
"Eu usava s� em locais fechados por ser obrigat�rio. Se n�o fosse, n�o usaria", lembra.
O ceticismo em rela��o � gravidade da doen�a — que s� come�ou a diminuir quando um vizinho de rua morreu no in�cio de 2021 — se estendeu �s vacinas. A sua decis�o era: "n�o vou me vacinar".
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Pela idade, Lindomar poderia ter procurado um posto de vacina��o no in�cio de junho deste ano, no Rio de Janeiro. Mas n�o fez isso. Esperou, pensou, acessou conte�do antivacina na internet, depois assistiu ao notici�rio e, um m�s depois, mudou de ideia.
"Eu n�o poderia ser o certo, no meio de uma multid�o incorreta, preocupada realmente em proteger uns aos outros. Ent�o n�o podia relutar com essa minha opini�o de n�o vacinar", diz o carioca, agora imunizado com duas doses.
Entre os brasileiros maiores de 18 anos, segundo dados compilados pelo Cons�rcio de Ve�culos de Imprensa em 28 de setembro, 92,4% j� tomaram a primeira dose da vacina contra a covid-19 no Brasil.
Esse �ndice segue aumentando, mesmo com muitas cidades j� tendo convocado completamente esse p�blico e ter iniciado a vacina��o de primeira dose em adolescentes.
A BBC News Brasil analisou dados detalhados no sistema do Minist�rio da Sa�de sobre a maior cidade do Brasil, S�o Paulo, referentes ao dia 17 de setembro de 2021 — exatamente um m�s ap�s o fim da repescagem para pessoas com 18 anos ou mais.
Nesse dia, 5.803 pessoas maiores de 18 anos tomaram a primeira dose da vacina na capital paulista. Dessas, 538 tinham mais de 50 anos e poderiam ter se vacinado h� pelo menos 4 meses.
No Brasil, naquele mesmo dia, 397 mil primeiras doses foram aplicadas, segundo dados do governo federal. Dessas, 230.394 (58% do total) foram em pessoas com mais de 18 anos; e 15.681 (4%), em pessoas com mais de 50 anos.

"Eu digo que n�o � um grupo antivacina, � um grupo hesitante", diz a epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o Programa Nacional de Imuniza��o (PNI), no Minist�rio da Sa�de, entre 2011 e 2019.
"� uma vacina nova, no come�o a popula��o ficou muito insegura com essa hist�ria de ser 'vacina experimental'. E a pr�pria comunica��o do governo foi muito equivocada nesse sentido, o que acabou gerando inseguran�a. Mas agora que as pessoas est�o vendo que a vacina tem uma seguran�a muito boa e que est� tendo resultado importante na diminui��o da carga da doen�a, a popula��o adere".
Entre os "atrasados", tamb�m pode haver pessoas que simplesmente n�o tiveram acesso � vacina anteriormente.
Mortes entre n�o vacinados
Na vis�o inicial de Lindomar, que hoje ele considera equivocada, as vacinas contra a covid-19 poderiam fazer mal para o seu corpo.
"Na minha ignor�ncia, achava que, como a vacina aumentaria a imunidade contra o v�rus, ela ia aumentar muito a minha imunidade. Com isso, ela poderia combater o meu pr�prio corpo", lembra. A principal fonte de informa��es dele eram canais do YouTube, alguns com conte�do antivacina.
A Sociedade Brasileira de Imuniza��es refor�a que todas as vacinas licenciadas passaram obrigatoriamente por r�gidos testes, desde a fase laboratorial at� os estudos de fases 1, 2 e 3, que confirmam a seguran�a e efic�cia em humanos.
"Os dados foram avaliados por especialistas independentes e entidades regulat�rias e continuar�o a ser monitorados na medida em que as vacinas forem aplicadas", diz.
Segundo Carla Domingues, ex-coordenadora do PNI, homens normalmente s�o os que menos se vacinam no Brasil.
"H� casos que voc� vai vacinar a fam�lia inteira, e justamente o homem n�o quer ser vacinado e acaba adoecendo".
Na covid-19, at� agora, dados mostram que 54% das pessoas que se vacinaram eram mulheres. Elas s�o 52,2% da popula��o, segundo dados mais recentes do IBGE.
No caso de Lindomar, foram as not�cias vindas dos EUA que o fizeram mudar de opini�o: "Eu vi que l� houve um aumento de mortes e casos, principalmente por causa dos n�o vacinados. Eram pessoas que pensavam como eu, at� pouco tempo atr�s, que tudo era besteira".
De fato, em julho, quando o mestre de obras resolveu se vacinar, um porta-voz do governo americano chegou a falar que "99,5% das mortes recentes pela covid-19 no pa�s foram entre pessoas n�o vacinadas ".

Recentemente, em meio ao avan�o da variante Delta nos EUA e dos sinais da queda da prote��o das vacinas com o passar do tempo, estudos divulgados pelo Centro de Controles e Doen�a apontaram que os n�o vacinados tinham 11 vezes mais chance de morrer da doen�a.
'N�o prejudica ningu�m'
Em Macei�, a empregada dom�stica Solange Lima, de 54 anos, poderia ter se vacinado ainda no in�cio de junho. Mas foi s� em julho que aceitou receber o imunizante.
Com duas filhas e um neto em casa, ela n�o parou de trabalhar em nenhum momento na pandemia e continuou vivendo normalmente.
"Logo no come�o, pensei que era inven��o, fake news e que era uma quest�o pol�tica", lembra.
M�scara, para ela, era "focinheira": "Dizia para o povo: eu n�o sou cachorro. S� passei a usar porque todo mundo estava usando e falando para eu usar".
Apesar de o uso de m�scaras n�o ter sido recomendado pela Organiza��o Mundial de Sa�de no in�cio da pandemia, a efic�cia dessa medida de prote��o foi reconhecida ainda em junho de 2020. Estudo da USP j� provou que alguns modelos chegam a filtrar quase 100% de part�culas que podem conter o coronav�rus.
Sobre as vacinas, Solange relata que achou a produ��o e disponibiliza��o muito r�pidas. "Pensava que era �gua ou outra coisa que estavam aplicando no povo. Preferia confiar mais em Deus".
Uma an�lise da BBC News Brasil entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021 mostrou que not�cias falsas sobre a produ��o e os testes das vacinas estavam entre as mais comuns nas redes sociais .
Sem muito acesso � internet e aplicativos como o WhatsApp, a alagoana conta que a forma��o da sua opini�o veio de pessoas na rua e nos �nibus que falavam sobre o assunto.
Mas foi a fam�lia, vacinada, que a fez mudar de ideia. Um dos filhos, Rodrigo, contou que chegou a fazer uma "chantagem emocional" para convencer a m�e.
"Decidi tomar porque pensei que pelo menos n�o prejudicava ningu�m. Percebi que as pessoas estavam tomando e n�o ficavam doentes", explicou Solange.
A epidemiologista Carla Domingues acredita que relatos como o de Solange condizem com o cen�rio da campanha da vacina��o contra a covid-19 no Brasil.
"A popula��o brasileira � uma popula��o que acredita em vacina. Ent�o essa hesita��o foi superada pelo pr�prio resultado exitoso da vacina��o, com a diminui��o de casos e mortes"
Na previs�o da ex-chefe do Programa Nacional de Imuniza��o, ao fim de outubro o Brasil ter� 80% da popula��o brasileira completamente vacinada. "A gente vai ter uma campanha muito exitosa", aposta.
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