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Estado de Minas Entrevista

Pandemia escancarou problemas da sa�de, diz presidente de sindicato

Infectologista que dirige Sindicato dos M�dicos de S�o Paulo, Eder Gatti Fernandes exalta papel do SUS e critica atitude do presidente Jair Bolsonaro


15/06/2020 06:00 - atualizado 15/06/2020 08:31

(foto: BBUSTOS/DIVULGA��O )
 

H� seis anos � frente do Sindicato dos M�dicos de S�o Paulo (Simesp), o infectologista Eder Gatti Fernandes n�o imaginava lidar em sua gest�o com os desafios ampliados pela pandemia. A maior batalha, sem d�vida, � travada nos hospitais, mas n�o s�o poucos os problemas enfrentados pelos profissionais de sa�de, que v�o de falta de equipamentos de prote��o individual (EPIs) a contratos prec�rios de trabalhos, passando por estresse e press�o psicol�gica.

Diante das baixas, o sindicato criou memorial para homenagear os m�dicos que morreram com a COVID-19. Em caderno especial publicado ontem, o Estado de Minas mostrou que a doen�a tirou a vida de 305 profissionais de sa�de, entre m�dicos, enfermeiros e t�cnicos de enfermagem. Somente m�dicos, foram 139.

Rio de Janeiro, S�o Paulo e Par� s�o os estados com mais baixas. No entanto, em Minas os profissionais tamb�m est�o submetidos a alto grau de estresse.

 “Com a pandemia, as situa��es adversas ficam muito escancaradas, tudo em um espa�o curto de tempo”, afirma Fernandes. Na entrevista, ele afirma que a trag�dia s� n�o � maior no Brasil pelo amparo do Sistema �nico de Sa�de (SUS). Defende o isolamento social e critica o presidente Jair Bolsonaro, que sugeriu a apoiadores que entrem em hospitais para registrar se os leitos de tratamento da doen�a est�o de fato ocupados. “O governo federal tem se mostrado cada vez mais omisso. Quando ele faz esse tipo de recomenda��o, desrespeita quem est� nos hospitais trabalhando e dando duro para salvar vidas.”

 

Uma das queixas apresentadas por profissionais de sa�de � a falta de equipamentos de prote��o individual (EPIs). Ela � localizada ou afeta os m�dicos em todo o Brasil?


Esse � um problema que afeta m�dicos de todo o Brasil. Temos um problema s�rio causado pela COVID-19, que � a do fornecimento de equipamentos, de demanda expressiva. Mas tamb�m relacionado � estrutura local de sa�de e isso varia muito de regi�o para regi�o. O Sistema �nico de Sa�de (SUS) nacionalmente passava por uma crise de financiamento, subfinanciado. Por conta disso, tem problemas na oferta de leitos, equipamentos, insumos e medicamentos. Entre os insumos, faltam equipamentos de prote��o individual. Existe problema que � pr�vio e a gente sente muito agora.

Por que Rio de Janeiro, S�o Paulo e Par� est�o entre os estados com mais mortes de m�dicos?


Primeiro, s�o tr�s regi�es que apresentam boa parte das mortes no Brasil. A maior casu�stica de COVID-19 � S�o Paulo. Temos muitos casos no Rio de Janeiro. Os locais onde acontece a maior quantidade de casos � que t�m a maior quantidade de �bitos por profissionais de sa�de. No �ltimo dado do semestre que a gente levantou, o estado 'campe�o' era o Rio, at� 22 de maio, mesmo n�o sendo o com mais casos de COVID. Ou seja, o risco de m�dicos falecerem estava sendo maior no Rio. Isso � reflexo da rede de sa�de e da oferta de equipamentos de prote��o individual.

"Se n�o tiv�ssemos o SUS, certamente a trag�dia seria muito maior, o risco de mortes muito mais alto. Muita gente ficaria sem assist�ncia"



� poss�vel saber qual � o n�vel de estresse dos m�dicos que est�o na linha de frente no enfrentamento � COVID-19? Como o estresse se relaciona ao risco de se contaminar pelo coronav�rus?


