
O ex-chanceler foi cobrado por declara��es vistas como "anti-China", pela demora do Brasil em aderir ao cons�rcio internacional de vacinas Covax Facility, pela suposta falta de atua��o do Itamaraty para conseguir mais apoio externo no fornecimento de oxig�nio ao Amazonas e pela falta de resposta do Brasil � oferta inicial da Pfizer para vender 70 milh�es de doses de imunizante contra covid-19.
O ex-ministro rebateu as cr�ticas dizendo que sua gest�o desde o in�cio atuou para trazer vacinas ao Brasil e negou que declara��es suas tenham afetado a rela��o com a pot�ncia asi�tica. Confira a seguir cinco momentos tensos em que o ex-chanceler foi pressionado pelos senadores - e suas respostas aos questionamentos.
1.'Comunav�rus'
No momento em que o Brasil enfrenta novos atrasos na fabrica��o da vacina CoronaVac devido � falta de insumos fornecidos pela China, diversos parlamentares pressionaram Ara�jo sobre antigas declara��es suas que teriam estremecido a rela��o do Brasil com a a pot�ncia asi�tica.

Ao ser questionado pelo relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), sobre o impacto de suas falas "antichinesas", o ex-chanceler refutou qualquer efeito nesse sentido.
"Eu n�o entendo nenhuma declara��o que eu tenha feito em nenhum momento como antichinesa. Houve determinados momentos em que, como se sabe, por notas oficiais, n�s nos queixamos de comportamentos da Embaixada da China ou do embaixador da China em Bras�lia, mas n�o houve nenhuma declara��o que se possa qualificar como antichinesa. Enfim, n�o h� nenhum impacto de algo que n�o existiu", disse Ara�jo.
A resposta causou irrita��o no presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), que acusou o ex-chanceler de estar mentindo. Segundo ele, Ara�jo chamou o coronav�rus de "comunav�rus" em um artigo sobre a pandemia.
"O senhor disse para o relator que n�o teve nenhuma declara��o (anti-China). Tem v�rias declara��es. E eu posso ler aqui o seu artigo. Inclusive, voc� fez uma alus�o, erroneamente, em rela��o a que a pandemia era para ressuscitar o comunismo, porque deixa as pessoas em casa, dependendo do Estado, e uma s�rie de coisas. Quer dizer, na minha an�lise pessoal, vossa excel�ncia est� faltando com a verdade", rebateu Aziz.
"O senhor n�o acha que chamar 'comunav�rus' n�o � uma coisa que indisp�e a rela��o amig�vel que n�s sempre tivemos, comercial, com a China? Se o senhor n�o acha isso, eu n�o sei o que mais achar", insistiu o senador.
O artigo citado por Aziz foi escrito por Ara�jo em abril do ano passado em seu blog Metapol�tica 17. No texto, o ent�o ministro analisava o livro V�rus, do fil�sofo Slavoj Zizek, que faz men��es diretas � China.
Segundo o artigo de Ara�jo, o livro "entrega sem disfarce o jogo comunista-globalista de apropria��o da pandemia para subverter completamente a democracia liberal e a economia de mercado, escravizar o ser humano e transform�-lo em um aut�mato desprovido de dimens�o espiritual, facilmente control�vel".
� CPI, Ara�jo se defendeu dizendo que o termo "comunav�rus" n�o se referia ao coronav�rus (v�rus que foi identificado inicialmente na China, pa�s governado pelo Partido Comunista Chin�s).
"O artigo n�o � absolutamente contra a China. A leitura do artigo deixa isso claro. A China � mencionada apenas lateralmente num ponto do artigo, justamente onde eu comento a tese do texto do Slavoj Zizek, que diz que a China, segundo ele, n�o � o modelo de sociedade comunista que ele tem em mente", argumentou.
"Ent�o, o artigo n�o � sobre a China, n�o vejo nada ali que seja ofensivo � China. O comunav�rus, o artigo deixa claro, n�o � uma designa��o ofensiva ao coronav�rus. � uma designa��o �quilo que o autor comentado chama de v�rus ideol�gico", disse ainda.

