(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Por que � prov�vel que tenhamos 'contaminado' Marte com vida

A humanidade enviou cerca de 30 espa�onaves e m�dulos de aterrisagem a Marte desde o in�cio da era espacial. Agora sabemos quais micr�bios poderiam ter sobrevivido � viagem.


18/05/2021 20:24 - atualizado 18/05/2021 20:25

Será que um rastro de bactéria ou esporo vindo da Terra foi acidentalmente transportado para o espaço e sobreviveu à jornada para fazer do planeta vermelho seu novo lar?(foto: NASA/JPL-Caltech)
Ser� que um rastro de bact�ria ou esporo vindo da Terra foi acidentalmente transportado para o espa�o e sobreviveu � jornada para fazer do planeta vermelho seu novo lar? (foto: NASA/JPL-Caltech)
O fato de podermos percorrer a superf�cie de Marte � extraordin�rio.

O rob� Perseverance, que � do tamanho de um carro, pousou em seguran�a na superf�cie marciana no dia 18 de fevereiro. S� pode avan�ar a uma velocidade m�xima de 152 metros por hora, mas carrega em si uma s�rie de instrumentos com os quais fez experimentos com resultados revolucion�rios.

 

A bordo do rob� de tr�s metros de comprimento est� uma m�quina que converteu o ar marciano (fino e cheio de di�xido de carbono) em oxig�nio, bem como um helic�ptero que fez o primeiro voo motorizado em outro planeta.

O helic�ptero, chamado Ingenuity, fez tr�s voos bem-sucedidos, cobrindo dist�ncias cada vez maiores.

 

Mas � poss�vel que algo mais tenha chegado a Marte com todos esses dispositivos? Ser� que um rastro de bact�ria ou esporo vindo da Terra foi acidentalmente transportado para o espa�o e sobreviveu � jornada para fazer do planeta vermelho seu novo lar?


A espaçonave passa por uma limpeza rigorosa quando é montada e preparada para o lançamento em outros planetas(foto: NASA/Jim Grossmann)
A espa�onave passa por uma limpeza rigorosa quando � montada e preparada para o lan�amento em outros planetas (foto: NASA/Jim Grossmann)

 

'Quase imposs�vel' de evitar

 

A NASA e seus engenheiros do Jet Propulsion Laboratory (JPL) t�m protocolos precisos e abrangentes para garantir que suas espa�onaves estejam livres de quaisquer organismos que possam inadvertidamente entrar em uma miss�o espacial.

 

No entanto, dois estudos recentes exp�em como alguns organismos podem ter sobrevivido ao processo de limpeza e tamb�m � viagem a Marte, bem como a rapidez com que as esp�cies microbianas podem evoluir no espa�o.

 

Em primeiro lugar, vamos abordar como o Perseverance foi constru�do, bem como a maioria das espa�onaves fabricadas na Spacecraft Assembly Facility (SAF) do JPL.

 

As naves s�o constru�das meticulosamente, camada por camada, como uma cebola, e cada parte � limpa e esterilizada antes da montagem. Essa metodologia garante que quase nenhuma bact�ria, v�rus, fungo ou esporo contamine o equipamento que ser� enviado em uma miss�o.


A Nasa tem protocolos rígidos para áreas estéreis que visam minimizar a contaminação biológica de veículos espaciais(foto: Nasa/JPL-Caltech)
A Nasa tem protocolos r�gidos para �reas est�reis que visam minimizar a contamina��o biol�gica de ve�culos espaciais (foto: Nasa/JPL-Caltech)

 

Eles s�o constru�dos em salas com filtros de ar e procedimentos de controle biol�gico rigorosos, projetados de forma a garantir que apenas algumas centenas de part�culas possam estar presentes e, idealmente, n�o mais do que algumas dezenas de esporos por metro quadrado.

 

Mas � quase imposs�vel ter biomassa zero.

 

Os micr�bios est�o na Terra h� bilh�es de anos e est�o em toda parte. Eles s�o encontrados em nossos corpos e ao nosso redor. Alguns podem se infiltrar at� nos lugares mais est�reis.

Como saber?

No passado, os testes de contamina��o biol�gica baseavam-se na capacidade de aumentar a vida (em colheitas) a partir de amostras retiradas de um objeto, como uma nave espacial.


A humanidade enviou dezenas de espaçonaves e módulos de aterrissagem a Marte; aqueles que tiveram sucesso deixaram sua marca no planeta(foto: NASA/JPL-Caltech/MSSS)
A humanidade enviou dezenas de espa�onaves e m�dulos de aterrissagem a Marte; aqueles que tiveram sucesso deixaram sua marca no planeta (foto: NASA/JPL-Caltech/MSSS)

Agora usamos m�todos mais novos. Pegamos uma determinada amostra, extra�mos todo o DNA e ent�o fazemos uma "abordagem da escopeta" ou sequenciamento shotgun.

