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Estado de Minas DOCUMENTOS OFICIAIS

CPI da Covid: Em meio a colapso por falta de oxig�nio, Manaus fez apelo por azitromicina e ivermectina ao Minist�rio da Sa�de

Documentos da CPI da Covid analisados pela BBC News Brasil mostram insist�ncia da prefeitura por medicamentos sem efic�cia contra covid-19; governo estadual tamb�m pediu cloroquina.


15/06/2021 06:53 - atualizado 15/06/2021 09:25


Em ofício enviado em 14 de janeiro ao Ministério da Saúde, Secretaria de Saúde de Manaus diz que ivermectina e azitromicina são
Em of�cio enviado em 14 de janeiro ao Minist�rio da Sa�de, Secretaria de Sa�de de Manaus diz que ivermectina e azitromicina s�o "medicamentos essenciais" para tratar covid-19 (foto: Reprodu��o)

Nos primeiros dias do ano, quando o Amazonas vivia o colapso do seu sistema de sa�de e a iminente falta de oxig�nio devido � explos�o de casos de covid-19, a prefeitura de Manaus e o governo estadual solicitaram ao Minist�rio da Sa�de envio de medicamentos ineficazes para tratamento da doen�a, como cloroquina, azitromicina e ivermectina.

� o que mostram documentos requisitados pela Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da Covid �s secretarias municipal e estadual de sa�de e analisados pela BBC News Brasil.

Os pedidos por medicamentos ineficazes ocorreram entre 5 e 14 de janeiro. Segundo a s�rie hist�rica da Funda��o de Vigil�ncia em Sa�de do Amazonas, 14 de janeiro, dia em que o oxig�nio acabou em Manaus, foi o mais letal da covid-19 no Estado, com 176 �bitos registrados.

Mais de uma semana antes dessa marca tr�gica, a secret�ria municipal de Sa�de de Manaus, Shadia Hussami Hauache Fraxe, enviou em 6 de janeiro ao ent�o ministro da Sa�de, Eduardo Pazuello, um of�cio cujo assunto era: "Contextualiza a gest�o da Sa�de municipal e solicita apoio para enfrentamento da pandemia". Ela havia acabado de assumir a pasta com a posse do novo prefeito da cidade, David Almeida (Avante), no primeiro dia do ano.

Logo no in�cio do of�cio, a secret�ria diz que "a situa��o � ca�tica no Estado, e mais especialmente da capital amazonense, dado o crescente e explosivo n�mero de casos de COVID-19". Em outro trecho, destaca que Manaus encontra-se "com a rede hospitalar, a cargo do estado, em vias de colapsar mais uma vez", em refer�ncia � primeira crise no sistema de sa�de do Amazonas em 2020, no in�cio da pandemia.

Em meio a esse cen�rio descrito no of�cio, Fraxe ressalta a car�ncia de recursos financeiros, de profissionais de sa�de e de insumos e medicamentos na rede de sa�de para enfrentar a pandemia. Chama aten��o, por�m, a �nfase dada � necessidade de repor os estoques de azitromicina e ivermectina, medicamentos sem efic�cia comprovada contra a covid.

"Registramos que o estoque de Azitromicina, Ivermectina, prednisona e dexametasona, est�o baix�ssimos, e � imperativa uma a��o saneadora para tal", diz o of�cio.

Outro trecho do documento solicita tamb�m o envio de 150 mil comprimidos de hidroxicloroquina, quantidade que depois foi corrigida em outra comunica��o ao minist�rio para dez mil comprimidos.

Azitromicina, ivermectina e hidroxicloroquina s�o medicamentos que, embora sem efic�cia comprovada contra covid-19, fazem parte do chamado "tratamento precoce" defendido pelo governo Jair Bolsonaro. J� prednisona e dexametasona s�o corticoides recomendados pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) para tratar casos graves de covid-19 - as subst�ncias n�o atingem o v�rus diretamente, mas combatem inflama��es causadas pela doen�a.

Ap�s esse primeiro pedido, a secret�ria de Sa�de de Manaus enviou outro of�cio endere�ado a Pazuello em 14 de janeiro, insistindo na necessidade dos medicamentos ineficazes e tratando essas subst�ncias como "essenciais" para enfrentar a crise na capital amazonense.

"Baixo estoque ou estoque zerado de medicamentos essenciais para a profilaxia ou tratamento de casos suspeitos ou positivados de COVID-19, sendo esse um dos mais graves problemas, dada as dificuldades regionais de aquisi��o e entrega imediata, em especial, de Azitromicina e Ivermectina, que para o primeiro encontramos um estoque para menos de 20 dias, e para o segundo o ESTOQUE ZERADO", diz o of�cio.

