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COVID-19: como se determina o fim de uma pandemia?

Embora a queda nos �bitos pela doen�a seja encarada com otimismo, especialistas entendem que ainda � cedo para decretar que o problema j� passou e apontam os poss�veis caminhos para o fim da crise sanit�ria.


10/11/2021 19:28 - atualizado 11/11/2021 08:53

Saída do metrô Trianon-Masp, com pessoas usando máscara
An�ncio de que S�o Paulo n�o teve nenhuma morte por covid-19 em 24 horas � simb�lico, mas deve ser colocada em perspectiva e contextualizada (foto: Getty Images)
A not�cia de que S�o Paulo e outros oito Estados n�o registraram nenhuma morte por covid-19 na segunda-feira (8/11) foi recebida com muita comemora��o e otimismo.

 

Embora o acontecimento seja simb�lico e reforce a melhora cont�nua da pandemia no pa�s durante os �ltimos meses, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil entendem que � preciso colocar o fato em perspectiva e ter em mente que ainda h� um longo caminho a ser percorrido antes de decretar o fim da crise sanit�ria.

"Estamos de fato na melhor fase desde o in�cio de 2021, com um decr�scimo imenso em casos, hospitaliza��es e �bitos. Mas os an�ncios de que ningu�m morreu de covid-19 devem ser analisados com cautela, at� porque existe um atraso nas notifica��es", pondera o m�dico Guilherme Werneck, membro da Associa��o Brasileira de Sa�de Coletiva (Abrasco).

 

"E � preciso deixar claro que o fim da pandemia, quando realmente chegarmos l�, n�o significar� o fim da covid", completa o profissional da sa�de, que tamb�m � professor do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

 

O virologista Paulo Eduardo Brand�o, da Faculdade de Medicina Veterin�ria e Zootecnia da Universidade de S�o Paulo (USP), concorda. "Com base no que sabemos sobre outros tipos de coronav�rus, � prov�vel que o Sars-CoV-2 [o respons�vel pela pandemia atual] se atenue com o passar dos anos e se torne um causador de resfriado comum. Mas a atual reemerg�ncia de casos na Europa mostra que ainda estamos longe disso", analisa.

 

J� a m�dica Lucia Pellanda, professora de epidemiologia e reitora da Universidade Federal de Ci�ncias da Sa�de de Porto Alegre, destaca a import�ncia da sa�de coletiva e o car�ter global do desafio que enfrentamos.

 

"Como o pr�prio nome j� diz, a pandemia � um problema mundial. E, enquanto a situa��o estiver ruim em alguma regi�o, todos n�s continuaremos sob risco."

Mas como chegamos at� aqui? E quais s�o as perspectivas mais otimistas e mais pessimistas para os pr�ximos meses? Entenda a seguir como uma pandemia acaba — e o que pode acontecer na sequ�ncia dela.

Cen�rio positivo no Brasil e preocupante na Europa

Ap�s um primeiro semestre muito duro, com centenas de milhares de casos e de mortes por covid-19, o Brasil est� numa situa��o bem mais tranquila desde o final de julho e o in�cio de agosto.

 

Para ter ideia, a m�dia m�vel di�ria de �bitos (que leva em conta os registros dos �ltimos sete dias) est� atualmente em 236, de acordo com o painel do Conselho Nacional de Secret�rios da Sa�de (Conass).

 

Um n�mero desses s� havia sido observado em abril de 2020, quando o v�rus come�ou a se espalhar pelo pa�s. No pior momento da crise sanit�ria, essa taxa chegou a atingir, em abril de 2021, um pico de 3.124 mortes di�rias.

 

A sequ�ncia de boas novas culminou com a not�cia, divulgada na segunda-feira (8/11), de que S�o Paulo n�o registrou nenhuma morte por covid-19 em 24 horas, fato que n�o havia acontecido nenhuma vez desde o in�cio da crise sanit�ria.

 

Nesse mesmo dia, outros oito Estados brasileiros n�o tiveram �bitos pela doen�a: Acre, Amap�, Goi�s, Minas Gerais, Piau�, Rond�nia, Roraima e Sergipe. O Acre, ali�s, est� sem nenhum registro de morte h� mais de dez dias.

Segundo os especialistas, h� tr�s ingredientes que ajudam a explicar essa melhora.

 

"� evidente que a vacina��o � o principal deles. A partir de junho, momento em que a campanha ganhou for�a e a cobertura vacinal na popula��o brasileira aumentou, tivemos uma queda substancial nas hospitaliza��es e nas mortes", observa Werneck.

 

"N�o podemos nos esquecer tamb�m do enorme n�mero de casos que tivemos, o que certamente contribuiu para criar uma imunidade, e a ades�o �s medidas n�o farmacol�gicas, especialmente o uso de m�scaras", complementa o m�dico.

