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Estado de Minas PANDEMIA

'A descoberta que me confortou ap�s perder meu filho m�dico, aos 26 anos, para a COVID-19'

Fernando Gurginski morreu em julho, ap�s contrair o novo coronav�rus na linha de frente do combate � pandemia, em Cuiab� (MT)


25/08/2020 21:55 - atualizado 26/08/2020 07:52

Fernando Gurginski ao lado da mãe, Regiane Marçal: ela relata descobertas que a confortaram após a morte do filho(foto: Arquivo pessoal)
Fernando Gurginski ao lado da m�e, Regiane Mar�al: ela relata descobertas que a confortaram ap�s a morte do filho (foto: Arquivo pessoal)

Desde a inf�ncia, Fernando Augusto Gurginski queria ser m�dico para salvar vidas. Nos �ltimos anos, antes de ser vitimado pelo novo coronav�rus, o jovem cumpriu o sonho de crian�a.

Ao longo do curso de medicina, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), ele costumava dizer � fam�lia que havia se encontrado. "O meu filho n�o tinha d�vidas de que era aquilo que ele queria fazer por toda a vida", diz a professora Regiane Mar�al Moreno da Cunha, m�e de Fernando.

Ap�s concluir o curso, em outubro de 2018, o jovem trabalhou em hospitais p�blicos e particulares em Cuiab� e outros munic�pios mato-grossenses. O m�dico, que nasceu em Cianorte (PR), morava em Mato Grosso desde a adolesc�ncia.

Durante a pandemia de COVID-19, ele se mostrou extremamente preocupado com a situa��o. No per�odo, trabalhou arduamente. Ao contrair o coronav�rus, n�o resistiu. Morreu em julho, aos 26 anos.

O jovem se tornou uma das v�timas do v�rus, que at� o momento matou mais de 115 mil pessoas no pa�s. Conforme o Minist�rio da Sa�de, 189 m�dicos que estavam na linha de frente do combate ao coronav�rus morreram de COVID-19 no pa�s entre mar�o e julho.


Fernando junto com a mãe e a irmã, Renata: ele morava em Cuiabá e evitava ver a família durante o período da pandemia(foto: Arquivo pessoal)
Fernando junto com a m�e e a irm�, Renata: ele morava em Cuiab� e evitava ver a fam�lia durante o per�odo da pandemia (foto: Arquivo pessoal)

Em meio � dor, Regiane revela ter feito uma descoberta que a confortou: a conduta humanizada de Fernando como m�dico. Ela conta que a fam�lia recebeu mensagens de conforto e relatos de pessoas que foram atendidas pelo jovem e elogiaram a postura dele.

"Eu sabia que o meu filho era um bom m�dico, mas n�o imaginava que ele fosse um profissional t�o humano. Descobrir o carinho que as pessoas tinham por ele foi muito importante pra mim", revela a m�e dele � BBC News Brasil.

O sonho de ser m�dico

Fernando era considerado um bom aluno desde a inf�ncia. "Ele tinha um m�todo diferente dos outros. Enquanto os amigos precisavam estudar um m�s para as provas, ele revisava o conte�do no dia anterior e conseguia tirar boas notas", diz Regiane. Ela conta que os professores do filho sempre elogiavam o bom desempenho dele nas aulas.

Al�m do foco nos estudos, o m�dico tamb�m era apaixonado por pescaria, games e m�sica. "Ele era autodidata. Aprendeu a tocar guitarra e viol�o sozinho", revela a m�e.

Ap�s concluir o Ensino M�dio, Fernando ficou em d�vida entre Medicina e Engenharia Nuclear. "Ele passou em cinco universidades p�blicas. No fim, decidiu ficar em Cuiab� para estudar Medicina, que era realmente o sonho dele", relata a m�e.

Na universidade, o jovem se destacava na turma pela altura — ele tinha 1,98m —, pela simpatia e pela dedica��o aos estudos. Gurja, como os amigos costumavam cham�-lo, era definido como um profissional extremamente apaixonado pela Medicina.


