
Exposto duramente aos impactos da pandemia do novo coronav�rus, o com�rcio fechou portas e reduziu hor�rios de atendimento para se adequar �s restri��es impostas pelas medidas de isolamento social, necess�rias para conter a dissemina��o da COVID-19.
Apesar das dificuldades, o setor passou por um per�odo de inova��o, se reinventou e a venda on-line tornou-se uma esp�cie de estrat�gia salvadora para garantir a manuten��o da atividade.
At� mesmo empreendedores de segmentos tradicionais do atendimento presencial, como as �ticas e produtores do queijo artesanal de Minas Gerais, adotaram a forma virtual de fazer neg�cios.
Devido aos efeitos do coronav�rus e ao recolhimento das pessoas em casa, mesmo aqueles comerciantes que n�o tinham intimidade com as novas tecnologias recorreram � internet, ao aplicativo WhatsApp e �s redes sociais, seja o Facebook, seja o Instagram. Assim, asseguraram o caixa e preservaram empregos em v�rios setores.
Bem diferente dos antigos produtores do queijo do Serro, no Vale do Jequitinhonha, que se deslocavam por longas dist�ncias transportando a iguaria para fazer contato com a clientela e, ent�o, vender a mercadoria, hoje, os empreendedores do ramo fazem seus neg�cios sem tirar os p�s das propriedades, usando as redes sociais para atender clientes em v�rios estados, como Mato Grosso e Rond�nia.
Diante das dificuldades criadas pelos efeitos da pandemia de coronav�rus, a estrat�gia encontrada para n�o acumular preju�zos, com queda da demanda, foi a aposta no com�rcio digital, embora eles tivessem pouca intimidade com as novas tecnologias.
As vendas on-line foram alavancadas e garantiram n�o somente a manuten��o da atividade, como ampliaram o mercado do queijo do Serro, cuja produ��o foi iniciada h� quase 300 anos, no per�odo colonial, e gera renda para mais de 800 produtores, sendo que a maioria deles conduz pequenas propriedades integradas � agricultura familiar e que d�o continuidade ao of�cio preservado por gera��es.
Alyrio Ferreira Campos J�nior � um dos produtores artesanais de queijo do Serro que promoveram uma virada de rumo na atividade, a despeito da pandemia. Integrante da terceira gera��o de uma fam�lia produtora da famosa iguaria, ele conta que o neg�cio vinha muito bem, aguardando bons lucros em 2020, quando foi “atropelado” pela chegada repentina da crise provocada pelo coronav�rus, em mar�o do ano passado.
“O nosso neg�cio estava embalado. A gente estava cheio de ideias e projetos.Tinha toda uma programa��o, que foi por �gua abaixo”, diz Alyrio, citando a expectativa de incremento de vendas a partir da participa��o em v�rias feiras, que estavam previstas para o ano passado e foram suspensas. Houve preju�zo tamb�m com a suspens�o da entrega nas lojas pelos revendedores.

O produtor conta que a freguesia cresceu. “Uma das melhores coisas que aconteceram na pandemia foi que abrimos o nosso mercado. Na pr�tica, descobri um nicho de mercado, que antes n�o conhecia. Foi um achado.”
S�cio-diretor de uma rede de �ticas sediada em Belo Horizonte, o Centro Vis�o, Fernando Cardoso, relata que antes do surgimento do coronav�rus, em mar�o de 2020, s� vendia no sistema presencial, embora j� tivesse um site em prepara��o. Com o fechamento das lojas f�sicas, devido ao isolamento social, j� no primeiro m�s da pandemia, em mar�o de 2020, a empresa ativou o seu site, incrementou as vendas pelas redes sociais e o WhatsApp e ainda criou um sistema de atendimento domiciliar.
“A pandemia projetou v�rias possibilidades. Sairemos dela como uma empresa mais completa. Entramos com 20 lojas e hoje a gente tem 25 lojas”, afirma Fernando Cardoso. O empres�rio salienta que ao investir nas vendas a dist�ncia, a rede de �ticas cresceu na capital. Houve tamb�m uma mudan�a comportamental dos consumidores na pandemia, diante do uso do avan�o do e-commerce e das novas tecnologias.
“H� clientes que fazem a compra pelo site, mas querem buscar o produto na loja. Tamb�m h� quem v� primeiro � loja f�sica, experimenta os �culos, mas faz a compra pelo site”, relata.
Recorde As vendas on-line tiveram crescimento de quase 50% no pa�s no segundo semestre de 2020 e viraram uma t�bua de salva��o para os lojistas, obrigados a fechar suas portas por causa do isolamento social. O presidente da C�mara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte ( CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva, destaca a import�ncia de pol�ticas de gest�o como o delivery, encomenda personalizada e atendimento individualizado, ainda que virtual.
A CDL/BH lembra que as vendas digitais cresceram 47% no segundo semestre de 2020, maior crescimento alcan�ado em 20 anos. Apenas em outubro, o com�rcio digital teve expans�o de 23% em rela��o ao mesmo per�odo de 2019. No Natal de 2020, aos neg�cios on-line avan�aram 45% na mesma base de compara��o, movimentando mais de R$ 3 bilh�es no pa�s, segundo estudos da ACI Wordlwide, l�der mundial de solu��es eletr�nicas e banc�rias em tempo real.

