Apesar do ritmo lento de recupera��o da economia, o rendimento m�dio real do brasileiro est� no maior n�vel da s�rie hist�rica iniciada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) em 2012. Na �ltima divulga��o, com base nos dados do trimestre terminado em janeiro de 2019, o �rg�o mostrou que os brasileiros ganham, em m�dia, R$ 2.270 por m�s. O que explica o valor recorde, segundo os dados, � que a renda tem sido puxada, principalmente, pelos ganhos dos servidores p�blicos.
“De fato, o rendimento atingiu o ponto mais alto da s�rie hist�rica. Claro que a s�rie hist�rica pegou um per�odo de desaquecimento, a partir de 2012, e de longa recess�o, a partir de 2014, at� 2016. Podemos ver que, desde a recupera��o, que come�ou em 2017, os sal�rios v�m mantendo uma tend�ncia de alta, mas, claramente, h� uma perda de f�lego nos �ltimos meses”, afirma Bentes.
O economista ressalta que a infla��o baixa tamb�m contribuiu para o desempenho positivo da renda. “Mas aquele ritmo de recupera��o esperado desde 2017 praticamente estacionou em 2018, e ainda � muito t�mido em 2019”, diz. “Fora que o crescimento est� sendo puxado pelo funcionalismo, que tem aumentado os rendimentos ao longo dos anos. E o que chama a aten��o � que a produtividade n�o tem se elevado. Isso s� refor�a a necessidade de a reforma da Previd�ncia focar nessa categoria de trabalhadores”, completa o economista.
Se, por um lado, servidores est�o ganhando mais, trabalhadores da iniciativa privada reclamam que o poder de compra est� estagnado h� anos. � o caso de Maria Aurilene Carvalho Nunes, 52 anos. A cada ano, ela sente que a renda real dela diminui um pouco. Apesar de ter atuado em �reas distintas nos �ltimos anos, para ela, parece que o sal�rio nunca aumenta efetivamente. “Est� muito apertado. Parece que o que eu ganho s� aumenta conforme o sal�rio m�nimo, sendo que tudo encareceu. Principalmente alimenta��o”, afirma.
Hoje, como bab�, ela diz que tem carteira assinada, mas que o rendimento n�o d� conforto financeiro. Maria Aurilene, que tem uma filha de 22, conta que est� dif�cil de encontrar emprego e oportunidades. “Deixamos de usar o cart�o de cr�dito, porque, se n�o tiver controle, ele toma toda a parte do seu dinheiro”, diz. “Todos temos perspectivas de melhora. Torcemos para que tudo d� certo, mas, por enquanto, estamos na mesma situa��o h� alguns anos”, acrescenta.
CONSUMO Outro caso � do consultor t�cnico de esquadrias Glauber Nunes, de 27, que trabalha no ramo h� mais de 10 anos. Segundo ele, houve tempos em que a remunera��o era mais alta. “O auge foi em 2010. Naquela �poca, eu ganhava bem mais do que hoje”, destaca.
Essa percep��o vem da experi�ncia de consumo que Nunes tem vivido nos �ltimos tempos. Ele conta que a situa��o em casa est� dif�cil. J� abriu m�o de alguns confortos, como TV a cabo e internet sem fio. At� mesmo as faturas de �gua e luz foram renegociadas pelo trabalhador. “N�o est� dando para pagar as contas. Meu nome j� est� no SPC e no Serasa”, diz. Para ele, o aumento m�dio da renda do brasileiro captado pelo IBGE “ainda n�o chegou”.
Para economistas, a percep��o de melhora ainda vai demorar para ocorrer. O pa�s tem 12,7 milh�es de desempregados, fora os 4,7 milh�es de brasileiros que desistiram de procurar trabalho, os desalentados. Cimar Azeredo, gerente de Pesquisa do IBGE, destaca que o n�vel de rendimento vai depender do ritmo de recupera��o da economia e do emprego. “Hoje, h� crescimento de postos de trabalho, mas ainda associado a empregos de baixa qualidade e voltados para a informalidade”, frisa. “O rendimento � uma vari�vel vol�til e tem a ver com o sal�rio m�nimo (que foi reajustado em janeiro). Desde o in�cio da s�rie, por�m, temos registrado marcas de rendimento mais baixo”, acrescenta.
ESTAGNA��O O n�mero de empregados no setor privado com carteira assinada � de 32,9 milh�es de pessoas, segundo o IBGE, est�vel em compara��o ao trimestre encerrado em janeiro de 2018. J� o n�mero de empregados sem carteira assinada subiu 2,9% no per�odo, atingindo 11,3 milh�es. Al�m disso, a categoria dos trabalhadores por conta pr�pria avan�ou 3,1%, englobando 23,9 milh�es de brasileiros.
Renan De Pieri, professor de economia do Insper, avalia que a taxa de desemprego tenha mostrado ligeira queda no �ltimo ano, isso n�o foi suficiente para gerar aumento significativo do rendimento da popula��o. “A principal constata��o � de que os sal�rios est�o quase estagnados, mesmo com a retomada dos postos de trabalho”, avalia. “Um dos problemas s�rios do desemprego � que, a partir do momento em que a oferta de vagas aumentar, a popula��o desalentada voltar� a procurar emprego, inflando a taxa de desocupa��o. Por isso, mesmo com cria��o de empregos, n�o ser� poss�vel gerar renda t�o r�pido, ainda mais com a previs�o de crescimento modesto da economia”, analista o especialista.