
O aumento das entregas a partir do uso de aplicativos de pedidos de alimenta��o, entre eles iFood, UberEats e DeliveryMuch, est� sendo estudado pela professora associada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Leise Kelli de Oliveira.
Ela integra grupo de pesquisadores de quatro pa�ses – Pol�nia, Holanda, Austr�lia e Brasil – que se dedicam a identificar e compreender os efeitos da pandemia do novo coronav�rus sobre os h�bitos dos clientes do com�rcio eletr�nico, o e-commerce.
A pesquisa come�ou a ser realizada em mar�o de 2020 – per�odo que a pandemia foi caracterizada no Brasil – e dever� ser conclu�da em dezembro deste ano. Foram entrevistados 1.400 brasileiros por amostragem.
Leise de Oliveira revela que uma das primeiras constata��es do estudo foi o aumento significativo do percentual de pessoas que compram alimentos e bebidas pelo sistema on-line, que passou de 57% para 67% durante a pandemia.
“No �mbito da pesquisa, esse dado � muito importante porque mostra claramente que um dos principais aumentos percentuais no consumo ocorreu no setor de alimentos e bebidas”, destaca. Ela ressalta que a expans�o teve continuidade mesmo ap�s a reabertura dos estabelecimentos, que enfrentaram per�odos de portas fechadas em v�rias regi�es do pa�s, como parte das medidas de isolamento social para conter a dissemina��o da COVID-19.

A chegada da vacina n�o deve afetar, ao menos de imediato, o comportamento do consumidor, na avalia��o de Leise Oliveira. “No in�cio, acho que n�o. Muita gente vai continuar o usando o delivery at� o momento em que toda popula��o for imunizada”, afirma.
A pesquisadora associada � UFMG destaca que houve tamb�m diversifica��o dos servi�os que adotaram a entrega por aplicativos durante a pandemia. “Antes, os aplicativos ofereciam apenas comida preparada e agora todos oferecem produtos de supermercados, farm�cia, entre outros. Nesse sentido, existe uma potencial tend�ncia de aumento de vendas deste sistema”, diz. “Contudo, isso � uma percep��o e n�o se pode falar em futuro sem dados para analisar”, pondera.
'Novo normal' Relat�rio recente do Ebit – servi�o de informa��es sobre o e-commerce – indica que o n�mero de vendas pelo meio eletr�nico no primeiro semestre de 2020 (que abrange os meses de maior rigor nas restri��es ao com�rcio presencial) foram 39% superiores ao primeiro semestre de 2019. O mesmo levantamento de dados apontou que o t�quete m�dio de compras on-line teve eleva��o de 6% entre janeiro e junho do ano passado, alcan�ando R$ 427, frente a R$ 404 no semestre analisado de 2019.

''Em alguns pa�ses, as lojas f�sicas est�o se tornando vitrines de experi�ncia do usu�rio e a compra � realizada on-line''
Leise Kelli de Oliveira, pesquisadora associada da UFMG
Os empreendedores dos neg�cios on-line devem se preparar para movimento crescente no meio eletr�nico no chamado “novo normal”, ap�s a pandemia. “Em alguns pa�ses, as lojas f�sicas est�o se tornando vitrines de experi�ncia do usu�rio e a compra � realizada on-line. Acredito que essa ser� uma tend�ncia para o futuro.
Al�m disso, muitos pequenos empreendedores t�m utilizado os marketplaces (como Amazon, Magazine Luiza e Mercado Livre) para oferecer os produtos para os consumidores. “Acredito que essa seja uma tend�ncia.”
Por outro lado, ela chama a aten��o para um fator que “muitas vezes � esquecido”: a necessidade de rapidez na entrega. “Muitas lojas j� oferecem o servi�o 'compre e retire' ou 'clique e retire'. Contudo, esse sistema de entrega precisa ser expandido, com maior flexibilidade de dia e hor�rio. Al�m disso, tamb�m permitir a log�stica reversa, facilitando a devolu��o e troca de encomendas”, observa a especialista.
Desafios
O custo dos fretes das mercadorias n�o deve ser o �nico n� a ser desatado pelo com�rcio eletr�nico. A pesquisadora Leise Oliveira considera um futuro em que a entrega domiciliar pode se tornar insustent�vel do ponto de vista do meio ambiente.
