
S�o Paulo – A populariza��o dos servi�os de streaming no Brasil, especialmente de canais que nasceram com esse prop�sito, como a Netflix, tem mudando a forma como os brasileiros consomem produtos pela televis�o. Por um lado, a tecnologia on demand permite flexibilidade e conforto para o telespectador, que pode assistir aos seus programas favoritos a qualquer hora e em qualquer lugar. Por outro, o streaming, associado a um aumento vertiginoso da pirataria de sinal, o popular “gatonet”, est� gerando dificuldades para as empresas de TV por assinatura.
De acordo com n�meros da Associa��o Brasileira de Televis�o por Assinatura (ABTA), o contingente de assinantes de TV paga atingiu em 2018 o total de 17,7 milh�es de lares, o menor n�mero desde 2012, quando o ano fechou com 16,3 milh�es. “Os h�bitos est�o mudando, sim, mas o nosso grande problema tem sido a pirataria em todo o Brasil, que causa preju�zos �s empresas e aos cofres p�blicos, que deixam de arrecadar com o servi�o legal”, disse Oscar Sim�es, presidente da ABTA. “Sem a pirataria, o mercado de televis�o por assinatura teria receitas anuais de R$ 4 bilh�es a mais e estaria pagando R$ 550 milh�es a mais de impostos anualmente.”
De acordo com a ABTA, existem hoje mais de 3,3 milh�es de decodificadores piratas em funcionamento no Brasil. Na ponta do l�pis, se o “gatonet” fosse uma empresa legalizada, ocuparia a terceira coloca��o no ranking nacional, atr�s apenas de Claro/Net, com 8,9 milh�es de clientes, e da Sky, com 5,2 milh�es.
Embora a pirataria e o streaming sejam coisas distintas, uma tem incentivado a outra a crescer, segundo especialistas. Nos c�lculos da gigante americana de tecnologia Cisco, 6,5 milh�es de televisores que recebem sinal furtado via internet entraram no Brasil nos �ltimos tr�s anos pela fronteira com o Paraguai. Em 2015, segundo a Associa��o Brasileira de Televis�o por Assinatura, havia 4,5 milh�es de “assinantes” que furtavam o sinal dos canais pagos diretamente de sat�lites. “O contrabando que antes era dominado por aparelhos de som e videogames, hoje � liderado pelos aparelhos que oferecem acesso ilimitado a canais pagos e aplicativos de streaming”, afirmou Paulo Miranda, economista e consultor em telecomunica��es.
Essas caixinhas custam entre R$ 300 e R$ 700 e n�o cobram mensalidade. Al�m de gratuitos, oferecem canais pagos que s�o pay-per-view, uma importante fonte de receita das tev�s por assinatura. Segundo Marcio Machry, engenheiro da Cisco, os piratas recebem os sinais legalmente das operadoras, via sat�lite, em grandes data centers. A programa��o � codificada para streaming e armazenada em servidores na nuvem, de onde chegam at� a casa dos assinantes piratas, atrav�s de modems conectados � TV ou ao PC. “Mais do que os novos canas de streaming, a pirataria � o maior concorrente muito forte para a TV paga”, disse Machry em um painel do PayTV F�rum, no ano passado.
O problema � que, al�m de furtar o sinal das operadoras legalizadas, alguns grupos de hackers se apresentam como oficiais prestadores de servi�o, e cobram entre R$ 20 e R$ 35 mensais. “Muita gente tem TV pirata e n�o sabe. Pode estar abrindo seus dados banc�rios a bandidos ao conectar seu PC a uma quadrilha internacional”, alertou a ABTA em recente comunicado.
De acordo com a entidade, a pirataria movimenta R$ 6 bilh�es por ano entre evas�o de receitas e sonega��o de impostos. A cifra corresponde a 20% do faturamento de todo o mercado de TV paga no ano passado, de pouco mais de R$ 30 bilh�es. A ABTA estima que, apenas no acumulado dos 12 meses de 2018, foram importados mais de 3,1 milh�es de receptores de streaming chineses, por meio de contrabando do Paraguai, que movimentaram US$ 115 milh�es.