
Mais de 100 pessoas morreram, e mais de 4.000 ficaram feridas, nas duas grandes explos�es ocorridas no porto de Beirute, na ter�a-feira (4), e que devastaram bairros inteiros da cidade - aponta um novo relat�rio divulgado nesta quarta pela Cruz Vermelha Libanesa.
"At� agora, mais de 4.000 pessoas ficaram feridas, e mais de 100 perderam a vida. Nossas equipes ainda est�o realizando opera��es de busca e salvamento nas �reas circundantes", afirmou o comunicado da Cruz Vermelha.
Declarada "cidade sinistrada" pelo Conselho Superior de Defesa, a capital libanesa acordou em choque e enlutada.
De acordo com o governo, de 250 mil a 300 mil pessoas est�o desabrigadas. At� o momento, os danos est�o estimados em mais de US$ 3 bilh�es e atingem quase metade da cidade de Beirute.
"Dei uma volta por Beirute. Os danos podem chegar a entre US$ 3 bilh�es e US$ 5 bilh�es", disse � AFP o governador Marwan Abbud, acrescentando que est� � espera da avalia��o de especialistas e engenheiros.

"Quase metade de Beirute est� destru�da, ou danificada", afirmou.
A pot�ncia das explos�es foi t�o intensa que os sensores do Servi�o Geol�gico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em ingl�s) as registraram como um terremoto de 3,3 pontos na escala Richter.
A onda de choque dessas deflagra��es foi sentida at� na ilha do Chipre, a mais de 200 quil�metros de dist�ncia,
No epicentro da trag�dia, o panorama � apocal�ptico: lixeiras parecem latas de conserva retorcidas, e carros est�o incinerados pelas ruas.
Com a ajuda de policiais, os socorristas passaram a noite em busca de sobreviventes e mortos sob os escombros.

Dia de luto nacional
O primeiro-ministro Hassan Diab decretou dia de luto nacional para esta quarta-feira.
Ontem, ele afirmou que as explos�es foram causadas pela detona��o de 2.750 toneladas de nitrato de am�nia.
A subst�ncia � um sal branco e inodoro, usado na composi��o de certos tipos de fertilizantes na forma de gr�os, altamente sol�veis em �gua. Tamb�m � usado na fabrica��o de explosivos e j� causou v�rios acidentes industriais.
Antes, o diretor da Seguran�a Geral, Abbas Ibrahim, havia dito que as explos�es poderiam ter sido causadas por "materiais altamente explosivos confiscados h� anos", mas acrescentou que uma investiga��o determinar� a "natureza exata do incidente".
"� inadmiss�vel que um carregamento de nitrato de am�nia, estimado em 2.750 toneladas, esteja h� seis anos em um armaz�m, sem medidas preventivas. Isso � inaceit�vel e n�o podemos permanecer em sil�ncio sobre o tema", declarou o primeiro-ministro durante a reuni�o do Conselho Superior de Defesa.
Diab prometeu que os respons�veis dever�o "prestar contas" e pediu ajuda aos "pa�ses amigos" do L�bano.
Hospitais saturados
Por volta das 18h locais (12h, hor�rio de Bras�lia), uma primeira explos�o foi ouvida em Beirute, seguida de outra muito mais potente. Os edif�cios tremeram, e os vidros das janelas quebraram em um raio de v�rios quil�metros.
Os hospitais da capital, que j� lidam com a pandemia do coronav�rus, est�o saturados.
A ONU afirmou que v�rios capacetes azuis ficaram gravemente feridos a bordo de um barco atingido pelas explos�es. Membros da embaixada da Alemanha tamb�m ficaram feridos, segundo Berlim.
Nas ruas de Beirute, soldados evacuavam moradores atordoados, muitos ensanguentados, com camisas atadas ao redor da cabe�a para conter os ferimentos.
Em uma das entradas do porto de Beirute, uma jovem corria gritando o nome do irm�o desaparecido.
V�rios carros e �nibus foram abandonados no meio das estradas. Diversas lojas nos arredores do porto ficaram destru�das.
"� uma cat�strofe. Existem corpos no ch�o. Ambul�ncias est�o pegando os corpos", disse � AFP um soldado pr�ximo ao porto.
Um homem chorava enquanto perguntava a um militar pelo paradeiro do filho, que estava no porto no momento das explos�es.
V�rias horas ap�s a trag�dia, helic�pteros seguiam despejando �gua do mar para tentar conter as chamas.

As for�as de seguran�a isolaram a regi�o portu�ria. O acesso est� autorizado apenas para os servi�os de Defesa Civil, as ambul�ncias e os bombeiros.
Fotos publicadas nas redes sociais mostram danos no interior do terminal do aeroporto de Beirute, situado a nove quil�metros de dist�ncia do local das explos�es.
"Foi como uma bomba at�mica. J� vi de tudo [na vida], mas nada igual a isso", declarou � AFP Makruhie Yerganian, um professor aposentado que vive h� mais de 60 anos na regi�o portu�ria.
Apoio do exterior
Uma testemunha disse que a explos�o foi "mais forte que a do assassinato de Rafik Hariri", alvo de um atentado espetacular com um furg�o repleto de explosivos que atingiu o comboio do ent�o primeiro-ministro em 14 de fevereiro de 2005.
O mandat�rio e outras 21 pessoas morreram no ataque, e outras 200 ficaram feridas. A explos�o causou chamas de v�rios metros de altura e quebrou os vidros das janelas de edif�cios em um raio de meio quil�metro.
A trag�dia desta ter�a-feira se soma � j� dif�cil situa��o do L�bano, que atravessa a pior crise econ�mica em d�cadas, marcada por uma deprecia��o cambial sem precedentes, hiperinfla��o e demiss�es em massa que alimentam a agita��o social h� v�rios meses.
No exterior, uma onda de solidariedade surgiu.
No Twitter, o presidente Emmanuel Macron anunciou o envio de um destacamento de seguran�a civil e de "v�rias toneladas de material sanit�rio" a Beirute, assim como a chegada de m�dicos "o quanto antes".
Canad�, Reino Unido e Estados Unidos tamb�m se declararam dispostos a ajudar o povo liban�s.
Apesar de estar tecnicamente em guerra com o L�bano, Israel ofereceu "ajuda humanit�ria e m�dica ao governo liban�s", em meio a novas tens�es entre os dois Estados vizinhos.