Mesmo com um 2020 passado praticamente em branco, oficialmente, a rede municipal de ensino n�o admite a perda do ano letivo, apostando num conjugado com 2021 e tendo em mente at� 2022 o prazo para assimila��o de conte�dos. Para os pais de cerca de 200 mil estudantes das escolas sob a tutela da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), n�o tem discuss�o: est� perdido e, por ora, sem luz sobre o funcionamento a partir de agora, mesmo com portaria publicada ontem dando como in�cio ao novo ano escolar a partir de segunda-feira e com o antigo sem oficialmente ter sido encerrado. Ensino remoto instaurado no fim do ano passado ainda n�o convenceu pais nem alunos.
A Portaria 12/2020, da Secretaria Municipal de Educa��o (Smed) sacramentou o ano conjugado e tornou p�blico tamb�m o calend�rio da rede para 2021. O Estado de Minas reencontrou duas m�es entrevistadas em agosto. Naquela �poca, a motorista de aplicativo Fabiana Concei��o de Paiva, de 38 anos, e a motorista de escolar Lucimara Figueiredo Duarte, de 35, estavam preocupadas com o futuro dos filhos, mas ainda esperan�osas de uma retomada das aulas, mesmo que isso significasse entrar 2021 estudando. Fabiana conta que, no fim do ano passado, recebeu uma boa not�cia, seguida de um balde de �gua fria. Uma mensagem de WhatsApp da escola do filho Juan Felipe Figueiredo Siqueira, de 12 anos, aluno do 7º ano de uma institui��o municipal no bairro Floresta, na Regi�o Leste da capital, pedia aos pais para comparecer ao local e retirar uma apostila.
"Est� perdido e n�o tem como recuperar. N�o vejo condi��es para dois anos em um"
Fabiana Concei��o de Paiva, motorista de escolar e m�e
“� um bloc�o de atividades, com conte�dos novos, mas sem qualquer acesso a explica��o dos professores nem outro apoio pedag�gico da escola. Tem um WhatsApp para tira-d�vidas, mas � dif�cil tirar d�vida se ningu�m ensina”, lamenta. O jeito est� sendo pagar uma prima para ensinar o menino e ajud�-lo com as atividades. Neste fim de m�s, Juan entregou o bloco dois e pegou o tr�s, com prazo de um m�s para fazer. Quem optou pelo formato digital teve at� o �ltimo dia 21 para enviar as respostas para o e-mail da escola e j� recebeu a terceira lista de atividades. “O ano (de 2020) est� perdido e n�o tem como recuperar. Para 2021, infelizmente, n�o vejo condi��es de para dois anos em um, visto que um ano j� � dif�cil. Meu filho tem d�ficit de aten��o e � hiperativo, o que torna tudo ainda mais complicado. Querem empurrar um supletivo para cima dos meninos.”
A secretaria nega a falta de apoio, dizendo que, desde junho, os professores est�o em contato com os alunos. Nessa �poca, segundo a pasta, os professores come�aram a produzir o mapa socioeducacional, para conhecer as peculiaridades das comunidades atendidas e contextos familiares, al�m de dar in�cio a atividades que hoje est�o sendo feitas pelos estudantes, em grande parte, com material f�sico. A pasta acrescenta que “neste momento est�o justamente fazendo uma avalia��o diagn�stica do n�vel de aprendizado de cada aluno para tra�ar as melhores estrat�gias para cada grupo. Portanto, n�o h� rein�cio. H� continuidade”.
Sobre como ser� o ano conjugado, a Smed informou que “fora os alunos que est�o saindo e os que chegar�o, os demais est�o em um ano ‘cont�nuo’ de 1.600 horas e duas s�ries escolares. O aluno que estava no 4º ano em mar�o, agora j� est� no 4º/5º e terminar� este ano duplo at� dezembro de 2021”. Em muitas escolas da rede municipal, os alunos tiveram ainda menos tempo de aula. Isso porque os professores entraram em greve no fim de fevereiro, alguns dias depois do in�cio do ano escolar, e assim permaneceram at� a interrup��o das aulas pelo COVID-19, em mar�o.
