
Em 19 de janeiro, o Reino Unido registrou o pico di�rio de mortes em toda a pandemia. Morreram 1,359 pessoas. Apesar de ser inferior ao n�mero atual no Brasil – na ter�a-feira (23/3) foram registradas 3.251 mortes no pa�s – em termos proporcionais, considerando o tamanho das popula��es, a COVID-19 matava em janeiro 30% a mais no Reino Unido do que o que agora no Brasil.
O Reino Unido vivia na �poca uma tempestade perfeita que contribu�a para a dissemina��o da doen�a em um ritmo muito mais acelerado do que durante a primeira onda, com diversos fatores influindo: campanha de vacina��o ainda no come�o, nova variante do v�rus mais infecciosa e letal, e auge do inverno.
Escolas foram reabertas no come�o do m�s, e at� o dia 15 de abril o Reino Unido pretende ter dado uma dose de vacina para toda a sua popula��o com mais de 50 anos de idade. A meta � vacinar todos os adultos at� 31 de julho.
Como o Reino Unido conseguiu sair do fundo do po�o da pandemia em apenas dois meses?
O caminho para sa�da passou por duas medidas que foram as principais apostas do governo do premi� Boris Johnson: lockdown bastante restrito e grande investimento em vacina��o.
Terceiro lockdown
O esfor�o para diminuir o impacto do coronav�rus come�ou um m�s antes do dia 19 de janeiro, quando o n�mero de mortes atingiu seu pico.

Nos dias anteriores aos feriados de Natal e ano-novo, as autoridades j� observavam o agravamento acelerado da pandemia. Em apenas duas semanas, o n�mero de casos de COVID-19 havia duplicado, de 12 mil para 25 mil por dia.
A popula��o j� havia enfrentado dois lockdowns e n�o havia mais �nimo para um terceiro.
O mais recente deles, decretado em novembro, havia contribu�do para derrubar os n�meros temporariamente e fora usado como uma esp�cie de "barganha" do governo com os brit�nicos – se a popula��o enfrentasse mais esse sacrif�cio no m�s de novembro, poderia ter um Natal e ano-novo mais relaxado, inclusive com a possibilidade de viajar e confraternizar com seus parentes.
Mas o plano fracassou.
Assim que as restri��es foram levantadas no come�o de dezembro, os n�meros dispararam. O governo n�o manteve sua promessa de relaxar as medidas e restringiu viagens e a intera��o de pessoas durante as festas de fim de ano.
Foi nessa �poca, que foi divulgada a exist�ncia de uma nova variante do v�rus, surgida no sudeste da Inglaterra, que era at� 70% mais contagiosa.
Ao mesmo tempo, o governo dava in�cio � sua campanha de vacina��o – a primeira no mundo ocidental, mas com passos ainda t�midos.
Passadas as festas, o primeiro-ministro Boris Johnson fez um pronunciamento � na��o, consolidando o terceiro lockdown.
"Com o pa�s inteiro j� sob medidas extremas, est� claro que precisamos fazer mais, juntos, para manter essa variante sob controle enquanto nossas vacinas s�o distribu�das. N�s precisamos fazer um lockdown nacional que seja duro o suficiente para conter essa variante", disse Boris.
O com�rcio n�o essencial e as escolas foram fechados, exames educacionais foram suspensos e o governo imp�s restri��es para viagens – tanto dentro do pa�s como em fronteiras.
O governo estendeu o aux�lio salarial para mais de 10 milh�es de trabalhadores at� setembro, com subs�dios que podem chegar a 2,500 libras (quase R$ 20 mil) por beneficiado.
A oposi��o ao governo de Boris Johnson apoiou as medidas.
"Qualquer que seja a nossa cr�tica ao governo, todos n�s precisamos nos unir e fazer isso funcionar", disse o l�der do Partido Trabalhista, Keir Starmer, em janeiro.
Vacina��o
Por duas semanas, o n�mero e mortes continuou subindo. Imagens de hospitais operando em capacidade m�xima dominavam os telejornais.
Ao mesmo tempo, come�aram a surgir os primeiros boletins di�rios sobre a quantidade de pessoas vacinadas. No dia 19 de janeiro – quando o Reino Unido atingiu seu pico de mortes, e na mesma semana em que a Anvisa liberava o uso da vacinas contra COVID no Brasil – 4,6 milh�es de brit�nicos j� haviam recebido a primeira dose.
