
A dois meses da elei��o presidencial, marcada para 3 de novembro, a administra��o de Donald Trump corre contra o tempo para fazer a vacina contra coronav�rus chegar aos americanos nem que seja apenas um dia antes de os cidad�os comparecerem �s urnas.
Na semana passada, o Centro de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC, na sigla em ingl�s) remeteu aos departamentos de sa�de dos 50 Estados e da capital do pa�s diretrizes para o preparo de ambientes refrigerados para armazenar as doses de dois tipos diferentes de imunizantes contra o novo coronav�rus e orienta��es sobre quem deve receber a vacina primeiro — auxiliares de enfermagem, enfermeiros e m�dicos. De acordo com o comunicado, pelo menos alguns milh�es de doses j� estar�o dispon�veis ao p�blico no final de outubro.Os documentos, revelados pelo jornal The New York Times, foram enviados aos �rg�os de sa�de no mesmo dia em que Trump fez seu discurso de oficializa��o como candidato republicano na conven��o do partido. Em mais de uma hora de fala, o presidente afirmou:
"N�s estamos entregando terapias que podem salvar vidas e vamos produzir a vacina at� o fim do ano, ou talvez at� antes disso".
A sincronia entre o comunicado do CDC e o discurso de Trump e o fato de o presidente ter demonstrado interesse em apressar os procedimentos para uma vacina desde o in�cio da pandemia levantaram questionamentos sobre se os �rg�os de controle de sa�de americanos, como o pr�prio CDC ou a Ag�ncia Reguladora de Alimentos e Medicamentos (FDA, em ingl�s), estariam agindo por press�o pol�tica.
Cerca de sete pontos percentuais atr�s do candidato democrata Joe Biden nas pesquisas nacionais de inten��o de voto, de acordo com o agregador estat�stico do site FiveThirtyEight, Trump tem buscado formas de virar o jogo. Os Estados Unidos s�o o pa�s com maior n�mero absoluto de mortes por covid-19 — 185 mil — e enfrentam forte recess�o econ�mica na esteira da pandemia.
A resposta de Trump ao v�rus � aprovada por apenas 39% dos americanos. Ao longo dos �ltimos meses ele fez movimentos contradit�rios diante do p�blico: subestimou o potencial da doen�a, se recusou a usar m�scaras at� recentemente, incentivou americanos a quebrar a quarentena e advogou por tratamentos sem efic�cia, como o consumo de hidroxicloroquina.
Tudo isso teria baixado as chances de Trump obter mais quatro anos na Casa Branca. E os pr�prios apoiadores do presidente admitem que obter uma vacina antes da vota��o aumentaria suas chances de sucesso eleitoral.

"Em um universo paralelo, em que a integridade do CDC e da FDA estivessem protegidas e n�o houvesse preocupa��es de que a press�o pol�tica estaria acelerando os processos regulat�rios, essa poderia mesmo ser uma etapa inicial importante na prepara��o da log�stica para a distribui��o da vacina, especialmente para os trabalhadores de sa�de. Neste universo em que estamos, � preocupante", afirmou Alexandra Phelan, professora do Centro para Sa�de, Ci�ncia e Seguran�a Global da Universidade Georgetown, em Washington D.C.
A dubiedade na rea��o de Phelan n�o � gratuita. Se por um lado, a administra��o Trump injetou bilh�es de d�lares em um plano ambicioso de desenvolvimento da vacina, por outro, acumulou um hist�rico de conflitos e inger�ncia pol�tica tanto com a FDA quanto com o CDC nos �ltimos meses.
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Velocidade de Star Trek
Normalmente, o prazo de aprova��o de uma vacina � de ao menos quatro anos, mas uma s�rie de fatores explica a velocidade com que as imuniza��es contra covid-19 est�o sendo desenvolvidas agora.
Al�m de se mostrar um v�rus relativamente est�vel, com poucas muta��es, o Sars-CoV-2, causador da covid-19, � um v�rus parecido com o pat�geno da Sars, doen�a que se tornou epidemia na �sia no come�o dos anos 2000. Uma s�rie de laborat�rios pelo mundo j� trabalhavam h� anos com esse v�rus em busca de uma vacina.
"Toda essa rapidez agora s� foi poss�vel porque os laborat�rios aproveitaram a tecnologia do estudos de vacina contra Sars na nova vacina", afirmou � BBC News Brasil William Schaffner, professor de medicina preventiva e doen�as infecciosas na Universidade de Medicina Vanderbilt.