Quando questionada sobre esse in�cio de aula a dist�ncia e como o conte�do est� sendo transmitido aos estudantes, a secretaria disse ter sido feito levantamento de todas as fam�lias com e sem acesso � internet. “Os conte�dos s�o passados por meio virtual, plataformas digitais e WhatsApp. Quem n�o tem acesso � internet, o material � impresso e recolhido e entregue a cada 15 dias”, afirma a assessoria da pasta. “Esse ensino se difere das aulas ao vivo, onde um professor ministra a aula e cada aluno assiste em sua casa, como aconteceu em diversas escolas”, informa nota da secretaria. Em setembro, o prefeito Alexandre Kalil descartou a possibilidade de aulas remotas aos estudantes da rede, dizendo se tratar de “uma agress�o � pobreza”.
Por meio de nota, a PBH diz que “certamente, os alunos que mais preocupam no Brasil e no mundo s�o os que est�o encerrando o ensino m�dio e que fazem a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino M�dio)” e que, no caso do munic�pio, respons�vel pelo fundamental 1 e 2, as transi��es s�o mais suaves. “O princ�pio que nos rege � o do direito das crian�as e jovens a uma trajet�ria cont�nua em que a manuten��o da idade certa deve ser o objetivo comum”, afirma o texto, acrescentando que o esfor�o � para avalia��es criteriosas e metodologias quase individuais “para que os alunos estejam at� 2022 totalmente em dia com os conte�dos 2020/2021”.
Trope�os no aprendizado remoto

De acordo com a PBH, as “atividades escolares s�o asseguradas aos estudantes por meios f�sicos impressos ou por meios eletr�nicos, conforme as necessidades e possibilidades espec�ficas, considerando os dados do Mapa Socioeducativo, elaborado para avaliar as formas mais eficazes de comunica��o com os estudantes e suas fam�lias”. Ainda segundo o munic�pio, isso significa que os 16,5 mil alunos dessa categoria t�m acesso ao conte�do escolar pelo WhatsApp, por meio de plataforma digital ou pela entrega do material impresso. As atividades v�o compor o portf�lio escolar anual que validar� a conclus�o da etapa.
A motorista de escolar Lucimara Figueiredo Duarte n�o deixa mentir. A filha Ta�s Figueiredo Duarte, de 14, no 9º ano do fundamental de escola do Bairro Floresta, na Regi�o Leste de BH, est� mesmo recebendo as apostilas. Em agosto, o EM mostrou a ang�stia de Lucimara em rela��o ao ensino m�dio da filha que, desde ent�o, n�o diminuiu. “Ela est� na segunda apostila, que come�ou a ser entregue h� quase dois meses. Mas, � s� apostila. N�o tem v�deo, nada explicando. Tem que pesquisar e consultar o livro did�tico que foi entregue aos alunos. Repito, sem explica��o”, relata. “E n�o d� para reclamar, n�o tem com quem falar, pois o grupo de WhatsApp � para a escola se comunicar com os pais, somos bloqueados para contact�-los. N�o sei como ser� a escola para ela ano que vem, com toda essa defasagem.”
Uma preocupa��o dupla, por causa da segunda filha, Tain�, de 12, aluna do 7º ano. “Minhas meninas n�o sabem nada. Eu n�o consigo ajud�-las, elas fazem o que conseguem. Respondem de qualquer maneira. N�o est� funcionando. Essa � nossa indigna��o. A escola poderia montar um grupo de professores para tirar d�vida dos alunos pelo menos, mas tem nada.”
Infantil
Professora da Escola Municipal de Educa��o Infantil (Emei) do Bairro Mangueiras, na Regi�o do Barreiro, a professora Ana Christina Abreu Goulart, de 52 anos, seguiu � risca a recomenda��o dada logo no in�cio da pandemia pela Secretaria Municipal de Educa��o para que as escolas, mesmo fechadas, mantivessem o v�nculo afetivo com os alunos. A ponto de na semana da crian�a ir de casa em casa entregar lembrancinhas para os 20 alunos para os quais d� aula h� tr�s anos.
E foi al�m: reuni�o virtual com os pais, liga��es por telefone ou v�deo com as crian�as, nas quais aproveitava para contar hist�rias e relembrar cantigas que os pequenos aprenderam na Emei. Nessas aulas, encerradas em meados de dezembro, as crian�as de 4 anos, do 1º per�odo, contaram com atividades l�dicas e brincadeiras pedag�gicas e educativas, al�m de um projeto de literatura. “A Emei Mangueiras toda trabalhou assim. �s sextas-feiras, enviava atividades para as crian�as e todos os dias tinha reuni�o com coordena��o e entre professores. Conseguimos fazer um trabalho muito bom e produtivo”, relata Ana Christina, que ainda se ocupa de 25 estudantes de uma escola estadual de Betim, na Grande BH."Conseguimos fazer um trabalho muito produtivo"
Ana Christina Abreu Goulart, professora da Emei do Bairro Mangueiras
Mas nem todos os pais tiveram a mesma sorte. Caso da empres�ria Camila Beatriz Silveira, de 31 anos, que viveu duas situa��es diferentes com a filha de 9 anos, aluna do 3º ano do ensino fundamental de escola estadual, e Henrique, de 6 anos, de uma Emei na Regi�o Oeste da capital. A menina tem acesso ao plano de estudos tutorados (PET), mais acompanhamento da professora, encontros virtuais para explica��es e tira-d�vidas, al�m de atividades complementares. Para o menino, ela reclama n�o ter tido qualquer atividade pedag�gica espec�fica.
