Uma mensagem que afirma que a Fiocruz estaria produzindo, em sigilo, o ingrediente farmac�utico ativo (IFA) e uma vacina, que j� seria 100% nacional, e contaria com a supervis�o de cientistas de Israel, foi compartilhada mais de 4,5 mil vezes nas redes sociais desde o �ltimo dia 19 de mar�o. Al�m disso, o texto indica que s� poderiam entrar na f�brica pessoas autorizadas pelo vice-presidente, o general Hamilton Mour�o. � AFP, a Fiocruz e a assessoria do vice-presidente desmentiram essas alega��es.
As postagens come�am indicando que em um pronunciamento do ent�o ministro da Sa�de Eduardo Pazuello foi “revelado” que “foi assinado e injetado bilh�es na funda��o [Fiocruz] para a produ��o da vacina brasileira”.
O texto, que circulou no Facebook (1, 2, 3), Instagram e Twitter (1, 2, 3), segue: o “Brasil ter� sua pr�pria vacina, foi revelado agora pela FIOCRUZ [...] 500 mil mais 6 milh�es por semana com um maquinario e cinco cientistas todos vindos de Israel, 40 estagi�rios que ficaram 90 dias em Israel e mais 300 funcion�rios recrutados nas universidades”.
Ainda segundo a mensagem, “manter tudo em sigilo, com a Fiocruz produzindo a IFA e a vacina” foi o “golpe de mestre”. E finaliza, assinalando que “s� agora est�o sabendo inclusive do Maior Parque Industrial da Am�rica Latina que tem 11 f�bricas de vacinas diferentes onde s� entra quem estiver autorizado pelo General Hamilton Mour�o. [...] PIVFI-Parque Industrial de Vacinas. Com supervis�o dos cientistas de Israel”.
O que se sabe da produ��o da vacina
Em 31 de julho de 2020 foi assinado um documento com a farmac�utica AstraZeneca “sobre a transfer�ncia de tecnologia e produ��o de 100 milh�es de doses da vacina” contra a covid-19.
Mas foi em 10 de setembro de 2020 que a Fiocruz divulgou ter assinado o contrato garantindo o acesso “a 100,4 milh�es de doses do Ingrediente Farmac�utico Ativo (IFA) para o processamento final (formula��o, envase, rotulagem e embalagem) e controle de qualidade”.
Em meados de mar�o de 2021, o diretor do Instituto de Tecnologia em Imunobiol�gicos (Bio-Manguinhos), unidade da Fiocruz respons�vel pela produ��o de vacinas, Maur�cio Zuma, indicou que devem ser entregues cerca de 6 milh�es de doses por semana da vacina, at� atingir as 100,4 milh�es de doses previstas no contrato com a AstraZeneca.
O acordo com o Reino Unido para garantir a produ��o nacional da vacina a partir da transfer�ncia total de tecnologia significa que n�o ser� mais necess�rio importar o insumo.
Ao Checamos, a assessoria de Bio-Manguinhos afirmou que “a �rea para a produ��o do IFA est� sendo preparada para receber a certifica��o da Anvisa no final de abril”.
Mas essa a��o ainda exige o cumprimento de outras etapas, como “a valida��o dos processos do IFA nacional”, que devem ser conclu�dos em julho, para solicitar a inclus�o do novo local de fabrica��o do insumo no registro do imunizante. A partir de agosto, ent�o, a institui��o poder� entregar “as vacinas 100% produzidas em Bio-Manguinhos/Fiocruz”.

Produ��o da vacina em sigilo e com a participa��o de Israel?
Sobre a produ��o da vacina em sigilo, como indicam as publica��es nas redes sociais, a assessoria de Bio-Manguinhos esclareceu que o imunizante “Oxford/AstraZeneca teve seu processo de desenvolvimento divulgado em publica��es cient�ficas”.
De fato, em maio de 2020 a imprensa j� anunciava uma colabora��o entre o laborat�rio farmac�utico brit�nico AstraZeneca com a Universidade de Oxford na busca por uma vacina contra a covid-19.
Em 3 de junho, foi afirmado que a vacina em desenvolvimento seria testada em cerca de dois mil volunt�rios no Brasil, o que teve in�cio algumas semanas depois. Finalmente, em 27 de junho de 2020, o pa�s chegou a um acordo de produ��o de doses do imunizante, com a participa��o da Fiocruz.
No site da Universidade de Oxford � poss�vel conferir todas as etapas de testes e estudos, inclusive em outros pa�ses, como �frica do Sul, Qu�nia, Estados Unidos, al�m do Brasil.
Por e-mail, a assessoria de imprensa de Bio-Manguinhos tamb�m descartou qualquer participa��o de Israel - seja de maquin�rio e cinco cientistas, “vindos de Israel”, de 40 estagi�rios que “ficaram 90 dias em Israel”, como assinalam as publica��es.
O texto compartilhado termina indicando que no “maior Parque Industrial da Am�rica Latina”, cujo nome dado � “PIVFI (Parque Industrial de Vacinas)”, h� “11 f�bricas de vacinas diferentes”, onde s� se pode entrar com a autoriza��o do vice-presidente, o general Hamilton Mour�o.
O local onde s�o produzidas as vacinas pela Fiocruz se chama, na realidade, Complexo Tecnol�gico de Vacinas (CTV), que realmente � um dos maiores centros de produ��o da Am�rica Latina. E, diferentemente do que foi afirmado nas redes, n�o se tratam de 11 f�bricas de imunizantes diferentes: “Na verdade, nosso portf�lio � composto por 11 vacinas, produzidas nas edifica��es do CTV”, explicou a assessoria da institui��o.
Sobre a suposta necessidade de autoriza��o do vice-presidente para entrar nas instala��es, tanto a Fiocruz quanto a assessoria de Mour�o negaram, afirmando que a alega��o “n�o possui veracidade”.

Vacinas autorizadas no Brasil
Atualmente, dois imunizantes contra a covid-19 t�m sido aplicados no Brasil: Oxford/AstraZeneca e CoronaVac.
A Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) concedeu a autoriza��o de uso emergencial da vacina CoronaVac e da Janssen, bra�o farmac�utico da Johnson & Johnson.
Atualmente, t�m registro definitivo as vacinas da Pfizer/BioNTech, embora ainda n�o esteja dispon�vel no pa�s, e da Fiocruz/AstraZeneca. Neste �ltimo caso, a Anvisa aprovou dois registros diferentes para que as duas empresas possam, assim, “adotar estrat�gias diferentes de distribui��o e comercializa��o do produto”.
Um conte�do semelhante foi verificado pelas equipes do Estad�o Verifica, Aos Fatos, Boatos.org e da Ag�ncia Lupa.