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Estado de Minas COVID-19

Segunda Revolta da Vacina? As li��es hist�ricas da crise de 1904

Debate sobre a obrigatoriedade da vacina��o contra o coronav�rus traz � mem�ria violento conflito da sa�de p�blica no Rio de Janeiro do in�cio do s�culo 20


25/10/2020 04:00 - atualizado 25/10/2020 12:43

O ilustrador Marcelo Lélis recriou em formato de história em quadrinhos a história da Revolta da Vacina no Rio de Janeiro(foto: Marcelo Lélis/EM/D.A Press)
O ilustrador Marcelo L�lis recriou em formato de hist�ria em quadrinhos a hist�ria da Revolta da Vacina no Rio de Janeiro (foto: Marcelo L�lis/EM/D.A Press)

Imposs�vel se vacinar contra a pol�mica, ainda mais nestes tempos de pandemia, com suas doses descomunais de incertezas, medos, choque de opini�es, afirma��es com ou sem base cient�fica e outros fatores de alto risco para a popula��o. As recentes declara��es do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que a imuniza��o n�o ser� obrigat�ria e de que o governo federal n�o comprar� a CoronaVac, imunizante contra a COVID-19 elevam a temperatura nas discuss�es. E alimentam uma pol�mica que j� ganha as ruas e redes sociais, trazendo � mem�ria epis�dio marcado na hist�ria da sa�de p�blica brasileira, uma esp�cie de "segunda revolta da vacina".

Do lado oposto ao do presidente e de quem advoga a n�o obrigatoriedade da vacina��o, o governador de S�o Paulo, Jo�o Doria, quer o povo do seu estado recebendo as doses, compulsoriamente, se preciso. Guardadas as devidas propor��es de tempo, espa�o e tens�o, a situa��o traz � tona o epis�dio que sacudiu no in�cio do s�culo passado o Rio de Janeiro, ent�o capital da Rep�blica.

Quem explica o contexto no qual ocorreu a Revolta da Vacina � a pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, unidade especializada em mem�ria e hist�ria em sa�de da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz), Tania Maria Fernandes. “Ela ocorreu em 1904, no momento em que havia epidemia de var�ola, mas, principalmente, havia tens�o social e insatisfa��o popular muito fortes”, afirma.

O principal motivo eram reformas urbanas propostas para o Rio de Janeiro. Os principais personagens dessa hist�ria, o ent�o presidente da Rep�blica, Rodrigues Alves (1848-1919), o prefeito do Distrito Federal, engenheiro Francisco Pereira Passos (1836-1913), e o diretor-geral de Sa�de P�blica (cargo equivalente ao de ministro da Sa�de), o m�dico Oswaldo Cruz (1872-1917).

(foto: Marcelo Lélis/EM/D.A Press)
(foto: Marcelo L�lis/EM/D.A Press)


“Os projetos contemplavam a moderniza��o e o embelezamento da cidade, com avenidas largas, criando-se uma Haussmann tropical”, diz a pesquisadora da Fiocruz, em refer�ncia ao franc�s Georges-Eug�ne Haussmann (1809-1891), respons�vel pela reforma urbana de Paris entre 1853 e 1870, modelo seguido por Pereira Passos. Com essa inspira��o, os corti�os cariocas, nos quais vivia a popula��o pobre, foram demolidos, afastando esses moradores para longe do Centro da cidade e, portanto, do trabalho. As medidas tinham como base um c�digo de posturas sanit�rias, logo apelidado pelo povo de “c�digo de torturas”.


Tens�o na capital federal

Vale muito a pena voltar no tempo para entender melhor essa hist�ria e compreender como e por que a tens�o foi crescendo na ent�o capital federal. “Vamos ver que o problema era bem maior do que a vacina, havia v�rias quest�es envolvidas”, observa a pesquisadora.



Conforme pesquisa da Casa de Oswaldo Cruz, em apenas um hospital da ent�o capital da Rep�blica, chegava a 1,8 mil o n�mero de pessoas internadas com var�ola. Mas o povo rejeitava a vacina, que era feita a partir de um l�quido de p�stulas de vacas doentes. Corria ent�o o boato de que quem se vacinava ganhava fei��es bovina. Qualquer semelhan�a com memes que 116 anos depois correm grupos de WhatsApp e se alastram em redes sociais sobre as pesquisas com imunizantes contra a COVID-19 n�o � mera coincid�ncia.