Gra�as a esse conhecimento acumulado, muitos laborat�rios conseguiram reduzir de dois anos para seis meses o tempo de conclus�o das fases 1 e 2 de testes. As vacinas de covid-19 j� mostraram que n�o produzem efeitos colaterais graves e que induzem a produ��o de anticorpos capazes de matar o v�rus. A fase 3 inclui a aplica��o da vacina e de placebo em dezenas de milhares de pessoas que ser�o acompanhadas pelos pesquisadores ao longo de meses — ou anos.
Ap�s um dado per�odo, os cientistas calculam quantos dos volunt�rios vacinados contra�ram a doen�a, em compara��o com o n�mero dos que receberam placebo e adoeceram. � o contraste entre um grupo e o outro que provar� a efic�cia do imunizante. Por motivos �ticos, os laborat�rios n�o inoculam o v�rus no corpo dos volunt�rios para testar a efici�ncia da vacina. � necess�rio que as pessoas pesquisadas sejam expostas naturalmente aos pat�genos, o que explica porque essa � a fase mais demorada da produ��o de uma vacina.
Mas, dada a dimens�o da pandemia, que j� contaminou 26 milh�es de pessoas, os resultados da fase 3 podem surgir mais rapidamente que o usual, especialmente porque os testes t�m sido feitos em �reas com grande circula��o do v�rus, como os Estados Unidos e o Brasil.
Mas, para al�m dos aspectos espec�ficos � biologia do v�rus, a rapidez da ci�ncia se deve � enxurrada sem precedentes de dinheiro e tamb�m de especialistas dedicados � corrida por uma vacina.
"Essa � a maior emerg�ncia das nossas vidas. Dinheiro n�o � o problema. N�s n�o temos � tempo", afirmou o infectologista Kawsar Talaat, da Universidade Johns Hopkins ao site especializado em medicina StatNews.
Um dos pa�ses a injetar mais dinheiro nessa busca foram os Estados Unidos. Em meados de maio, a administra��o Trump lan�ou um programa federal batizado de Opera��o Warp Speed, em refer�ncia � velocidade m�xima da nave espacial da s�rie de fic��o cient�fica Star Trek.
A Opera��o Warp Speed, com custo de cerca de US$13 bilh�es de d�lares, distribuiu recursos entre ao menos 14 candidatas a vacina a partir de maio. As pesquisas foram sendo eliminadas por crit�rios de seguran�a e efici�ncia at� chegar �s cinco mais promissoras imuniza��es. Entre elas, est�o as das empresas Moderna e AstraZeneca, que usam metodologias distintas para obter a vacina. Embora as candidatas ainda estejam entre a fase 2 e a fase 3 de testes, as doses j� come�aram a ser produzidas em larga escala no pa�s.

O plano inicial era ter at� 300 milh�es de doses at� janeiro de 2021, prazo que ser� aparentemente adiantado em mais de dois meses agora. Trata-se de uma aposta: assim que os testes forem conclu�dos — e se as vacinas forem aprovadas — elas poderiam ser injetadas imediatamente na popula��o. Se forem reprovadas — por serem ineficientes ou n�o seguras — todos as doses seriam descartadas, e o dinheiro, perdido. Para ser aprovada pela FDA, a vacina precisa mostrar ser eficaz em 50% das pessoas para impedir o cont�gio ou abrandar os sintomas da covid-19.
Os resultados da Opera��o Warp Speed tem endere�o certo: se der certo, apenas americanos receber�o as doses produzidas. Isso porque, nessa semana, a Casa Branca anunciou que n�o ir� participar do Covax, o cons�rcio da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) para produzir e distribuir a vacina do qual fazem parte mais de 170 pa�ses, incluindo o Brasil.
Os Estados Unidos acusam a OMS de ter sido complacente e "corrupta" em rela��o � pandemia e � China, onde o v�rus surgiu. E est� em processo de deixar o �rg�o, do qual era o maior financiador.
Vacina de emerg�ncia
Mas nem mesmo para os americanos a not�cia da pressa na produ��o da vacina foi inteiramente bem recebida. Isso porque a Opera��o Warp Speed j� previa prazos extremamente enxutos e os especialistas duvidam que seja poss�vel concluir os procedimentos para atestar seguran�a e efici�ncia da doses se o tempo for ainda mais reduzido.
O temor � que o governo Trump lance m�o de um instrumento chamado Autoriza��o de Uso Emergencial, um protocolo da FDA desenvolvido para permitir o "uso de terapias, equipamentos e medica��es em doen�as para as quais eles n�o foram cientificamente testados e aprovados em casos em que n�o h� uma alternativa melhor", conforme explica o site da ag�ncia.
