O cal�ad�o da ''praia'' do Mercado Central, criado para evitar aglomera��o nos balc�es dos bares, e o distanciamento entre barracas na Afonso Pena s�o medidas que a PBH poder� manter ap�s a pandemia
(foto: Gladyston Rodrigues e Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Mesas e cadeiras nas cal�adas, “praia” no Mercado Central e Feira da Afonso Pena ampliada passaram a fazer parte do cotidiano de Belo Horizonte durante a pandemia de COVID-19. Mas, ser� que � uma boa ideia essas medidas de distanciamento social permanecerem ap�s a vida do belo-horizontino voltar ao normal?
Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas na quarta-feira (22/6), o prefeito Alexandre Kalil (PSD) revelou que gosta do novo modelo e aponta que essa � uma possibilidade a ser estudada. Bares e restaurantes comemoram, enquanto feirantes n�o t�m tanta certeza se seria um bom neg�cio.
“Escutei uma reclama��o da feira que vendeu pouco. O que acontece � que o povo est� com medo. Est� aberta, com protocolos, mas est� aberta, ficou at� melhor. N�o sei nem se deve voltar ao modelo antigo”, respondeu Kalil.
O prefeito defende que “tem muita coisa que ficou melhor”, como no caso dos bares e restaurantes do Mercado Central, que passaram a ocupar o passeio do quarteir�o da Avenida Augusto de Lima para atender os clientes. “A praia dos mineiros, n�? Por qu� tirar aquilo? Ficou t�o bonitinho, t�o arrumadinho”, comentou.
In�cio da flexibiliza��o em BH
Essas medidas de distanciamento social come�aram a valer em BH em setembro do ano passado, durante as primeiras flexibiliza��es desse setor. Primeiro, a prefeitura regulamentou o uso de ruas e cal�adas por bares e restaurantes. Depois, foi anunciada a amplia��o do espa�o da feira, que passou a ocupar a Avenida Afonso Pena at� a Pra�a Sete, no Hipercentro da capital. Os procedimentos foram definidos como tempor�rios, enquanto durar a pandemia, mas podem se prolongar.
Ainda durante entrevista ao EM, Kalil questionou: “Ent�o, acabou a pandemia e n�o pode mais? A cidade tem que ser ocupada. Vai ter coisa que a pandemia trouxe, como os bares... colocaram mais mesas do lado de fora. Isso � mais emprego, mais gar�om, mais cozinheira, mais lavador de copo, isso � tudo mais”, defendeu.
Mesas nas cal�adas e vagas de carros
Para ter o benef�cio das chamadas “cal�adas operacionais”, os donos devem pedir uma licen�a para a Secretaria Municipal de Pol�tica Urbana da capital e seguir as regras: os m�veis podem ser organizados na cal�ada, at� seis metros para cada lado a partir do seu limite; a circula��o de pedestres deve ser resguardada; deve haver dist�ncia m�nima de 1,5m do limite de acesso � garagem do vizinho.
N�o � permitido colocar o mobili�rio em vagas para ve�culos credenciados de pessoas idosas ou com defici�ncia, ambul�ncias e pontos de t�xi. Usar o espa�o p�blico e observar as regras � fundamental para n�o ser penalizado.
''Cal�ad�o'' do Mercado Central faz sucesso entre clientes e donos de bares durante a quarentena em BH (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
“Para os bares � excelente poder ocupar os passeios. Agora, se eu tiver uma licen�a para colocar 10 mesas, eu vou colocar 10. Tem gente que extrapola e leva multa. Isso eu ouvi da Diretoria de Fiscaliza��o. � o tal do ‘jeitinho’, isso n�o pode. A prefeitura est� atenta”, alertou Paulo Cesar Pedrosa, presidente do Sindicato de Hot�is, Restaurantes, Bares e Similares de Belo Horizonte e Regi�o Metropolitana (Sindibares).
Pedrosa conta que, desde que faz parte do sindicato, h� 20 anos, j� existia essa reivindica��o com a prefeitura. “Como acontece na Europa e nos Estados Unidos, ainda mais no ver�o. Tem bar com a cal�ada lotada em que eu n�o vejo aglomera��o, ningu�m em p�. Tenho observado que est� todo mundo respeitando, as mesas posicionadas respeitando o lugar dos pedestres. � important�ssimo para n�s que isso continue depois da pandemia.”
