(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas CARESTIA

Infla��o no Brasil � 5� maior da Am�rica Latina

IPCA voltou a cruzar a marca dos dois d�gitos no Brasil em 2021, algo que n�o acontecia desde 2015. Uma onda de aumento de pre�os afetou toda a regi�o, mas problemas dom�sticos contribu�ram para que pa�s fosse pior.


11/01/2022 09:15 - atualizado 11/01/2022 12:57


Posto de gasolina com cartaz anunciando combustível a R$ 6
Petr�leo mais caro empurrou pre�o dos combust�veis para cima (foto: Getty Images)

infla��o voltou a cruzar a marca dos dois d�gitos no Brasil em 2021, algo que n�o acontecia desde 2015.

Conforme os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) nesta ter�a (11/1), entre janeiro e dezembro do ano passado o �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 10,06%.

O pa�s est� longe de ser o �nico que enfrenta um problema de aumento generalizado de pre�os. Nos Estados Unidos, na Europa e na pr�pria Am�rica Latina, os bancos centrais - a quem geralmente cabe a tarefa de tentar conter a infla��o usando o mecanismo das taxas de juros - viram os indicadores de infla��o crescer muito mais do que imaginavam.

- Leia: 4 perguntas para entender por que infla��o est� subindo tanto no mundo

No Brasil, contudo, fatores dom�sticos se somaram aos motores externos e contribu�ram para que o pa�s registrasse uma das maiores infla��es da regi�o.

Levando em considera��o as 11 maiores economias da Am�rica Latina, o Brasil s� fica atr�s de Argentina e Venezuela, dois pa�ses que atravessam crises profundas e que v�o muito al�m dos problemas trazidos pela pandemia de covid-19 e suas repercuss�es. Na Argentina, a infla��o atingiu 51,2% nos 12 meses at� novembro; na Venezuela, bateu impressionantes 2.700%, conforme a proje��o do Fundo Monet�rio Nacional (FMI) para 2021 fechado.

Quando se incluem os pa�ses do Caribe, conforme a base de dados com informa��es de 34 na��es disponibilizada pela Comiss�o Econ�mica para a Am�rica Latina e o Caribe (Cepal), al�m de Argentina e Venezuela, o Brasil s� � superado por Cuba, que amarga infla��o superior a 70%, e pelo Haiti, mergulhado em crise, que registra �ndice pr�ximo de 20% no acumulado em 12 meses.

A BBC News Brasil conversou com economistas que acompanham os indicadores da regi�o para entender as raz�es.

Moedas desvalorizadas e commodities em alta

Chile, Col�mbia, M�xico, Paraguai, Peru, todos registraram aumento expressivo dos �ndices de pre�os no ano passado.

O Uruguai viu a infla��o ceder em rela��o a 2020, mas ela continua em n�vel inc�modo, acima do limite de toler�ncia de 7% estabelecido pelo banco central do pa�s.

As exce��es s�o Equador e Bol�via, onde os pre�os subiram menos de 2% no ano passado, mas que se tratam de casos particulares. Ambos os pa�ses t�m a economia dolarizada, com um regime de c�mbio fixo - uma pol�tica que ajuda a conter a infla��o, mas que tamb�m cobra seu pre�o, entre eles a exig�ncia de um n�vel elevado de reservas e o risco de desequil�brio na balan�a comercial, com perda de competitividade das exporta��es.

E fora a dupla, praticamente todos os pa�ses da regi�o viram suas moedas perderem valor frente ao d�lar em 2021.

Uma parte desse movimento se deveu a fatores internos, como as elei��es turbulentas no Chile e a crise pol�tica e institucional no Brasil. N�o por acaso, o peso chileno foi a moeda que mais perdeu valor na regi�o em 2021 e o real � a moeda h� mais tempo depreciada no continente - desde abril de 2020 o d�lar se mant�m persistente acima de R$ 5 por aqui.

Ao lado das particularidades de cada pa�s, as condi��es globais tamb�m favoreceram a desvaloriza��o das moedas latino americanas. Uma delas foi o aumento dos juros nos Estados Unidos - que se deparou com a necessidade de subir as taxas porque tamb�m passou a lidar com um problema de infla��o crescente. Com juros maiores nos EUA, os investidores em geral tendem a migrar para mercados considerados mais seguros e tiram dinheiro daqueles considerados mais arriscados, como os emergentes.

Sozinha, a desvaloriza��o cambial por si s� costuma pressionar a infla��o. No ano passado, contudo, ela se juntou a outro componente, o aumento global dos pre�os de commodities. Em parte devido � retomada das atividades em diversas regi�es com o avan�o da vacina��o, petr�leo, min�rio de ferro, soja, milho, carne, laranja, caf� e outras commodities viram suas cota��es se elevarem nas bolsas pelo mundo.

