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A x�cara de caf� que custa R$ 420

Os caf�s gourmet ganharam popularidade nos �ltimos anos - mas o que faz uma variedade de caf� ser t�o valiosa?


18/11/2020 06:46 - atualizado 18/11/2020 09:08

(foto: Alamy Stock Photo)
(foto: Alamy Stock Photo)

No leil�o anual de caf�s premiados do Panam�, todos os olhos se voltam para os pre�os.

Isso porque a cada ano � batido um novo recorde. Neste ano, o gr�o mais bem avaliado foi vendido por US$1.300 (R$ 7,3 mil) por libra (454 gramas) %u2015 superando os US$ 1.029 (R$ 5,8 mil) de 2019.

Em 2018, o caf� vencedor %u2015 leiloado por US$ 803 (R$ 4,5 mil) %u2015 foi uma variedade chamada Elida Geisha, colhida em uma planta��o familiar situada dentro de uma reserva de floresta vulc�nica no oeste do pa�s.

Apenas 45 kg do caf� foram vendidos no leil�o para um grupo formado por compradores chineses, japoneses e taiwaneses %u2015 e tamb�m para um americano, da Klatch Coffee, de Los Angeles.

A Klatch garantiu 4,5 kg do lote, e logo lan�ou uma promo��o: uma x�cara do "caf� mais caro do mundo" por US$ 75 (aproximadamente R$ 420).

"Quando pensamos nos melhores vinhos ou conhaques, h� tantas bebidas agrad�veis %u200B%u200Bsemelhantes, e n�o hesitamos", diz Darrin Daniel, diretor-executivo da Alliance of Coffee Excellence, uma organiza��o sem fins lucrativos com sede em Portland, nos EUA, que apoia pequenas fazendas produtoras de caf�s especiais em todo o mundo.

E, segundo ele, o caf� de alta qualidade tamb�m merece esse tratamento.

Afinal, foi necess�rio muito esfor�o para produzir aquela x�cara de caf� em particular.

Atualmente, a cota��o do caf� commodity no mercado internacional � de US$ 1,10 por libra, em decorr�ncia do excesso de oferta.

As propriedades agr�colas de grande porte em pa�ses como o Brasil %u2015 que fornece 29% do caf� importado da Uni�o Europeia %u2015 tornam a competi��o entre as pequenas propriedades familiares desafiadora e por vezes insustent�vel.

Foi durante uma recess�o no final da d�cada de 1990 que os concursos e leil�es de caf�s especiais come�aram a decolar. O objetivo, diz Daniel, era reconhecer os pequenos produtores e criar uma plataforma para se conectarem a compradores de caf� nos EUA, Europa, Austr�lia e �sia.

Hoje, h� dezenas de concursos e leil�es de caf�. A Cup of Excellence, organizada pela Alliance of Coffee Excellence, � conhecida como "Olimp�ada do Caf�" e atrai agricultores de 11 pa�ses.

A The Best of Panama, competi��o que coroou a variedade Geisha da Lamastus Family Estates (2018 e 2019) e Finca Sophia (2020), tamb�m atrai um p�blico internacional.

Os caf�s com maior pontua��o nessas competi��es s�o vendidos por um valor muito mais alto do que US$ 1,10 por libra %u2015 n�o necessariamente US$ 1.300, mas �s vezes entre US$ 100 e US$ 300 por libra.

"� gratificante para os agricultores e para os consumidores", afirma Ric Reinhardt, diretor-executivo em�rito da Associa��o de Caf�s Especiais da Am�rica (SCAA, na sigla em ingl�s).

"Enquanto os agricultores t�m uma vida melhor, os consumidores desfrutam de um produto melhor."

A variedade Elida Geisha, vencedora em 2018 e 2019, vem de uma pequena fazenda em Boquete, no Panam�, administrada por quatro gera��es da fam�lia Lamastus. Elida era o nome da matriarca que administrava a fazenda e criou a fam�lia sozinha depois de perder o marido ainda jovem.

Embora a fam�lia cultive caf� por mais de 100 anos, o gr�o Elida Geisha � relativamente novo. Por muito tempo, a fazenda da fam�lia enfrentou dificuldades e perdeu dinheiro, diz Wilford Lamastus Jr, produtor de caf� da quarta gera��o da Lamastus Family Estates.

Al�m do caf�, a fazenda tamb�m cultivava cebola, amoras e mel�o para fazer face �s despesas.

"Qualquer pessoa em s� consci�ncia diria: 'Estamos perdendo dinheiro. Temos que parar'", lembra Lamastus.

Mas a fam�lia decidiu dobrar a aposta no caf�. O pai dele ajudou a estabelecer a Associa��o de Caf�s Especiais do Panam�, juntando-se a outros cafeicultores da regi�o e organizando a competi��o Best of Panama.

