
"Como voc�s sabem, eu tive covid-19 h� um m�s e, se eu n�o estivesse protegida, devido � minha idade e �s minhas comorbidades, provavelmente eu n�o estaria conversando com voc�s agora", declarou.
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"Eu tenho certeza de que se eu n�o tivesse tomado as doses de vacina, e eu tomei a CoronaVac, falo tranquilamente, eu provavelmente n�o teria [sobrevivido], como muitos, que n�o tiveram tempo de tomar a vacina", refor�ou.
O coment�rio foi motivado pela morte do ator Tarc�sio Meira, anunciada na quinta-feira (12/8), que havia recebido as duas doses contra o coronav�rus no in�cio do ano.
A morte do artista de 85 anos serviu de pretexto para que muitas teorias da conspira��o voltassem a circular pelas redes sociais: v�rias postagens afirmam (sem provas) que as vacinas n�o prestam. Alguns desses conte�dos falsos atacam diretamente a CoronaVac, desenvolvida pela farmac�utica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de S�o Paulo.
Se eu n�o tivesse tomado as duas doses da vacina, provavelmente n�o estava aqui hoje https://t.co/Aa6fGDBXEv
— Ana Maria Braga (@ANAMARIABRAGA) August 13, 2021
Segundo essa linha de racioc�nio completamente errada, o que aconteceu Meira seria "a prova" de que esses produtos n�o funcionam.
Mas a realidade mostra justamente o contr�rio: os estudos cient�ficos j� nos apontam h� meses que as vacinas contra a covid-19 t�m uma boa efic�cia para barrar os casos mais graves da doen�a. � claro que elas n�o s�o 100% eficazes — como, ali�s, nenhum imunizante �, mesmo aqueles que est�o dispon�veis h� d�cadas para outras enfermidades, como sarampo, gripe e catapora.
Outro ensinamento importante � que todos devem continuar se cuidando com o distanciamento f�sico e o uso de m�scaras, at� que uma grande porcentagem da popula��o esteja vacinada e a pandemia fique controlada, com n�meros de casos e mortes bem baixos.
"Enquanto n�o tivermos uma boa parcela imunizada, n�o d� pra relaxar nas medidas preventivas", recomenda a m�dica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imuniza��es (SBIm).

Uma resposta bastante complicada
Independentemente do tipo de tecnologia usada, as vacinas t�m um objetivo principal: fazer com que nosso sistema imune seja exposto com seguran�a a um v�rus ou a uma bact�ria (ou pedacinhos espec�ficos deles).
A partir desse primeiro contato, que n�o vai prejudicar a sa�de, nossas c�lulas de defesa geram uma resposta, capaz de deixar o organismo preparado caso o agente infeccioso de verdade resolva aparecer.
Acontece que esse processo imunol�gico � extremamente complicado e envolve um enorme batalh�o de c�lulas e anticorpos. A resposta imune, portanto, pode variar consideravelmente segundo o tipo de v�rus, a capacidade de muta��es que ele tem, a forma como � desenvolvida a vacina, as condi��es de sa�de da pessoa…
No meio de todos esses processos, portanto, � muito dif�cil desenvolver um imunizante que seja capaz de evitar a infec��o em si, ou seja, bloquear a entrada do causador da doen�a nas nossas c�lulas.
"Mesmo nos casos em que a vacina n�o consegue prevenir a infec��o, muitas vezes a resposta imune criada a partir dali pode tornar os sintomas menos graves nas pessoas que foram imunizadas, prevenindo assim doen�as mais severas e �bitos", diz a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas, nos Estados Unidos.
Isso ocorre, por exemplo, com as vacinas contra o rotav�rus e a gripe: quem as toma pode at� se infectar, mas o risco de desenvolver formas mais graves da doen�a � reduzido consideravelmente.
Ou seja, elas aprimoram e modificam alguns aspectos do sistema imune que n�o chegam a bloquear a a��o do v�rus no organismo, mas ao menos impedem que ele se replique numa velocidade muito alta e cause estragos que afetam a sa�de de forma preocupante.
E esse poderio � valios�ssimo quando pensamos em termos de sa�de p�blica. Desde 2006, o uso amplo e sistem�tico do imunizante contra o rotav�rus nos Estados Unidos, por exemplo, reduziu em 90% a necessidade de levar crian�as ao hospital para tratar infec��es relacionadas a esse agente.
Tal racioc�nio tamb�m se aplica nas campanhas contra a gripe. As pessoas que tomam a dose anual podem at� pegar o influenza (o v�rus causador dessa doen�a), mas a probabilidade de desenvolver complica��es que exigem interna��o cai consideravelmente.
E isso � bom para o indiv�duo, que n�o desenvolve esses problemas, e para o sistema de sa�de, que n�o fica abarrotado de pacientes no outono e no inverno.
Como est� a situa��o na pandemia atual?
Todos os imunizantes contra a covid-19 j� dispon�veis foram testados para medir a capacidade de evitar os casos graves, que est�o relacionados ao risco maior de hospitaliza��o, intuba��o e morte.
Os produtos que ganharam o aval das ag�ncias regulat�rias foram bem-sucedidos nos estudos feitos ao longo de 2020 e 2021. Podemos dizer que eles reduzem significativamente (mas n�o eliminam) o risco de desenvolver os sintomas mais graves, que exigem tratamentos intensivos.