Mais � frente, outro trecho insiste: "Encontramos estoques zerados de Ivermectina, e tamb�m dificuldades para aquisi��o, com entrega imediata. H� processos emergenciais e por dispensa em curso, mas o medicamento tem se revelado o mais promissor tanto na profilaxia quanto no tratamento".

Os documentos enviados � CPI pela Secretaria de Sa�de de Manaus mostram que o Minist�rio da Sa�de respondeu aos pedidos em 21 de janeiro. A pasta concordou em fornecer os dez mil comprimidos de hidroxicloroquina e informou o envio de 60 mil comprimidos de Azitromicina ao Estado do Amazonas, dos quais um ter�o seria destinado � prefeitura de Manaus.

Al�m disso, o minist�rio disse que enviaria 250 mil comprimidos de fosfato de oseltamivir, conhecido pelo nome comercial Tamiflu. Usado para tratamento de alguns tipos de gripes, incluindo a H1N1, o medicamento tamb�m n�o tem efic�cia para covid-19.

O pedido da Prefeitura de Manaus por subst�ncias ineficazes ocorreu em um contexto em que os rem�dios eram demandados pela pr�pria popula��o local, sob incentivo do governo Bolsonaro.

Essa situa��o foi descrita pelo coordenador da UTI do Hospital Get�lio Vargas, em Manaus, Anfremon Neto, em desabafo gravado em 15 de janeiro que viralizou nas redes sociais. Ele regiu a uma fala do presidente de 12 de janeiro, afirmando que Manaus "estava um caos" porque "n�o faziam tratamento precoce".


Então ministro Eduardo Pazuello lançou no AM aplicativo para facilitar prescrição de remédios cuja eficácia contra covid foi descartada por estudos científicos(foto: Agência Senado)
Ent�o ministro Eduardo Pazuello lan�ou no AM aplicativo para facilitar prescri��o de rem�dios cuja efic�cia contra covid foi descartada por estudos cient�ficos (foto: Ag�ncia Senado)

"O nosso governo tem sido negacionista em rela��o � pandemia, relativiza tudo, banaliza tudo. A �ltima foi dizer que o que est� acontecendo aqui em Manaus � porque a gente n�o faz tratamento precoce", criticou Anfremon Neto.

"Eles (os pacientes) sabem, j� compram (os medicamentos), fazem estoque em casa e come�am a tomar sozinhos. Ent�o, gente, quem for ver esse v�deo: n�o � falta de tratamento precoce. Isso � sacanagem com a gente que trabalha aqui. Dizer que o que t� acontecendo aqui � falta de tratamento precoce", disse ainda.

A BBC News Brasil enviou questionamentos � Prefeitura de Manaus e ao Minist�rio da Sa�de no in�cio da tarde de segunda-feira (14/06), solicitando retorno at� a noite do mesmo dia. A prefeitura n�o respondeu, enquanto o minist�rio disse que precisava de um prazo maior para se manifestar. A reportagem ser� atualizada assim que a pasta se enviar suas respostas.

Os documentos enviados � CPI pela Secretaria de Sa�de de Manaus mostrando a comunica��o do �rg�o com o Minist�rio da Sa�de n�o indicam qualquer pedido da prefeitura por fornecimento de oxig�nio no in�cio de janeiro.

Em manifesta��o � comiss�o, o �rg�o diz que n�o faltou oxig�nio nos dois servi�os da rede municipal que usam o insumo: a Maternidade Dr. Moura Tapaj�z e o Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (SAMU).

"N�o houve, pois, falta de oxig�nio medicinal nas unidades de sa�de sob gest�o municipal, e n�o h� registros de �bitos de pacientes, em decorr�ncia de falta de oxig�nio medicinal de pacientes internados em ambiente hospitalar", conclui a manifesta��o � CPI.

Governo do Amazonas tamb�m pediu cloroquina

A resposta das autoridades ao colapso do sistema de sa�de do Amazonas � o principal foco da CPI nesta ter�a-feira (15/06), com o depoimento do ex-secret�rio de Sa�de do Amazonas, Marcellus Camp�lo. Investigado por supostos desvios de recursos destinados ao combate da pandemia, ele nega ter cometido qualquer ilegalidade.

Documentos enviados pelo governo estadual � comiss�o tamb�m indicam que houve solicita��o de rem�dio ineficaz durante o colapso da rede de sa�de. Uma lista com resumo dos pedidos ao Minist�rio da Sa�de mostra que em 5 de janeiro houve "Solicita��o de Cloroquina" por meio do of�cio nº 0052/2021- GAB/SES-AM.