Nesta semana, o Reino Unido j� superou a marca de 28 milh�es de pessoas com a primeira dose da vacina e 2 milh�es com a segunda.
Mas o caminho rumo � vacina��o n�o come�ou no dia 8 de dezembro, quando a idosa Margaret Keenan, de 91 anos, se tornou a primeira brit�nica a receber uma dose no pa�s.

Em 30 de janeiro de 2020, antes mesmo de haver confirma��o de casos de coronav�rus no Reino Unido, os cientistas da universidade de Oxford se mobilizaram para pedir recursos para pesquisa em vacinas.
H� um ano, em mar�o de 2020, o governo anunciou investimentos de US$ 750 milh�es em pesquisa para se encontrar uma vacina.
No m�s seguinte, foi assinada a parceria entre a Oxford e a AstraZeneca, para desenvolvimento da vacina que acabou aprovada no fim do ano. A principal vantagem do imunizante em rela��o aos demais � o fato de ele ser de f�cil armazenamento e possuir um baixo custo de produ��o.
Em agosto, quatro meses antes da aprova��o por �rg�os regulat�rios, o governo brit�nico j� havia fechado neg�cios para compra de 340 milh�es de doses – o que seria suficiente para administrar cinco doses por pessoas.
Esse trabalho de antecipar contratos colocou o Reino Unido na frente de outros pa�ses da Europa na corrida por vacinas. Os resultados est�o aparecendo agora: o pa�s vacinou duas vezes mais pessoas do que a Alemanha e tr�s vezes mais do que a Fran�a.
Esse esfor�o parece estar tendo recompensas agora, com o Reino Unido levando vantagem em rela��o ao resto da Europa na reabertura da economia.
"Se voc� comparar os lockdowns que foram implementados – o de mar�o do ano passado com o de janeiro deste ano –, vai perceber que na primeira vez a queda no n�mero de casos foi bem mais lenta", disse � BBC News Brasil a pesquisadora Julii Brainard, da Norwich Medical School, na University of East Anglia.
"Agora os n�meros ca�ram bem mais rapidamente, apesar de as condi��es serem diferentes. E qual foi a grande diferen�a entre os dois lockdowns? � que agora temos a vacina��o acontecendo, o que acelerou a queda."
O lockdown definitivamente teve impacto na redu��o dos n�meros, mas as vacinas ajudaram a acelerar o processo.
Ela alerta que mesmo com muitas pessoas recebendo a primeira dose da vacina, estudos recentes indicam que a popula��o pode estar relaxando nos seus h�bitos.
"As pessoas n�o est�o indo a grandes eventos e aglomera��es, mas elas est�o come�ando a retomar o contato com pessoas mais pr�ximas e circulando mais. Isso precisa ser feito com cuidado."
N�o acabou
Mesmo com o n�mero de mortes tendo ca�do substancialmente, o Reino Unido ainda est� longe de ter se livrado do lockdown.
A maioria dos estabelecimentos considerados n�o essenciais continua fechada e s� reabrir� a partir de 12 de abril, se houver condi��es para isso.
Um calend�rio para reabertura gradual da economia prev� que at� meados de junho boa parte das atividades j� tenham sido retomadas.
No entanto, o governo frisou que esse calend�rio s� ser� cumprido caso n�o haja imprevistos no caminho — como atrasos na vacina��o ou repique no n�mero de casos, hospitaliza��es ou mortes.
"Em todos os cen�rios, se levantarmos o lockdown muito repentinamente, toda a modelagem sugere que ter�amos um aumento substancial enquanto muitas pessoas ainda n�o est�o protegidas", alerta o principal assessor de sa�de do governo, Chris Whitty.
"Muitas pessoas podem pensar que tudo isso acabou. � muito f�cil esquecer a rapidez com que as coisas podem piorar."
O Parlamento brit�nico debate agora sobre a possibilidade de estender as leis de emerg�ncia contra o coronav�rus at� o final de setembro.
O governo n�o descarta que o pa�s pode ter uma nova onda de coronav�rus no final do ano, quando o outono come�ar. E pesquisadores acreditam que existe a possibilidade de uma nova muta��o do v�rus surgir que seja imune �s vacinas.
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