“Trocar um deslocamento por compra com entrega domiciliar pode ser algo que incremente muito o custo de transporte e desestimule o com�rcio eletr�nico. Tenho d�vidas se ser� comum comprar um produto ao custo de R$ 20 e pagar R$ 30 em frete. Isso � algo que deve ser motivo de investiga��o cient�fica”, avalia.
Restaurantes investem, mas h� mais competi��o
A “migra��o” para o delivery foi alternativa encontrada pelo empres�rio Tancredo Macedo Filho, dono do bar e restaurante Mapa de Minas, de Montes Claros, no Norte do estado, para manter o neg�cio ap�s a crise do coronav�rus. Ele conta que o servi�o de entrega era t�mido e s� depois da crise sanit�ria recebeu investimento sigificativo. “Antes, o delivery representava 20% das minhas vendas. Com a pandemia, passou a responder por 80% do faturamento”, afirma.
Como outros empreendedores do setor, ele teve que apostar nas entregas de comida em domic�lio por uma quest�o de sobreviv�ncia. Imediatamente ap�s a pandemia, os bares e restaurantes de Montes Claros ficaram fechados por tr�s meses, sendo permitidas somente as vendas pelo delivery. Reabriram as portas em 20 de junho com uma s�rie de restri��es, limite de clientes e hor�rio de funcionamento reduzido.
O comerciante salienta que a estrutura de delivery por aplicativos demandou a contrata��o de quatro pessoas – dois cozinheiros e dois atendentes dedicados exclusivamente ao atendimento em domic�lio. Com isso, em plena pandemia, o quadro de pessoal da casa cresceu de 32 para 36 funcion�rios.
O restaurante contrata empresas terceirizadas, que fazem as entregas dos pedidos por aplicativos. “Mas, mesmo se estiver no pr�prio restaurante, o cliente pode fazer o pedido pelo aplicativo usando o celular, que a comida ser� levada � sua mesa”, acrescenta.
Ap�s a reabertura do com�rcio de produtos e servi�os n�o essenciais, Tancredo Filho observou que o sistema de delivery continua em alta. Segundo ele, entregas passaram a responder por 20% do seu faturamento, em vez dos tradicionais 3% das vendas. “A tend�ncia do delivery � crescer sempre.”
No restaurante Skema Kent, tamb�m de Montes Claros, o propriet�rio Jos� Maria Malheiros contabilizou o dobro das vendas para entrega em domic�lio no in�cio da pandemia. “Mas, por causa das medidas do isolamento social, todos os restaurantes da cidade criaram o delivery. A concorr�ncia aumentou muito e, hoje, minhas entregas ca�ram 50%, voltando ao que eram antes da pandemia”, relata Malheiros.
Impostos Andr�a Marques Moura, gerente do restaurante Mania Gourmet, conta que o investimento no sistema de delivery resultou em aumento de 40% das entregas durante a pandemia, mas reclama de concorr�ncia desleal. “Com as restri��es ao atendimento presencial, todo mundo investiu no delivery e surgiram servi�os de entrega de fundo de quintal, por gente que n�o paga impostos. Isso acaba atrapalhando a gente, que paga tributos e tem custos fixos”, reclama Andr�a.
Propriet�rio de um restaurante (Chega L� na Fil�) em Pirapora (Norte de Minas), cidade que atrai turistas por causa das belezas do Rio S�o Francisco, o comerciante Thiago de Abreu S� afirma que j� fazia as entregas em domic�lio, sobretudo de sandu�ches, atendendo aos pedidos pelo WhatsApp. Com a pandemia, melhorou o servi�o, recorrendo � digitaliza��o e a aplicativos de transportes especializados em alimentos.
Com a mudan�a, as vendas pelo delivery subiram 70%. Satisfeito com o resultado, mudou o perfil do neg�cio e passou a fazer todo o com�rcio de comida em domic�lio, interrompendo de vez o atendimento presencial. “Como a gente j� tinha um pouco de know-now com as entregas, buscamos mais informa��es para atender melhor os clientes. A pandemia trouxe a digita��o do servi�o de entrega, o que facilitou muito pra gente”, afirma o empreendedor.