prato. O valor � R$ 8 e, para mim, est� barato”, diz. No s�bado, por exemplo, ele pediu frango com quiabo e aceitou o feij�o do tipo preto. “Parece feijoada n�? Mas ficou gostoso”, aprovou. (LE)
AS AMEA�AS
Confira o aumento dos pre�os de ingredientes t�picos do PF de janeiro a junho na Grande BH
» Arroz 5,58%
» Feij�o Carioca 58,12%
» Batata Inglesa 54,49%
» Lingui�a 11,14%
» Ovo 20,94%
» IPCA-15 4,90%
Fonte: IBGE
Palavra de especialista
Paulo Vieira, consultor e professor de finan�as
N�o custa mudar para outro restaurante
“A atitude desses restaurantes � natural at� determinado momento. Todas as empresas t�m um ponto de equil�brio e, por isso, essa pol�tica de n�o reajustar tem que ser transit�ria, uma vez que se deixa de apurar ganhos para segurar clientes. Muitos estabelecimentos est�o mantendo o feij�o, por exemplo, mas trocaram outros itens por aqueles com pre�os mais camaradas. As varia��es sempre ocorrem nos produtos aliment�cios e v�o continuar ocorrendo. O mam�o Hava�, por exemplo, custava, at� outro dia, R$ 17 o quilo. Hoje, pode-se comprar por at� menos de R$ 2. Daqui a pouco, o feij�o tamb�m vai cair de pre�o e outro alimento vai encarecer. Mas a quest�o � que, atualmente, com a situa��o econ�mica do pa�s, em que h� baixa taxa de emprego e redu��o de renda, as pessoas est�o tentando de tudo para garantir a clientela. � preciso pensar que o cliente hoje n�o tem fidelidade. Se est� bom para o bolso dele, ele est� satisfeito. N�o custa nada para ele mudar para outro restaurante, mas antes de qualquer medida, o empres�rio tem que levar em considera��o o custo e benef�cio, e aproveitar a criatividade. Criar um mini-prato feito, por exemplo, pode ser uma boa investida”