O expediente foi usado algumas vezes durante a pandemia de covid-19: sob essa autoriza��o, hospitais americanos usaram hidroxicloroquina em pacientes de coronav�rus ao longo de algumas semanas, at� que a ag�ncia concluiu que os danos aos pacientes eram maior que os benef�cios que a droga produzia e a autoriza��o foi suspensa. Da mesma forma, ventiladores foram usados em pacientes experimentalmente.
Os m�dicos afirmam que, em uma emerg�ncia como uma epidemia, � razo�vel lan�ar m�o dos instrumentos poss�veis para tentar salvar uma vida. Muito diferente, no entanto, seria injetar uma subst�ncia sem comprova��o em milh�es de pessoas saud�veis.
O �nico pa�s a j� ter iniciado vacina��o em massa contra o coronav�rus foi a R�ssia, de Vladimir Putin. E embora tenha passado a recomendar a vacina, o governo russo n�o cumpriu protocolos internacionais de seguran�a nem comprovou a efic�cia da subst�ncia que injeta em seus cidad�os. Por causa disso, a distribui��o das doses foi vista internacionalmente como uma manobra populista e arriscada do ponto de vista da sa�de p�blica.

"Nos Estados Unidos, nunca liberamos uma grande vacina sob Autoriza��o de Uso Emergencial. Essa autoriza��o tem um n�vel cient�fico inferior, e n�o faz sentido lan�ar uma vacina nessas circunst�ncias", afirmou � BBC News Brasil pesquisador em vacinas Peter Hotez, da Faculdade de Medicina de Doen�as Tropicais da Universidade do Texas.
Segundo Hotez, o uso desse expediente seria ainda mais arriscado porque parte das vacinas da Opera��o Warp Speed adota uma tecnologia inteiramente nova, capaz de reproduzir no corpo humano c�pias do c�digo gen�tico do Sars-CoV-2, o chamado mRNA. Ainda n�o existe no mundo uma vacina para humanos com essa tecnologia.
"� o caso da vacina da Moderna ou da Pfizer, e essa t�cnica nunca resultou em uma vacina licenciada antes. Portanto, h� ainda mais raz�o para passar por uma revis�o completa pela FDA", diz Hotez.
O risco anti-vax
Mesma opini�o tem o ex-diretor do CDC Tom Frieden. Em postagem no Twitter, ele chegou a sugerir que n�o tomaria uma vacina aprovada sob o protocolo emergencial.
"Para ser claro: o licenciamento de uma vacina exige que ela seja comprovadamente segura e eficaz. Esse � um padr�o razo�vel. Se alcan�ado, eu me sentiria confort�vel em receber uma dose e recomend�-la para minha fam�lia. (Uma vacina aprovada) por autoriza��o de uso de emerg�ncia, em contraste, � um padr�o muito inferior", afirmou.
Frieden joga luz sobre um problema s�rio. Uma vacina lan�ada sob condi��es pouco transparentes pode engrossar as fileiras dos que rejeitam imuniza��es. Uma pesquisa feita pelo Instituto Gallup no in�cio de agosto mostrou que, antes da tentativa de apressar o lan�amento da vacina, 35% dos americanos j� afirmavam n�o querer tom�-la, mesmo que ela fosse aprovada pela FDA e gratuita.
O pa�s possui uma relevante comunidade anti-vax, que se baseia em premissas religiosas ou em teorias conspirat�rias (e falsas) sobre supostos malef�cios da imuniza��o para se recusar a tom�-la. Nos �ltimos anos, diversas cidades americanas enfrentaram surtos de sarampo em decorr�ncia da queda no n�mero de pessoas protegidas contra a doen�a.
O resultado disso � �bvio: a covid-19 se mostrou uma doen�a profundamente perturbadora da ordem social. Para retomar � conhecida normalidade, ser� preciso uma vacina. Mas vacinas se baseiam na l�gica da coletividade: � preciso que a maior parte da popula��o tome para que o v�rus n�o encontre mais organismos em que se propagar e desapare�a. Se n�o atingir a cobertura populacional necess�ria, a vacina simplesmente n�o funciona.
Assim, todo o dinheiro e o esfor�o seria jogado fora, alerta Frieden.
"Uma vacina parece ser nossa melhor ferramenta para combater a covid-19. � por isso que � t�o importante acertarmos agora e n�o ignorarmos a seguran�a. Se as pessoas n�o confiarem na vacina, arriscamos um passo para frente e muitos para tr�s".
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O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
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Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?
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Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
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- Diarreia
Em casos graves, as v�timas apresentam:
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus.
V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.
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