 

O termo � usado porque � como colocar as c�lulas da amostra em uma espingarda, "disparando" em bilh�es de pequenos peda�os de DNA e, em seguida, sequenciando cada peda�o.

 

Cada sequ�ncia "lida" pode ser atribu�da a genomas de esp�cies conhecidas que j� est�o presentes em bancos de dados de sequenciamento.

 

Como agora podemos sequenciar todo o DNA que est� presente em ambientes est�reis, e n�o apenas aqueles que podem ser cultivados, temos uma imagem mais completa de quais tipos de micr�bios podem ser encontrados l� e se eles poderiam sobreviver ao v�cuo do espa�o.

 

Nos ambientes est�reis do JPL, foram encontradas evid�ncias de micr�bios que podem ser problem�ticos durante as miss�es espaciais.

 

Esses organismos possuem um maior n�mero de genes de reparo de DNA, o que lhes confere maior resist�ncia � radia��o, s�o capazes de formar biofilmes (comunidades biol�gicas com um elevado grau de organiza��o) em superf�cies e equipamentos, sobrevivem � desseca��o (perda de umidade) e prosperam em ambientes frios.


Descobriu-se que bactérias e fungos capazes de sobreviver em condições extremas prosperam na Estação Espacial Internacional(foto: Esa/Nasa)
Descobriu-se que bact�rias e fungos capazes de sobreviver em condi��es extremas prosperam na Esta��o Espacial Internacional (foto: Esa/Nasa)

 

Acontece que nesses ambientes est�reis um processo de sele��o evolucion�ria pode estar ocorrendo para os insetos mais resistentes que mais tarde teriam uma chance maior de sobreviver a uma viagem a Marte.

 

A 'polui��o interplanet�ria'

 

Essas descobertas t�m implica��es para a chamada "polui��o interplanet�ria" proveniente da Terra.

 

� importante garantir a seguran�a e preserva��o de qualquer vida que possa existir em outras partes do universo, uma vez que organismos vindos de outros ecossistemas podem causar estragos.

 

Os humanos t�m uma hist�ria negativa disso em nosso pr�prio planeta.

A var�ola, por exemplo, se espalhou entre os povos ind�genas na Am�rica do Norte no s�culo 19 por meio de cobertores doados. Mesmo agora, n�o fomos capazes de conter a r�pida dissemina��o do v�rus que causa a covid-19, o SARS-CoV-2.

 

A contamina��o direta tamb�m � indesej�vel do ponto de vista cient�fico.

Os cientistas, se descobrirem qualquer tipo de vida em outro planeta, devem garantir que seja genuinamente nativo e n�o um falso registro de algo com uma apar�ncia extraterrestre, mas origin�rio da Terra.


Organismos terrestres que evoluíram foram encontrados na Estação Espacial Internacional(foto: NASA)
Organismos terrestres que evolu�ram foram encontrados na Esta��o Espacial Internacional (foto: NASA)

 

� que seus genomas podem mudar tanto que podem parecer ser de outro mundo, como vimos recentemente com os micr�bios que evolu�ram na Esta��o Espacial Internacional.

Por que isso seria prejudicial?

Embora a Nasa trabalhe duro para evitar a introdu��o de tais esp�cies no solo marciano, qualquer sinal de vida em Marte teria que ser cuidadosamente examinado para garantir que n�o se originou aqui na Terra.

 

N�o fazer isso pode levar a um mal-entendido sobre as caracter�sticas da vida marciana.

 

Micr�bios transportados para o espa�o tamb�m podem ser uma preocupa��o mais imediata para os astronautas, colocando em risco sua sa�de. Podem at� mesmo fazer com que o equipamento de suporte � vida funcione mal, caso fique cheio de col�nias de microrganismos.

 

Mas a prote��o planet�ria � bidirecional.

 

Devemos tamb�m evitar trazer de volta "poluentes" de outro planeta que possam nos colocar em perigo.

 

Esta tem sido a base de muitos filmes de fic��o cient�fica, onde um malvado invasor "alien�gena" amea�a exterminar toda a vida na Terra.

 

Mas pode se tornar em parte realidade com a miss�o que a Nasa e a Ag�ncia Espacial Europeia planejam enviar a Marte em 2028 e que, se planejada, em 2032 trar� de volta as primeiras amostras do planeta vermelho.

 

No entanto, considerando que as duas primeiras sondas sovi�ticas pousaram na superf�cie marciana em 1971, seguidas pela sonda US Viking 1 em 1976, � prov�vel que j� existam alguns fragmentos de DNA microbiano, e talvez humano, no planeta vermelho.


O Perseverance pegará uma amostra da superfície de Marte que será enviada à Terra na próxima década(foto: Nasa/JPL-Caltech)
O Perseverance pegar� uma amostra da superf�cie de Marte que ser� enviada � Terra na pr�xima d�cada (foto: Nasa/JPL-Caltech)

Detectar sua origem

Mesmo que o Perseverance, ou as miss�es que o precederam, tenham acidentalmente levado organismos ou DNA da Terra para Marte, temos maneiras de diferenci�-la de qualquer vida que seja de origem verdadeiramente marciana.

