
O governo de S�o Paulo anunciou na segunda-feira (19/10) os primeiros resultados dos testes feitos no Brasil da CoronaVac, vacina contra a COVID-19 desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.
De acordo com Dimas Covas, diretor do Butantan, a CoronaVac se mostrou segura, mas ainda ser� necess�rio esperar pelos resultados dos testes de efic�cia, que indicar�o se a vacina protege ou n�o contra o novo coronav�rus.
A expectativa de Covas � ter esses resultados at� o final deste ano, embora especialistas ouvidos pela BBC News Brasil digam ser improv�vel cumprir essa meta.- Vacina contra o coronav�rus: por que imunizar pessoas mais velhas � mais dif�cil
- Como a pandemia de covid-19 pode levar a uma revolu��o nas vacinas
A comprova��o de efic�cia ser� fundamental para obter o registro da vacina junto � Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) e dar in�cio � vacina��o.
Com mais de 40 milh�es de infectados e 1,1 milh�o de mortos no mundo por causa da COVID-19, h� uma grande expectativa em torno n�o apenas dessa, mas das 196 vacinas que est�o sendo desenvolvidas atualmente no mundo contra a COVID-19, de acordo com dados da Organiza��o Mundial da Sa�de.
Desse total, 44 j� est�o sendo testadas em humanos, das quais 10 est�o na �ltima fase desta etapa de pesquisa, a chamada fase 3, quando se verifica a efic�cia.
Entre elas, est� a CoronaVac, que est� sendo testada n�o apenas no Brasil, mas tamb�m na Turquia e na Indon�sia.
A BBC News Brasil preparou uma s�rie de perguntas e respostas para esclarecer o que se sabe sobre essa vacina at� o momento. Confira a seguir.
O que foi anunciado agora?
O governo de S�o Paulo divulgou que, entre os 9 mil volunt�rios que j� participam dos testes da CoronaVac no Brasil, 35% deles tiveram efeitos adversos.
Os mais comuns foram dor, edema e incha�o no local da aplica��o, dor de cabe�a e fadiga. N�o foram detectados efeitos colaterais graves.
Na coletiva de imprensa em que foi feito o an�ncio, foi apresentado um comparativo com outras quatro vacinas tamb�m em teste no Brasil, desenvolvidas pelas empresas Moderna, BioNTech/FoSun/Pfizer, CanSino e AstraZeneca/Oxford.
Nestas quatro vacinas, a incid�ncia de efeitos adversos variou entre 77% e 100%. "Portanto, [a CoronaVac] � a vacina mais segura n�o s� no Brasil, mas no mundo", disse Covas.
No entanto, esses resultados j� eram esperados, de acordo com especialistas.
Por que j� se esperava que os testes no Brasil apontassem que a CoronaVac � segura?
H� dois motivos. O primeiro � que ela usa uma tecnologia bastante tradicional, diz o imunologista Aguinaldo Pinto, professor da Universidade Federal de Santa Catarina.
Essa vacina utiliza uma vers�o inativada do v�rus. Isso quer dizer que o v�rus foi exposto ao calor ou a produtos qu�micos para n�o ser capaz de se reproduzir.
Uma vez injetado na corrente sangu�nea, o v�rus � detectado pelo sistema imunol�gico, que desenvolve formas de combat�-lo.
Mas, como o v�rus � incapaz de se reproduzir, n�o consegue deixar uma pessoa doente.
"N�o h� nada de novo na tecnologia por tr�s dessa vacina. Ela existe h� v�rias d�cadas. Temos muitas vacinas de v�rus inativados sendo comercializadas hoje, como as contra a gripe, por exemplo. E sabemos que elas s�o bastante seguras", afirma Pinto.
Enquanto isso, as outras vacinas comparadas � CoronaVac na coletiva de imprensa usam tecnologias ainda in�ditas em vacinas e cujos efeitos s�o mais incertos.
