
A infla��o nunca ocupou tanto espa�o no prato de quem vai aos restaurantes de Belo Horizonte � procura do tradicional ‘PF’. Acumulado em 15% nos �ltimos 12 meses no pa�s, quase o triplo da taxa oficial para o per�odo, medida pelo �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) –, o custo dos alimentos deixou a iguaria significativamente mais cara durante a pandemia.
O aumento repassado ao consumidor, dizem empres�rios, n�o reflete a real f�ria do drag�o sobre seus neg�cios. O setor alega operar h� um ano e meio no preju�zo, amargando boa parte do impacto da carestia para n�o perder a clientela, cujo poder de compra foi drasticamente reduzido.
Para manter as portas abertas, os estabelecimentos recorrem aos mais diversos malabarismos – da pesquisa de pre�os � redu��o das por��es oferecidas. Sobrou tamb�m para a tradicional feijoada, muitas vezes servida em vers�es mais compactas, com menos pertences nobres.
Efeito cascata
Dados do Mercado Mineiro mostram que o pre�o m�dio do prato feito em Belo Horizonte e Regi�o Metropolitana passou de R$ 17,09, em fevereiro de 2020, para R$ 20,72, em abril deste ano, alta de 21%. De acordo com o �ltimo levantamento do site, divulgado em 25 de abril, as op��es dispon�veis variam de R$ 9,50 a R$ 42,90. A tomada de pre�os foi feita em 46 estabelecimentos.

“Isso para citar apenas os alimentos. Temos de nos lembrar que essa conta inclui tamb�m o g�s de cozinha, que aumentou quase 25% em um ano, a energia el�trica, que disparou, al�m do combust�vel, que subiu mais de 40% ao longo da pandemia. O consumidor, como sempre, � o lado mais fraco da corda, o mais afetado pela infla��o dos alimentos. Mas a situa��o tamb�m est� complicada para o setor de bares de restaurantes. Al�m de tudo, eles passaram v�rios meses sem poder abrir as portas. O momento �, realmente, muito cr�tico para todos”, pondera Feliciano.
O economista explica que os produtos aliment�cios s�o pressionados sobretudo por tr�s fatores: aumento da exporta��o de produtos, valoriza��o do d�lar e demanda interna maior.
“Principalmente a valoriza��o do d�lar. Imagine que voc� � um produtor de arroz. Entre vender para o mercado interno e exportar para a China, que paga em d�lar, portanto, cinco vezes mais caro, qual op��o seria mais tentadora? Isso altera o balan�o entre oferta e procura no nosso mercado, tornando os alimentos mais caros”, observa Abreu.
“Principalmente a valoriza��o do d�lar. Imagine que voc� � um produtor de arroz. Entre vender para o mercado interno e exportar para a China, que paga em d�lar, portanto, cinco vezes mais caro, qual op��o seria mais tentadora? Isso altera o balan�o entre oferta e procura no nosso mercado, tornando os alimentos mais caros”, observa Abreu.
Malabarismo
Propriet�ria do Bar da Lora, com duas unidades situadas no Centro de BH, Eliza Fonseca oferece pratos feitos com pre�os que v�o de R$ 12 a R$ 17 reais. A op��o de maior sa�da inclui arroz, feij�o, bife, batata frita e salada. A empres�ria conta que pratica os mesmos pre�os h� dois anos, mas pretende reajustar o card�pio a partir de 1° de julho.
“Segurei o quanto pude, porque sei que os clientes tamb�m est�o sem dinheiro. Mas, agora, chegou num ponto em que eu estou praticamente pagando para trabalhar. N�o tenho mais onde cortar despesas, minha margem de lucro ficou m�nima. Tem um ano e meio que trabalhamos ‘na ra�a’, para sobreviver mesmo”, relata a empreendedora.
Entre as medidas de economia adotadas no estabelecimento, ela cita a redu��o do tamanho das refei��es. “Antes, quando o cliente pedia um PF caprichado, a gente servia sem mis�ria. Hoje, n�o d� mais. Vamos come�ar a cobrar uma taxa. Tamb�m passei a cobrar um valor diferenciado quando o fregu�s opta pelo bife de carne vermelha, que est� car�ssima. PF com porco e frango custa R$ 12. Pelo bife de boi, a pessoa paga R$ 17”, afirma.
