
A volta por cima da produ��o de dezembro da ind�stria brasileira, que cresceu 2,3% – maior expans�o desde junho de 2011 –, jogou luz nova sobre as usinas sider�rgicas, um dos setores mais duramente afetados por crise sem precedentes e pontuada de n�meros negativos em 2016, seja em volume de vendas, seja em aprecia��o de pap�is na bolsa. � espera de que a rea��o se confirme, as grandes empresas do setor come�am o ano disputando novos mercados at� ent�o ocupados sobretudo por concorrentes estrangeiros. A Usiminas concluiu no m�s passado a homologa��o do a�o bal�stico que apresentou ao Ex�rcito como substituto de ponta das chapas importadas usadas na blindagem do Guarani, ve�culo de defesa produzido em Sete Lagoas, na Regi�o Central de Minas Gerais.
Em Ouro Branco, ainda na Regi�o Central de Minas, a usina do grupo sider�rgico Gerdau, de Porto Alegre, inaugurou cerca de cinco meses atr�s moderno laminador de chapas, que permitiu � companhia ingressar no grupo de fornecedores at� ent�o estrangeiros dos parques de gera��o de energia e�lica. O processo de obten��o das chapas envolve equipamentos de alta tecnologia, como laminador e processo de resfriamento.
Com o portf�lio novo em folha, a partir de investimentos feitos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), a concorr�ncia deve crescer neste ano, embora ainda seja cedo para imaginar uma retomada do consumo a partir de alguns sinais de recupera��o do mercado interno j� indicados por pesquisas que medem o n�vel de confian�a de empres�rios e consumidores, al�m da produ��o industrial. Acompanhando regularmente o movimento das exporta��es e importa��es brasileiras, o presidente da Associa��o de Com�rcio Exterior do Brasil (AEB), Jos� Augusto de Castro, diz que, de fato, uma recupera��o da demanda no Brasil, em tese, vai acirrar a disputa de empresas e dos pr�prios importadores, num cen�rio em que ainda n�o � poss�vel avaliar os efeitos da gest�o de Donald Trump sobre o com�rcio internacional.
“Qualquer coisa que se diga agora � simples aposta, apesar da percep��o de que com Trump haver� mais investimentos em infraestrutura na economia americana e isso inclui a demanda por a�o”, afirma. Os volumes de a�os laminados planos importados pelo Brasil ca�ram 50,8% no ano passado, para 904 mil toneladas, depois do recuo de 20,9%, para 1,839 milh�o de toneladas, de 2014 para 2015. Se a pr�pria crise brasileira se incumbiu de barrar os concorrentes de fora, a estat�stica tamb�m mostra que em geral a importa��o se beneficia de uma rea��o da economia.
Com base nas estimativas dos analistas de bancos e corretoras lan�adas nas previs�es do Relat�rio de Mercado Focus, do Banco Central, o mercado de a�os planos deve crescer entre 4% e 5% em 2017. A proje��o refor�a o foco que a Usiminas manter� no Brasil, segundo o presidente da companhia, R�mel Erwin de Souza. Os a�os rec�m-lan�ados pela empresa foram desenvolvidos nos �ltimos tr�s anos com o prop�sito de disputar o segmento de produto com espessura e peso menores, mas mantendo altos n�veis de seguran�a e resist�ncia mec�nica.
“Todas as novas linhas foram desenvolvidas com engenharia simult�nea, em parceria com clientes, e n�o ficam devendo nada aos produtos fabricados em pa�ses desenvolvidos”, afirma o executivo. Cerca de 10% da produ��o anual de 3,7 milh�es de toneladas de a�o l�quido da sider�rgica foram alvo de projetos de desenvolvimento desde 2012.
EFICI�NCIA ENERG�TICA A Aperam South America, criada a partir da separa��o dos ativos de a�os inoxid�veis do grupo ArcelorMittal, optou, da mesma forma, por fazer investimentos em melhorias de processos e enobrecimento de produtos. Com investimentos de US$ 19 milh�es, entre pesquisas e implementa��o da linha de produ��o do a�o el�trico HGO, a companhia abre mercado no Brasil e na Am�rica Latina, destaca o presidente da sider�rgica, Frederico Ayres Lima. “S�o produtos de elevada qualidade e tecnologia e que proporcionam alto desempenho na condu��o de energia. Por isso, s�o solu��es mais leves, menores e com forte apelo a um desenvolvimento econ�mico mais verde (ambientalmente correto)”, afirma o executivo.
Ve�culo blindado
A Usiminas investiu US$ 295 milh�es nos �ltimos 10 anos no centro de pesquisa e desenvolvimento mantido em Ipatinga. No caso do a�o bal�stico, a substitui��o das importa��es confere vantagens n�o s� � empresa, mas tamb�m ao Brasil, proporcionando independ�ncia do pa�s em rela��o a um insumo importante para o setor de defesa. Respons�vel pela montagem do Guarani, a Iveco, empresa do grupo Fiat, n�o comentou sobre a demanda da chapa verde-e-amarela. Por meio de sua assessoria de imprensa, a companhia justificou sigilo de contrato.
