postado em 11/09/2019 06:00 / atualizado em 11/09/2019 11:33
Grant O'Connell, chefe do departamento de pesquisas da holandesa Fontem Ventures (foto: Fontem Ventures/Divulga��o )
S�o Paulo – Nas �ltimas duas semanas, o executivo escoc�s Grant O’Connell, chefe do departamento de pesquisas da gigante holandesa Fontem Ventures, subsidi�ria do grupo Imperial Brands, maior fabricante de cigarros eletr�nicos no mundo, esteve no Brasil para tentar convencer as autoridades de que, para o bem da sa�de p�blica, seus dispositivos precisam ser liberados para importa��o, produ��o e venda no mercado nacional.
“O argumento de que os cigarros eletr�nicos s�o proibidos porque fazem mal n�o se sustenta”, disse O’Connell, durante audi�ncia p�blica realizada pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), no Rio de Janeiro. “A proposta de libera��o desses dispositivos �, exatamente, reduzir os danos que o tabaco faz a popula��o do mundo todo”, afirmou.
''O argumento de que os cigarros eletr�nicos s�o proibidos porque fazem mal n�o se sustenta''
Grant O'Connell, chefe do departamento de pesquisas da holandesa Fontem Ventures
A proposta da companhia holandesa vai al�m do cigarro eletr�nico. A empresa quer trazer para o Brasil dispositivos que vaporizam ess�ncias sem nicotina, para que fumantes mantenham o h�bito sem prejudicar a sa�de. “Muitos fumantes t�m dificuldade em abandonar o v�cio simplesmente porque se acostumaram a fumar depois das refei��es ou no meio da tarde, algo que pode ser mantido se os cigarros eletr�nicos forem autorizados pela Anvisa”, acrescentou. “Estamos confiantes que a Anvisa entender� isso e, nos pr�ximos meses, liberar� o produto no Brasil.”
Segundo o executivo, assim que houver um sinal verde do cigarro eletr�nico, a companhia vai abrir uma filial no pa�s, que atender� todos os mercados da Am�rica do Sul. Os e-cigaretts j� s�o comercializados legalmente em pa�ses como o Reino Unido, Espanha, Fran�a, Alemanha, It�lia, Jap�o, Nova Zel�ndia, Canad�, Estados Unidos e R�ssia.
“A regula��o do cigarro eletr�nico no pa�s ainda acabaria com a venda ilegal do produto e coibiria o seu uso indevido”, diz O’Connell. “As pessoas deixar�o de comprar um cigarro inadequado e poder�o ‘vapear’ um produto que � duas vezes mais eficaz que adesivos de nicotina, goma ou sprays para parar de fumar. A regula��o tamb�m vai evitar o com�rcio ilegal.”
At� agora, a libera��o dos cigarros eletr�nicos tem esbarrado nas pol�micas envolvendo os produtos em alguns pa�ses, especialmente nos Estados Unidos. Recentemente, a Food and Drugs Administration (FDA), ag�ncia americana de fiscaliza��o de alimentos e rem�dios, notificou fabricantes dos cigarros eletr�nicos a comprovar que os produtos n�o incentivam o aumento do consumo entre os jovens.
Al�m disso, o �rg�o pediu laudos t�cnicos que atestem a seguran�a dos dispositivos em compara��o aos cigarros convencionais. No ano passado, o Centro de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC, na sigla em ingl�s) recebeu den�ncias de que 153 pessoas sofreram danos pulmonares pelo uso dos cigarros eletr�nicos e, por isso, afirma que � preciso mais estudos para determinar os riscos do uso do produto.