Bom relacionamento antecipou estrat�gia
De pequenos a grandes neg�cios se adaptaram �s tecnologias de vendas digitais. Fabr�cia Alves de Faria, s�cia da revenda de roupas e artigos infantis Japinhas Baby, de Belo Horizonte, conta que, como outros lojistas, foi surpreendida com o fechamento do com�rcio em mar�o de 2020, no primeiro m�s da pandemia. “Foi um momento de surpresa e de grande desafio. Mas acredito que a gente teve rapidez em solucionar o problema das portas fechadas, iniciando as vendas on-line.

O sistema digital de vendas possibilitou grandes expans�o, ao permitir faturamento de R$ 67 mil mensais por meio das redes sociais e o WhatsApp, frente aos R$ 5 mil por m�s apurados com o sistema a dist�ncia antes da pandemia. A Japinhas Baby criou um cat�logo dos seus produtos voltado para a divulga��o em meios digitais. Al�m disso, o m�todo proporciona toda a negocia��o entre vendedor e cliente de forma eletr�nica. Fabr�cia relata que o seu sucesso com o uso da “alternativa” on-line foi t�o grande que repassou a experi�ncia para outros lojistas, movida tamb�m pelo esp�rito da solidariedade.
O comerciante Altair Rezende, de 66 anos, dono de uma grande loja de brinquedos, a Brinkel, situada no Padre Eust�quio, em BH, afirma que durante quase tr�s d�cadas de funcionamento (que ser�o completados em abril deste ano) o estabelecimento teve como foco as vendas presenciais. Na primeira vez em que o com�rcio n�o essencial ficou fechado, por 90 dias, Altair recorreu �s vendas pelas redes sociais (Facebook e Instagram) e pelo WhatsApp. “Trabalhamos com muita garra e determina��o, mantendo um bom atendimento”, afirma.
O empres�rio ressalta que as vendas a dist�ncia ajudaram a preservar os 13 empregados. Por outro lado, Altair salienta que, para sobreviver se valeu de outras a��es, como a negocia��o do valor aluguel, reduzido em 50% durante a pandemia, e o uso de cr�dito emergencial do governo federal para o pagamento de parte dos sal�rios dos funcion�rios.
Ivandinei de Souza Mangueira Cardoso, de 51, conhecida como Vanda Mangueira, � propriet�ria da loja de confec��es Pollyanna Modas, que tem dois pontos em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais. No mercado h� 28 anos, Vanda sempre se dedicou ao com�rcio presencial, situa��o que mudou em mar�o de 2020. N�o por vontade pr�pria, mas por uma quest�o de sobreviv�ncia mesmo.
“Quando veio a pandemia, fui obrigada a fechar as lojas. A�, comecei a trabalhar o (com�rcio) on-line, chamando nossos clientes pelas redes sociais e passei a vender pelo WhatsApp”, relata a empres�ria. Ela considera ter dado a volta por cima se aproveitando de uma pol�tica antiga de aproxima��o com os clientes. “Com a chegada da pandemia, quando o pessoal ficou em casa, esses la�os se fortaleceram. Os pr�prios clientes passaram a nos procurar”, diz. Com a reabertura das lojas, as vendas pelo Instagram e o WhatsApp passaram a responder por 20% do total. (LR)
Produtores se lan�aram �s novidades
T�lio Madureira, ex-presidente da Associa��o dos Produtores Artesanais de Queijo do Serro (Apaqs), n�o tem d�vidas de que o com�rcio on-line foi importante para evitar que os agricultores fossem obrigados a interromper a produ��o e a entregar o leite in natura para a ind�stria dos latic�nios. Isso resultaria na elimina��o do valor agregado do leite. “Com as lojas fechadas na pandemia, os consumidores tamb�m encontraram uma maneira de comprar o queijo diretamente dos produtores pelo sistema on-line. Isso garantiu tamb�m a manuten��o dos empregos das pessoas que trabalham na produ��o do queijo do serro”, observa.
Em junho de 2019, Madureira esteve na Fran�a, onde os queijos artesanais do Serro foram premiados no concurso Mundial Du Fromag, na cidade de Tour. O concurso � considerado a mais importante premia��o no mundo.
Outro produtor de queijo do serro que passou aperto no come�o da pandemia e superou os obst�culos com as vendas on-line foi Lindomar Santana dos Santos, de 51. “No in�cio, foi muito complicado porque as lojas fecharam e a procura pelo produto caiu muito.”
Lindomar revela que em 2018 come�ou a usar as vendas on-line – por WhatsApp e Instagram. Com a chegada a pandemia, por necessidade, incrementou de vez o com�rcio virtual, ampliando sua lista de clientes. “Hoje, 95% das vendas do nosso queijo maturado s�o feitas pelo sistema on-line” diz ele, que tem clientes em todo o pa�s. Al�m de atender o mercado de Minas, comercializa o produto no Rio de Janeiro, Esp�rito Santo, Santa Catarina, Mato Grosso e Rond�nia.
A rigor, a nova estrat�gia de venda foi aprendida em cursos e palestras sobre vendas e marketing digitais. Alyrio Ferreira J�nior conta que passou pelo aprendizado com a crise do coronavirus. “Aprendi muito em 2020. Tivemos que nos adequar, reinventar e remanejar tudo”, afirma. O produtor tamb�m participou de um programa de capacita��o promovida pelo Sebrae Minas, com o objetivo de dinamizar a produ��o e o com�rcio do queijo artesanal em tempos de pandemia. “Agora, vamos aprimorar o neg�cio e andar pra frente, se Deus quiser.”