Desde a infância, Fernando se destacava por ser um bom aluno(foto: Arquivo pessoal)
Desde a inf�ncia, Fernando se destacava por ser um bom aluno (foto: Arquivo pessoal)

Com menos de dois anos de formado, enfrentou o maior desafio da carreira: o combate � COVID-19. Preocupado com a m�e e com o padrasto, ele avisou que s� veria a fam�lia quando a pandemia acabasse. "A �ltima vez em que nos vimos foi em mar�o. Mor�vamos perto. Eu o chamei algumas vezes para ir � minha casa, mas ele dizia que n�o podia, porque tinha medo de passar o v�rus para mim ou para o meu marido (padrasto de Fernando)", relata Regiane.

Diariamente, ele falava por meio do WhatsApp com a m�e, em Cuiab�, e com o pai, que mora em Cianorte.

A preocupa��o de Fernando com o trabalho se tornou ainda maior durante a pandemia. "Ele passava o dia preocupado com os pacientes com a COVID-19, tinha medo de faltar equipamentos de ventila��o mec�nica ou leitos", conta a m�e do m�dico.

Ap�s meses no enfrentamento � pandemia, ele foi infectado pelo novo coronav�rus. "Em 28 de junho, o meu filho me mandou um �udio em que disse, tranquilo, que estava com a COVID-19. Ele ficou isolado em casa e pegou afastamento do trabalho por 14 dias. Ele estava muito calmo e aquilo me passou tranquilidade. N�o achei que a situa��o dele fosse se complicar", diz Regiane.

A COVID-19

Tr�s dias ap�s ser diagnosticado com a COVID-19, Fernando piorou. Ele foi ao hospital e descobriu que havia comprometimento de 50% de seus pulm�es.


Paciente revela à família de Fernando a importância de médico em seu tratamento(foto: Reprodução)
Paciente revela � fam�lia de Fernando a import�ncia de m�dico em seu tratamento (foto: Reprodu��o)

"Ele me mandou uma mensagem dizendo que os m�dicos acharam melhor que ele ficasse no hospital, para ter uma estrutura melhor, mas n�o era nada grave", relembra a m�e. Dois dias depois, a situa��o do m�dico piorou ainda mais, ele foi intubado e levado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). "Foi tudo muito r�pido. Isso me deixa revoltada. � muito triste", lamenta Regiane.

A m�e conta que n�o sabia que a obesidade de Fernando poderia ser um fator de risco — estudos apontam que a obesidade aumenta as chances de um jovem desenvolver quadro grave de covid-19. "O meu filho havia engordado muito durante a pandemia, talvez por ansiedade e estresse, e isso pode ter piorado a situa��o. S� descobri que o peso poderia ser um risco depois da morte dele. Ele nunca me disse isso, provavelmente para n�o me deixar mais preocupada", relata.

Ap�s mais de duas semanas intubado, Fernando n�o resistiu. Ele morreu em 18 de julho. "Quando atendi � liga��o e recebi a not�cia, gritei muito. Minha filha e meu marido foram muito fortes e seguraram a barra, porque eu fiquei totalmente desesperada", diz.

Os relatos e as homenagens

Desde que Fernando foi intubado, Regiane passou a receber relatos de amigos e profissionais que trabalhavam com ele. Ela conta que se emocionou com as demonstra��es de carinho "Saber o quanto o meu filho era querido foi muito importante para mim", diz.

Um dos relatos que mais comoveram Regiane foi o de uma t�cnica de enfermagem. "Ela me disse que procurou o meu filho pelo WhatsApp e contou que estava mal. Ela n�o tinha como ir ao hospital naquele momento, mas ele pagou um Uber para que pudesse consult�-la", diz.

Os relatos, conta Regiane, se tornaram ainda mais comuns ap�s a morte do filho. "Acredito que uns 10 pacientes tenham entrado em contato comigo ou com parentes para falar sobre o meu filho."