2. Desentendimento com embaixador chin�s
Ainda sobre a rela��o complicada com a China durante sua gest�o no Itamaraty, Ara�jo foi confrontado sobre um embate p�blico com o embaixador chin�s, Yang Wanming.
"At� bateu boca com o embaixador chin�s", lembrou o presidente da CPI, ao insistir que o ex-chanceler atrapalhou a rela��o entre os dois pa�ses.
A discuss�o ocorreu em mar�o de 2020, quando um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), comparou a postura da China na pandemia � atua��o do governo russo para esconder a explos�o de um reator nuclear em Chernobyl, em 1986.
"+1 vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q salvaria in�meras vidas A culpa � da China e liberdade seria a solu��o", postou o deputado em redes sociais na ocasi�o.
O embaixador chin�s reagiu no Twitter cobrando retrata��o de Eduardo Bolsonaro e dizendo que "suas palavras s�o um insulto mal�fico contra a China e o povo chin�s". Al�m disso, compartilhou um post em solidariedade � China que dizia que "a fam�lia Bolsonaro � o grande veneno deste pa�s".
Ara�jo saiu, ent�o, em defesa da fam�lia presidencial por meio de uma nota oficial do Itamaraty que foi compartilhada em sua conta pessoal no Twitter. "� inaceit�vel que o embaixador da China endosse ou compartilhe postagem ofensiva ao chefe de Estado do Brasil e aos seus eleitores", publicou na ocasi�o.
"A rea��o do embaixador foi, assim, desproporcional e feriu a boa pr�tica diplom�tica. J� comuniquei a insatisfa��o do governo brasileiro com seu comportamento. Temos expectativa de uma retrata��o por sua repostagem ofensiva ao Chefe de Estado", disse ainda.
Em resposta aos senadores, Ara�jo negou em seu depoimento ter discutido com o embaixador Wanming.
"Eu nunca tive discuss�es via Twitter com o Embaixador da China. Eu fiz duas notas do Itamaraty: uma em mar�o e uma em novembro. Notas oficiais do Itamaraty, n�o foram discuss�es minhas com o embaixador da China.
Justamente apontando comportamento inadequado dentro da Conven��o de Viena sobre Rela��es Diplom�ticas por parte do Embaixador da China. Isso n�o foi um bate-boca com o embaixador da China", disse o ex-chanceler.
3. Covax Facility
Ara�jo tamb�m foi cobrado sobra e demora do Brasil em ter aderido ao cons�rcio internacional de vacinas Covax Facility, iniciativa liderada pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), institui��o constantemente criticada pelo ex-chanceler.
Embora as negocia��es entre outras na��es tenham come�ado em abril, o Brasil s� manifestou interesse em julho, tendo assinado o acordo em 24 de setembro.
O pa�s tamb�m optou pela cota m�nima, para obter vacinas para imunizar 10% da popula��o brasileira (a cota m�xima era de 50% da popula��o).
Com isso, o Brasil ter� direito a 42,5 milh�es de doses (levando-se em conta que a imuniza��o com a maioria das vacinas depende de duas doses), das quais cerca de 4 milh�es foram entregues no in�cio de maio.

O ex-ministro refutou que o momento de ades�o ao cons�rcio tenha prejudicado o Brasil e atribuiu o tempo que o pa�s levou para aderir � necessidade do governo "de terminar a an�lise de diferentes aspectos desse contrato, que tem v�rias complexidades".
"Covax est� em dificuldade de entregar tanto para os pa�ses que pediram 10%, 20% quanto 50%", argumentou ainda.
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), rebateu a fala do ministro, sustentando que, se o Brasil tivesse optado pela conta m�xima, j� teria recebido mais vacinas, j� que a entrega � feita proporcionalmente ao contratado.
"As informa��es que temos s�o de que os pa�ses que fizeram a op��o de receber 50%, e n�o 10%, hoje, est�o recebendo mais do que est� recebendo o Brasil", ressaltou.
