
“A viagem do Bolsonaro e comitiva aos EUA provou tr�s coisas: - Vacina n�o funciona; - Imunidade natural � a melhor; - Passaporte sanit�rio � s� quest�o de controle social nazista. Fim.” , diz uma das publica��es compartilhadas no Twitter ( 1 ).
Afirma��es no mesmo sentido t�m circulado no Facebook ( 1 ) e em espanhol .
As publica��es fazem refer�ncia � viagem do presidente Bolsonaro e sua comitiva para Nova York. Enquanto o mandat�rio, que anuncia n�o ter tomado o imunizante contra a covid-19, testou negativo ap�s a viagem, seu ministro da Sa�de, Marcelo Queiroga, testou positivo depois de ter tomado as duas doses da vacina.
Segundo os usu�rios isso provaria que a “vacina n�o funciona” e que a “imunidade natural � a melhor” .
No entanto, embora n�o haja consenso sobre qual imunidade pode ser mais robusta, especialistas consultados pela AFP concordam que a vacina��o � a melhor estrat�gia a ser adotada para conter a pandemia, j� que produz imunidade sem envolver os riscos associados � infec��o.
Natural versus vacinal?
A Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos indica que h� tr�s tipos de imunidade: inata, ativa e passiva. A primeira abrange o sistema de defesa com o qual se nasce; a segunda � a desenvolvida quando se exp�e a um agente biol�gico (como um v�rus), seja por meio da infec��o ou de uma vacina; e a �ltima � quando se recebe anticorpos, em vez de ger�-los por meio do pr�prio sistema imune, como no caso de um beb� que os recebe da m�e, ou no caso de uma transfus�o de sangue.Em rela��o � imunidade natural adquirida ap�s a infec��o pelo v�rus, a virologista chilena Vivian Luchsinger explicou � AFP que ela � “mais completa, porque o v�rus exp�e todos os seus ant�genos ao se replicar no infectado, gerando uma resposta imune frente a eles. J� com as vacinas, a exposi��o de ant�genos � limitada” .
Mas isso n�o significa que se expor � infec��o seja melhor do que se vacinar, j� que os efeitos da covid-19 s�o imprevis�veis.
“N�o � poss�vel saber se a infec��o natural vai ser grave, leve, moderada etc. O risco � alt�ssimo (...) . A aus�ncia de fatores de risco n�o significa que uma pessoa necessariamente vai ter uma infec��o leve. � muito arriscado” , acrescentou.
Ligia Kerr , epidemiologista e professora do Programa de P�s-Gradua��o em Sa�de P�blica da Universidade Federal do Cear�, concordou: “Quem tem a doen�a pode desenvolver formas extremamente graves e ir a �bito. Ent�o o que n�s queremos � n�o desenvolver a doen�a” .
Al�m do risco de morte associado � infec��o, Evaldo Stanislau , m�dico infectologista do Hospital das Cl�nicas da Universidade de S�o Paulo (USP), apontou que a imunidade natural funciona como uma loteria. “Nem todas as pessoas respondem bem, nem todas formam anticorpos e a dura��o pode ser fugaz.”
Mas isso pode mudar com a vacina. Ele resumiu:
“A imunidade natural � boa, mas � incerta. A imunidade vacinal � boa, e � mais certa, e quando a gente soma a imunidade vacinal mais a imunidade natural � o melhor dos mundos, a gente tem uma resposta imune muito boa, muito eficaz”
Anticorpos
N�o h� certeza, at� o momento, sobre quanto tempo duram os anticorpos gerados tanto pela infec��o natural quanto pela vacinal . Contudo, Ricardo Rabagliati , infectologista do Hospital Cl�nico da Universidade Cat�lica do Chile, ressaltou que a administra��o de v�rias doses permite prolongar o per�odo de imuniza��o.“A infec��o natural se apresenta em uma oportunidade e a vacina � aplicada em v�rias doses, fazendo com que seu efeito possa ser prolongado” , disse.
Nesse sentido, Rabagliati apontou: “� preciso considerar v�rios fatores ao fazer essa extrapola��o de que a infec��o natural poderia gerar melhores anticorpos” .
Quem desenvolve a forma leve da doen�a, por exemplo, “pode gerar menos anticorpos” , aponta Kerr. Ela sinaliza que a imunidade na covid-19 tamb�m depende da resposta celular, mas que a queda de anticorpos neutralizantes “� acompanhada de uma maior chance de se infectar de novo” .
Este estudo , que analisa n�veis de anticorpos de pacientes previamente infectados pela covid-19, tem conclus�o no mesmo sentido: “A severidade da doen�a foi associada a uma maior concentra��o de anticorpos neutralizantes” .

