
S�o Paulo – In�cio de ano � �poca de vestibular e de matr�cula nas institui��es de ensino superior. No caso daquelas que oferecem o ensino a dist�ncia (EAD), 2018 come�a com um plano de expans�o dos neg�cios depois de um per�odo sem muito a ser comemorado. O projeto de expans�o dos grandes grupos � resultado do marco regulat�rio do Minist�rio da Educa��o (MEC), publicado no ano passado, que flexibilizou algumas regras do segmento (leia mais abaixo). Com isso, como diz Wilson Diniz, diretor de Marketing da Cruzeiro do Sul Educacional, o que se v� agora � uma esp�cie de “corrida do ouro” por polos que permitam a expans�o das opera��es de EAD.
A Uninter, do Paran�, � outra institui��o de ensino com planos agressivos de crescimento. Em 2017, foram abertos 150 polos, o que levou ao encerramento do ano com 600 unidades. Em 2018, segundo o reitor Benhur Gaio, a previs�o � abrir 250. “At� o marco regulat�rio, as regras limitavam muito o crescimento. Esta � a primeira vez que o ensino a dist�ncia passa por uma situa��o dessas, por isso o esfor�o tem sido t�o grande para garantirmos a melhor infraestrutura”, afirma.

Gaio n�o fala em valores, mas diz que 15% do valor investido este ano pela Uninter ser� usado na abertura de polos. A institui��o de ensino n�o trabalha com polos pr�prios, apenas com parceiros. Outros trabalham com modelo misto – polos pr�prios e por meio de parcerias, que em muitos casos j� t�m uma escola de ensino m�dio, por exemplo, e podem oferecer laborat�rios e profissionais para as aulas pr�ticas previstas no programa do curso de EAD de uma faculdade, em complemento �s aulas pela internet.
Al�m da expans�o das unidades remotas, a Uninter e alguns de seus concorrentes est�o investindo no aumento da oferta de cursos a dist�ncia. No caso do grupo paranaense, come�ou a ser oferecido o curso de gest�o de cidades inteligentes, de tecnologia em saneamento ambiental e de investiga��o profissional. Ser� o maior investimento dos �ltimos 10 anos. “N�o adianta apenas abrir polos. Decidimos tamb�m investir em novas carreiras e, principalmente na prepara��o de cursos e atualiza��o das equipes. Nossa previs�o para este ano � que a receita alcance dois d�gitos de crescimento”, prev� o reitor.
EFEITO COLATERAL A expans�o agressiva prevista pelos grandes grupos que atuam no EAD pode resultar em um efeito colateral: diz uma regra antiga de mercado que o aumento da oferta pode achatar o pre�o. No caso do EAD, as mensalidades custam, em m�dia, um ter�o do valor do curso presencial. Em alguns casos, o valor inicial est� na casa dos R$ 200. “Neste come�o de ano ainda n�o percebemos isso no mercado, mas estamos preparados para um poss�vel impacto nas mensalidades por conta do aumento da oferta de vagas. N�o queremos entrar na guerra de pre�os de forma agressiva, mas estamos monitorando os movimentos da concorr�ncia”, conta Roberto Val�rio, vice-presidente da �rea de ensino a dist�ncia da Kroton.
Val�rio aponta outro poss�vel problema nessa nova fase de expans�o do EAD: a abertura indiscriminada de polos. Segundo ele, a escolha da localiza��o deve ser muito bem avaliada. N�o basta ter a oferta de um interessado em oferecer suas instala��es educacionais para uma marca de EAD. “N�s, por exemplo, fazemos estudo de geomarketing para estudar onde vamos nos instalar. Em muitos casos pode ser melhor come�ar do zero do que pegar um polo pronto em uma regi�o em que a demanda n�o seja a esperada”, diz o executivo da Kroton.
