
Pacientes de Belo Horizonte que dependem do fornecimento de medicamentos pelo Sistema �nico de Sa�de (SUS) encontram dificuldades para adquirir a Carbamazepina, medicamento de uso cont�nuo por pacientes com epilepsia. A Secretaria Municipal de Sa�de (SMSA) confirma que houve atraso na entrega pelo fornecedor, mas que logo ser� normalizado. A presidente de uma entidade que representa familiares e pessoas com a doen�a diz que a situa��o � grave, pois a falta do medicamento pode gerar crises e at� levar � morte. Ela tamb�m ressalta que outros rem�dios para a doen�a distribu�dos pelo estado tamb�m est�o em falta, situa��o confirmada pela Secretaria de Estado da Sa�de (SES-MG), que informou problemas de recursos financeiros e faltar o medicamento no fornecedor.
Al�m da epilepsia, a Carbamazepina pode ser indicada para s�ndrome de abstin�ncia alco�lica, neuropatia diab�tica dolorosa, entre outros casos. O medicamento tamb�m vem sendo usado no Brasil em beb�s com s�ndrome cong�nita de zika enquanto o rem�dio Levetiracetam (incorporado ao SUS no ano passado) n�o est� mais dispon�vel na rede p�blica.
Um aposentado que mora na capital, e que pediu para n�o ser identificado, faz uso da carbamazepina h� v�rios anos e contou que est� procurando o medicamento desde o m�s passado na rede p�blica, mas � informado de que os comprimidos est�o em falta. “Passei por tr�s postos de sa�de. Tem mais dias que acabou”, informou. Ele precisou comprar uma caixa em uma farm�cia por cerca de R$ 7. O medicamento s� � vendido com receita. Segundo ele, da �ltima vez que conseguiu a medica��o em um Centro de Sa�de, no come�o de setembro, a �nica quantidade dispon�vel era a conta da receitada pelo m�dico.
“O medicamento Carbamazepina est� com estoque reduzido devido a atraso na entrega pelo fornecedor”, informou, na �ltima sexta-feira, a Secretaria Municipal de Sa�de. A pasta diz que j� notificou o fornecedor, “que pode receber advert�ncia ou multa, e tomou as provid�ncias para a regulariza��o do abastecimento”, pontuou por meio de nota. Ontem, a reportagem voltou a entrar em contato com a pasta, que confirmou que a situa��o � a mesma. A SMS diz que distribui outros anticonvulsivantes al�m da Carbamazepina na apresenta��o suspens�o oral, mas alerta: “Os pacientes devem procurar o m�dico e avaliar se as outras op��es terap�uticas dispon�veis podem ser utilizadas.”
Perigo da automedica��o
Quem tamb�m refor�a o alerta � a presidente da Associa��o Mineira de Amigos e Pessoas com Epilepsia (Amae), Denise Martins Ferreira. Ela refor�a que nenhum paciente deve trocar o medicamento por conta pr�pria caso houver falta da Carbamazepina ou outro anticonvulsivantes do qual o paciente faz uso. “A medica��o s� pode ser trocada com acompanhamento m�dico e a troca tem controle. Durante determinado per�odo vai reduzindo a medica��o e iniciando a outra at� retirar completamente a antiga”, detalha.
A presidente diz que a entidade j� vinha acompanhando a falta de medicamentos para epilepsia h� algum tempo, mas os de alto custo fornecidos na Farm�cia de Todos, s�o a Lamotrigina e o Clobazam. “Tem medica��o que j� est� faltando h� um ano, e at� ent�o o munic�pio estava com o fornecimento correto. Na epilepsia, a pessoa n�o pode ficar sem medica��o. � uma doen�a neurol�gica e a medica��o atua na estabiliza��o das cargas el�tricas cerebrais que evitam exatamente as convuls�es. Se a pessoa fica uma ou duas horas, ou quando percebe que est� faltando a medica��o e come�a a espa�ar (o uso), isso pode levar ao que a gente chama de mal epil�ptico, que s�o as crises convulsivas cont�nuas, e levar a �bito”, explica a Denise.