Na avalia��o de Felipe Camargo, economista para Am�rica Latina da consultoria inglesa Oxford Economics, boa parte da infla��o que bateu na Am�rica Latina em 2021 veio da combina��o entre esses dois fatores.

"� o que estamos chamando [em nossos relat�rios] de 'infla��o importada'", diz o economista.

E s�o dois os principais canais de transmiss�o dessa "infla��o importada" para os pre�os internos em cada pa�s. O primeiro, mais intuitivo, � o repasse de custos: o produtor local passa a comprar insumo mais caro (porque precisa importar, por exemplo) e repassa esse custo para o consumidor.


Imagem aérea de contêineres no porto de Qingdao em Shandong, China
Gargalos de log�stica est�o afetando pre�os em todo o mundo (foto: Getty Images)

O segundo se d� pelo incentivo que o c�mbio gera sobre os exportadores, explica Camargo. Como � financeiramente bastante vantajoso exportar, os produtores muitas vezes preferem vender para fora em vez de domesticamente, o que ajuda a empurrar os pre�os internos para cima � medida que diminui a oferta.

Um outro fator que tamb�m concorreu para trazer mais infla��o para a Am�rica Latina (e muitos outros pa�ses) em 2021, acrescenta Alberto Ramos, economista-chefe do banco Goldman Sachs para a Am�rica Latina, foram as rupturas nas cadeias de suprimentos globais.

Esse foi outro efeito da retomada mais r�pida do que o esperado, traduzido na falta de componentes para a ind�stria e nos problemas de falta de cont�ineres para transporte de mercadorias, afetando especialmente os custos industriais.

No Brasil, seca e d�lar ainda mais caro

No caso espec�fico do Brasil, ambos os economistas citam um quarto componente que se somou � desvaloriza��o cambial, ao aumento das commodities e aos gargalos de log�stica: a crise h�drica, que exerceu press�o sobre dois grupos importantes, energia el�trica e alimentos.

Assim, a combina��o de fatores acabou gerando o que, na avalia��o de Camargo, se desenhou como a pior situa��o da regi�o. "A infla��o do Brasil foi a que mais se desviou da meta", ressalta, referindo-se � meta de infla��o determinada pelo Banco Central, de 3,75%, com toler�ncia de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

"Foi o que mais sofreu choques: a pior deprecia��o cambial, que veio antes e durou mais, e o maior choque de oferta, por causa da quest�o da crise h�drica e da energia", completa.

Olhando especificamente para o c�mbio, que � um fator de preocupa��o para o Brasil, o economista coloca Col�mbia e Chile junto ao pa�s na lista dos piores colocados da regi�o.

O peso chileno, ele destaca, sofreu inclusive desvaloriza��o superior � do real em 2021, devido �s turbul�ncias de sua corrida eleitoral e �s discuss�es sobre a nova Constitui��o (no ano passado, os chilenos elegeram os parlamentares que v�o redigir a nova Carta, que deve ser apresentada no segundo semestre de 2022).


Manifestante protesta na Venezuela com cartaz com os dizeres 'inflação'
Aumento de pre�os afetou praticamente todos os pa�ses latino-americanos (foto: Getty Images)

Ramos, do Goldman Sachs, destaca o papel das quest�es dom�sticas no caso brasileiro, que considera fundamentais para entender porque o pa�s teve um dos piores desempenhos da regi�o.

O "ru�do pol�tico", fruto das tens�es entre o Executivo, o Judici�rio e o Legislativo, e suas consequ�ncias institucionais e na economia, pontua o economista, acabaram criando um "desencantamento" com o Brasil entre os investidores, que passaram a procurar outros mercados e engrossaram a sa�da de d�lares do pa�s.

Esse quadro ajuda a explicar porque a moeda americana passou de R$ 5 em abril de 2020 e praticamente n�o desceu desse patamar desde ent�o.

Contribu�ram ainda para o "desencantamento", adiciona o economista, a desacelera��o forte do crescimento, a falta de reformas e os sinais de descompromisso do governo com as contas p�blicas, entre eles a PEC dos precat�rios e as manobras para driblar o teto de gastos.

"� dif�cil ver um lado bom hoje", diz.

Entre outras raz�es, ele cita as elei��es, que se desenham bastante turbulentas e, ao contr�rio da vizinha Col�mbia, que vai escolher o novo presidente j� em maio, s� ser�o realizadas em outubro.

At� l�, � pouco prov�vel a retomada de reformas, afirma Ramos. O cen�rio base � de manuten��o de um n�vel elevado de incerteza, que afeta a decis�o dos consumidores de gastar e das empresas de investir.

"Um otimista hoje [em rela��o ao Brasil] � um pessimista mal informado", conclui.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)