Em 2015, Itambacuri viveu um per�odo de seca completa. N�o havia �gua para abastecimento (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 6/11/15)
Olhar para o c�u em tempos como esses deixou de ser um sinal de esperan�a. Passou a ser de medo e apreens�o. Com pouca chuva, a estiagem castiga o interior mineiro, que v� cada vez mais perto o fantasma do racionamento de �gua por causa da crise h�drica.
E para quem mora em Itambacuri, no Vale do Mucuri, a sensa��o � de repeti��o de um problema enorme.
Em 2015, a cidade se viu seca
. O rio que corta o munic�pio tinha um filete min�sculo, era imposs�vel captar �gua. Moradores disputavam baldes de �gua que chegavam em caminh�es pipa.
A dona de casa Maria Vieira, de 56 anos, lembra at� hoje o perrengue que passou. "N�o tinha �gua para cozinhar, nada. Era desesperador", afirmou. Na �poca, ela morava na regi�o central da cidade, e hoje vive em um s�tio na zona rural. E tem medo de reviver o problema.
"A gente economiza como pode, mas tenho medo de passar por tudo isso de novo", diz.
A prometida barragem, que deveria ter sa�do do papel antes da crise de 2015, s� foi constru�da de fato no ano passado. Hoje, a avalia��o do Servi�o Aut�nomo de �gua e Esgoto (SAAE) � que aquele mesmo cen�rio de seis anos atr�s n�o vai acontecer novamente, mas a autarquia est� preocupada com o avan�o da estiagem.
Ainda n�o h� falta d'�gua, mas a cidade pede a conscientiza��o dos moradores para evitar o desperd�cio.
Sem �rvores, sem chuva: uma combina��o perigosa
Esta semana foi at�pica, com pancadas de chuva e
at� alerta para grandes acumulados de �gua na regi�o
. Mas, segundo o soci�logo Leonel de Oliveira Pinheiro, especializado em cooperativismo, e que hoje d� aulas na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), ainda � pouco para afastar o fantasma do racionamento.
Desde 2010, ele estuda os efeitos da seca, das mudan�as clim�ticas e da situa��o da vegeta��o das cidades, especialmente para produtores rurais que se unem em cooperativas e aqueles que sobrevivem do campo, como parte do Grupo de Extens�o e Pesquisa em Agricultura Familiar (GEPAF). Para ele, a situa��o s� tem piorado.
A regi�o � cortada pelos rios Mucuri, Pamp� e Jequitinhonha, mas o mapa � "desigual" nesse sentido. H� cidades que n�o s�o banhadas por nenhum desses rios, e em outros munic�pios a calha n�o � grande, pela pr�pria composi��o geogr�fica.
A regi�o do semi �rido mineiro est� sob influ�ncia de La Ni�a, efeito climatol�gico da diminui��o da temperatura da superf�cie das �guas do Oceano Pac�fico Tropical Central e Oriental, reduzindo a quantidade de chuvas e deixando o clima no Sudeste ainda mais seco.
Leonel de Oliveira Pinheiro, pesquisador do Grupo de Extens�o e Pesquisa em Agricultura Familiar (GEPAF), aponta situa��o cr�tica no Vale do Mucuri (foto: Divulga��o)
Pinheiro aponta que a areniza��o, novo nome dado pelos bi�logos ao processo de "desertifica��o", � grande no Vale do Mucuri. Ou seja, menos �rvores, menos vegeta��o, que ajuda no processo das chuvas.
O munic�pio de Carlos Chagas, por exemplo, tem apenas 2% de �rea de vegeta��o, um n�mero muito baixo, que contrasta com o solo f�rtil.
"� claro que esse n�o � o �nico fator. Temos uma queda gradativa desde 2010 da quantidade de chuvas na regi�o, o aumento do calor. � uma somat�ria de problemas que se transforma nesse caos", disse o professor.
A prefeitura de Carlos Chagas reconhece o problema, mas lembra que tamb�m sofre com essas consequ�ncias. Em 2016, produtores rurais perderam cabe�as de gado e muitos tamb�m tiveram lavouras perdidas.
Hoje, algumas comunidades mais afastadas j� enfrentam o desabastecimento. A prefeitura leva caminh�es pipa e estuda canalizar �gua para espa�os de uso coletivo. � justamente os bairros mais distantes que preocupam.
Carlos Chagas implantou um sistema teste de capta��o de �gua para que a popula��o mais afastada possa ter abastecimento (foto: Prefeitura de Carlos Chagas/Divulga��o)
Em Nanuque, dist�ncia tamb�m � problema
O estudo mostra que Nanuque e Carlos Chagas, por exemplo, t�m uma grande �rea territorial, mas poucos moradores, a chamada baixa densidade demogr�fica.
"� a matem�tica dif�cil de conseguir levar �gua para todos os locais, por mais dif�ceis que sejam de alcan�ar. � por isso que outras pol�ticas precisam ser pensadas para que a �gua chegue a todos", analisa o professor.
Ao
Estado de Minas
, o diretor da Divis�o de Agropecu�ria e Acesso a Mercados da prefeitura, Rog�rio Delamare, explica que, assim que a estiagem chegou, o Conselho de Desenvolvimento Rural foi reunido, com visita t�cnica para conhecer a situa��o e estudar t�cnicas de conserva��o e armazenamento de �gua.
"J� fizemos uma unidade demonstrativa para que sirva de experi�ncia piloto para quem queira conhecer. Estamos em processo de elabora��o de Acordo de Coopera��o com o GEPAF para que seja realizado mapeamento das nascentes nas bacias hidrogr�ficas e uma imediata a��o de prote��o dessas nascentes", explica.
A cidade tem cinco po�os artesianos abertos na zona rural, mas n�o est�o ativos. A prefeitura enviou um of�cio � Copasa e � Copanor para que as instala��es sejam conclu�das.
Al�m disso, segundo Delamare, o munic�pio tamb�m avalia a implementa��o de "tecnologias sociais", como uma caixa seca para guardar a �gua da chuva, pluvi�metros para verificar a quantidade dessas chuvas, barraginhas nos rios que cortam a regi�o e viveiro de mudas nativas para reflorestamento das nascentes. Um processo de retomada dos plantios est� em andamento, e a estimativa � que hoje a arboriza��o tenha subido para 3%.
"Temos notado uma vontade das pessoas em ajudar a recuperar �reas de vegeta��o, e com os programas que temos previstos, a ideia � aumentar mais esse n�mero", finaliza o diretor.