
S�o Paulo – O brasileiro est� ficando cada vez mais doente no ambiente de trabalho. � isso o que constatou um estudo da International Stress Management Association (Isma), entidade especializada no tema.
No ano passado, um em cada tr�s trabalhadores sentiu na pele os efeitos danosos do estresse, perdendo apenas para os trabalhadores do Jap�o – onde 70% dos cidad�os em idade economicamente ativa se declaram estafados com a jornada profissional.
Nesse custo, incluem-se os gastos com as faltas dos funcion�rios, licen�as para tratamento da sa�de, redu��o da produtividade, despesas de seguro-sa�de e a��es de indeniza��o dos trabalhadores que processam as empresas por terem adoecido.
No Jap�o, o estresse motivado pelo excesso de trabalho � respons�vel por cerca de 10 mil mortes por ano. No Reino Unido, a estimativa � que 17% de todas as faltas ao trabalho se devem a situa��es provocadas pelo estresse, o que resulta em custo de 2% do total do Produto Interno Bruto (PIB), pelos mesmos motivos apontados nos Estados Unidos.
De acordo com especialistas, a degrada��o da sa�de dos trabalhadores est� em ritmo acelerado pois, al�m da crise que atinge as empresas, h� escassez de oportunidades de recoloca��o.
“A press�o vem por todos os lados, desde cargas excessivas a ambientes mais competitivos”, afirma o economista Jos� Afonso, da Funda��o Getulio Vargas (FGV). “Em tempos de crise econ�mica, a amea�a latente de desemprego tem gerado reflexos diretos na sa�de do trabalhador. Nesse cen�rio turbulento, trabalhadores, mesmo doentes em decorr�ncia de sobrecarga e ambientes de trabalho estressantes, tentam manter seus empregos, temendo ser substitu�dos caso pe�am algum tipo de afastamento.”
Considerado o mal deste s�culo, o estresse � o grande catalisador do surgimento de doen�as psicol�gicas. Isso ocorre porque as pessoas n�o conseguem lidar com a grande press�o no ambiente de trabalho e, frequentemente, levam toda a carga negativa para sua vida pessoal.

''Se o n�vel de estresse permanecer alto, ele acaba cansando muito o organismo, al�m de piorar a qualidade do sono''
Armelle Champetier, diretora da Yogist Brasil
Os dados vieram � tona em um relat�rio recente realizado pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS). Para piorar, os brasileiros est�o levando esses �ndices para o alto. Por aqui, 5,8% dos habitantes t�m sintomas depressivos, a maior taxa do continente latino-americano.
A faixa et�ria mais afetada est� concentrada entre 55 e 74 anos. O relat�rio ainda atesta que, apesar de a depress�o atingir pessoas de todas as idades, o risco se torna maior na presen�a de pobreza, desemprego, morte de um ente querido, ruptura de relacionamento, doen�as e uso de �lcool e de drogas.
DESEMPREGO A maior causa de estresse entre os brasileiros atualmente � o receio de perder o pr�prio emprego. Essa � a principal conclus�o da mais recente pesquisa anual da Isma-BR, institui��o que se dedica a investigar o tema.
Al�m da invers�o desses dois fatores nas primeiras posi��es em compara��o ao estudo anterior, chama a aten��o tamb�m que o “desequil�brio entre esfor�o e recompensa” subiu da condi��o de quarto para terceiro principal fator de estresse, deixando para tr�s os conflitos interpessoais, uma das mais tradicionais fontes de aborrecimentos no cotidiano corporativo.
“O estresse n�o � sempre inimigo da produtividade, enquanto ele � um estado tempor�rio: quando um colaborador est� frente a uma situa��o desafiadora, devendo entregar uma tarefa num prazo apertado, ou numa negocia��o importante, o mecanismo nervoso do estresse ajuda o colaborador a poder acessar 100% das suas capacidades cerebrais e mentais, deixando-o num estado de alerta”, afirma Armelle Champetier, diretora da Yogist Brasil, consultoria especializada em bem-estar corporativo.
Mas h� o oposto disso. “Por�m, se o n�vel de estresse permanecer alto, ele acaba cansando muito o organismo, al�m de piorar a qualidade do sono. Um colaborador cansado tem a sua capacidade de concentra��o diminu�da, a sua habilidade de resolver problemas complexos e tomar as decis�es certas afetada.”
No Brasil, a depress�o tem sido uma das causas de maior afastamento dos trabalhadores no ambiente de trabalho. Estima-se que 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) � perdido com despesas relacionadas aos males do estresse no ambiente corporativo. Para se ter uma ideia da gravidade, a doen�a figura em segundo lugar como a que mais tira profissionais de seus cargos, de acordo com a Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS). At� 2020, a expectativa � de que a doen�a passe a figurar no topo da lista. O Minist�rio do Trabalho estima que cerca de 10 milh�es de trabalhadores sofram com o problema no Brasil.
Os especialistas classificam como “presente�smo” as pessoas que seguem trabalhando mesmo doentes, com medo do desemprego. O presente�smo � um problema organizacional, pois o colaborador est� presente fisicamente no trabalho, mas n�o est� produzindo como deveria – o que obviamente afeta os neg�cios da empresa.