SINAL VERDE
Por sua vez, a ind�stria argumenta que esses danos t�m sido potencializados pela restri��o imposta �s empresas, gerando um imenso mercado paralelo de produtos falsificados. “H� muito ativismo envolvido em um debate que deveria ser estritamente t�cnico. Os cigarros eletr�nicos n�o s�o produtos isentos de risco, mas s�o menos nocivos por n�o gerar a combust�o do tabaco. A queima resulta em um processo qu�mico que produz umas 7 mil subst�ncias t�xicas”, diz Anal�cia Saraiva, diretora do departamento de estudos cient�ficos da Souza Cruz, divis�o brasileira da British American Tobacco (BAT). “H� estudos muito s�lidos, em institui��es como Health Canada e o Public Health of England, um dos mais avan�ados do mundo nesse tema.”
Apesar dos argumentos a favor dos cigarros eletr�nicos, h� um crescente movimento de m�dicos e cientistas contra a regulamenta��o de vaporizadores de nicotina e e-cigaretts. “A nicotina � a droga l�cita que mais mata no mundo. Com mais de 400 modelos de aparelhos para fumar no mercado, flexibilizar o consumo vai atrair jovens, manter fumantes no v�cio e convidar ex-fumantes a voltarem a consumir”, rebateu a pesquisadora do Instituto Nacional do C�ncer, Liz Maria de Almeida.
O aguardado sinal verde da Anvisa ser� decisivo para o futuro da ind�stria do tabaco. O consumo vem caindo ano a ano, com a amplia��o das campanhas antitabagistas e a crescente busca da popula��o por h�bitos mais saud�veis de consumo. Em 1989, o percentual era de 34,8%, segundo a Pesquisa Nacional sobre Sa�de e Nutri��o. Em 2016, o percentual de fumantes no Brasil despencou para 10,2%, menor do que em pa�ses como Estados Unidos (16,2%) e Fran�a (23,6%). Hoje em dia est� em 9,3%.
“Sabemos que o cigarro faz mal. � exatamente por isso que defendemos a regulamenta��o dos dispositivos eletr�nicos, que reduzem em at� 95% os danos � sa�de dos fumantes, segundo evid�ncias de estudos independentes”, garante Fernando Vieira, diretor de assuntos corporativos da Philip Morris.
Vigil�ncia sanit�ria diz que n�o aceitar� press�es
Temor � de que o dispositivo atraia usu�rios jovens, instigando o h�bito de fumar (foto: Licsiren/iStock/Divulga��o)
Entre argumentos contr�rios e favor�veis � libera��o do cigarro eletr�nico, a Anvisa afirma que seguir� seu calend�rio normalmente. O �rg�o tem utilizado uma posi��o de cautela em suas declara��es.
“N�o vamos acelerar nem encurtar nosso tr�mite normal em torno desse tema”, afirma Andr� Luiz Silva, especialista em vigil�ncia da ger�ncia geral de tabaco da Anvisa. “A ag�ncia seguir� o tr�mite normal at� dezembro, quando est� prevista a divulga��o de alguma delibera��o sobre os cigarros. Existem argumentos muito convincentes em todos os lados desse debate. Precisamos analisar e avaliar todos os pr�s e contras da regulamenta��o dos dispositivos eletr�nicos antes de tomar qualquer delibera��o.”
Um dos maiores problemas � que, embora sejam proibidos no Brasil, os cigarros eletr�nicos est�o dispon�veis em sites de com�rcio eletr�nico, lojas especializadas e em camel�s.
DANOS AO CORA��O
O argumento da Anvisa � que os estudos sobre os efeitos do cigarro eletr�nico n�o s�o conclusivos. Em julho de 2017, a Anvisa recebeu um documento de apoio da Associa��o M�dica Brasileira (AMB) e das Sociedades M�dicas filiadas a ela. O documento sugere que o uso do cigarro eletr�nico � prejudicial para a sa�de do usu�rio, al�m de poder atrair usu�rios jovens, instigando o h�bito de fumar.
A ag�ncia argumenta, ainda, que os resultados preliminares de uma pesquisa da faculdade de medicina da Universidade de Nova York indicaram que o cigarro eletr�nico poderia aumentar o risco de danos ao cora��o, pulm�es e bexiga. Por�m, os resultados n�o s�o conclusivos, j� que esse tipo de investiga��o pode levar anos.