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Estado de Minas

Este brit�nico vai aproximar startups de empresas tradicionais em Minas

'N�o se pode bancar n�o ser inovador', diz Andrew Humphries em entrevista exclusiva ao Estado de Minas


postado em 08/04/2018 06:00 / atualizado em 08/04/2018 14:13

(foto: Fred Bottrel/EM/D.A Press)
(foto: Fred Bottrel/EM/D.A Press)

Andrew Humphries caminha tranquilamente, com seu sapato azul de ponta fina, entre as mesas, olhos e ouvidos atentos a tudo. Quando um empres�rio fotografa o cart�o de visita de um empreendedor ao fim de uma rodada de conversas, ganha uma simp�tica batidinha no ombro.

O consultor, refer�ncia internacional em inova��o, mediou, esta semana, oficina para empres�rios mineiros e startups. Cofundador da The Bakery, primeira aceleradora de desafios corporativos do mundo, ele foi um dos destaques do Minas Digital Summit, evento promovido pelo governo mineiro, para 2 mil participantes, no Hotel Ouro Minas, na Regi�o Nordeste de Belo Horizonte.

Na tend�ncia dos anglicismos t�picos do setor, o Inspiration Day foi ponto de partida para ciclo de inova��o proposto pelo Hub Minas Digital. A proposta � “levar inova��o de maneira r�pida, barata e eficiente para m�dias e grandes empresas em Minas”, nas palavras do coordenador do Hub Minas Digital, Rodolfo Zhouri.

At� 2019, o programa, ligado � Secretaria de Desenvolvimento Econ�mico, Ci�ncia, Tecnologia e Ensino Superior, tem US$ 10 milh�es em or�amento, via Funda��o de Amparo � Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Parte disso vai para mentores como Andrew, que tem no curr�culo cases com marcas como Unilever e BMW. Ele falou com exclusividade ao Estado de Minas.




Nossa economia local ainda depende fortemente de setores tradicionais como agricultura e minera��o – empresas que lutam, em meio a uma crise enorme, para basicamente tentar sobreviver. Como ser inovador, quando n�o h� como bancar investimentos?

Na verdade, n�o se pode bancar n�o ser inovador em um mundo onde tudo est� mudando. E a realidade – seja em neg�cios muito tradicionais, como ind�stria pesada, f�bricas ou mineradoras – � que eles t�m de continuar inovando, mesmo que seja apenas na forma como algumas coisas s�o feitas. Como lidam com os empregados, como ret�m e recrutam novas pessoas, por exemplo. H� v�rias formas de inovar dentro de uma grande e tradicional companhia. O desafio, para aqueles que v�m conduzindo essas empresas por um per�odo de tempo, frequentemente, naquelas mais velhas e tradicionais, � encontrar formas inovadoras de fazer as coisas. Como s�o guiados por sua pr�pria , n�o est�o preparados para experimentar, para encontrar bons pontos de partida. Porque �s vezes as melhores ideias s�o contra-intuitivas, n�o seriam aquilo que voc� naturalmente pensaria. Digo, se voc� pensar no Airbnb, come�ou com as pessoas se hospedando nos sof�s dos outros. E para muita gente, isso � totalmente bizarro! Ent�o mudou, se desenvolveu. A menos que voc� esteja fazendo inova��o, falhando �s vezes, acertando outras, voc� jamais saber� o que poderia funcionar. A alternativa � inova��o � sentar e esperar at� cair no esquecimento.

 

Voc� mencionou a reten��o de talentos, um dos grandes problemas que temos com o crescimento de nosso ecossistema de startups. As empresas chegam a determinado ponto que acabam tendo de deixar o pa�s. Como deter a fuga de c�rebros?

 Um dos maiores desafios que se tem no Brasil, inclusive Minas, � que h� investimentos melhores e mais seguros do que startups; as taxas banc�rias s�o atraentes, o mercado imobili�rio tamb�m… Ent�o, se voc� � investidor, � mais lucrativo colocar seu dinheiro em algo tradicional. E se voc� � uma startup ou um empreendedor, quer crescer e levantar investimento, tem de ir at� onde os investidores est�o. E temos visto o que ocorre com v�rias startups de Minas: primeiro v�o para S�o Paulo e depois Estados Unidos, Reino Unido ou Canad�. Porque � onde est�o os investidores espertos, que reconhecem talento. Uma das coisas que acho todas as vezes que venho para o Brasil � que o talento empreendedor � t�o melhor aqui do que em outros pa�ses, particularmente em Minas, com as universidades que voc�s t�m e o apoio do governo; voc�s t�m alguns empreendedores impressionantes. E a menos que encontremos uma maneira de educar os investidores que existem aqui e tamb�m envolver o ambiente corporativo, as pessoas espertas v�o sair. E mais: se voc� � dono de uma empresa e tem um talento dentro da sua companhia, com uma grande ideia, � melhor que desenvolva essa ideia ou pense nela em outro lugar? Um dos pontos-chave sobre empreendedorismo corporativo � manter interessadas essas pessoas empreendedoras que voc� emprega. Se encontra uma forma de engajar esses profissionais, ent�o pode se beneficiar dessas ideias enquanto eles se mant�m na companhia, em vez de assist�-los irem embora.

 

 O que pode facilitar o di�logo entre essas jovens startups e as grandes empresas?

