Antes de ser Belo Horizonte, a capital mineira era um arraial com cerca de 370 casas, um chafariz, a sede de uma fazenda e tamb�m jaqueiras, copa�bas, gameleiras, casuarinas, amoreiras, jatob�s, saponeiras, jabuticabeiras e muitos ip�s. Essas eram as �rvores que estavam aqui antes de o lugarejo ser demolido para dar lugar � cidade planejada. No quesito arboriza��o, o trabalho foi entregue aos cuidados do renomado “arquiteto-jardineiro”, como era chamada Paul Villon, o franc�s incumbido do paisagismo dos parques e das ruas da futura capital.
Desses tempos n�o t�o remotos, em que n�o ficou de p� quase nenhuma edifica��o do arraial original, restaram �rvores, que garantiram ao munic�pio o t�tulo de cidade-jardim. Algumas dessas �rvores, cuja hist�ria e beleza fizeram parte da mem�ria da cidade, pela raridade ou longevidade, chegaram a ser tombadas como patrim�nio p�blico ou protegidas por um decreto municipal da d�cada de 1930, o que n�o impediu que desaparecessem do mapa, por a��o do tempo ou do homem.
Em 1990, uma nova a��o, desta vez do Conselho Deliberativo do Patrim�nio Hist�rico, incluiu nove esp�cies ou conjunto delas no Livro do Tombo Arqueol�gico, Etnogr�fico e Paisag�stico de Belo Horizonte. Dessas, restam apenas o jambo rosa da Rua Esp�rito Santo, no hipercentro da cidade, as sapucaias da Avenida Gustavo da Silveira, no Bairro Santa In�s, o conjunto de f�cus da Avenida Bernardo Monteiro - atacado por pragas em 2013, mas que, aos trancos e barrancos e com muitas supress�es - sobreviveu; e as esp�cies de pau-ferro, na Avenida Barbacena, no Santo Agostinho.
Alameda das Sapucaias, no Santa In�s, � um dos conjuntos tombados como patrim�nio (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Mobiliza��o em defesa do patrim�nio
Do jequitib� da Avenida Guaicu�, no Bairro Luxemburgo, que mobilizou a cidade e a C�mara Municipal de Belo Horizonte em sua defesa, n�o resta nem a mem�ria de sua exist�ncia. As casas no lugar foram transformadas em com�rcio ou viraram apartamentos e ningu�m nem lembra mais que um dia aquela avenida abrigou um patrim�nio hist�rico, um jequitib� que quando foi tombado, em 1990, tinha cerca de 60 anos. Mesmo caso do centen�rio ip�-branco, tamb�m tombado, que ficava na Afonso Pena, outrora um local repleto de ip�s.
No local, foi plantada uma nogueira, mas ao longo da avenida existem outros ip�s-brancos, ainda pequenos, mas j� chamando a aten��o pela flora��o, curta, mas muito bonita.
A paineira da Rua Bernardo Guimar�es com Mato Grosso, no Santo Agostinho, morreu e outra foi plantada no lugar. A nova j� est� bem alta, esp�cie � de crescimento r�pido, e continua recebendo aten��o e cuidado dos moradores principalmente do edif�cio Paineiras, bem ao lado do local onde um dia existiu uma �rvore tombada.
"Adoeceu e n�o resistiu"
O pau-brasil, �rvore s�mbolo do pa�s, que fica na no hall das bandeiras da Assembleia, n�o resistiu �s intemp�ries do tempo, mas outro foi plantado no mesmo local, em 2014. Quem cuida dele � o jardineiro Valdeci Domingos Alves, de 53 anos, um dos respons�veis pelos jardins do Legislativo h� quase duas d�cadas. Segundo ele, a �rvore “adoeceu e n�o resistiu”. “Mas era bonita, com aquele tronco meio avermelhado”, lembra.
Outra esp�cie tombada que n�o existe mais, e que era muito comum no arraial Del Rey, � uma copa�ba que ficava no meio dos asfalto da Rua Itagua�, no Cai�ara. Segundo a empres�ria Leia Pereira Passos, que nasceu no bairro, a copa�ba ou pau-de-�leo, �rvore frondosa e de tronco avermelhado, ficava ao lado da porteira que dava acesso a uma fazenda, posteriormente loteada para virar o bairro vizinho Engenho Nogueira.
