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Estado de Minas FACT-CHECKING

Checamos: � falso que hacker tenha atacado sistema de votos do TSE

Novos questionamentos ao processo eleitoral brasileiro surgiram nesse domingo (29/11), durante o segundo turno das elei��es


29/11/2020 22:41 - atualizado 30/11/2020 11:34

Em 29 de novembro, dia do segundo turno das elei��es municipais brasileiras, usu�rios voltaram a questionar a confiabilidade das urnas eletr�nicas e do sistema de vota��o do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um dia ap�s a pris�o pela Pol�cia Federal em Portugal de um jovem suspeito de vazar os dados administrativos da corte em 15 de novembro.

Mas a a��o ocorrida no primeiro turno do pleito n�o teria como afetar as urnas, j� que elas n�o funcionam em rede.
“Um rapaz de 19 anos, repito, 19 anos, morando em Portugal, em pris�o domiciliar, usando um celular, repito,um celular, atacou o seguro, protegido e nunca invadido sistema de votos do TSE. Um sistema sem auditoria do voto impresso n�o tem seguran�a”, indicou um usu�rio no Twitter durante o segundo turno das elei��es em 57 cidades brasileiras.

“Se um hacker portugu�s consegue entrar nos servidores do TSE com Um celular...... imaginem a fragilidade…”, afirmou outro, no Facebook, ap�s a repercuss�o das not�cias de que o rapaz teria agido apenas com um celular.

Mas os dados vazados em 15 de novembro eram da �rea de Recursos Humanos e os hackers n�o chegaram a invadir o sistema de apura��o dos votos ou as urnas eletr�nicas, segundo a Justi�a Eleitoral, a Pol�cia Federal e quatro especialistas em ciberseguran�a que analisaram as informa��es vazadas no dia em que a falha de seguran�a se tornou p�blica.

Al�m disso, a urna n�o � conectada � internet e o sistema operacional nela instalado impede a conex�o com qualquer rede ou acesso remoto.

Apesar do sistema de vota��o brasileiro n�o contar com um comprovante de vota��o, declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por riscos de fraude e quebra de sigilo, isso n�o significa que ele n�o seja seguro.

Como foi a a��o do hacker?


No dia 15 de novembro, o TSE foi alvo de uma tentativa de ataque hacker e dados administrativos do tribunal foram divulgados nas redes sociais.

No dia seguinte, o presidente do tribunal, ministro Lu�s Roberto Barroso, afirmou que o ataque n�o afetou as urnas eletr�nicas nem o resultado das elei��es. No entanto, a a��o resultou na lentid�o nos servi�os remotos do tribunal em todo o Brasil devido a solicita��es oriundas de 435 mil conex�es — que al�m do territ�rio nacional, partiram de pa�ses como Estados Unidos e Nova Zel�ndia.

Em uma entrevista feita com o hacker entre os dias 17 e 18 de novembro pelo jornal O Estado de S. Paulo, o rapaz indicou que o ataque foi do tipo DDoS (“Distributed Denial-of-Service attack”) e realizado por meio de um “botnet” - controle de uma rede de dispositivos por meio da internet -, gerando instabilidade no site.

O ataque DDoS, tamb�m conhecido como ataque de nega��o de servi�o, atinge o seu objetivo quando excede os limites do servidor. Para isso, os hackers criam programas maliciosos que s�o instalados em diversas m�quinas, que realizam m�ltiplos acessos simult�neos ao site ao qual o ataque � direcionado. A mesma estrat�gia foi utilizada em junho de 2011 nos ataques aos sites da Receita Federal, da Presid�ncia da Rep�blica, do Portal Brasil e da Petrobras.

A equipe de checagem do Comprova - projeto do qual o AFP Checamos faz parte - entrou em contato com o professor do Departamento de Computa��o da Universidade Federal do Cear� (UFC) Emanuel Bezerra, que afirmou que esse tipo de ataque s� � poss�vel a partir de uma rede articulada de computadores. Isso vai na dire��o contr�ria da declara��o do hacker, que disse ter agido sozinho e somente com um celular.

Sobre isso, Bezerra explicou:

“� muito dif�cil s� uma pessoa com o celular conseguir derrubar uma rede. Geralmente s�o muitas m�quinas infectadas trabalhando ao mesmo tempo, e elas n�o precisam ser do hacker. O que os hackers fazem � contaminar as m�quinas (computadores e celulares) de outras pessoas ao redor do mundo, que ficam como se fossem ‘zumbis’ no momento do ataque e iniciam os disparos em massa na rede que o hacker quer derrubar. Essa contamina��o de m�quinas pode ser causada por sites ou links maliciosos e resultam no que a gente chama de botnet (rede de rob�s), que obedecem as ordens do atacante”.

Quem � o hacker?


