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Estado de Minas IMPASSE

Por que ningu�m quer o Othon Palace? Pr�dio que abrigou �cones tem futuro incerto

Leil�o do pr�dio terminou sem arremate; localiza��o e tombamento dificultam situa��o do antigo hotel


07/10/2020 18:00 - atualizado 07/10/2020 19:36

Othon Palace Hotel, no centro de BH, está de portas fechadas desde o fim do ano retrasado.(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Othon Palace Hotel, no centro de BH, est� de portas fechadas desde o fim do ano retrasado. (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A ‘meia-lua’ cravada no cora��o de Belo Horizonte est� apagada desde novembro de 2018. O Othon Palace Hotel, na esquina entre a Rua da Bahia e a Avenida Afonso Pena, no Centro da capital mineira, foi leiloado nessa ter�a-feira (6). O lance m�nimo de R$ 30 milh�es n�o foi dado e o pr�dio ficou sem comprador.

O Estado de Minas ouviu especialistas sobre o que espantou poss�veis arrematantes, fazendo agonizar ainda mais os ‘escombros’ do que, outrora, foi o mais pujante hotel da cidade. Para o vice-presidente da Federa��o das Ind�strias de Minas Gerais (Fiemg), Teodomiro Diniz, a localiza��o do antigo Othon e o momento da economia belo-horizontina s�o fatores agravantes.

“O grande dificultador para o encaminhamento do pr�dio � o ponto onde ele se encontra e a economia do local onde ele est�. Belo Horizonte n�o tem mercado para absorv�-lo como hotel — e o pr�dio foi constru�do para isso”, diz.

No cen�rio ideal projetado por Teodomiro, o pr�dio poderia sediar um espa�o de compras. O momento econ�mico da cidade, contudo, � o que impede a concretiza��o de ideias do tipo. “Se tiv�ssemos uma economia urbana desenvolvida, ali seria um pr�dio vertical pujante, com lojas e oficinas. O ponto � excepcional. O que falta s�o op��es para transforma��o, e op��es s�o dadas quando h� economia forte”, completa.

O consultor hoteleiro Maarten Van Sluys cr� que a voca��o do edif�cio � hospedar pessoas. “O Othon n�o � um im�vel que tem voca��o para ser outra coisa que n�o seja um hotel, por quest�es como (o baixo n�mero de) vagas (de estacionamento), estrutura interna muito ampla e sala de eventos. Uma adequa��o para outra atividade, al�m de cara, esbarraria em estudo de mercado”, opina.

A dificuldade para transformar o pr�dio em empreendimento de outra natureza torna a situa��o do Othon Palace ainda mais dif�cil. De acordo com Teodomiro Diniz, o contexto permitiria, apenas, a convers�o do espa�o em �rea residencial. “N�o h� muitas op��es. Se tiv�ssemos uma economia forte, ter�amos muitas possibilidades, como um centro m�dico”, lamenta.

At� mesmo a poss�vel transforma��o do pr�dio em um edif�cio de apartamentos residenciais � vista como dif�cil. O novo dono do local precisar� dar aten��o especial ao tombamento da constru��o, protegida pelo Conselho Deliberativo do Patrim�nio Cultural do Munic�pio de Belo Horizonte (CDPCM-BH). Projetos para modificar a fachada, por exemplo, precisariam ser analisados pela Diretoria de Patrim�nio Cultural.

“A primeira coisa para (transformar o Othon em pr�dio residencial) seria a implanta��o um isolamento ac�stico. Isso, al�m de caro, esbarra em uma poss�vel limita��o por conta do tombamento da fachada. Teria que ser um projeto muito bem concebido para n�o afetar (o tombamento)”, afirma Maarten.

Alto custo de manuten��o

 

Al�m do milion�rio lance, interessados no pr�dio precisam considerar os d�bitos referentes ao Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) com a prefeitura. S�o R$ 5.377.333,55, mais acr�scimos legais, ficando a cargo do comprador negociar poss�veis alternativas para a quita��o da d�vida Teodomiro ressalta que os custos elevados do hotel, al�m das pend�ncias de IPTU, podem afastar investidores.

Segundo ele, os R$ 30 milh�es pedidos inicialmente n�o caracterizam alto pre�o — as contrapartidas � que d�o forma a um complicador financeiro. “O pre�o � alto por n�o ter valor de revenda e de coloca��o do mercado, que � fragilizado na regi�o”, explica.

Para retomar a atividade hoteleira no espa�o, Maarten diz que a reforma do espa�o pode custar entre R$ 10 e R$ 12 milh�es. As cifras, somadas aos valores necess�rios para adquirir o pr�dio, s� seriam recuperadas em, no m�nimo, 10 anos de funcionamento.

Hotel � 'moda antiga'

A pandemia do novo coronav�rus proporcionou impactos negativos aos empres�rios de hotelaria. Al�m disso, a estrutura oferecida pelo Othon, com poucas vagas de garagem e quartos que chegam a ter 44 metros quadrados, destoa dos hot�is modernos.

“O setor hoteleiro, em Belo Horizonte, foi extremamente afetada pela pandemia. Se existe algo que, hoje, n�o � atrativo, � o investimento em hotelaria. Ele foi constru�do em uma outra �poca, em que padr�es de hotelaria eram diferentes”, pontua Maarten.

O �ltimo ano de super�vit nas contas foi 2014 — quando o pa�s recebeu a Copa do Mundo. Do ano seguinte em diante, preju�zos se acumularam e o n�mero de novos hot�is cresceu, j� que a cidade criou mecanismos legais para incentivar a abertura de novos espa�os.

Sofreram com o boom do setor, justamente, hot�is mais antigos, como o Othon. A princ�pio tido como cinco estrelas, ele teve sua avalia��o reduzida. E, enquanto a arrecada��o minguava, os gastos continuavam altos. “O segmento de hotelaria sofreu um forte abalo, principalmente (no que diz respeito aos) hot�is mais antigos. Em 2015, o Othon j� era um hotel de segunda gera��o. Ele passou a ser um hotel quatro estrelas e as di�rias tiveram que ser reduzidas”, completa.

Hist�rias do Othon 

Os quartos do Othon j� hospedaram diversas personalidades ilustres, como o cantor Roberto Carlos e os ex-presidentes Tancredo Neves e Jo�o Baptista Figueiredo. Parte dos “moradores tempor�rios” do hist�rico hotel frequentaram a bancada do Caf� Nice, na Pra�a Sete, a poucos metros dali.

Renato Moura Caldeira, dono do caf�, guarda com carinho as lembran�as proporcionadas pelo hotel. Funcion�rios de um laborat�rio de pesquisa econ�mica dos Estados Unidos frequentavam o Nice em meados dos anos 2000, j� que sempre que estavam em BH, se acomodavam no Othon. Apaixonados pelo cafezinho servido na lanchonete, resolveram homenagear o estabelecimento.

“Um deles me deu um certificado, que est� pendurado na parede, reconhecendo o Caf� Nice como servidor oficial de cafezinho dos integrantes desse laborat�rio”, lembra o orgulhoso Renato.

O propriet�rio do Caf� Nice, no entanto, lamenta a indefini��o em torno do futuro do hotel. “Cada pr�dio e loja fechada � ruim para comerciantes e para a cidade”, sustenta.


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