A decis�o do Copom desagradou o governo e representantes da ind�stria, mas n�o surpreendeu analistas do mercado
O Comit� de Pol�tica Monet�ria (Copom), na segunda reuni�o do ano, ontem, decidiu manter a taxa b�sica da economia (Selic), em 13,75% ao ano para os pr�ximos 45 dias, pela 5ª vez consecutiva. A decis�o, que era esperada pelo consenso do mercado financeiro, foi un�nime.
O colegiado do BC reconheceu que o ambiente externo se deteriorou na compara��o com a reuni�o anterior, ocorrida em fevereiro, e n�o deixou de destacar as incertezas na quest�o fiscal, devido � indefini��o do novo arcabou�o fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajet�ria da d�vida p�blica. No texto ainda refor�ou que "segue vigilante, avaliando se a estrat�gia de manuten��o da taxa b�sica de juros por per�odo prolongado ser� capaz de assegurar a converg�ncia da infla��o".
Dobrando a aposta
A decis�o do Copom desagradou o governo e representantes da ind�stria, mas n�o surpreendeu analistas do mercado. "O Copom resolveu dobrar a aposta, olhando para frente essa infla��o de 2024, que � o foco principal deles e cujas expectativas pioraram desde a �ltima reuni�o do Copom nos modelos do BC. Com isso, a autoridade monet�ria subiu o tom neste momento, at� para se resguardar da press�o pol�tica que est� ocorrendo e deve aumentar nas pr�ximas semanas por consequ�ncia da decis�o e pelo tom que foi colocado no comunicado", avaliou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Segundo ele, resta ao governo acelerar a proposta do novo arcabou�o fiscal antes da pr�xima reuni�o do Copom, que ocorrer� em 2 e 3 de maio. "Se a regra nova for excelente e robusta, sem artif�cios para desmontar o regramento, sem interfer�ncias internas do governo ou por parte do Congresso, o Banco Central poder� come�ar a pensar em baixar a taxa Selic nas pr�ximas reuni�es. O governo precisa ter esse entendimento", avalia.
Sergio v� espa�o para queda da Selic apenas no terceiro trimestre deste ano. Mas se quiser abrir um espa�o para queda em junho, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, precisar� negociar um arcabou�o fiscal que recupere a credibilidade. "O que menos precisa agora � o governo se unindo para continuar atacando o BC. Ele deve entender o recado do Copom para que ele consiga ter espa�o para baixar a Selic", completou.
Duas horas depois da divulga��o da decis�o do Copom, o ministro Fernando Haddad, quebrou o protocolo e resolveu comentar o comunicado do Comit� e afirmou que o classificou como duro e "muito preocupante". Para Haddad, o BC n�o considerou os dados divulgados, ontem, no Relat�rio Bimestral de Avalia��o de Receitas e Despesas, que melhorou a previs�o para o rombo fiscal deste ano, confirmando as proje��es da pasta feitas em janeiro de melhora nas receitas.
Haddad criticou ainda a poss�vel alta de juros mencionada pelo BC, "em um momento em que a economia est� se retraindo e que o cr�dito est� com problemas, sobretudo para as empresas e para as fam�lias". E prosseguiu: "O comunicado preocupa bastante, porque, a depender das futuras decis�es, n�s podemos inclusive comprometer o resultado fiscal". O ministro descreveu um cen�rio desolador. "Daqui a pouco, voc� vai ter problemas das empresas para vender, recolher impostos… A nossa preocupa��o � essa", afirmou.
Em tom mais incisivo, Gleisi Hoffmann atacou o presidente do BC, Roberto Campos Neto. "Explica como empres�rios podem captar recursos com os maiores juros do mundo? Como investir se o dinheiro aplicado rende 8% reais? Voc� n�o entendeu seu compromisso com o Brasil? Seus juros s� beneficiam o rentismo e quem n�o produz. Sua pol�tica monet�ria j� foi derrotada", escreveu em uma rede social. Em nota, a Confedera��o Nacional da Ind�stria (CNI) considerou a decis�o do Copom "equivocada" e a Associa��o Brasileira de Incorporadoras Imobili�rias (Abrainc) disse que os juros "s�o entraves ao desenvolvimento econ�mico do Brasil e podem prejudicar a gera��o futura de emprego".
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