Alguns, como os da Pfizer/BioNTech e da Moderna, v�o al�m e previnem at� a transmiss�o do v�rus, como mostram as campanhas de vacina��o em Israel e nos Estados Unidos.
Mas � preciso refor�ar aqui o termo "redu��o de riscos": nenhuma vacina � 100% eficaz, e algumas pessoas que recebem as doses podem, infelizmente, desenvolver as formas mais graves da doen�a ou morrer, como foi o caso de Tarc�sio Meira.
E esse risco � ainda maior em meio ao descontrole pand�mico. Quanto mais o v�rus circula numa comunidade, maior o risco de as pessoas j� vacinadas entrarem em contato com ele e eventualmente se infectarem.
E foi isso o que provavelmente aconteceu com Meira e muitos dos brasileiros que j� receberam as duas doses mas, mesmo assim, pegaram a covid-19: como a transmiss�o do v�rus continua alt�ssima em todo o pa�s, o risco de epis�dios como esses s� aumenta.
Al�m dos cuidados individuais de preven��o (como o uso de m�scaras e o distanciamento f�sico), as autoridades discutem e avaliam tamb�m a possibilidade de aplicar uma terceira dose em alguns indiv�duos, especialmente os mais idosos e aqueles com a imunidade comprometida.
Ganho individual ou um bem coletivo?
Quando tomamos uma vacina, sempre pensamos em nossa pr�pria sa�de: na maioria das vezes, o objetivo � diminuir o risco de pegar determinada doen�a infecciosa. Mas precisamos ter em mente que o benef�cio da vacina��o vai muito al�m de n�s mesmos. Quando nos protegemos, estamos beneficiando por tabela toda a sociedade.
Afinal, o imunizante pode quebrar as cadeias de transmiss�o de um v�rus (quando ele � capaz de prevenir a infec��o) ou diminuir o risco de superlota��o dos leitos hospitalares (quando ele minimiza as chances de evolu��o para os quadros mais graves).
Mas h� um detalhe importante nessa hist�ria. Esses efeitos positivos s� costumam ser sentidos quando uma parcela consider�vel da popula��o est� efetivamente imunizada.
Esse � o cen�rio que se avizinha em locais como Israel, Estados Unidos e Reino Unido, que j� aplicaram as vacinas contra a covid-19 em praticamente metade dos cidad�os: os registros de �bitos, hospitaliza��es e at� de casos nesses locais v�m caindo consideravelmente e j� � poss�vel falar de um controle da pandemia, apesar de as novas variantes do coronav�rus representarem uma amea�a a essa poss�vel luz no fim do t�nel.
"A vacina �, principalmente, um bem coletivo. E esse impacto individual, de prote��o contra determinada doen�a ou suas formas mais graves, cresce � medida que uma maior parte da popula��o � vacinada", explica Garrett.
Fica f�cil entender isso quando analisamos o que aconteceu com outras doen�as. O Brasil s� eliminou o sarampo, por exemplo, quando ultrapassou e mantive a marca de 95% da popula��o imunizada por alguns anos. "Bastou essa cobertura vacinal ca�sse um pouco para que essa doen�a voltasse com tudo em 2017 e 2018", lembra Ballalai.

No caso da covid-19, nosso pa�s est� ainda muito longe de obter qualquer avan�o significativo no controle de casos e mortes. Por ora, cerca de 22% da popula��o est� completamente imunizada contra a covid-19, o que ainda � muito pouco do ponto de vista coletivo. "Ainda temos muito ch�o pela frente para come�armos a observar uma melhora nesse cen�rio", destaca a vice-presidente da SBIm.
S� quando essa taxa de vacinados subir muitos e muitos pontos percentuais (o que s� deve acontecer l� para o final de 2021 e in�cio de 2022), � que ser� poss�vel aventar a possibilidade de uma imunidade coletiva.
Isso, claro, depende n�o apenas da entrega de novos lotes dos imunizantes, mas tamb�m da participa��o ativa de todos os brasileiros, que precisam ir aos postos de sa�de para tomar a primeira e a segunda dose quando forem convocados.
Al�m disso, estamos num momento bastante delicado da pandemia, e todos n�s (vacinados e n�o vacinados) devemos continuar a respeitar aquelas medidas n�o farmacol�gicas, como o distanciamento f�sico, o uso de m�scaras (de prefer�ncia a PFF2 ou a N95), a lavagem de m�os e a aten��o extra com a circula��o de ar pelos ambientes fechados.
Diante de todos os fatos e evid�ncias, o que aconteceu com Tarc�sio Meira, portanto, n�o deve ser encarado como motivo para desconfiar ou negar as vacinas, muito pelo contr�rio. Os epis�dios s� refor�am e confirmam a necessidade de que cada um fa�a a sua parte para que a pandemia seja controlada e possa virar, em breve, um assunto restrito �s mem�rias e aos livros de hist�ria.
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