O hacker portugu�s identificado como Zambrius, l�der do grupo CyberTeam, suspeito de ter atacado os dados da Justi�a Eleitoral brasileira, foi preso no �ltimo dia 28 de novembro pela Pol�cia Federal em Portugal.

Zambrius afirmou ter agido por “divers�o” e por ser contra os governos e acrescentou que sua inten��o era demonstrar que o TSE continuava vulner�vel mesmo depois de ter anunciado um refor�o em sua seguran�a.

O hacker de 19 anos disse ser “viciado” em programa��o de computador e estava detido em casa desde mar�o, com uma tornozeleira eletr�nica, ap�s realizar um ataque aos sistemas de uma empresa de energia el�trica local.

Sobre o fato do ataque ter feito com que os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que j� questionou a confiabilidade das urnas eletr�nicas (1, 2), acusassem uma fraude no sistema eleitoral do Brasil, o hacker disse que a inten��o do grupo n�o � impulsionar o que chamou de “desinforma��o de fraudes”, e que a invas�o n�o afeta ou causa fraudes nas elei��es. 
Captura de tela feita em 29 de novembro de 2020 de uma publicação no Twitter
Captura de tela feita em 29 de novembro de 2020 de uma publica��o no Twitter

“Eu n�o tenho envolvimento em atos pol�ticos, tenho apenas protestos antigoverno, nunca apoiei partidos, governos ou o quer que seja relacionado ao governo”, afirmou.

Em 15 de novembro, a equipe de checagem do Projeto Comprova entrou em contato com a p�gina do CyberTeam e a pessoa que respondeu �s mensagens e trocas de e-mails se apresentou como Zambrius e disse ser o jovem que j� havia sido preso em abril deste ano em Portugal.

Ainda indicou que o ataque ocorreu no pr�prio dia do primeiro turno e quando questionado sobre a avalia��o de especialistas, segundo a qual o vazamento n�o teve liga��o com dados da elei��o, Zambrius indicou: “Eu n�o explorei por completo o TSE e s� me foquei em reunir os dados de utilizador”.

Sistema de votos n�o foi invadido


Ainda em 15 de novembro, o TSE assinalou que o vazamento envolvia apenas dados administrativos do tribunal referentes ao per�odo de 2001 a 2010.

A falha, por sua vez, n�o comprometeu, segundo a institui��o, o sistema de vota��o, que funciona � parte e possui uma s�rie de travas de seguran�a que usam chaves e criptografia. O ataque tamb�m n�o poderia afetar as urnas eletr�nicas, pois naquele momento as m�quinas estavam recebendo os votos dos eleitores e n�o s�o conectadas � internet.

Segundo a avalia��o dos dados vazados por quatro especialistas em ciberseguran�a, consultados pelo Comprova em 15 de novembro, o sistema de votos n�o foi afetado e o ataque n�o violou a seguran�a da elei��o.

“S�o dados pessoais de sa�de, de idade das pessoas. Pelas caracter�sticas dos dados, fica claro que n�o tem nada a ver com o sistema de vota��o eletr�nico, que � totalmente diferente. � como se aqui na Unicamp voc� conseguisse acesso aos dados de recursos humanos. Mas a nossa base de dados de pesquisa est� salva em outro lugar”, afirmou o professor Paulo L�cio de Geus, representante da Sociedade Brasileira de Computa��o nos testes p�blicos de seguran�a do TSE, no dia em que os dados foram publicados.

De acordo com as informa��es iniciais fornecidas pelo ministro Lu�s Roberto Barroso em 15 de novembro, o vazamento de dados havia partido de Portugal. O ministro da Justi�a, Andr� Mendon�a, afirmou no mesmo dia que a Pol�cia Federal estava investigando o caso e n�o havia encontrado “qualquer indicativo de preju�zo ao pleito eleitoral”.

Posteriormente, o TSE instituiu uma Comiss�o de Seguran�a Cibern�tica para trocar informa��es com a PF e acompanhar a apura��o do caso.

As urnas eletr�nicas contam com comandos que garantem que apenas softwares assinados digitalmente pelo TSE sejam executados, al�m de barreiras de seguran�a. O tribunal tamb�m realiza auditorias para testar a seguran�a e a lisura da vota��o, que conta com a participa��o de fiscais dos partidos, representantes da sociedade civil e de qualquer cidad�o interessado em acompanh�-las.

Em resumo, � falso que um hacker tenha invadido o sistema de votos do TSE no primeiro turno das elei��es municipais, em 15 de novembro. Embora dados da corte tenham sido vazados, estes eram da �rea de Recursos Humanos. Em entrevista ao Estad�o, por sua vez, o hacker declarou que a invas�o n�o afetou nem causou fraudes nas elei��es.

Esse texto faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas do Jornal do Commercio e O Povo. O material foi adaptado pelo AFP Checamos.


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