
Ap�s um ano e meio de restri��es, o governo dos Estados Unidos anunciou que permitir� novamente a entrada de viajantes que estejam completamente vacinados contra a covid-19.
A medida, que vale a partir de novembro, vai reabrir as fronteiras americanas para cidad�os de 33 pa�ses, incluindo o Brasil.
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At� o momento, esses indiv�duos precisavam fazer uma quarentena obrigat�ria de 14 dias em uma terceira na��o antes de serem admitidos nos EUA.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil entendem que essa libera��o � um passo natural e as restri��es em voga n�o faziam mais tanto sentido assim. Mas eles tamb�m apontam uma s�rie de precau��es que devem ser tomadas pelas autoridades sanit�rias e pelos pr�prios viajantes para diminuir o risco de ter covid-19 por l� e de criar novas cadeias de transmiss�o no Brasil ap�s a volta da viagem.
Essa preocupa��o se d� principalmente pelo atual est�gio da pandemia nos EUA, com m�dias m�veis de novos casos e mortes em ascens�o nas �ltimas semanas ( detalhes abaixo ).
Os n�meros, inclusive, est�o bem acima do que � registrado atualmente no Brasil, que apresenta quedas constantes nas infec��es e nos �bitos relacionados ao coronav�rus desde agosto.
"� preciso analisar esse cen�rio externo com cuidado, pois muitos brasileiros podem ir e voltar dos Estados Unidos num curto espa�o de tempo, o que aumenta o risco de retornar infectado", diz o epidemiologista Paulo Petry, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Decis�o americana
O an�ncio de al�vio nas restri��es de viagem foi feito nesta segunda-feira (20/9) por Jeff Zients, coordenador de resposta ao coronav�rus da Casa Branca.
"Cidad�os estrangeiros vindo aos Estados Unidos dever�o estar totalmente vacinados e apresentar prova disso antes de embarcar em um avi�o com destino aos EUA. As vacinas s�o a melhor linha de defesa, a melhor ferramenta que temos em nosso arsenal para manter as pessoas seguras", afirmou Zients.
As medidas passam a valer a partir de novembro, mas ainda n�o foi definido se todas as vacinas ser�o consideradas na hora do embarque — por ora, as autoridades regulat�rias americanas s� aprovaram os imunizantes de Pfizer/BioNTech, Moderna e Janssen.
Essa quest�o ser� definida pelo Centro de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) dos Estados Unidos, mas existe a possibilidade de que outros produtos que j� receberam a chancela da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) tamb�m sejam aceitos, como � o caso da CoronaVac e da vacina de AstraZeneca e Universidade de Oxford.
Ambas s�o amplamente utilizadas na campanha de imuniza��o contra a covid-19 em curso no Brasil.
A epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Esp�rito Santo (Ufes), avalia que a pol�tica americana atual, de exigir que viajantes fa�am uma quarentena de 14 dias num terceiro pa�s, n�o faz mais sentido.
"Muitas vezes, esse per�odo de isolamento acontecia num lugar que estava com uma situa��o de momento bem pior que a nossa", conta. "De certa maneira, a retirada das restri��es reconhece o esfor�o de nossa campanha de vacina��o e a melhora recente nos indicadores da pandemia por aqui."

Os riscos
Do ponto de vista epidemiol�gico, o momento dos Estados Unidos n�o � dos melhores. Ap�s uma queda importante na m�dia m�vel semanal de casos e mortes por covid-19 entre abril e julho, esses indicadores voltaram a crescer em agosto e setembro.
Atualmente, o pa�s registra uma m�dia m�vel de 148 mil novas infec��es e 2 mil �bitos relacionados ao coronav�rus.
Em compara��o, as curvas brasileiras seguem uma tend�ncia contr�ria: ap�s uma segunda onda muito intensa entre mar�o e junho, � poss�vel notar uma queda constante nas estat�sticas da covid-19 por aqui.
Os n�meros mais recentes indicam uma m�dia m�vel de 34 mil diagn�sticos e 557 mortes pela doen�a.
Ou seja: as estat�sticas de momento dos Estados Unidos est�o quatro vezes mais elevadas em rela��o �s brasileiras.
Esses e outros dados v�m do monitoramento conduzido pela Universidade Johns Hopkins .
"Um dos aspectos que ajuda a entender essa diferen�a est� no ritmo de vacina��o. Ap�s um avan�o muito r�pido, os EUA praticamente estacionaram na campanha. Isso tem a ver com a rejei��o �s doses e � atua��o dos movimentos antivacina por l�", interpreta Petry.
