Pandemia amea�a fechar cinema 'mais antigo do mundo', em opera��o desde 1897

A cidade de Washington, no Estado de Iowa (no Meio-Oeste dos EUA), pode se considerar sortuda no que diz respeito ao avan�o do novo coronav�rus.

Localizada na zona rural e com apenas 7 mil habitantes, registrou somente 11 mortes at� agora, em um momento em que a COVID-19 matou mais de 217 mil americanos e infectou 7,9 milh�es.

Mas Washington n�o foi poupada dos efeitos econ�micos da pandemia.

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A ind�stria cinematogr�fica foi afetada em toda sua cadeia pela pandemia, desde a produ��o de filmes at� a opera��o de salas de cinema. A Cineworld, uma das maiores redes de cinema do mundo, anunciou em 4 de outubro que fecharia temporariamente suas salas nos EUA e no Reino Unido. A decis�o foi tomada depois do an�ncio do adiamento do lan�amento de mais um blockbuster,: o novo filme da franquia James Bond, Sem Tempo para Morrer.

As consequ�ncias n�o demoraram a ser sentidas na pequena cidade rural de Iowa.

Russell Vannorsdel, vice-presidente da Fridley Theathers, empresa dona do State Thatre, diz � BBC que a situa��o � melanc�lica.

"Conseguimos operar at� o fim de 2020, mas n�o sabemos o que vamos fazer, se Hollywood n�o est� produzindo novos filmes e ainda n�o h� uma decis�o do governo americano quanto a um pacote de al�vio (econ�mico)", diz ele.

Superando a Grande Depress�o e o Netflix

Vannorsdel, que trabalha h� 30 anos no setor e come�ou como vendedor de comida em um dos cinemas do grupo Fridley, acredita que a pandemia se converteu no mais duro teste de resist�ncia enfrentado pelo State Theatre desde que abriu suas portas, 123 anos atr�s.

"Sobrevivemos a amea�as como a Grande Depress�o (crise econ�mica de enorme magnitude entre 1929 e 39), a crise financeira de 2008 e a chegada dos alugu�is dom�sticos de filmes e os servi�os de streaming."

O local sobreviveu at� a um inc�ndio, que for�ou o fechamento da sala de cinema durante alguns meses de 2010.

"Mas quantos golpes mais conseguiremos aguentar? N�o conseguiremos sobreviver enfrentando preju�zos semanais para sempre."

A receita do State Theathre caiu 70% em 2020, mesmo depois que os cinemas de Iowa foram autorizados a reabrir suas portas, em maio.

Enquanto isso, o grupo Fridley manteve o pagamento de sal�rio dos funcion�rios, mesmo tendo limitado suas opera��es a sextas-feiras e fins de semana.

Na aus�ncia de novos lan�amentos, a �nica tela de cinema do local tem sido usada para transmitir eventos esportivos e filmes mais antigos. As salas tamb�m s�o alugadas para sess�es privadas.

Durante os dois meses em que o State Theathre ficou fechado, como parte da quarentena imposta em Iowa, uma das ideias foi fazer delivery de pipoca — o local tem uma famosa m�quina antiga de fazer pipoca, em funcionamento desde 1948.

"A comunidade tem sido incr�vel em nos apoiar", afirma Vannorsdel.

Salvo por um protesto

O State Theatre � o �nico cinema em um raio de 50 km, e a cidade j� havia se unido para salv�-lo antes.

Depois do inc�ndio de 2010, a Fridley anunciou que o edif�cio antigo seria derrubado e substitu�do por salas mais modernas, com m�ltiplas telas.

A ideia desagradou a popula��o, que protestou e for�ou a empresa a reconstruir o antigo cinema, hoje listado como uma das atra��es tur�sticas de Iowa.

Mas, agora, o momento � de incertezas, diante dos desafios sem precedentes enfrentados pela ind�stria cinematogr�fica.

Segundo a consultoria Omdia, as receitas de bilheterias ca�ram quase 70% no mundo em 2020 em compara��o com o ano passado, e todos os grandes mercados foram afetados.

A China, que, segundo estimativas, deve superar os EUA como maior fonte de receita por bilheteria neste ano, sofreu uma queda de 66% na venda de ingressos. A �ndia, que sedia a prol�fica ind�stria de Bollywood, registrou redu��o de 75%.

A ind�stria de Hollywood como um todo prev� uma queda de ao menos 65% nas receitas com bilheterias, segundo levantamento da PricewaterhouseCoopers.

E as perspectivas para 2021 tampouco s�o animadoras.

"A ind�stria deve estar preocupada, porque foi um ano desastroso e a pandemia ainda est� causando perturba��es", diz Maria Rua Aguete, diretora de pesquisas na Omdia.

Mas Rua Aguete diz que, de modo mais amplo, h� raz�es para esperan�a. Apesar do avan�o dos servi�os de streaming, 2019 foi um ano com receitas recordes (de mais de US$ 42 bilh�es) para cinemas ao redor do mundo.

"Quando isto (pandemia) acabar, certamente haver� fechamentos de cinemas e dificuldades", ela diz. "Mas as pessoas que gostam de ir ao cinema est�o dispostas a voltar. Nossa pesquisa mostra que os clientes ainda valorizam a 'experi�ncia da telona' para lan�amentos de filmes, em vez de assisti-los em casa."

Para Russell Vannorsdel, os dados trazem um pouco de esperan�a de que o State consiga superar mais esta tormenta.

"� como digo a meus colegas e amigos: sou muito bom cozinheiro de fil� em casa", ele afirma, brincando. "Mas isso n�o significa que vou deixar de ir a restaurantes e desfrutar de uma boa refei��o. Tenho f� que as pessoas v�o voltar, mas precisamos sobreviver at� l�."

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