Em 2004, o grupo se viu diante de um momento decisivo: outra propriedade familiar, a fazenda La Esmeralda, encontrou uma variedade rara de caf� chamada Geisha. Destaque na competi��o daquele ano, foi vendida a US$ 21 por libra, um recorde na ocasi�o.

Logo, outros agricultores, incluindo a fam�lia Lamastus, tamb�m come�aram a cultivar o gr�o.

Tamb�m conhecida como Gesha, esta variedade se originou na d�cada de 1930 na regi�o de Gesha, na Eti�pia. Por volta dos anos 1960, as sementes acabaram chegando a um centro de pesquisa na Costa Rica, e depois ao Panam�.

Os fazendeiros descobriram que a variedade era resistente e capaz de sobreviver a certas doen�as, mas produzia pouco caf� %u2015 e n�o era saboroso.

Por anos, ficou esquecida. At� que a fam�lia Peterson da fazenda La Esmeralda descobriu a variedade por acaso durante um levantamento na propriedade. E constatou que, se cultivada em altitudes mais elevadas, produzia um caf� de sabor �nico e acentuado.

"Voc� pode passar a vida toda encontrando ocasionalmente uma ou duas notas [florais e/ou frutadas] juntas em um caf� realmente bom", diz Reinhard.

Mas, no caso da variedade Geisha, "voc� encontra toda uma sinfonia dessas notas".

A fam�lia Lamastus comprou e plantou as primeiras sementes em 2006. Demorou oito anos %u2015 muito mais do que a maioria das variedades de caf� leva %u2015 at� a primeira colheita.

Os p�s de caf� eram dif�ceis de ser cultivados.

Lamastus estima que 20% morreram durante a transfer�ncia do viveiro, enquanto outros padeceram por estarem muito expostos em altitudes t�o elevadas.

Mas Lamastus diz que eles tamb�m foram aben�oados com um excelente terreno para plantio, um rico solo vulc�nico, um microclima �nico de grandes altitudes e uma localiza��o central entre o Caribe e o Oceano Pac�fico.

A colheita e o processamento dos gr�os exigem bastante aten��o a cada detalhe para que o sabor do caf� possa ser real�ado. Cerca de 20% dos 65 hectares da fazenda agora s�o dedicados � variedade Geisha %u2015 e eles ainda planejam expandir.

Em 2018, o gr�o Elida Geisha da fam�lia Lamastus venceu em sua categoria. Em 2019, a fam�lia ganhou duas vezes, tanto com a variedade Elida Geisha natural, quanto com o Elida Geisha lavado %u2015 alcan�ando, no leil�o, o pre�o recorde de US$ 1.029 por libra.

Michael Perry, comprador e especialista da Klatch, foi um dos jurados do concurso "The Best of Panama" de 2018, parte de um j�ri internacional que provou os caf�s �s cegas, dando uma nota de 1 a 100 para cada variedade.

Perry concedeu 97 pontos ao Elida Geisha natural.

"Foi a melhor x�cara que j� degustei na vida", diz ele, que s� n�o deu nota 100 para o caso de aparecer algo ainda melhor no futuro.

Perry logo se juntou a um grupo de compradores, como o Black Gold de Taiwan, para dar um lance em conjunto no leil�o. Por causa da diferen�a de fuso hor�rio, o leil�o online foi at� tarde da noite, mas ele foi dormir sabendo que haviam comprado o lote premiado.

Com o custo de envio e prepara��o do caf�, Perry estima que o pre�o final ficou pr�ximo de US$ 1.000 por libra %u2015 e cada libra produz cerca de 80 x�caras de caf�.

Klatch transformou isso em uma experi�ncia: em eventos privados, os clientes n�o apenas pagam para saborear uma x�cara do caf� raro, como tamb�m aprendem sobre suas origens.

"Mesmo as pessoas que est�o pagando pelo caf� n�o sabem exatamente por que est�o pagando tanto", afirma Heather Perry, vice-presidente da Klatch e presidente da SCAA.

"Portanto, adicionar contexto ajuda."

Daniel Walsh � um dos clientes da Klatch que pagou para provar uma x�cara do caf� premiado.

Profissional da ind�stria de bebidas, ele se autodescreve como esnobe em rela��o a caf�, ao ponto que quando viaja, leva seus pr�prios gr�os, moedor e cafeteira para preparar uma x�cara todas as manh�s.

"� claro que voc� n�o vai pagar US$ 75 por uma x�cara todos os dias", diz Walsh.

"Mas voc� compra boas garrafas de vinho ou u�sque, e paga rios de dinheiro por rel�gios ou sapatos que usa apenas uma vez. Adoro caf� e queria poder dizer: 'Provei'."

Walsh degustou ent�o o caf�, saboreando a combina��o incomum de sabores florais e frutados. E n�o podia estar mais certo da sua decis�o:

"Voc� simplesmente n�o consegue sentir isso no caf� do dia a dia", afirma.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Travel.


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