Cerca de 55% dos americanos est�o com a prote��o completa e praticamente 65% tomaram pelo menos a primeira dose.
No Brasil, 38% conclu�ram o esquema vacinal preconizado e 69% dos indiv�duos j� receberam a primeira dose.
E as variantes?
Um segundo aspecto que pode levantar alguma preocupa��o � o risco de algum viajante se infectar durante a viagem para os Estados Unidos e trazer de volta alguma variante in�dita do coronav�rus.
Essa nova vers�o poderia se espalhar pelo pa�s e levar a um aumento de casos e �bitos.
"� preciso ter em mente, por�m, que a principal variante em circula��o por l� � a Delta, que j� tem transmiss�o comunit�ria no nosso pa�s", diz Maciel.
Em todo caso, essa reabertura das fronteiras poderia servir como justificativa para que o Brasil refor�asse seus programas de vigil�ncia gen�mica.
Assim, seria poss�vel detectar novas muta��es virais antes que elas se espalhassem por alguma cidade ou Estado.
"Atualmente, a pandemia nos Estados Unidos afeta principalmente os indiv�duos que n�o foram vacinados. E sempre existe a chance de surgir uma nova variante desconhecida", chama aten��o a epidemiologista.
Como se proteger?
Embora ainda n�o existam diretrizes claras sobre o assunto, o primeiro passo para viajar aos Estados Unidos a partir de novembro ser� tomar as duas doses com 14 dias de anteced�ncia do voo e possuir o comprovante da vacina��o na hora do check in.
Outra exig�ncia que continuar� a valer � o resultado negativo de um teste PCR (que detecta a presen�a do coronav�rus no organismo). O exame dever� ser feito nos tr�s dias anteriores e ser� repetido em terras americanas.

E, mesmo com essa primeira libera��o feita no aeroporto, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil refor�am a necessidade de se cuidar durante todo o per�odo de viagem.
"� preciso ter em mente que, embora vacinada, a pessoa ainda pode se infectar com o coronav�rus e transmiti-lo para seus contatos pr�ximos", lembra Petry.
"Os viajantes devem usar m�scaras de boa qualidade, especialmente em locais fechados, e evitar aglomera��es", recomenda Maciel.
"Outro ponto importante � se atualizar sobre a situa��o da covid-19 espec�fica do local para onde voc� vai. H� Estados que atravessam um momento bem pior do que os outros, como � o caso de Alabama e Fl�rida", completa.
Prote��o coletiva
Os epidemiologistas tamb�m entendem que o futuro aumento do fluxo de passageiros voltando dos Estados Unidos para o Brasil exigir� um controle ainda melhor das fronteiras e dos aeroportos internacionais.
Atualmente, todos os brasileiros ou estrangeiros que chegam ao pa�s precisam preencher uma Declara��o de Sa�de do Viajante, dispon�vel no site da Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) , e apresentar um teste PCR com resultado negativo que tenha sido feito nas 72 horas antes do embarque.
Para indiv�duos que v�m de alguns pa�ses, como o Reino Unido, tamb�m � preconizada uma quarentena ap�s o desembarque.
Mas alguns epis�dios recentes, como a entrada sem restri��es de jogadores de futebol brasileiros e argentinos vindos da Inglaterra, mostrou como esse sistema pode apresentar falhas importantes.
"Precisamos melhorar o nosso controle de entrada nos aeroportos. Isso � algo que o Brasil pecou nos �ltimos meses e continua pecando", critica Maciel.
"A fiscaliza��o precisa ser aprimorada, at� para impedir a entrada de pessoas infectadas e a poss�vel introdu��o de novas variantes no pa�s, coisa que n�o conseguimos fazer at� agora", finaliza.
Em nota, o Itamaraty afirma que "com a significativa melhora do quadro epidemiol�gico no pa�s e o avan�o acelerado do processo de vacina��o, tem-se verificado que um n�mero crescente de pa�ses passou a flexibilizar seus requisitos de entrada de brasileiros".
"O Itamaraty e seus postos no exterior seguem trabalhando em m�ltiplas frentes, conjuntamente com outros �rg�os p�blicos, em esfor�o para permitir retomada segura do fluxo de pessoas", diz o �rg�o.
A BBC News Brasil entrou em contato com a Anvisa e o Minist�rio da Sa�de, para comentar sobre a recente decis�o dos Estados Unidos e como ela afeta o pa�s, mas n�o houve respostas at� o fechamento desta reportagem.
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