Entre os relatos que Regiane recebeu est� o do psic�logo George Moraes. No dia seguinte � morte de Fernando, ele homenageou o jovem m�dico no Facebook. "Eu gostei tanto do acolhimento (de Fernando) que resolvi fixar a receita m�dica na lateral da geladeira, para n�o esquecer o nome do profissional para que eu pudesse procur�-lo nas pr�ximas consultas. Curioso � que as pessoas que frequentam minha casa sempre questionam: por que voc� deixa essa receita aqui? Respondo: porque conheci um m�dico excelente e n�o quero esquecer o nome dele", escreveu.

A receita que George fixou na geladeira � de novembro passado. "O que me chamou a aten��o no Fernando foi a preocupa��o com aqueles que tamb�m estavam na sala de espera. As consultas com ele eram sempre leves. Ele sempre estava com um sorriso no rosto e conseguia nos deixar calmos. Al�m disso, o diagn�stico e o encaminhamento dele para o tratamento foram muito corretos", diz o psic�logo, que mora em Cuiab�, � BBC News Brasil.

A irm� de Fernando, Renata, tamb�m recebeu um relato sobre a conduta do m�dico. "Um professor da minha filha contou para ela que o Fernando foi muito atencioso e s� liberou a esposa dele quando havia um diagn�stico para o que ela tinha. E disse que se n�o fosse descoberto naquele dia, a situa��o poderia piorar", relata Regiane.

Para Regiane, o filho � um bom exemplo da aten��o que m�dicos precisam ter com pacientes. Ela conta que os relatos que recebeu trouxeram uma importante descoberta sobre o m�dico. "Antes de tudo isso, j� havia recebido elogios por causa do meu filho, mas achava que era algo comum, porque sabia que ele era um bom m�dico. Mas depois da morte dele, descobri que ele era um profissional muito humano. Isso me fez entender a import�ncia da humaniza��o nos atendimentos aos pacientes, para acolh�-los", diz.


Na linha de frente contra a covid-19, Fernando contraiu o coronavírus e não resistiu(foto: Arquivo pessoal)
Na linha de frente contra a covid-19, Fernando contraiu o coronav�rus e n�o resistiu (foto: Arquivo pessoal)

"Descobrir como ele fez bem para outras pessoas me trouxe muito conforto. Ele teve uma passagem muito r�pida, mas foi muito querido", comenta Regiane.

A m�e de Fernando conta que no dia do enterro do filho, houve uma carreata de profissionais da sa�de, que bateram palmas para o filho. Os amigos dele foram ao cemit�rio e ficaram espalhados, respeitando o isolamento social, e com m�scaras. "Eles queriam homenagear o meu filho. Foi um momento muito bonito", relata.

As demonstra��es de carinho t�m servido de acalento para Regiane, que chora diariamente a perda do filho. "� uma dor muito forte, que n�o passa, mas todo esse carinho ajuda a amenizar."

Ela considera que a morte de Fernando � um exemplo de como as pessoas devem se cuidar em meio � pandemia de COVID-19. Regiane lamenta o fato de muitas pessoas menosprezarem a COVID-19. "� triste ver as pessoas que dizem que uso de m�scara � frescura. Gente que ignora o isolamento social. Essas pessoas colocam em risco as vidas de outras, inclusive daquelas que, assim como o meu filho, est�o nos hospitais arriscando suas vidas para salvar os outros", declara.

"O Fernando n�o fugiu do combate, mesmo sendo do grupo de risco. Ele n�o se acovardou e tenho muito orgulho disso. Mas eu n�o queria que ele fosse t�o jovem", diz, com a voz embargada.

Fernando tinha muitos planos. Ele vivia um bom momento profissional, queria morar com a namorada e planejava come�ar uma resid�ncia m�dica no fim do ano. Para Regiane, apesar do curto per�odo de formado, o filho cumpriu sua miss�o como m�dico. "Ele tinha muito amor pelo que fazia e tudo isso me d� for�as para seguir. Quando eu fico triste e choro, me lembro dos relatos sobre ele para ter for�as."


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O que � o coronav�rus


Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 � transmitida? 

A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?


Como se prevenir?

A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�

Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia

Em casos graves, as v�timas apresentam:

  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus. 

V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'

Mitos e verdades sobre o v�rus

Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 ï¿½ transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.

Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia

Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:


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