Para o vice-presidente do grupo, o maior de ensino a dist�ncia do pa�s, o espa�o de crescimento para o EAD no Brasil ainda � muito grande. No caso da Kroton, s�o cerca de 1.100 polos distribu�dos por aproximadamente 500 cidades. Nos pr�ximos cinco anos, a previs�o de Val�rio � chegar a 3.000 polos. “Al�m de cidades grandes terem demanda por mais de um polo, vale lembrar que o Brasil tem cerca de 5.000 munic�pios, muitos deles com uma oferta muito pequena de ensino superior e em mercados que podem ser atendidos pelo EAD”, avalia.
DEMANDA REPRIMIDA Luciano Sathler, diretor da Associa��o Brasileira de Ensino a Dist�ncia (Abed), acredita que s� daqui a tr�s anos ser� poss�vel ter uma ideia de qual foi a rea��o do mercado a essa expans�o do setor. “� fato que o EAD vai continuar a crescer mais do que o ensino presencial. A previs�o � que daqui a cinco anos ele chegue a 40% ou 50% das novas matr�culas. H� uma demanda reprimida e, ao mesmo tempo, as institui��es querem marcar seu espa�o. Mas n�o d� para saber agora como o setor vai reagir”, analisa.
Com o crescimento r�pido, tamb�m j� se fala da possibilidade de o setor de EAD passar por uma nova rodada de consolida��o, seja por meio de fus�es, de aquisi��es ou simplesmente o fechamento de unidades de ensino de menor porte, com atua��o regional. “J� estamos vendo isso no Paran� mesmo entre algumas presenciais. Elas acabam sofrendo mais e n�o resta outra solu��o a n�o ser encerrar as atividades. Por outro lado, tem gente grande com bastante dinheiro em caixa para expandir por conta pr�pria ou para comprar concorrentes”, diz Gaio. Luiz Trivelato, s�cio da consultoria Educa Insights, acredita que o mercado de EAD dever� passar por mudan�as n�o apenas quanto ao n�mero de polos, mas com rela��o aos modelos de cursos oferecidos. Para ele, o ensino semi-presencial (uma varia��o do EAD que tem mais participa��o em sala de aula) dever� ter um espa�o cada vez maior. Al�m disso, avalia Trivelato, tamb�m j� � poss�vel ver institui��es de ensino mais tradicionais ampliando a oferta com cursos a dist�ncia. � o caso da Universidade Cat�lica de Santa Catarina, de Bras�lia, do Mackenzie e da Uniso.
O que mudou para as institui��es
Em maio do ano passado, o Minist�rio da Educa��o (MEC) apresentou o novo marco regulat�rio para o credenciamento de institui��es de ensino e a oferta de cursos de educa��o a dist�ncia (EAD). Segundo o Decreto 9.057, passou a ser permitido que as universidades, centros universit�rios e faculdades se credenciem para oferecer cursos de EAD sem a necessidade de oferta tamb�m de cursos presenciais. At� ent�o, esse era um pr�-requisito para quem queria atuar no ensino a dist�ncia.
Outra mudan�a adotada pelo MEC � que tamb�m passou a ser permitido que as institui��es de ensino j� credenciadas para EAD criem polos por ato pr�prio, desde que respeitem os limites quantitativos determinados segundo o conceito institucional. Aquelas com classifica��o 3 podem abrir por ano at� 50 polos EAD. Quem tem nota 4 podem abrir at� 150 unidades e aquelas com conceito 5, at� 250. Os polos s�o o local credenciado pelo minist�rio para desenvolver de forma descentralizadas as atividades pedag�gicas e administrativas relacionadas aos cursos e programas ofertados pelo EAD.
A portaria que regulamenta o decreto tamb�m proibiu que cursos presenciais passem a ser oferecidos em instala��es de polos EAD que n�o sejam unidades acad�micas presenciais devidamente credenciadas. Oferecer curso de EAD sem o credenciamento espec�fico � considerado uma irregularidade administrativa e pode gerar penalidade.