A BBC News Brasil, no entanto, n�o localizou esse documento entre os anexos enviados � CPI para que pudesse checar seu teor. O documento foi solicitado � Secretaria Estadual de Sa�de, mas n�o houve retorno at� o fechamento da reportagem.

J� outro of�cio disponibilizado pela Secretaria de Sa�de do Amazonas � comiss�o mostra que em 13 de janeiro Marcellus Camp�lo pediu ao Minist�rio da Sa�de que fossem cedidos 16 farmac�uticos para a implementa��o no Estado do "projeto TrateCov Brasil", uma plataforma desenvolvida pelo governo federal para prescrever o "tratamento precoce" online de forma r�pida.


Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas diz que 14 de janeiro, dia em que o oxigênio acabou em Manaus, foi o mais letal da covid-19 no Estado, com 176 óbitos registrados(foto: EPA)
Funda��o de Vigil�ncia em Sa�de do Amazonas diz que 14 de janeiro, dia em que o oxig�nio acabou em Manaus, foi o mais letal da covid-19 no Estado, com 176 �bitos registrados (foto: EPA)

A plataforma chegou a ser lan�ada em Manaus em 11 de janeiro, em evento com participa��o do ent�o ministro Pazuello, mas foi tirada do ar ap�s reportagens mostrarem que a ferramenta prescrevia medicamentos ineficazes contra covid-19 indiscriminadamente, at� mesmo para beb�s.

Os documentos enviados � CPI tamb�m mostram os pedidos do governo do Amazonas para que o governo federal apoiasse o Estado no abastecimento de oxig�nio, confirmando informa��es j� noticiadas pela imprensa brasileira.

O primeiro deles � um of�cio de 07/01, uma semana antes do colapso, em que Camp�lo pediu ao Comando Militar da Amaz�nia apoio no transporte do g�s de Bel�m, no Par�, para o Amazonas. O documento diz que houve "s�bito aumento no consumo (de oxig�nio)" devido "� alta da contamina��o (do coronav�rus)".

Segundo reportagem do portal G1 de maio, tamb�m em 07/01 Camp�lo comunicou por telefone Pazuello sobre a iminente falta de oxig�nio.

As informa��es contrariam a vers�o do ex-ministro, que disse � CPI ter sido comunicado pelas autoridades locais sobre o risco de faltar o insumo apenas na noite de 10 de janeiro.

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O que � uma CPI?

As comiss�es parlamentares de inqu�rito (CPIs) s�o instrumentos usados por integrantes do Poder Legislativo (vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores) para investigar fato determinado de grande relev�ncia ligado � vida econ�mica, social ou legal do pa�s, de um estado ou de um munic�pio. Embora tenham poderes de Justi�a e uma s�rie de prerrogativas, comit�s do tipo n�o podem estabelecer condena��es a pessoas.

Para ser instalado no Senado Federal, uma CPI precisa do aval de, ao menos, 27 senadores; um ter�o dos 81 parlamentares. Na C�mara dos Deputados, tamb�m � preciso aval de ao menos uma terceira parte dos componentes (171 deputados).

H� a possibilidade de criar comiss�es parlamentares mistas de inqu�rito (CPMIs), compostas por senadores e deputados. Nesses casos, � preciso obter assinaturas de um ter�o dos integrantes das duas casas legislativas que comp�em o Congresso Nacional.

O que a CPI da COVID investiga?


O presidente do colegiado � Omar Aziz (PSD-AM). O alagoano Renan Calheiros (MDB) � o relator. O prazo inicial de trabalho s�o 90 dias, podendo esse per�odo ser prorrogado por mais 90 dias.



Saiba como funciona uma CPI

Ap�s a coleta de assinaturas, o pedido de CPI � apresentado ao presidente da respectiva casa Legislativa. O grupo � oficialmente criado ap�s a leitura em sess�o plen�ria do requerimento que justifica a abertura de inqu�rito. Os integrantes da comiss�o s�o definidos levando em considera��o a proporcionalidade partid�ria — as legendas ou blocos parlamentares com mais representantes arrebatam mais assentos. As lideran�as de cada agremia��o s�o respons�veis por indicar os componentes.

Na primeira reuni�o do colegiado, os componentes elegem presidente e vice. Cabe ao presidente a tarefa de escolher o relator da CPI. O ocupante do posto � respons�vel por conduzir as investiga��es e apresentar o cronograma de trabalho. Ele precisa escrever o relat�rio final do inqu�rito, contendo as conclus�es obtidas ao longo dos trabalhos. 