Os especialistas consultados concordaram sobre a vacina ser imunog�nica - quando induz resposta imune - e ressaltaram que ela diminui muito a chance de a doen�a evoluir com gravidade.
O caso do ministro Queiroga seria um exemplo. Ele cumpriu os 14 dias de isolamento em um hotel, sem necessidade de hospital e sem que a doen�a se desenvolvesse com gravidade ou provocasse risco de vida, apontou Stanislau. Em 3 de outubro, o ministro divulgou em sua conta no Twitter que testou negativo, e assim, retornou ao Brasil.
Estrat�gia
Comparadas as duas formas de adquirir imunidade, a via da vacina��o destaca-se pela efic�cia e seguran�a, apontou Kerr. “Ambas podem produzir imunidade, s� que a doen�a tem uma rela��o com gravidade extremamente elevada, e a da vacina � muito baixa.”Al�m da maior seguran�a, a epidemiologista destacou que a resposta imune produzida pela vacina � excelente. Considerando todos esses fatores, Kerr concluiu que a vacina��o faz “parte de uma estrat�gia de sa�de p�blica de salvar vidas” .
Rabagliati concordou que, na compara��o entre a imunidade natural e a vacinal, “n�o � uma melhor que a outra” , mas “� poss�vel controlar melhor a situa��o por meio das vacinas com a possibilidade de dar doses repetidas”.
Em seu site , o Minist�rio da Sa�de destaca que vacinar toda a popula��o � uma prioridade: “Para vencer o coronav�rus a premissa � uma s�: Brasil unido por uma p�tria vacinada”.
Outros �rg�os governamentais e organiza��es internacionais recomendam a vacina��o como estrat�gia para conter a pandemia. Os Centros para o Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) dos Estados Unidos destacam que a popula��o deve tomar a vacina contra a covid-19, mesmo os que j� se infectaram, pois “pesquisas ainda n�o mostraram por quanto tempo voc� est� protegido depois de se recuperar da covid-19” e “a vacina��o ajuda a te proteger mesmo que voc� j� tenha tido a doen�a” .
Eles acrescentam que “est�o surgindo evid�ncias de que as pessoas desenvolvem melhor prote��o com o esquema vacinal completo em compara��o � prote��o gerada pela covid-19” .
A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) v� o acesso equitativo a vacinas seguras e eficazes como fundamental para acabar com a pandemia de covid-19.
A organiza��o diz que “n�o s�o vacinas que v�o parar a pandemia, � a vacina��o” . Por isso, defende “que todos os pa�ses as recebam e possam implement�-las para proteger seu povo, come�ando pelos mais vulner�veis” .
O Instituto Pasteur de Montevid�u insistiu : “Para reduzir a circula��o do v�rus e de suas variantes, � essencial vacinar-se rapidamente” .
Estudo em Israel
Algumas mensagens compartilhadas nas redes sociais fazem refer�ncia a uma suposta vantagem da imunidade natural sob a vacinal. Usando dois estudos israelenses n�o revisados por pares como base, as postagens alegam que a primeira protegeria entre 6 e 13 vezes mais da covid-19 que a segunda (
1
,
2
,
3
). A afirma��o tamb�m circulou em espanhol (
1
,
2
,
3
).
Ao buscar em ingl�s no Google os termos
“Israel estudo imunidade natural”
, foi poss�vel chegar a
este estudo
preliminar, sem revis�o de pares, divulgado em 25 de agosto de 2021 e realizado em Israel. Nele, conclui-se que
“a imunidade natural confere uma prote��o mais duradoura e mais forte contra a infec��o, a doen�a sintom�tica e a hospitaliza��o causada pela variante delta do SARS-CoV-2”
em compara��o � imunidade adquirida ap�s as duas doses da vacina Pfizer.
Contudo, o estudo acrescenta:
“As pessoas que estavam previamente infectadas pelo SARS-CoV-2 e receberam uma dose da vacina obtiveram prote��o adicional contra a variante delta”
.
Uma das postagens difundidas no Facebook tamb�m cita
este estudo
, sem revis�o de pares, divulgado em 24 de abril de 2021. Ele ressalta que a resposta imune de pessoas previamente contagiadas pela covid-19 em compara��o com a daquelas que se vacinaram foi similar.
“Este estudo sugere que tanto a vacina BNT162b2 [Pfizer] como a infec��o pr�via por SARS-CoV-2 s�o efetivas tanto contra a infec��o posterior por SARS-CoV-2 como contra outros resultados relacionados � covid-19. Isso p�e em quest�o a necessidade de vacinar pessoas previamente infectadas recentemente (at� seis meses)”
, destaca-se no final do artigo.
*Esta verifica��o foi realizada com base em informa��es cient�ficas e oficiais sobre o novo coronav�rus dispon�veis na data desta publica��o.
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