O cen�rio mais ameno permitiu que muitas cidades brasileiras aliviassem as restri��es, que mantinham espa�os de conviv�ncia, como restaurantes, bares e shoppings, fechados ou com hor�rio de funcionamento e taxa de ocupa��o bem reduzidos.

 

Alguns prefeitos e governadores foram al�m e chegaram at� desobrigar mais recentemente o uso de m�scaras em alguns locais abertos.

 

Os especialistas, no entanto, temem que essa onda de otimismo e relaxamento reverta a tend�ncia positiva e desperdice todas as conquistas do momento.

"� claro que a not�cia de um dia sem mortes � excelente, mas n�o d� pra comemorar demais. Trata-se de uma data isolada e, quando vemos as estat�sticas, ainda estamos com m�dias razo�veis de casos e �bitos por covid", diz o m�dico Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

 

"Temos que ter cuidado para que a situa��o no Brasil n�o volte a piorar, como acontece agora na Europa, que est� com uma nova subida nos casos e nas hospitaliza��es ap�s fazer a reabertura", aponta o especialista.

 

De acordo com a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), a Europa voltou a ser o epicentro da pandemia, com uma piora consider�vel da situa��o no Reino Unido, na Alemanha, na Hungria, na �ustria e na Ucr�nia.

 

Durante uma coletiva de imprensa no dia 4 de novembro, Hans Kluge, diretor regional da OMS, disse que a situa��o representa uma "grave preocupa��o" e que a regi�o est� "num ponto cr�tico para a ressurg�ncia pand�mica".


Profissionais da saúde na Rússia
De acordo com a OMS, a Europa voltou a se tornar o epicentro da pandemia de covid-19 (foto: Getty Images)

 

A explica��o para esse recrudescimento, segundo a avalia��o do pr�prio representante da entidade, est� no relaxamento das medidas n�o farmacol�gicas, como o uso de m�scaras e a preven��o de aglomera��es, e a baixa taxa de vacina��o em alguns pa�ses.

 

N�o � poss�vel afirmar que o mesmo cen�rio acontecer� no Brasil (at� porque a campanha de imuniza��o por aqui conta com uma maior participa��o popular), mas, at� agora, a piora do cen�rio na Europa se repetiu alguns meses depois em nosso pa�s.

 

"� poss�vel escaparmos disso, a depender do comportamento das pessoas e das pol�ticas p�blicas. Precisamos continuar com a vacina��o e seguir com as camadas de prote��o, como o uso de m�scaras e o cuidado com as aglomera��es e com a circula��o de ar pelos ambientes", indica Pellanda.

Como uma pandemia acaba?

Por algum tempo, aventou-se a possibilidade de que a imunidade coletiva (ou imunidade de rebanho) seria capaz de dar um fim � covid-19: conforme as pessoas ficassem doentes (ou, preferencialmente, fossem vacinadas) o Sars-CoV-2 n�o encontraria mais hospedeiros e deixaria de circular.

 

Mas o surgimento de novas variantes, como a Alfa, a Beta, a Gama e a Delta, junto com o conhecimento de que a imunidade contra esse coronav�rus n�o dura para sempre e varia muito de pessoa para pessoa, praticamente descartou essa ideia.

 

Hoje em dia, h� uma maior concord�ncia entre os cientistas de que a pandemia de covid-19 se transformar� aos poucos em uma endemia.

Isso significa que a doen�a continuar� a ser frequente em uma (ou em v�rias) regi�es do planeta, com um n�mero de casos e de mortes esperados todos os anos.

 

� isso o que ocorrecom uma s�rie de outras enfermidades, como a mal�ria, a febre amarela ou a pr�pria gripe.

 

"O desafio ser� estabelecer um patamar admiss�vel de casos e �bitos, o que exigir� um consenso n�o apenas da comunidade cient�fica, mas de toda a sociedade", antev� Werneck.

 

"E, para evitar que esses n�meros voltem a subir novamente e tenhamos surtos ou epidemias no futuro, necessitamos de um sistema de vigil�ncia muito forte, capaz de detectar aumentos repentinos e lan�ar m�o de medidas preventivas. � o que acontece hoje com meningite e sarampo", exemplifica o m�dico.

 

Pellanda concorda com essa dificuldade em estabelecer os crit�rios que determinar�o o fim da pandemia atual.

 

"Estamos num per�odo de instabilidade dos dados e n�o sabemos bem como ser� o futuro. Por isso, devemos desconfiar de qualquer pessoa que tenha muita certeza agora do que vai acontecer", diz.

Exemplos do passado

Para entender os pr�ximos passos do Sars-CoV-2, Brand�o tra�a um paralelo hist�rico com outro tipo de coronav�rus, o OC43, que possivelmente causou uma epidemia (ou at� uma pandemia) no final do s�culo 19.