O segundo motivo � que os testes no Brasil apenas confirmaram o que j� havia sido comprovado em etapas anteriores da pesquisa, como o pr�prio governo de S�o Paulo indicou.
Antes de ser testada aqui, a CoronaVac foi testada na China para verificar sua capacidade de gerar uma rea��o do sistema imune e sua seguran�a e obteve bons resultados em ambos os crit�rios.
Naquela ocasi�o, o estudo concluiu que esta vacina teve �ndices bastante semelhantes ou mesmo menores de participantes com efeitos adversos.
"Essa conclus�o � apenas um refor�o dos resultados de fases anteriores. Se tivesse surgido algum efeito adverso grave, a seguran�a da vacina j� teria sido contestada e, possivelmente, ela nem teria chegado � fase 3", explica Pinto.
Mas o imunologista alerta que uma vacina ser segura (ou a mais segura) n�o significa que ela seja eficaz.

Afinal, a CoronaVac protege contra a covid-19?
� exatamente isso que os testes de fase 3 est�o investigando. Estes testes est�o sendo realizados n�o s� no Brasil, mas tamb�m na Indon�sia e na Turquia.
No Brasil, os testes de fase 3 ser�o feitos pelo Butantan com 13 mil profissionais de sa�de volunt�rios com idades entre 18 e 59 anos, dos quais 9 mil j� foram recrutados.
Eles s�o divididos em dois grupos: um recebe a vacina e outro, placebo. Nem os participantes nem os pesquisadores sabem em qual grupo est� cada volunt�rio.
Ao fim do estudo, ser� analisada a propor��o de pessoas que receberam a vacina e ficaram doentes para atestar sua efic�cia.
De acordo com o governo de S�o Paulo, uma an�lise preliminar de efic�cia poder� ser feita quando ao menos 61 casos de covid-19 forem confirmados entre os participantes, o que, segundo o governo de S�o Paulo, ainda n�o foi atingido.
Um comit� de especialistas ter� acesso aos dados e poder� saber de qual grupo fazem parte essas pessoas que ficaram doentes para avaliar se a vacina funciona ou n�o.
Uma segunda an�lise poder� ser feita quando houver 151 casos de covid-19 ou mais.
Se nestas an�lises a maioria dos que ficaram doentes estiver no grupo que tomou placebo, o comit� poder� concluir que a efic�cia foi comprovada, o que permitir� apresentar esses resultados � Agencia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) para solicitar o registro da vacina.
No entanto, a mesma tecnologia que faz da CoronaVac uma alternativa segura n�o conta a favor de sua efic�cia.
"Vacinas de v�rus inativados n�o geram uma resposta do sistema imune t�o forte e duradoura quanto vacinas de v�rus atenuados [que conseguem se reproduzir, embora lentamente], por exemplo", diz Pinto.

Qual � a taxa de efic�cia que uma vacina deve ter?
A imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ci�ncias da Sa�de de Porto Alegre, diz que, em geral, uma vacina deve ter uma taxa de efic�cia de 70%, ou seja, ser capaz de proteger sete em cada dez pessoas que a tomarem.
"Porque a� a gente consegue atingir a chamada imunidade de rebanho, e h� uma chance maior de proteger a popula��o como um todo", afirma Bonorino.
Dimas Covas disse, no entanto, que o governo de S�o Paulo deve pedir o registro � Anvisa caso a CoronaVac tenha uma efic�cia de ao menos 50%.
A pr�pria Anvisa j� indicou que pode aceitar uma efic�cia neste patamar, diante da situa��o de emerg�ncia criada pelo novo coronav�rus, contra o qual n�o existe ainda uma vacina.
"Neste momento, a regra m�nima � 50%, mas j� seria de grande utilidade uma vacina com 40% de efic�cia. J� seria suficiente para reduzirmos a mortalidade e as interna��es. Se tiv�ssemos uma vacina com 40% de efic�cia, eu seria o primeiro a tom�-la", disse Covas.
A CoronaVac pode ficar pronta ainda neste ano?