A m�e de Leia, Irene de Campos Pereira, que tamb�m viveu na regi�o toda vida, falecida em 2020, aos 88 anos, era quem cuidava dessa copa�ba com o “maior amor”. “Ela falava que a �rvore era dela. Foi ela quem cercou e tomou conta dela a vida inteira, desde quando ela ficava na entrada dessa fazenda, que j� n�o existe mais”, conta Leia. A �rvore chegou a ser alvo de campanhas para cort�-la, pois vira e mexe acontecia alguma colis�o. No lugar, foi plantado um ip�-amarelo, que j� est� florindo.
Os 10 tipos de �rvores mais comuns de BH (foto: Arte EM/Reprodu��o)
As 10 �rvores mais comuns de BH:
Sibipiruna
Murta
Licuri
Quaresmeira (�rvore s�mbolo da cidade)
Palmeira areca
Ip�-rosa
Alfeneiro
Resed�
Pata-de-vaca
Ip�-tabaco
Um jambo de sorte
Uma das sobreviventes, o jambo-rosa da Rua Esp�rito Santo, t�pica do Norte e Nordeste do pa�s, incomum na arboriza��o urbana, nasceu por sorte, que a acompanha at� hoje. Quando a capital foi sendo moldada ao longo dos anos, o projeto paisag�stico previa o plantio em s�rie nessa rua de magn�lias, de cheirosas flores amarelas, cujas mudas se parecem com o jambo. Uma confus�o entre as esp�cies teria dado origem ao jambo, que tem cerca de 70 anos.
Guilhermina Santos Moreira, de 68 anos, � vizinha e admiradora do Largo das Sapucaias (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Quem tamb�m resistiu bravamente � o conjunto de sapucaias que fica na entrada do Horto Municipal. S�o 10 exemplares em um largo que leva o nome delas na Avenida Gustavo da Silveira, no Santa In�s. �rvore genuinamente brasileira, ela produz um coco duro e pesado, cujas castanhas s�o nutritivas e deliciosas. Nessa �poca do ano, as folhas ficam completamente rosas, parando o tr�nsito na avenida.
Vizinha do Largo das Sapucaias, dona Guilhermina Santos Moreira, de 68 anos, disse que as �rvores est�o l� h� pelo menos meio s�culo. “Quando me mudei para aqui, h� 55 anos, elas j� estava aqui”, conta a aposentada, feliz em saber que seria feita uma reportagem sobre elas. “At� que enfim. Ningu�m lembra delas, s� dos ip�s, e elas s�o uma beleza com suas quatro cores, verde-escuro, verde-claro, roxeada e rosa”, lista a moradora, que guarda como uma preciosidade uma sacola pl�stica lotada de castanhas.
Sua irm�, Celeste Pereira dos Santos, de 64 anos, conta que quando as folhas ficam rosa o povo para o carro para ver. “Muita gente n�o conhece a sapucaia, apesar de ter muita dela em Belo Horizonte”.
A �rvore mais antiga de BH
Uma das �rvores mais antigas da cidade, conta J�lio De Marco, arquiteto urbanista da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, est� intimamente ligada � hist�ria de Belo Horizonte. � um ficus el�stica, na sede do Museu Ab�lio Barreto, onde tamb�m est� localizada a �nica constru��o remanescente do Arraial do Curral Del Rey, a sede da outrora Fazenda Leit�o. Gigante, a �rvore chama a aten��o pela sua impon�ncia e tamanho da copa.
Este ficus el�stica no Museu Ab�lio Barreto � a �rvore mais antiga de Belo Horizonte
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Primeira �rvore a ser plantada oficialmente
Em 5 de maio de 1898, foi iniciada oficialmente a arboriza��o da cidade, sob orienta��o do engenheiro Bernardo Figueiredo, da Comiss�o Construtora da capital. De acordo com os registros do livro “Notas cronol�gicas de Belo Horizonte”, a primeira esp�cie foi a ma��-de-elefante, plantada na Rua Guajaj�ras, mas hoje muito comum ao longo da Rua dos Timbiras, entre as avenidas �lvares Cabral e Afonso Pena. Na �poca foram autorizados o plantio de 1,5 mil mudas.