 

"Voc� pode at� nunca ter ouvido falar dele, mas provavelmente j� foi infectado algumas vezes por esse v�rus", brinca o cientista.

 

"Ap�s ter 'pulado' de bovinos para seres humanos, ele era agressivo. Mas, com o passar do tempo, foi atenuado por ciclos sucessivos de infec��o na nossa esp�cie. Atualmente, o OC43 � um dos principais causadores do resfriado comum, quadro que � autolimitado e n�o costuma causar sintomas mais graves", conta.

 

O virologista lembra que a "meta principal" de um v�rus � se replicar, e n�o matar o seu hospedeiro. Portanto, um agente infeccioso que consegue criar essa "conviv�ncia pac�fica" com o ser humano acaba atingindo seu objetivo com mais facilidade e permanece entre n�s por um tempo prolongado.


Sars-CoV-2
Com o passar do tempo, o Sars-CoV-2 pode se tornar mais ameno e virar um dos causadores de resfriados (foto: Getty Images)

Na contram�o, um v�rus muito agressivo, que mata rapidamente ap�s a infec��o, tem menos probabilidade de causar uma epidemia ou uma pandemia, j� que a transmiss�o acaba prejudicada.

 

� o que acontece, por exemplo, como o Mers-CoV, um outro tipo de coronav�rus respons�vel pela S�ndrome Respirat�ria do Oriente M�dio (ou Mers, na sigla em ingl�s): o �ndice de letalidade dele chega a 37%, mas os casos ficaram restritos a alguns pa�ses em 2011 e 2015.

 

Ser� que esse fen�meno de atenua��o acontecer� com o Sars-CoV-2? N�o d� pra ter certeza disso.

 

"Vivemos um momento em que esse coronav�rus est� dando as primeiras voltas ao redor da Terra. J� foram duas e ele est� na terceira, com o aumento recente da transmiss�o pela Europa", explica Brand�o.

 

"Por ora, n�o � poss�vel afirmar categoricamente que o Sars-CoV-2 ficar� mais ameno, a exemplo do OC43. Em termos evolutivos, essa � uma possibilidade que pode demorar alguns anos para acontecer", continua.

 

"Portanto, n�o � hora de baixar a guarda. Esse coronav�rus n�o est� atenuado e a rela��o n�o � amig�vel o suficiente a ponto de deixarmos que ele circule livremente pela nossa casa", completa o pesquisador.

 

Nessa mesma linha de racioc�nio, n�o est� descartada tamb�m a possibilidade diametralmente oposta: o surgimento de variantes do coronav�rus ainda mais agressivas e com capacidade de driblar a prote��o das vacinas dispon�veis.

 

"Essa � uma realidade matem�tica: quanto mais o v�rus se replica, mais vers�es dele aparecem e, consequentemente, maior o risco de surgirem muta��es preocupantes", ratifica Brand�o.

 

E isso s� refor�a a ideia de que o problema � global e deveria ser tratado como tal. "Em algumas na��es mais pobres, a propor��o de vacinados segue muito baixa. Isso abre o risco de bols�es de covid-19 que podem 'exportar' o v�rus novamente para o resto do mundo", alerta Pellanda.

 

"A pandemia refor�ou a no��o de que toda a sa�de � coletiva e est� conectada com as pessoas ao redor e ao planeta inteiro. Enquanto um ser humano estiver em perigo, todos estaremos", completa a m�dica.


Profissional de saúde vacina mulher
Vacina��o contra a covid-19 pode ser peri�dica no futuro, especulam cientistas (foto: Getty Images)

� justamente por isso que os especialistas batem tanto na tecla da vacina��o e dos demais cuidados n�o farmacol�gicos (uso de m�scaras, evitar aglomera��es, cuidados com a ventila��o…).

 

As medidas preventivas podem at� ser um pouco aliviadas se a situa��o de momento num pa�s ou numa regi�o for boa, mas n�o � poss�vel abandon�-las por completo (a exemplo do que foi feito em alguns pa�ses europeus), pelo menos durante os pr�ximos meses ou anos.

 

O mesmo racioc�nio tamb�m se aplica � imuniza��o: � prov�vel que teremos a aplica��o de novas doses de vacinas contra a covid-19 de tempos em tempos.

Embora o fim da pandemia ainda seja cercado de mist�rios e pare�a apenas uma perspectiva distante, Brand�o se lembra de um discurso feito pelo ent�o primeiro-ministro brit�nico Winston Churchill em 1942, em meio � Segunda Guerra Mundial, ap�s uma vit�ria importante dos aliados contra os nazistas.

 

Na vis�o do virologista, a frase se aplica perfeitamente ao atual est�gio da covid-19 no mundo: "Esse n�o � o fim. N�o � sequer o come�o do fim. Mas �, talvez, o fim do come�o."

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