Eliza tamb�m reduziu o quadro de funcion�rios. Antes da crise, ela diz que a empresa contava com 16 empregados. Restaram dez. “Para compensar, eu e meu filho, que fic�vamos mais por conta da administra��o, agora tamb�m cozinhamos e atendemos mesas. Nosso trabalho quadruplicou”, comenta a propriet�ria.
Eliza tamb�m reduziu o quadro de funcion�rios. Antes da crise, ela diz que a empresa contava com 16 empregados. Restaram dez. “Para compensar, eu e meu filho, que fic�vamos mais por conta da administra��o, agora tamb�m cozinhamos e atendemos mesas. Nosso trabalho quadruplicou”, comenta a propriet�ria.
Na Cantina do Sorriso, instalada no Bairro S�o Lucas, Regi�o Leste da capital, o dono Anderson Fernandes diz n�o ter modificado os pratos em benef�cio da economia. A solu��o encontrada foi dividir o aumento dos insumos com a freguesia.
“Eu n�o poderia mexer na qualidade dos pratos, pois � nossa marca registrada. Servimos carne de primeira qualidade, como fil� mignon, contrafil� e alcatra. Imagine que, sozinho, cada bife desses me custa ao menos R$ 8. Ent�o, n�o teve jeito, rachei o preju�zo com os clientes. Subi meus pre�os em cerca de 25%”, justifica Fernandes.
“Eu n�o poderia mexer na qualidade dos pratos, pois � nossa marca registrada. Servimos carne de primeira qualidade, como fil� mignon, contrafil� e alcatra. Imagine que, sozinho, cada bife desses me custa ao menos R$ 8. Ent�o, n�o teve jeito, rachei o preju�zo com os clientes. Subi meus pre�os em cerca de 25%”, justifica Fernandes.
A iguaria mais popular da cantina � o PF batizado de Chef Rusty Marcellini, vendido a R$ 27,90, composto de arroz, feij�o-preto, couve rasgada e refogada na banha, ovo, lingui�a de porco da casa e farofa de banana da terra. O item mais em conta do menu � o PF do dia, que sai por R$ 22,90. O prato acompanha um bife de porco ou frango, arroz, feij�o, salada e batata frita.
Nem a feijoada escapou
�cone da culin�ria brasileira, a feijoada tamb�m sente o baque da infla��o.A Feijoaria, restaurante situado no Bairro Dona Clara, na Regi�o da Pampulha, � especializado no prato, servido no esquema de buffet livre. A propriet�ria Gabriela Cruz diz que o valor cobrado por pessoa subiu de 62,90, em mar�o de 2020, para 74,90.
O card�pio oferecido no delivery tamb�m foi reajustado. A feijoada completa magra de 400 gramas, acompanhada de arroz, couve e vinagrete, foi de R$ 32,90 para R$ 37,90. “Mesmo assim, fiquei no preju�zo, porque delivery requer embalagens e elas est�o car�ssimas, subiram mais de 100%”, pontua a empres�ria.
Para oferecer op��es mais econ�micas aos clientes, a Feijoaria tamb�m passou a vender meias por��es dos pratos. “Estamos na pra�a h� 10 anos, s� n�o fechamos porque o espa�o onde o restaurante funciona � meu, n�o pago aluguel. Se eu pagasse, j� tinha fechado as portas h� muito tempo”, queixa-se Gabriela.
“Chegamos em junho que costumava ser o nosso melhor m�s. Em 2019, a esta altura, eu j� n�o tinha mais vaga para reserva. Hoje, damos gra�as a Deus de ao menos podermos funcionar. As coisas agora est�o melhores que em junho de 2020, quando est�vamos fechados por determina��o da prefeitura”, complementa. (CE)
A beira da indigest�o
Pre�os da refei��o fora de cada em Belo Horizonte sente a alta dos alimentos
Evolu��o do pre�o m�dio do PF em BH
Janeiro/2019 - R$15,79
Fevereiro/2020 - R$ 17,09
Abril/2021 - R$ 20,72
Fonte: site mercado mineiro
A for�a do drag�o
Alimentos acumularam alta superior a 80% em um ano, pressionando o pre�o do prato feito e da feijoada
�leo de soja - 86,63%
Arroz - 48,10%
Combust�veis - 46,04%
Carne - 42,08%
Feij�o preto - 31,26%
G�s de cozinha - 23,83%
Fonte: IPCA/IBGE – maio 2021