Na tentativa de segurar o roj�o da crise na economia, profissionais de diversos perfis est�o levando para o div� a press�o que o caos econ�mico desencadeou nas suas vidas. A recess�o est� presente em 80% das queixas dos pacientes em muitos consult�rios de psiquiatria de Belo Horizonte, e a procura por uma ajuda m�dica ou psicol�gica por causa do cen�rio j� corresponde a 40% dos casos em alguns locais, nos �ltimos 12 meses. Ansiedade, ins�nia, dist�rbios, des�nimos, depress�o e s�ndrome do p�nico s�o alguns dos quadros desenvolvidos por quem sentiu o impacto do desemprego, infla��o e redu��o do poder de consumo.
Dois casos ocorridos no final de agosto chamaram a aten��o do Brasil, em especial da classe m�dica. No Rio de Janeiro, um executivo da �rea de telecomunica��es � o principal suspeito de matar a esposa e os filhos antes de cometer o suic�dio. Em uma carta deixada por ele, a explica��o � de que a fam�lia n�o teria mais renda e ele n�o teria como sustentar todos. Em S�o Paulo, um motoboy, de 41 anos, se jogou do alto de um pr�dio com o filho de 4 anos nos bra�os. Familiares disseram � pol�cia que ele estava desempregado e passava por problemas financeiros. Para especialistas, a crise financeira n�o � o principal motivo para algu�m que tira a pr�pria vida, por�m, ela � capaz de intensificar problemas mentais j� existentes nas pessoas.
Casos como esses j� foram atendidos recentemente pelo CVV em BH, quando um pai de fam�lia, alegando problemas financeiros, disse a um volunt�rio do servi�o pensar em se matar e tamb�m tirar a vida dos filhos. Gra�as ao trabalho do grupo, o homem n�o cometeu o ato. “O n�mero de pessoas pedindo ajuda aumentou nos �ltimos meses, mas n�o h� como identificarmos se foi a crise econ�mica o principal motivo, embora a quest�o financeira sempre apare�a nas liga��es”, conta a volunt�ria do CVV e treinadora de intelig�ncia emocional Kl�nia Batista. Segundo ela, geralmente, os adultos que hoje est�o na ativa n�o est�o preparados para lidar com a frustra��o. “Geralmente, s�o homens que n�o viveram nenhum momento de crise e n�o est�o vendo uma solu��o imediata.”
Nos consult�rios, h� trabalhadores que temem perder o emprego, ou os j� dispensados que lamentam n�o conseguir voltar ao mercado de trabalho. Executivos que sentem o peso de lidar com as demiss�es e uma poss�vel fal�ncia, e pais de fam�lia desesperados para segurar o casamento, que tamb�m ficou balan�ado, e ainda para pagar planos de sa�de, escola e alimenta��o para os filhos. “H� uma desesperan�a e uma falta de luz no fim do t�nel, ou de perspectiva a curto prazo. A crise sempre impacta no aparecimento de ansiedade e transtornos depressivos, ou at� mesmo o suicido”, alerta o psiquiatra da Associa��o Mineira de Psiquiatria e professor de sa�de mental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Frederico Garcia.
� medida que os �ndices econ�micos escancaram a realidade brasileira, aumenta a ansiedade de quem vive o cen�rio ou de quem teme em viver. Especialistas afirmam que, m�s a m�s, a procura por atendimento m�dico vem aumentando sistematicamente entre aqueles que, por enquanto, podem pagar por isso. Ao mesmo tempo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) aponta o reflexo mais cruel da crise: o desemprego. De acordo com dados do IBGE, j� s�o praticamente 12 milh�es de pessoas sem emprego no pa�s – um recorde hist�rico.
Para aumentar a ansiedade, o tempo m�dio de procura por uma vaga no mercado no primeiro semestre deste ano, de acordo com o Departamento Intersindical de Estat�sticas e Estudos Sociecon�micos (Dieese), ficou em 36 semanas, ou nove meses, nas regi�es metropolitanas de S�o Paulo, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza e Bras�lia, �reas onde o Dieese faz sua pesquisa de emprego.
H� seis anos, quando o Brasil vivia o pleno emprego, a busca durava, em m�dia, 20 semanas, ou cinco meses, tempo coberto pelo seguro-desemprego. Al�m disso, segundo o IBGE, o rendimento m�dio real habitual do trabalhador brasileiro caiu 4,2% no segundo trimestre de 2016, na compara��o com o mesmo per�odo de 2015, chegando a R$ 1.972 no trimestre encerrado em junho deste ano. Como vil� de um poder de compra cada vez mais baixo, h� a infla��o, que alcan�a 8,97% nos �ltimos 12 meses.
Depoimentos
H� dias que d� uma tristeza t�o grande que a vontade � de fazer um buraco e fugir para dentro dele. Voc� fica sem perspectiva, sem �nimo para nada. Estou desempregado desde o ano passado. D� uma sensa��o de tristeza por n�o saber o que vai acontecer, medo de ter quer arranjar uma atividade que n�o sei fazer. Tenho um filho e a minha esposa � quem est� segurando as despesas. � terr�vel para mim, pai de fam�lia, ver minha mulher sustentando a casa. Tivemos que tirar nossa filha da escola particular. Tem dias que fico muito deprimido, mas ainda n�o procurei ajuda.”
T.H.G
41 anos, metal�rgico
"O fato de n�o honrar um compromisso me tira o sono. J� fiquei noites em claro fazendo contas e mais contas. Fiquei desempregado no ano passado e, desde ent�o, s� consigo alguns bicos, que n�o rendem muita coisa. Estava na faculdade particular e, com o desemprego, tive que largar. Os professores tentaram me ajudar, colegas, inclusive, doaram-me cesta b�sica. Tinha dias que meus filhos n�o tinham o que comer. J� chorei muito. � uma humilha��o ter que passar por essas coisas. Procurei um m�dico e estou sendo medicado com antidepressivos.”
G.V.L,
34 anos, universit�rio
“Continuo no meu emprego, mas a sensa��o � de que vou ficar desempregada a qualquer momento. Tenho amigos e familiares que n�o est�o conseguindo se recolocar no mercado. No m�s passado, tive uma crise de ansiedade que achei que morreria. Meu cora��o disparava muito. Estou tomando calmantes por conta pr�pria, caso contr�rio n�o conseguiria dormir. O meu medo � de ficar sem emprego e n�o poder sustentar meus filhos.”
F.D.F
35 anos, enfermeira
FIQUE ATENTO
Se voc� tem alguns desses sintomas, procure ajuda:
Ansiedade muito acentuada, levando a sensa��es f�sicas como taquicardia, sudorese intensa, sensa��o de desmaio, ins�nia persistente, incapacidade de responder aos problemas do cotidiano.
Evite que a crise afete
sua sa�de mental:
Separe o que � da ordem pessoal e o que � p�blico, e tamb�m o que � realidade que realmente interfere na vida da pessoa e o que � distor��o ou fantasia na percep��o da crise nacional.
Procure ajuda para reorganizar seus h�bitos de consumo e administra��o das finan�as (educa��o financeira)