H� v�rias coisas que podem estimular o estresse. O aumento da carga de trabalho foi significativo. Essa sobrecarga gera estresse. A outra coisa � lidar com doen�a em que o profissional se exp�e e isso causa receio de contamina��o. A gente come�a a receber not�cias de profissionais que falecem e isso causa muita preocupa��o. Essa crise evidenciou fragilidade no sistema de sa�de. Uma delas, as rela��es de trabalho. Em v�rios locais h� problemas. Em S�o Paulo temos realidade de profissionais que s�o da administra��o direta, mas concursados. Muitos no final de carreira e, consequentemente, idade mais avan�ada. Por conta dessa pol�tica de n�o fazer concurso, essas unidades da administra��o acabam tendo poucos profissionais mais jovens para a linha de frente. E h� aquelas unidades administradas por organiza��es sociais, que terceirizam m�o de obra de profissionais, muito frequente nos hospitais de campanha. V�nculos prec�rios de trabalho. E esses profissionais s�o colocados na linha de frente da COVID, correndo risco de adoecer. Muitos adoecem e n�o t�m nenhum direito trabalhista. O profissional � descartado, trocado por outro. Al�m de perder o posto de trabalho, fica doente em casa sem receber sal�rio. A COVID escancarou a fragilidade das rela��es de trabalho na sa�de.

A realidade da rede sa�de no Brasil � bastante desigual entre regi�es, dentro dos estados e nas pr�prias cidades. Quais s�o os pontos de maior preocupa��o?


O que destaca as fragilidades vari�veis nas diferentes regi�es � que algumas delas t�m profissionais e leitos em maior quantidade. E justamente s�o essas regi�es que carecem de profissionais que mais sofrem. O limiar de toler�ncia de ocorr�ncia de COVID nessas regi�es com menor acesso � assist�ncia � sa�de acaba sendo menor. Isso a gente p�de ver cidades da regi�o Norte e Nordeste.

"Os governantes precisam dar apoio para as pessoas fazerem o isolamento social. Esse apoio passa por um discurso coerente das autoridades de que o isolamento � importante"



Qual a import�ncia do Sistema �nico de Sa�de para o atendimento da popula��o e tratamento da COVID-19? A resposta do SUS ao tamanho do desafio est� sendo positiva?


A trag�dia no Brasil s� n�o foi maior por causa do sistema de sa�de. O SUS minimamente garante algum acesso para as pessoas. Se n�o tiv�ssemos o SUS, certamente a trag�dia seria muito maior, o risco de mortes muito mais alto. Muita gente ficaria sem assist�ncia. Essa epidemia escancarou para a sociedade a import�ncia que o SUS tem. Eu espero que o Brasil saia dessa epidemia com a li��o de que o SUS precisa ser valorizado, precisa ter recursos para que funcione de maneira adequada e os gestores precisam, de fato, dar aten��o para esse sistema, e n�o fazer como vinham fazendo antes da epidemia, sucateando cada vez mais o sistema de sa�de, com financiamento cada vez menor.

O senhor considera uma boa medida as universidades de medicina anteciparem as formaturas para que os rec�m-formados possam se juntar � primeira fileira no combate � COVID-19?


Antecipar a formatura vai prover mais profissionais ao sistema de sa�de. No entanto, nossa demanda maior � por profissionais que manejem terapia intensiva.

"O presidente, ao fazer esse tipo de recomenda��o (entrar em hospitais), mostra-se extremamente irrespons�vel. Estimula a irem para ambiente onde h� doentes. Estimula a se exporem � doen�a"



O quanto o isolamento social de maneira inadequada afeta o trabalho dos m�dicos?


A falta de isolamento social aumenta a ocorr�ncia da doen�a e, consequentemente, a demanda pelo servi�o de sa�de e isso impacta no trabalho dos m�dicos. Por�m, os governantes precisam dar apoio para as pessoas fazerem o isolamento social. Esse apoio passa por um discurso coerente das autoridades de que o isolamento � importante. E n�o � isso que a gente v�, uma vez que governos estaduais e municipais t�m os discursos divergentes do federal. Esse tipo de comportamento n�o ajuda. Al�m de um discurso coerente, os governantes precisam dar o devido apoio para popula��o aderir. O Brasil tem muitas fam�lias pobres, muitas cujos provedores vivem de empregos informais, e fazer isolamento � muito dif�cil para essas pessoas. O isolamento n�o � a �nica medida para reduzir a circula��o da doen�a, mas � a mais impactante.

Qual sua avalia��o sobre a declara��o do presidente Jair Bolsonaro incentivando para que as pessoas entrem em hospitais para averiguar a capacidade dos leitos?


O presidente Jair Bolsonaro, ao fazer esse tipo de recomenda��o aos seus apoiadores, mostra-se extremamente irrespons�vel. Primeiro, porque estimula as pessoas a irem para ambiente hospitalar onde h� pessoas doentes. Ele estimula a se exporem � doen�a. Al�m disso, o presidente at� agora n�o fez nada de efetivo para combater a doen�a. O governo federal tem se mostrado, cada vez mais omisso e, em algumas vezes, at� d� exemplos muito ruins � popula��o, atrapalhando o combate � doen�a. Quando ele faz esse tipo de recomenda��o, ele desrespeita quem est� de fato nos hospitais trabalhando e dando duro para salvar vidas de pessoas.

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