Belo Horizonte tem hoje cerca de 650 mil �rvores, arbustos e palmeiras (foto: Arte EM)
�rvore batizada com o nome da cidade
Em 1914, o engenheiro e curioso por bot�nica, �lvaro Astolpho da Silveira, publicou o livro “Arboriza��o de Bello Horizonte”, onde ela contava a hist�ria do plantio de �rvores da cidade e afirmava ter encontrado um exemplar ainda n�o identificado que ele batizou de Aspidosperma bello horizontinunn, representada, segundo ele, por um �nico exemplar, existente na Rua Bernardo Guimar�es e ainda n�o classificado cientificamente.
A informa��o de que essa �rvore, da fam�lia da peroba, n�o tinha sido classificada n�o procedia, com isso a cidade perdeu a oportunidade de ter de fato e de direito uma �rvore batizada em sua homenagem.
Arboriza��o de BH come�ou em 5 de maio de 1898, pela Avenida da Liberdade, atual Avenida Jo�o Pinheiro (foto: Arquivo EM)
M�quina de transplantar
A arboriza��o da cidade ficou a cargo do renomado “arquiteto jardineiro”, Paul Villon, respons�vel por muitos dos belos jardins parienses. Com d� de cortar as esp�cies que j� existiam no arraial que deu origem � cidade, mas que teriam que ser cortados para dar origem � cidade planejada, ele pediu � comiss�o construtora que comprasse uma m�quina para transplantar essas �rvores para o j� criado Parque Municipal, inaugurado antes mesmo da cidade. Em 27 de maio de 1986, foi inaugurado essa m�quina, trazida de Paris e que custou aos cofres do estado 4 mil francos.
As �rvores mais comuns em BH
Belo Horizonte tem hoje cerca de 650 mil indiv�duos arb�reos (�rvores, arbustos e palmeiras), nome t�cnico para o que a popula��o convencionou chamar popularmente de �rvore, divididos em aproximadamente 530 esp�cies. Os dados s�o estimados a partir do levantamento feito para o invent�rio das �rvores, realizado pela PBH entre 2011 e 2014.
As �rvores mais usadas na arboriza��o urbana
Sibipiruna
Quaresmeira
Escomilha africana
Aroeira
Oiti
Magn�lia amarela
A �rvore mais comum na cidade � a sibipiruna, que nesta �poca do ano est� com a copa coalhada de pequenas flores amarelas. Ela representa 6,3% de todas as �rvores da capital, seguida de perto pela murta (6,1%), que tamb�m j� come�ou a florir e � muito confundida com a dama-da-noite, devido �s flores brancas e bastante cheirosas.
Na sequ�ncia v�m a palmeira licuri (4,5%), a quaresmeira (3,5%), �rvores s�mbolo da capital, a palmeira areca (3,3%), o ip�-rosa (3,2%), o alfeneiro (2,2%), a resed� (2,1%), a pata-de-vaca (2,09%) e o ip�-tabaco (2,01%). O restante � dividido em �rvores variadas, que totalizam cerca de 500 esp�cies, segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
As �rvores de maior porte de BH
Guapuruvu - Parque Municipal
Pau-rei - Pra�a Rodrigo Emile Campos, no bairro Serrano
Pau-mulato - Rua Araguari com Bernardo Guimar�es, no Santo Ant�nio
Jequitib� - Alameda Ezequiel Dias
Ficus el�stica - Rua Cobre, no Cruzeiro
De acordo com o arquiteto urbanista, J�lio De Marco, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte, que, al�m de ser um dos respons�veis pela arboriza��o do munic�pio, � tamb�m um “apaixonado pelas �rvores”, a cidade � uma capitais das mais arborizadas do Brasil e do mundo, em rela��o a quantidade de �rvores em seu territ�rio.
Poderia at� ser mais, conta ele, se n�o fosse o vandalismo da popula��o, que danifica as �rvores e tamb�m as estruturas feitas para prote��o, instaladas enquanto elas se firmam. Das 54 mil mudas plantadas durante a Copa do Mundo no Brasil, em 2014, 15% j� foram depredadas.
Sabia N�o, Uai!
O Sabia N�o, Uai! mostra de um jeito descontra�do hist�rias e curiosidades relacionadas � cultura mineira. A produ��o conta com o apoio do vasto material dispon�vel no arquivo de imagens do Estado de Minas, formado tamb�m por edi��es antigas do Di�rio da Tarde e da revista O Cruzeiro.