Secretaria promete regulariza��o
Apesar da preocupa��o dos pacientes e de entidades com a falta dos medicamentos no Sistema �nico de Sa�de (SUS), uma boa not�cia: a Prefeitura de Belo Horizonte soltou uma nota, por meio da Secretaria Municipal de Sa�de, para informar que “j� come�ou a receber o medicamento Carbamazepina. A entrega pelo fornecedor est� sendo feita de forma gradativa. A SMSA j� iniciou a distribui��o do medicamento para as unidades de sa�de e a previs�o � que at� a pr�xima semana os estoques estejam regularizados”.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Sa�de informou que a falta de recursos financeiros dispon�veis � pasta, “corroborada pelo Decreto 47.101, de 5 de dezembro de 2016, referente � situa��o de calamidade financeira enfrentada por Minas Gerais, tem impactado no processo de pagamento aos fornecedores, os quais n�o efetivam a entrega dos itens at� que o pagamento seja regularizado. Tal fato culminou no desabastecimento de alguns medicamentos, entre eles o Lamotrigina 100mg”.
“Ressaltamos que a SES-MG entende que � de suma import�ncia o fornecimento regular desses medicamentos (Lamotrigina 50mg, em processo de aquisi��o, e o Lamotrigina 25mg, em falta pelo fornecedor). T�o logo o item seja entregue em nosso almoxarifado, autorizaremos a distribui��o a todas regionais de sa�de do estado”, finalizou a nota da SES, que est� tomando todas as medidas necess�rias para a normaliza��o do medicamento o mais breve poss�vel. T�o logo os itens em falta sejam entregues no almoxarifado da SES-MG, a distribui��o a todas regionais de sa�de do estado ser� autorizada”, continua. Segundo a pasta, o Clobazam 10 mg est� abastecido. “Com rela��o ao Clobazam 20 mg, informamos que o referido medicamento est� em falta devido a atrasos na entrega por parte do fornecedor. T�o logo o item seja entregue em nosso almoxarifado, autorizaremos a distribui��o a todas regionais de sa�de do estado”, finalizou a nota.
Estigmas e mitos prejudicam
A presidente da Associa��o Mineira de Amigos e Pessoas com Epilepsia (Amae), Denise Martins Ferreira, ressalta que a epilepsia � cercada por estigmas e mitos, o que tamb�m pode prejudicar a situa��o dos pacientes. “Como � uma doen�a descrita na B�blia, como a lepra (hansen�ase), a gente vive a necessidade de provar que � uma doen�a neurol�gica, n�o uma possess�o demon�aca. Corta a medica��o, entende que vai levar � igreja e resolveu”, comenta. “A baba, o excesso de saliva, n�o � contagiosa. As pessoas t�m um mito de que precisa desenrolar a l�ngua, a l�ngua n�o � engolida. Isso pode machucar a pessoa e quem est� fazendo isso, pode quebrar a mand�bula de quem tiver a crise”, conta.
A presidente da Amae diz que tamb�m n�o se pode segurar a pessoa durante uma convuls�o, j� que ela pode sofrer at� fraturas por conta do esfor�o. “Primeiro, � preciso manter a calma, se puder, deitar a pessoa de lado para o excesso de saliva passar para o lado (evitando sufocamento), afrouxar a roupa dela, tirar tudo que puder machucar, colocar alguma coisa como um agasalho, mochila ou almofada, para que ela n�o bata a cabe�a no ch�o porque um traumatismo craniano pode ocorrer na crise, n�o dar nada de l�quido para a pessoa. Tente marcar o tempo porque se passar de cinco minutos tem que chamar o Samu (Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia)”, refor�a Denise. “Depois que a crise passar, algu�m tem que ficar perto da pessoa, falar que ela teve uma crise, ver se precisa de alguma orienta��o, se lembra onde mora, para coloc�-la num t�xi. Ela fica por alguns minutos sem entender exatamente o que aconteceu. Ela precisa de um tempo”, conta.
Ainda segundo ela, em mar�o deste ano, o Minist�rio da Sa�de liberou um protocolo para atendimento de crises epil�pticas na urg�ncia e emerg�ncia, dispon�vel no site da pasta para acesso de hospitais e outras unidades de sa�de. Ainda segundo ela, quem tiver d�vidas sobre a doen�a tamb�m pode acessar a p�gina da Amae (amae.bhz.br) e da Liga Brasileira de Epilepsia (https://epilepsia.org.br/epibrasil/).