Atrativo adicional
A medida tempor�ria n�o cobra nenhuma taxa dos comerciantes, diferentemente de antes da pandemia. “O empres�rio pode colocar mediante autoriza��o, n�o vai achar que o espa�o � dele, claro. Mas � um absurdo voc� ter um com�rcio e fazer um croqui, um laudo, uma burocracia enorme para ter mesa e cadeira nas ruas. A medida de agora tem sido legal e n�o vamos enfrentar a lei”, concluiu.
Felipe Rezende, um dos donos do Mito Bar, no Anchieta, gostaria que uso das cal�adas e vagas continuasse (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Felipe Rezende, s�cio-propriet�rio do Mito Bar, localizado na Rua Pium-I, Bairro Anchieta, Regi�o Centro-Sul de BH, tamb�m defende que a medida se prolongue pela cidade. “Ficou um espa�o externo muito bacana”, comenta. Com autoriza��o da prefeitura, o estabelecimento passou a ocupar a cal�ada e as vagas de ve�culos. O novo m�todo foi atrativo para os clientes, pontos positivos ressaltados pelo comerciante.
“Ajuda a compensar em parte a perda de lugares que fomos submetidos em fun��o dos protocolos. � bom para o cliente porque o mineiro adora sentar na varanda, na rua. O cliente ficou feliz tamb�m porque ficou com mais coragem de ir aos bares por ser um espa�o aberto”, pontua. “Gostaria muito que continuasse, � uma op��o que o cidad�o tem de ficar ao ar livre. Sem contar que sempre foi mais saud�vel. Gostaria mesmo que ficasse, vai ajudar a recuperar um ano e quatro meses de preju�zo.”
Cal�ad�o do Mercado Central
No tradicional Mercado Central, a mudan�a tamb�m � vista com bons olhos. Por l�, a prioridade do espa�o externo foi dada aos chamados “bares de passagem”, aqueles em que o cliente fica nos balc�es estreitos e, muitas vezes, resulta em aglomera��o. Com a nova configura��o, o local ganhou o apelido de “praia dos mineiros”, t�tulo que foi bem recebido pelo superintendente do Mercado, Luiz Carlos Braga.
“Praia � sempre ponto de encontro, n�o � excludente, acaba recebendo todas as classes sociais”, disse. “Isso � muito comum em pubs na Europa e no Rio de Janeiro, por exemplo. Numa visita recente do Kalil, pedi a ele e conversei que seria oportuno e legal a gente continuar com aquele espa�o mesmo p�s-pandemia”. O administrador explica que s�o 70 mesas do lado de fora do Mercado e os clientes s� podem ficar sentados.
"Praia � sempre ponto de encontro, n�o � excludente, acaba recebendo todas as classes sociais"
Luiz Carlos Braga, superintedente do Mercado Central
“O pessoal estava precisando desse carinho, n�? Os comerciantes, o p�blico. Vamos voltando aos pouquinhos, gostamos muito desse novo espa�o do Mercado Central. Um ambiente aberto de forma mais segura durante a pandemia”, afirma Gleiciane R�gina, frequentadora do Mercado Central.
Outro ponto positivo � a seguran�a do ponto de vista de sa�de. “A medida que o indicador melhora, a procura por esse espa�o vai melhorando. H� indica��o dos sanitaristas que os lugares abertos s�o melhores que os fechados, as pessoas tamb�m preferem por seguran�a”, observou Luiz Carlos, que tamb�m � contra as altas taxas de licenciamento. “A gente vai negociar. Espero que a prefeitura seja parceira do setor e n�o cobre. Se cobrar, que seja um valor que d� pra pagar, porque todos est�o gostando.”
Feirantes est�o divididos sobre mudan�a
A retomada da Feira de Arte, Artesanato e Produtores de Variedades da Avenida Afonso Pena, popularmente chamada de Feira Hippie, foi pol�mica. Para atender �s normas sanit�rias, as barracas passaram a ocupar um espa�o maior. Se antes terminava na Rua da Bahia, a feira se estendeu desde a Pra�a Sete, no quarteir�o entre as ruas Carij�s e Rio de Janeiro, � Rua dos Guajajaras.
