Checamos: Nanochip n�o passa por agulha de seringa e 5G n�o carrega v�rus

Publica��es compartilhadas milhares de vezes em redes sociais desde o in�cio de agosto garantem que as vacinas em desenvolvimento para combater a COVID-19 vir�o com um nanochip com 5G, capaz de provocar doen�as, diminuir a imunidade e monitorar a localiza��o.

Os nanochips que existem atualmente n�o passariam, contudo, pela agulha de uma seringa e as redes 5G n�o s�o capazes de interagir de forma proposital com organismos provocando doen�as, explicaram especialistas.

“Olha a� o Nano-Chip que vir� misturado na vacina da China esgane-se l� em qual mais quiseram vacinas do Bill Gates, depois que isto estiver em seu organismo voc� nunca mais ser� livre, mas nunca mais mesmo, eles te controlar�o e com o 5G poder�o te criar doen�as, diminuir sua imunidade e saber sua localiza��o e muito mais [sic]”, diz o texto compartilhado mais de 4 mil vezes no Facebook (1, 2, 3) desde o �ltimo dia 2 de agosto.

As postagens - que circularam tamb�m no Instagram e Twitter - s�o compostas, ainda, por duas imagens: uma de um pequeno componente eletr�nico sobre um dedo e outra que parece mostrar a agulha de uma seringa sobre uma m�o.

Um texto em croata, segundo identificado pelo Google Tradutor, completa as publica��es afirmando que o componente visto sobre o dedo � um “nano chip localizado na nova vacina”. 

A imagem n�o poderia mostrar, contudo, um nanochip identificado em uma das vacinas em desenvolvimento para combater a COVID-19.

Foto anterior � pandemia

Uma busca reversa pela foto marcada com uma seta verde utilizando o motor de pesquisa russo Yandex mostra que ela foi publicada em 27 de maio de 2018 - mais de um ano antes da detec��o do novo coronav�rus - no servidor de hospedagem de imagens Imgur.

Segundo o autor da publica��o, a imagem mostra um pequeno capacitor, um componente utilizado para armazenar carga el�trica. 

Nada na postagem indica que a pe�a teria sido encontrada dentro de uma seringa.

Na verdade, como explicou ao AFP Checamos Tiago Balbino, professor de Engenharia de Nanotecnologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o componente visto na imagem n�o tem tamanho nano, j� que pode ser visto a olho nu, e n�o poderia, portanto, ter sido encontrado dentro de uma seringa.

“Nanopart�culas s�o mat�rias invis�veis a olho nu. A gente n�o consegue visualiz�-las”, disse Balbino. “Ent�o tudo que eles apontarem pode ser micro, pode ser um microchip, um microcapacitor, mas n�o tem como ser nano e cair na corrente sangu�nea”, acrescentou, ap�s analisar a imagem a pedido da AFP.

De fato, o tamanho mencionado nas postagens viralizadas, 0,2 micr�metros por 0,125 micr�metros, n�o � nanom�trico, explicou Balbino, destacando que um micr�metro � mil vezes maior do que um nan�metro.

Um nanochip, indicou Balbino, tamb�m n�o tem tamanho nano, ao contr�rio do que sugere o nome, e por isso n�o passaria pela pela agulha de uma seringa como sugerem as postagens.

Buscas reversas pela segunda imagem, que aparenta mostrar a agulha de uma seringa sobre uma m�o, n�o permitiram identificar sua origem.

Tamanho de nanochips

“Os nanochips dispon�veis atualmente s�o do tamanho de um polegar, mas o que os torna nano s�o as estruturas met�licas onde passa a corrente el�trica. O tamanho n�o � nano, mas sim suas estruturas internas, como aquelas linhas que vemos em um chip de celular, por exemplo”, explicou o professor.

“N�o � poss�vel colocar tanta funcionalidade, como a not�cia diz, em uma part�cula t�o pequena”, acrescentou. “Ainda n�o existe tecnologia dispon�vel que possa miniaturizar essas funcionalidades em um tamanho t�o reduzido”. 

A informa��o foi reiterada por Jacobus Swart, professor da Faculdade de Engenharia El�trica e de Computa��o da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP): “N�o existe chip de tamanho nano, embora os elementos (transistores, etc) dentro do chip tenham dimens�es estruturais nanom�tricas”.

Monitorar localiza��o, causar doen�as e reduzir imunidade?

As publica��es compartilhadas milhares de vezes em redes sociais afirmam, ainda, que o nanochip que supostamente seria inserido atrav�s da vacina contra a COVID-19 conseguiria monitorar a localiza��o, causar doen�as e reduzir a imunidade de indiv�duos atrav�s da tecnologia 5G.

Alvo frequente de desinforma��o desde o in�cio da pandemia, a rede 5G � a gera��o mais recente de tecnologia de comunica��o m�vel, que transmite e recebe campos eletromagn�ticos de radiofrequ�ncia para permitir a comunica��o.

Swart descartou essas possibilidades: “Um chip com 5G com monitora��o de localiza��o tem tamanho de mil�metros e necessita energia. Isto tem tamanho vis�vel se fosse colocado no l�quido da vacina e n�o passaria na agulha da aplica��o”.

“N�o teria porque criar doen�as ou diminuir imunidade, a menos que depositem sobre o mesmo algum material t�xico que n�o tem nada a ver com o chip”, acrescentou o professor da UNICAMP.

“Ou, ainda, inclu�ssem um composto biol�gico para libera��o gradual”, mas, neste caso, seria necess�rio “um microrreservat�rio e elementos de microflu�dica”, tornando o chip muito maior, explicou Swart ao Checamos.

Balbino afirmou, por sua vez, que “as radia��es do 5G e os v�rus s�o entidades completamente diferentes que n�o possuem intera��o espec�fica”.

“Redes 5G n�o s�o capazes de interagir de forma proposital com organismos provocando doen�as ou baixando a imunidade das pessoas”, detalhou.

A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) e a Comiss�o Internacional de Prote��o contra a Radia��o N�o-Ionizante (ICNIRP) tamb�m j� explicaram que a radiofrequ�ncia da rede 5G n�o � capaz de carregar v�rus para provocar doen�as.

Procurado pela equipe de checagem da AFP, o Instituto Butantan, que firmou um acordo com a farmac�utica chinesa Sinovac Biotech para testar no Brasil a vacina desenvolvida na China para combater a COVID-19, classificou como “descabida” a informa��o compartilhada nas redes sociais.

“A candidata vacinal desenvolvida em parceria com a Sinovac Life Science utiliza t�cnica de inativa��o do v�rus. Ou seja, a formula��o da vacina cont�m coronav�rus mortos num processo de inativa��o qu�mica para que apenas estimulem a prote��o imunol�gica do organismo sem causar a infec��o. N�o h� qualquer componente de ‘controle digital’, como afirma o post”, disse ao AFP Checamos.

Tamb�m citada nas publica��es, a Funda��o Bill e Melinda Gates, que se comprometeu a fornecer 250 milh�es de d�lares para combater a pandemia, j� negou anteriormente a alega��o de que estaria trabalhando para inserir microchips na vacina contra o novo coronav�rus.

Em resumo, � falso que as vacinas em desenvolvimento para combater a COVID-19 poder�o inserir um nanochip com 5G capaz monitorar a localiza��o, causar doen�as e diminuir a imunidade de indiv�duos. Como explicaram especialistas ao AFP Checamos, um nanochip n�o tem tamanho nano e, por isso, n�o passaria pela agulha de uma seringa. Al�m disso, a tecnologia 5G n�o � capaz de carregar v�rus para transmitir doen�as.