Ocultas na sequ�ncia de DNA estar�o informa��es sobre de onde os organismos vieram.

 

Um projeto em andamento chamado Metasub est� sequenciando o DNA encontrado em mais de 100 cidades ao redor do mundo.

 

Pesquisadores de nosso laborat�rio, as equipes do Metasub e um grupo na Su��a acabaram de publicar esses e outros dados metagen�micos globais para criar um "�ndice gen�tico planet�rio" de todo o DNA sequenciado j� observado.

 

Ao comparar qualquer DNA encontrado em Marte com sequ�ncias vistas nos ambientes est�reis do JPL, o mundo subterr�neo, amostras cl�nicas, esgoto ou a superf�cie do rob� Perseverance antes de deixar a Terra, deve ser poss�vel ver se eles s�o realmente desconhecidos.

 

Mesmo que nossa explora��o do sistema solar tenha inadvertidamente transportado micr�bios para outros planetas, eles provavelmente n�o s�o os mesmos de quando deixaram a Terra.


Existem centenas de espécies do gênero de cogumelos Pennicillium, um dos mais comuns na Estação Espacial Internacional(foto: Science Photo Library)
Existem centenas de esp�cies do g�nero de cogumelos Pennicillium, um dos mais comuns na Esta��o Espacial Internacional (foto: Science Photo Library)

Os ensaios de viagens espaciais e os ambientes incomuns em que est�o os fazem evoluir. Se um organismo na Terra se adaptou ao espa�o, ou Marte, as ferramentas gen�ticas � nossa disposi��o podem nos ajudar a descobrir como e por que os micr�bios mudaram.

 

Na verdade, as novas esp�cies recentemente descobertas na Esta��o Espacial Internacional por cientistas do JPL e de nosso laborat�rio eram semelhantes �s encontradas em salas limpas (capazes de suportar altos n�veis de radia��o).

Um aspecto positivo

� medida que a biologia cada vez mais extrema � registrada em um programa chamado Extreme Microbiome Project, tamb�m existe a possibilidade de usar ferramentas evolutivas para trabalhos futuros aqui na Terra.

 

Podemos usar suas adapta��es para buscar novos filtros solares, por exemplo, ou novas enzimas de reparo de DNA que podem nos proteger contra muta��es prejudiciais que levam ao c�ncer, ou ajudar no desenvolvimento de novos medicamentos.

 

Eventualmente, os humanos colocar�o os p�s em Marte, levando conosco o coquetel de micr�bios que vivem em nossa pele e dentro de nossos corpos.

� prov�vel que esses micr�bios tamb�m se adaptem, sofram muta��es e evoluam.

 

E tamb�m podemos aprender com eles, pois genomas �nicos que s�o adaptados ao ambiente marciano podem ser sequenciados, transmitidos � Terra para posterior esquematiza��o e, ent�o, usados %u200B%u200Bpara terapia e pesquisa em ambos os planetas.

 

Dadas todas as miss�es marcianas planejadas, estamos � beira de uma nova era de biologia interplanet�ria, na qual aprenderemos sobre as adapta��es de um organismo em um planeta e as aplicaremos em outro.

 

As li��es da evolu��o e das adapta��es gen�ticas est�o inscritas no DNA de cada organismo, e o ambiente marciano n�o ser� diferente.

 

Marte deixar� sua marca nos organismos que veremos quando os sequenciarmos, abrindo um novo cat�logo de literatura evolucion�ria.

 

Isso n�o apenas alimentar� nossa curiosidade, mas � um dever de nossa esp�cie proteger e preservar todas as outras esp�cies.

 

Apenas os humanos entendem a extin��o e, portanto, apenas os humanos podem evit�-la.

 

E isso � verdade hoje, mas ser� daqui a bilh�es de anos, quando os oceanos da Terra come�arem a ferver e o planeta ficar quente demais para a exist�ncia de vida nele.

 

Nossa inevit�vel viola��o da prote��o planet�ria ocorrer� quando come�armos a nos dirigir a outras estrelas, mas, nesse caso, n�o teremos outra escolha.

 

Eventualmente, a polui��o interplanet�ria cuidadosa e respons�vel � a �nica maneira de preservar a vida, e � nesta dire��o que temos de caminhar nos pr�ximos 500 anos.

 

*Christopher Mason � Professor de Gen�mica, Fisiologia e Biof�sica na Weill Cornell Medicine, Cornell University em Nova York. Ele investiga os efeitos moleculares e gen�ticos de longo prazo dos voos espaciais humanos, al�m de tocar um projeto sobre novos tipos de c�lulas para a terapia do c�ncer.

 

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)