Roteiro para compensar perdas

A plataforma � uma iniciativa da Undime e do Conselho Nacional de Secret�rios de Educa��o (Consed), por meio da Frente de Avalia��o, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Centro de Pol�ticas P�blicas e Avalia��o da Educa��o da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF), Funda��o Lemann, Instituto Ayrton Senna, Instituto Re�na e Ita� Social. O objetivo � apoiar as redes de ensino e suas escolas que decidirem pelo processo de retomada das aulas presenciais ou h�bridas, identificando como os alunos est�o em rela��o aos conhecimentos e habilidades esperados para cada etapa escolar.
A partir dessa avalia��o diagn�stica, a plataforma pode ajudar na constru��o de planos de aula efetivos, ancorados na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Entre as ferramentas oferecidas, h� materiais de apoio ao retorno das aulas presenciais com conte�do voltado para o desenvolvimento socioemocional; mapas de foco e marcos de desenvolvimento da BNCC; cadernos com atividades avaliativas; guia de uso e aplica��o de diferentes avalia��es; orienta��es pedag�gicas para uso dos resultados e ensino de habilidades priorit�rias para matem�tica e portugu�s do ensino fundamental e m�dio.
“Certamente, em 2021, os problemas que j� existiam estar�o presentes de forma ainda mais aguda na rede p�blica como um todo: alta evas�o e altos n�veis de distor��o idade/s�rie”, afirma o diretor de pol�ticas educacionais da Funda��o Lemann, Daniel de Bones. Para ele, as classes ter�o um comportamento quase de turma seriada: “Haver� quem, de alguma forma, acompanhou a evolu��o do conte�do em 2020, porque estava em escola com ensino remoto ou o pai ajudou, e gente para quem o ano passou em branco, sendo necess�ria, inclusive, a retomada de conte�dos eventualmente de 2019”.
Segundo o diretor, a plataforma d� instrumentos para a rede que se interessar ou para o professor, individualmente, a partir da BNCC, avaliar o qu� o aluno deve dominar e montar um plano de aula ou avaliativo, de forma a ter um panorama mais claro dos n�veis dos estudantes. “A partir da�, entra um trabalho do curr�culo 2020/2021, que n�o vai se esgotar em 2021, porque essa defasagem n�o ser� superada em um ano”, afirma. Com a avalia��o, ser�o elencadas as prioridades. “Se o aluno n�o domina multiplica��o, como vai dominar equa��o de primeiro grau? A BNCC permite fazer escolhas sobre compet�ncias e habilidades fundamentais no momento, como dominar quatro opera��es, escrita e leitura com efici�ncia razo�vel. O que ficar para tr�s ser� recuperado ao longo do tempo.”
Continuidade
Para Daniel de Bones, mesmo em redes que n�o optaram pelo ensino remoto este ano a palavra continuidade deve ser a chave. “Seria equivocado simplesmente reproduzir, em 2021, o que n�o foi dado este ano. O importante � n�o deixar o fluxo n�o se quebrar, mesmo avan�ando 2022. A ideia de uma reprova��o, de todo mundo come�ando do mesmo ponto em que estava cria desincentivo. O aluno pensa que levar� mais um ano para concluir. Nessa perspectiva, � muito mais grave o aluno abandonar e, por isso, o cont�nuo � t�o importante, priorizando habilidades fundamentais e recuperando depois o que for ficando para tr�s.”
O conte�do da plataforma � gratuito (https://apoioaaprendizagem.caeddigital.net/). Os criadores ressaltam que a iniciativa n�o estimula a volta �s aulas presenciais, mas visa auxiliar as redes quando elas decidirem pelo retorno, observando as precau��es, curva pand�mica local e adotando os protocolos de higiene e sa�de.
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?
Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
Em casos graves, as v�timas apresentam:
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia
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