Ara�jo, ent�o, atribuiu a responsabilidade dessa decis�o ao Minist�rio da Sa�de.
"Essa decis�o (de optar pela cota m�nima do cons�rcio) n�o foi minha, n�o foi do Minist�rio das Rela��es Exteriores. Foi uma decis�o do Minist�rio da Sa�de, dentro da sua estrat�gia de vacina��o", disse ainda.
4. Cobran�a sobre oxig�nio da Venezuela para o Amazonas
Ara�jo foi tamb�m cobrado sobre a falta de atua��o do Itamaraty para trazer mais oxig�nio da Venezuela ao Amazonas em janeiro, quando a falta do g�s provocou a morte de centenas de pessoas que estavam internadas com covid-19 no Estado.

O governo venezuelano disponibilizou uma doa��o de oxig�nio ao Amazonas que foi transportada por rodovia ao Brasil. Os senadores amazonenses Omar Aziz e Eduardo Braga e o representante do Amap� Randolfe Rodrigues criticaram a falta de empenho da chancelaria brasileira em viabilizar uma quantidade maior de oxig�nio da Venezuela, seja por doa��o ou compra.
Tamb�m reclamaram do governo brasileiro n�o ter estabelecido contato com o governo de Nicol�s Maduro para transportar g�s de forma mais r�pida, por via a�rea. Para Rodrigues, essa posi��o do Itamaraty refletiu uma atua��o ideol�gica de Ara�jo e do presidente Jair Bolsonaro em rela��o ao pa�s vizinho.
Pressionado pelo senador da Rede, Ara�jo reconheceu que n�o fez contato com o governo da Venezuela, nem agradeceu a doa��o de oxig�nio.
"O Itamaraty n�o age de maneira aut�noma em temas de sa�de. O Itamaraty n�o tem condi��es de avaliar o momento necess�rio a proceder a essa ou aquela a��o do sistema de sa�de, no caso o suprimento de oxig�nio", disse ainda, em resposta ao senador Eduardo Braga.
O ex-chanceler disse tamb�m que o Itamaraty fez contato com o governo dos Estados Unidos para doa��o de oxig�nio que seria transportado por um avi�o americano. Segundo ele, a opera��o n�o foi conclu�da porque o governo do Amazonas n�o informou as especifica��es da carga de oxig�nio necess�ria.
Ao ouvir o ex-ministro, Eduardo Braga disse que a omiss�o do governo do Amazonas era algo "criminoso", mas frisou que o Minist�rio da Sa�de tamb�m teria responsabilidade de fornecer essas informa��es e viabilizar a vinda de oxig�nio dos Estados Unidos.
"� mais criminoso ainda: havia o avi�o e n�o foi usado para salvar vidas", ressaltou o senador.
5. Carta da Pfizer ignorada pelo governo
O ex-chanceler tamb�m foi pressionado sobre a falta de a��o do Itamaraty quanto � oferta da farmac�utica Pfizer para venda de 70 milh�es de doses de vacinas ao Brasil.
A proposta foi feita em agosto por meio de carta da empresa a Bolsonaro, com c�pia para o vice-presidente Hamilton Mour�o, o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster, e os ministros Braga Netto (Casa Civil), Eduardo Pazuello (Sa�de) e Paulo Guedes (Economia).
Ernesto reconheceu que foi comunicado por Forster da oferta, mas disse que n�o fez qualquer contato com Bolsonaro sobre o assunto "porque presumia que o presidente da Rep�blica j� soubesse (da oferta)".
"O meu entendimento � de que a embaixada em Washington recebeu uma c�pia; o embaixador n�o era destinat�rio. Mas, enfim, tive conhecimento do tema, e o telegrama de Washington tamb�m esclarecia que a pr�pria embaixada em Washington j� havia antecipado tamb�m para a Assessoria Internacional do Minist�rio da Sa�de (sobre a oferta)", afirmou Ara�jo.
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