A medicina do trabalho recomenda que consultas peri�dicas sejam realizadas num prazo de at� um ano, mas os prazos podem ser reduzidos nos casos em que estresse e depress�o sejam identificados precocemente. A medicina do trabalho deve agir de forma preventiva, mas nem sempre o paciente permite que os sinais de que algo n�o est� bem venham � tona.
S�NDROME DE BURNOUT Outra preocupa��o da medicina do trabalho, com a fragilidade dos profissionais em meio � crise econ�mica e desemprego, � o desenvolvimento da s�ndrome de Burnout, ou s�ndrome do esgotamento profissional. � o termo utilizado para designar o est�gio mais avan�ado de estresse no ambiente de trabalho.
Estar em burnout significa estar preso em uma situa��o sem sa�da, quando j� se perdeu a no��o da dimens�o dos fatos. Quando voc� est� a ponto de ter um ataque hist�rico, ou j� teve realmente, voc� pode estar sofrendo desse mal. Os sintomas s�os, na maioria das vezes, estafa, fadiga e, nos casos mais graves, problemas cardiovasculares, como arritmias e infartos, ou at� surtos psic�ticos.
O tema tem sido recorrente em congressos de medicina e debates sobre medicina do trabalho, e j� � uma grande preocupa��o para os especialistas da �rea. Em primeiro lugar, eles recomendam que o funcion�rio tire f�rias imediatamente e, em segundo, que fa�a uma terapia com um profissional da sa�de mental. Se o problema n�o for atacado de imediato, a pessoa pode acabar sofrendo de depress�o profunda.
“Com o aumento da competitividade e o panorama de recess�o econ�mica, as empresas, na tentativa de continuar a crescer e ser lucrativas, acabam colocando press�o nos colaboradores, o que faz com que o estresse emocional seja uma constante nos locais de trabalho”, diz Beatriz Moura, psic�loga e especialista em sa�de mental pela UFRJ. “A eleva��o da carga hor�ria e o ac�mulo de fun��es tamb�m s�o atitudes amplamente praticadas por empresas de todo o mundo e que contribuem para o aumento dos problemas corporativos.”
Entrevista/Beatriz Moura, psic�loga e especialista em sa�de mental pela UFRJ
‘‘A sa�de mental influencia na produtividade”

Quais fatores contribuem para um trabalhador desenvolver transtornos comportamentais e de sa�de mental?
V�rios fatores contribuem, como coment�rios depreciativos, cr�ticas n�o construtivas, compara��es, excesso de press�o e atitudes autorit�rias.
Nos �ltimos anos, em tempos de desemprego em alta no pa�s, o estresse tem aumentado no trabalho?
Sem d�vida, pois o medo excessivo de n�o dar conta das tarefas no trabalho, para n�o perder o emprego, contribui para o aumento do estresse e o surgimento dos transtornos de sa�de mental.
O estresse no trabalho est� relacionado ao excesso de informa��es provenientes das redes sociais?
Pode ser um dos fatores, pois passar muito tempo navegando no meio digital pode ser nocivo � sa�de, j� que os brasileiros est�o entre os maiores aficionados de redes sociais do mundo.
Qual o resultado na produtividade do colaborador sob estresse?
Os principais efeitos no colaborador sob estresse s�o queda da produtividade, aumento do absente�smo, alta do n�mero de acidentes de trabalho, agressividade e isolamento social.
Qual o impacto desses dist�rbios para as empresas?
Principalmente, a queda de produtividade do trabalhador.
Como os gestores podem identificar problemas de transtornos comportamentais e de sa�de mental em seus trabalhadores?
� fundamental desenvolver campanhas internas sobre o tema. Al�m disso, � ideal que se tenha o acompanhamento dos indicadores de sa�de mental, para que se possa mapear e tratar adequadamente os casos, por meio de t�cnicas diferenciadas, que podem incluir entrevistas e outros modos de avalia��o.
Quais as alternativas que as empresas est�o buscando para melhorar a qualidade de vida dos colaboradores no ambiente de trabalho?
A preven��o e o autoconhecimento s�o os melhores caminhos para uma boa sa�de f�sica e emocional e h� muitas empresas que se dedicam a isso.
Qual o impacto do estresse na sociedade e na viol�ncia urbana?
O estresse, com �nfase no transtorno de estresse p�s-traum�tico, � considerado uma das principais sequelas da viol�ncia urbana. Os danos mais profundos s�o emocionais e podem gerar transtornos como a ansiedade, depress�o e s�ndrome do p�nico.
O problema se torna ainda maior no caso das mulheres?
No caso das mulheres, al�m da press�o no ambiente de trabalho, elas sentem a press�o pelo trabalho dom�stico. J� os homens t�m uma resist�ncia maior em procurar atendimento m�dico e de expressar os sintomas. Por isso, h� um menor n�mero de diagn�sticos.
Quais alternativas o profissional pode usar para cuidar da sua sa�de f�sica e mental?
As principais recomenda��es s�o dormir bem, praticar atividades f�sicas, comer alimentos saud�veis e fazer atividades que tragam satisfa��o, como se reunir com amigos e passeios com a fam�lia.