Em determinados casos, o texto pode ter recomenda��es para evitar que as ilicitudes apuradas n�o voltem a ocorrer, como projetos de lei. O documento deve ser encaminhado a �rg�os como o Minist�rio P�blico e a Advocacia-Geral da Uni�o (AGE), na esfera federal.

Conforme as investiga��es avan�am, o relator come�a a aprimorar a linha de investiga��o a ser seguida. No Congresso, sub-relatores podem ser designados para agilizar o processo.

As CPIs precisam terminar em prazo pr�-fixado, embora possam ser prorrogadas por mais um per�odo, se houver aval de parte dos parlamentares

O que a CPI pode fazer?

  • chamar testemunhas para oitivas, com o compromisso de dizer a verdade
  • convocar suspeitos para prestar depoimentos (h� direito ao sil�ncio)
  • executar pris�es em caso de flagrante
  • solicitar documentos e informa��es a �rg�os ligados � administra��o p�blica
  • convocar autoridades, como ministros de Estado — ou secret�rios, no caso de CPIs estaduais — para depor
  • ir a qualquer ponto do pa�s — ou do estado, no caso de CPIs criadas por assembleias legislativas — para audi�ncias e dilig�ncias
  • quebrar sigilos fiscais, banc�rios e de dados se houver fundamenta��o
  • solicitar a colabora��o de servidores de outros poderes
  • elaborar relat�rio final contendo conclus�es obtidas pela investiga��o e recomenda��es para evitar novas ocorr�ncias como a apurada
  • pedir buscas e apreens�es (exceto a domic�lios)
  • solicitar o indiciamento de envolvidos nos casos apurados

O que a CPI n�o pode fazer?

Embora tenham poderes de Justi�a, as CPIs n�o podem:

  • julgar ou punir investigados
  • autorizar grampos telef�nicos
  • solicitar pris�es preventivas ou outras medidas cautelares
  • declarar a indisponibilidade de bens
  • autorizar buscas e apreens�es em domic�lios
  • impedir que advogados de depoentes compare�am �s oitivas e acessem
  • documentos relativos � CPI
  • determinar a apreens�o de passaportes

A hist�ria das CPIs no Brasil

A primeira Constitui��o Federal a prever a possibilidade de CPI foi editada em 1934, mas dava tal prerrogativa apenas � C�mara dos Deputados. Treze anos depois, o Senado tamb�m passou a poder instaurar investiga��es. Em 1967, as CPMIs passaram a ser previstas.

Segundo a C�mara dos Deputados, a primeira CPI instalada pelo Legislativo federal brasileiro come�ou a funcionar em 1935, para investigar as condi��es de vida dos trabalhadores do campo e das cidades. No Senado, comit� similar foi criado em 1952, quando a preocupa��o era a situa��o da ind�stria de com�rcio e cimento.

As CPIs ganharam estofo e passaram a ser recorrentes a partir de 1988, quando nova Constitui��o foi redigida. O texto m�ximo da na��o passou a atribuir poderes de Justi�a a grupos investigativos formados por parlamentares.

CPIs famosas no Brasil

1975: CPI do Mobral (Senado) - investigar a atua��o do sistema de alfabetiza��o adotado pelo governo militar

1992: CPMI do Esquema PC Farias - culminou no impeachment de Fernando Collor

1993: CPI dos An�es do Or�amento (C�mara) - apurou desvios do Or�amento da Uni�o

2000: CPIs do Futebol - (Senado e C�mara, separadamente) - rela��es entre CBF, clubes e patrocinadores

2001: CPI do Pre�o do Leite (Assembleia de MG e outros Legislativos estaduais, separadamente) - apurar os valores cobrados pelo produto e as diretrizes para a formula��o dos valores

2005: CPMI dos Correios - investigar den�ncias de corrup��o na empresa estatal

2005: CPMI do Mensal�o - apurar poss�veis vantagens recebidas por parlamentares para votar a favor de projetos do governo

2006: CPI dos Bingos (C�mara) - apurar o uso de casas de jogo do bicho para crimes como lavagem de dinheiro

2006: CPI dos Sanguessugas (C�mara) - apurou poss�vel desvio de verbas destinadas � Sa�de

2015: CPI da Petrobras (Senado) - apurar poss�vel corrup��o na estatal de petr�leo

2015: Nova CPI do Futebol (Senado) - Investigar a CBF e o comit� organizador da Copa do Mundo de 2014

2019: CPMI das Fake News - dissemina��o de not�cias falsas na disputa eleitoral de 2018

2019: CPI de Brumadinho (Assembleia de MG) - apurar as responsabilidades pelo rompimento da barragem do C�rrego do Feij�o


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