O governo de S�o Paulo afirmou que espera poder fazer uma primeira an�lise de efic�cia at� novembro. Tamb�m anunciou anteriormente que a vacina��o de profissionais de sa�de teria in�cio em 15 de dezembro.
Para isso, o Butantan dever� come�ar a produzir a CoronaVac ainda em outubro para ter 46 milh�es de doses prontas para serem aplicadas at� dezembro. "A� aguardaremos o processo de registro da vacina", disse Covas.
Jorge Kalil, diretor do Laborat�rio de Imunologia do Instituto do Cora��o (Incor), considera esse cronograma pouco fact�vel.
"Mostrar que a vacina � segura n�o quer dizer nada. Para registrar uma vacina, o mais importante � a efic�cia. Precisa ver se ela protegeu contra a doen�a, se ela deixou a doen�a mais branda, e para observar isso precisa de tempo", afirma Kalil.
O imunologista destaca que, at� agora, o estudo do Butantan ainda n�o conseguiu recrutar todos os 13 mil volunt�rios previstos.
Al�m disso, o governo de S�o Paulo tamb�m afirma que foram aplicadas at� o momento apenas 12 mil doses entre os 9 mil volunt�rios que j� participam dos testes. Isso significa que a maioria deles ainda n�o recebeu a segunda das duas doses previstas da vacina.
"Tamb�m tem muito pouco tempo de observa��o p�s-vacinal. Isso n�o � aceito internacionalmente", afirma Kalil.
Bonorino concorda: "N�o tem como demonstrar efic�cia a n�o ser daqui a v�rios meses, porque precisa deixar as pessoas terem covid-19."
A imunologista acredita que existe um fator pol�tico por tr�s do desenvolvimento acelerado das vacinas contra a covid-19.
Por sua vez, o governador de S�o Paulo, Jo�o Doria (PSDB), disse n�o estar em uma "corrida eleitoral ou ideol�gica, mas em uma corrida para salvar vidas".
"As vacinas que salvam vidas s�o as que cumprem todos os protocolos de testes e t�m efic�cia comprovada", diz Bonorino.

Quem vai tomar a vacina primeiro?
Isso ainda n�o foi divulgado oficialmente pelo governo de S�o Paulo.
Mas Jo�o Gabardo, coordenador-executivo do centro de conting�ncia da covid-19 de S�o Paulo, afirmou que s�o usados normalmente crit�rios de vacina��o no Brasil que levam em conta o grau de exposi��o a uma doen�a e os grupos para os quais ela representa um maior risco de morte.
Isso inclui profissionais de sa�de e seguran�a, portadores de doen�as cr�nicas, idosos, pessoas que t�m alguma imunodefici�ncia.
Dimas Covas reafirmou esse entendimento ao dizer que, "em uma vacina��o no meio de uma pandemia, se deve proteger quem tem mais risco".
"Num primeiro momento, a vacina vai ser priorizada para esses grupos", disse o diretor do Butantan.
Vai ser obrigat�rio tomar a vacina?
Jo�o Doria disse na sexta-feira (16/10) que a vacina contra a covid-19 ser� obrigat�ria em todo o Estado. Segundo Doria, somente quem tiver um atestado m�dico que comprove que ele n�o pode ser imunizado ser� liberado.
"Adotaremos medidas legais se houver contrariedade nesse sentido", disse o governador.
No mesmo dia, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), advers�rio pol�tico de Doria, afirmou que quem oferecer� a vacina ser� o Minist�rio da Sa�de, mas "sem impor ou tornar a vacina obrigat�ria".
Na segunda-feira, Bolsonaro voltou tratar do assunto. Em conversa com apoiadores, afirmou que a vacina contra a covid-19 "n�o ser� obrigat�ria e ponto final" e criticou o rival.
"Tem um governador a� que est� se intitulando o m�dico do Brasil dizendo que ela [a vacina] ser� obrigat�ria. Repito que n�o ser�."

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O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?
Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
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Em casos graves, as v�timas apresentam:
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Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia
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