 N�o h� d�vida de que para uma grande e tradicional empresa trabalhar com startups pequenas e �geis � muito dif�cil. H� muitas quest�es relativas � qu�mica e frequentemente os empreendedores n�o sabem como trabalhar com essas grandes companhias. Descobrimos que colocar intermedi�rios neste caminho – e esse � obviamente o nosso neg�cio na The Bakery – primeiro torna a jornada mais r�pida; te permite parar de ter longas conversas que n�o levam a lugar nenhum. As tomadas de decis�es mais r�pidas na verdade reduzem os riscos para as empresas e diminuem as inquieta��es das startups…

 

 Com mais uma daquelas reuni�es que poderiam ter sido um e-mail…

 Exatamente! Se encontrar uma estrat�gia que traga todos para o processo correto, n�o precisa perder tempo com conversas in�teis. Mas quando algo vale a pena, � preciso perseguir formas de se alcan�ar. Ter um intermedi�rio, como em v�rias coisas na vida, funciona bem. Como quando se contrata um advogado ao se comprar uma casa. Eles trabalham ao mesmo tempo para o vendedor e o comprador. Da mesma forma, a gente ajuda a azeitar as oportunidades entre a corpora��o e a startup.

 

 "A menos que voc� esteja fazendo inova��o, falhando �s vezes, acertando outras, voc� jamais saber� o que poderia funcionar”

 

Inova��o e m�dia s�o uma das �reas em que a The Bakery atua. Temos no Brasil empresas desse setor experimentando modelos de neg�cios baseados na rela��o com assinantes. Em um pa�s onde o consumidor de conte�do digital est� acostumado a acesso gratuito, esse � o maior desafio?

 A m�dia, ind�stria bem tradicional, tem desafio muito interessante, porque tem sido nos �ltimos 10, 15 anos ultrapassada por organiza��es disruptivas e inovadoras. E enquanto a tecnologia muda, isso continua. Grandes companhias de m�dia precisam descobrir formas de adicionar valor para os clientes – sejam os anunciantes ou os consumidores, leitores, telespectadores. Definitivamente, s�o coisas que devem mudar, est�o mudando. Por outro lado, recentemente vimos esc�ndalos na ind�stria, em que consumidores n�o tinham ainda percebido que eles s�o o produto. Se voc� tem algo de gra�a, voc� � o produto. O ambiente de m�dia precisa abordar todos esses desafios e estou certo de que vai haver sucesso.

 

 Voc� est� certo mesmo?

 Estou, mas � importante dizer que haver� disrup��o. Veremos grandes empresas de m�dia que n�o v�o acertar os caminhos, o que vai resultar em fracasso. E outras vir�o no lugar delas. Mas j� vimos isso tantas outras vezes... Quando o r�dio surgiu, todos disseram que seria o fim dos jornais. Quando a TV surgiu, que seria o fim do r�dio. Ent�o veio a internet e decretaram o fim da TV. E a realidade � que essas coisas n�o se v�o; elas mudam, encontram nichos, mercados pr�prios. E � importante ter claro que haver� alguma mudan�a, mas a boa not�cia �: vai ser melhor. Pessoas v�o gostar mais e o mundo ser� um lugar melhor.

 

 Por falar em tecnologia e um mundo melhor: quando celebramos unic�rnios brasileiros como o 99Pop (unic�rnio � o nome que se d� a empresas que atingem US$ 1 bilh�o em valor de mercado), � comum empreendedores exaltarem a ‘revolu��o digital’. Mas neste caso dos apps de transporte temos a repeti��o do que h� de mais velho no mundo: explora��o de m�o de obra barata para enriquecimento de poucos. Podemos chamar isso de revolu��o?

 ï¿½ uma excelente e urgente quest�o essa. Algu�m j� disse que precis�vamos de carros voadores, mas o m�ximo que conseguimos foram novas formas de pedir um t�xi. (risos) Na maior parte das vezes, as coisas n�o mudam tanto assim. Pessoas t�m falado por tanto tempo sobre a revolu��o do home-office. E a tecnologia � melhor agora, mas de fato ainda n�o fez isso acontecer.

 

  "O uso da tecnologia tem se tornado mais r�pido e f�cil. Voc� pode ser uma empresa pequenininha e ainda assim competir com grandes organiza��es”

 

E na verdade as pessoas est�o trabalhando mais para ganhar menos…

 Sim, isso � verdade. O que precisa mudar � a forma como apoiamos as pessoas que n�o est�o trabalhando. Em diferentes partes do mundo, h� experimentos que envolvem pagar a pessoas um bom sal�rio para n�o trabalhar. N�o � positivo simplesmente deixar as coisas soltas e n�o empregar as pessoas – elas logo se metem em problemas e isso prejudica a sociedade. Mas j� que n�o temos empregos suficientes para todas as pessoas – porque a automa��o est� assumindo ou a economia geek est� mudando –, por que o governo n�o d� �s pessoas certa quantia de dinheiro mesmo que n�o estejam trabalhando? Creio que nos pr�ximos 20, 50 anos veremos mudan�as na sociedade que fa�am isso funcionar bem. Passamos por grandes revolu��es deste tipo no passado; a revolu��o industrial, que acabou com tantos trabalhos de natureza manual. Ent�o, as coisas v�o mudar, ser�o diferentes. N�s, como sociedade, temos de encontrar as melhores formas de essas coisas funcionarem, para que haja melhora na vida das pessoas.

 

 E a tecnologia deveria de fato contribuir para um mundo melhor e n�o pior, mais desigual, certo?

 Sou otimista quanto a isso. Sou pessimista quanto ao nosso cuidado com o planeta, e acho que este � um desafio interessante e ser� provavelmente um problema maior para a gente do que esse que voc� mencionou. De maneira geral, acho que a tecnologia, atrav�s dos s�culos, tem sido extremamente ben�fica para a humanidade. H� definitivamente desafios e aqui no Brasil h� ainda mais desafios do que em muitos outros pa�ses.


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