A nacionaliza��o do produto n�o s� atende a exig�ncias de conte�do nacional do projeto de fabrica��o dos ve�culos blindados, como representa ganho na log�stica de fornecimento.
A Iveco informou ao EM, quando ainda estudava o uso das chapas da Usiminas em 2013, que da encomenda � entrega das chapas importadas de fabrica��o do grupo alem�o ThyssenKrupp administrava um prazo m�nimo de oito meses. O custo era ainda acrescido das despesas com frete mar�timo, meio de transporte das chapas ao Brasil, e desembara�o da mercadoria nos portos.
Desafios dentro e fora da f�brica
Manter f�lego num caminho de recupera��o da economia � vencer desafios colocados aos pr�prios clientes que se aliam �s sider�rgicas para desenvolver produtos, ocupar um mercado no Brasil ainda restrito dos produtos importados e enfrentar problemas internas de cada empresa, observa Pedro Galdi, analista da consultoria Upside Investor. “N�o se v� nas importa��es um neg�cio assustador no Brasil. S�o volumes pequenos e se eles come�arem a se tornar amea�adores, quando a economia melhorar, o pr�prio governo, com certeza, vai retaliar”, afirma.
Para o presidente da Usiminas, R�mel Erwin, a despeito do tamanho desse mercado ocupado pelo a�o produzido no exterior, � clara a tend�ncia de expans�o do uso de a�os de menor espessura e peso, mas de alta resist�ncia mec�nica, movimento que tende a abrir novas oportunidades para os fabricantes nacionais que investiram nessa evolu��o.
O executivo destaca outras particularidades do processo de importa��o, que torna mais competitivo o fornecimento por empresas brasileiras, evitando gastos do importador com estoques altos e a presen�a mais r�pida da assist�ncia t�cnica nacional. O cen�rio desafiador n�o escolhe a nacionalidade, se observados fatores decisivos na recupera��o das vendas dos principais clientes da ind�stria sider�rgica ligados � rea��o do emprego no Brasil, � melhora da renda e da oferta de cr�dito barato para o consumidor, como avalia Daniela de Britto, gerente de economia da Federa��o das Ind�strias de Minas Gerais (Fiemg).
“O setor (sider�rgico) � muito voltado para o mercado interno e vende para uma cadeia produtiva que � a espinha dorsal da economia.Todos os seus principais clientes (constru��o civil, bens de capital e automotivo) v�m sofrendo muito com o ciclo recessivo”, afirma. De positivo, os n�meros da produ��o industrial medidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) mostram quedas que t�m perdido a intensidade desde 2014. Para a m�dia geral da ind�stria, as perdas do ano foram estimadas em 6,6%, ante 9,8% em 2015.
Respons�vel por 17% do consumo de produtos sider�rgicos no pa�s, o setor automotivo sofreu retra��o de 11,4% dos volumes produzidos no ano passado e os efeitos da restri��o ao cr�dito, da infla��o ainda alta e do desemprego cont�nuo. Mais demandante das sider�rgicas, a constru��o civil deve demorar para se recuperar, segundo Daniela de Britto. O segmento encomenda cerca de 40% da produ��o de a�o. Para se reerguer da crise, essa ind�stria depende da reposi��o das linhas de financiamento de longo prazo e, especialmente, da disposi��o das fam�lias de se endividarem. “A confian�a s� retornar� com a queda da infla��o e das taxas de juros, que incentivam os investimentos”, afirma.
A an�lise vale tamb�m para a ind�stria de eletrodom�sticos da linha branca, lembra o analista Pedro Galdi, ponderando, no entanto, que um dado positivo para o setor sider�rgico foi o fato de a queda das vendas f�sicas ter estancado. H� sinais de melhora ainda vistos por Galdi, ante o pr�prio discurso do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, no sentido de que o governo est� se movendo para atrair investimentos em infraestrutura. DEVER DE CASA Ainda assim, cada empresa ainda deve enfrentar desafios internos para seguir na fileira de uma esperada recupera��o da economia. Galdi enfatiza o impacto sobre a Usiminas do conflito societ�rio de seus principais acionistas – o grupo japon�s Nippon Steel e o conglomerado �talo-argentino Ternium/Techint, desde o fim de 2014.
“� uma situa��o que n�o se resolve e traz sequelas”, afirma. O presidente da companhia mineira n�o comenta assuntos de acionistas e sustenta que a companhia trabalha independente disso, com os objetivos de melhorar seu resultado operacional e levar adiante o seu programa de reestrutura��o financeira. “O foco � continuar trabalhando para isso e sempre que poss�vel n�o deixar que esses coment�rios fora da cerca interfiram aqui. Nada do que teria de ser decidido e realizado deixou de ser feito”, diz R�mel Erwin.