Embora tenham recebido autoriza��o para funcionar, o setor de alimenta��o da feira protestou no primeiro dia de reabertura. Isso porque eles precisaram ser realocados em dois grupos: um na Rua Esp�rito Santo, entre a Avenida Afonso Pena e a Rua dos Carij�s, e um outro trecho na Avenida �lvares Cabral, entre a Avenida Afonso Pena e a Rua Goi�s.
"Temos de fazer uma pesquisa junto aos expositores para saber o que fica melhor para todos" - Willian Santos, feirante da Afonso Pena
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Entre os feirantes n�o h� um consenso se seria uma boa ideia permanecer no modelo atual. � o que explica Willian Santos, da Associa��o dos Expositores da Feira de Arte, Artesanato e Produtos de Variedades da Afonso Pena (Asseap). “Temos que fazer uma pesquisa junto aos expositores para saber o que fica melhor para todos. O que acontece � que a prefeitura faz sem consultar quem tem conhecimento, n�s expositores”, reclama.
O expositor Gutty Pianetti diz que � contra uma feira t�o estendida. “Na verdade, o corredor � muito extenso para o comprador. Se ele gostou de algo no in�cio, n�o volta mais. O leiaute ficou interessante, com mais espa�o, mas acho que como era antigamente era mais confort�vel para a compra”, disse.
"Que continue. Para n�s, est� �timo"
"Ficou muito bom, porque d� uma liberdade maior para as pessoas circularem em seguran�a", diz Maria dos Santos, feirante da Afonso Pena (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
M�nica Mansur � dona de uma espeteria, trabalha na feira h� mais de 50 anos. Sobre a mudan�a do setor de alimentos, que ficou separado das demais barracas, ela � categ�rica. “Perfeita. Tudo perfeito.” Ela quer que a divis�o permane�a mesmo ap�s o t�rmino da pandemia. “Que continue. Para n�s, est� �timo. O setor de alimenta��o ficou separado e quem entra aqui, entra pra comer. Ficou um setor diferenciado.”
Outra feirante que gostou da mudan�a � Maria Cristina dos Santos, de 46 anos. Ela trabalha no local h� 27 anos e come�ou acompanhando os pais, na �poca em que a feira ainda ocorria na Pra�a da Liberdade. “Adorei o novo formato. O novo croqui ficou muito bom, porque d� uma liberdade maior para as pessoas circularem com seguran�a. A pol�cia tamb�m pode circular para dar atendimento �s pessoas. Ficaram duas pra�as de alimenta��o super organizadas.”
Por�m, h� quem prefira o formato antigo. � o caso do comerciante Argeu Ananias J�nior, de 45 anos. “Eu preferia como era antes. Mas, n�o tem como. A gente tem que se adequar ao momento de hoje. Vamos esperar as coisas voltarem ao normal”, diz. Ele entende que as medidas foram tomadas por quest�o de seguran�a, mas sente falta do 'calor humano'. “Tem que esperar tudo voltar ao normal. Mas, tem gente que gosta daquele calor humano, conversar, ver as pessoas do lado da gente.”
Argeu � frequentador ass�duo da Feira Hippie h� mais de 13 anos. De 15 em 15 dias, ele est� l� para encontrar os amigos e levar a m�e para fazer compras. Para ele, a dist�ncia entre a pra�a de alimenta��o e o setor de compras � o maior problema. Ele explica que enquanto est� na pra�a de alimenta��o, outros integrantes da sua fam�lia est�o do outro lado, nas barracas de roupas e acess�rios.
Medidas necess�rias
Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que a medida foi necess�ria para garantir a seguran�a sanit�ria, tanto dos expositores quanto dos usu�rios. “Para isso, foi necess�rio segregar o setor de alimenta��o, uma vez que as pessoas precisam retirar a m�scara para o consumo de comida e bebida, aumentando o risco de contamina��o. A PBH salienta ainda que alterou a localiza��o atendendo a indica��o escolhida pelo pr�prio grupo de expositores e enquanto durar a pandemia, essa condi��o dever� vigorar”, diz o texto. (Com Mariana Costa e Gabriela Gatti)
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