Vacina obrigat�ria no Brasil

No Brasil, o uso da vacina contra var�ola foi declarado obrigat�rio para crian�as em 1837 e para adultos em 1846. Mas a resolu��o n�o era cumprida. Em junho de 1904, Oswaldo Cruz, � frente da Diretoria-Geral de Sa�de P�blica, motivou o governo a enviar ao Congresso um projeto para reinstaurar a obrigatoriedade da vacina no territ�rio nacional.

Apenas quem comprovasse estar vacinado conseguiria contrato de trabalho, matr�cula em escola, certid�o de casamento, autoriza��o para viagem e outros documentos. Ap�s bate-boca no Congresso, a lei foi aprovada em 31 de outubro e regulamentada em 9 de novembro.

Foi a fa�sca que faltava para acender o fogo da revolta. O povo n�o aceitava ter as casas invadidas para tomar inje��o contra a var�ola e foi �s ruas protestar contra o governo do presidente Rodrigues Alves. Houve a��o tamb�m de for�as pol�ticas que queriam depor o presidente, t�pico representante da oligarquia cafeeira.

Charge de época mostra a revolta com a política do sanitarista Oswaldo Cruz, que ocupava cargo equivalente ao de ministro e liderou movimento pela imunização obrigatória (foto: Reprodução)
Charge de �poca mostra a revolta com a pol�tica do sanitarista Oswaldo Cruz, que ocupava cargo equivalente ao de ministro e liderou movimento pela imuniza��o obrigat�ria (foto: Reprodu��o)


Em 5 de novembro, foi criada a Liga Contra a Vacina��o Obrigat�ria. Cinco dias depois, a cidade era um tumulto s�: gritos de estudantes, repress�o policial, assalto a bondes, teatros fechados. Teve at� rebeli�o militar, com os cadetes da Escola Militar enfrentando tropas governamentais. Em menos de duas semanas, foram registrados 945 pris�es, 461 deportados, 110 feridos, 30 mortos.

A vacina��o continuava obrigat�ria, mas a lei era desrespeitada. Mais tarde, em 1908, uma crise sem precedentes na hist�ria da capital federal daria raz�o aos defensores da vacina. Naquele ano, o Rio de Janeiro foi atingido pela mais violenta epidemia de var�ola de sua hist�ria. O povo em sua maioria, ent�o, correu para ser vacinado.

Em um comparativo entre 1904 e 2020, a pesquisadora Tania Maria Fernandes ressalta que a melhor vacina – ent�o, como agora – � sempre a informa��o. “Hoje n�o temos uma revolta, mas um grupo de negacionistas da ci�ncia. No in�cio do s�culo 20, podemos dizer que havia um movimento contr�rio � obrigatoriedade de ser vacinado. Era grande o n�mero de pessoas sem informa��o, um quadro bem diferente de hoje”, afirma.

A verdadeira revolu��o

Para o diretor do Sindicato dos M�dicos de Minas Gerais, Andr� Christiano dos Santos, m�dico da fam�lia e comunidade, as vacinas vieram para revolucionar a hist�ria da medicina. “Foram uma das grandes conquistas que tivemos no mundo e fizeram a diferen�a para qualidade e tempo de vida da popula��o de maneira geral”, afirma.
O m�dico explica que a primeira vacina que se tem not�cia foi exatamente a desenvolvida contra a var�ola.

“Normalmente, elas s�o desenvolvidas para doen�as graves que causam grande impacto na popula��o e grandes morbidade e mortalidade. A import�ncia maior est� no aspecto de prote��o individual, mas tamb�m tem valor extremo para o coletivo. Quando diminu�mos a circula��o de v�rus e bact�rias respons�veis pela produ��o de doen�as, contribu�mos para a sa�de de todos.”

Infelizmente, acrescenta Andr� Christiano, h� no mundo atual movimentos anti-vacina que s� atrapalham a sa�de coletiva. “Geralmente t�m cunho individualistas e n�o conseguem enxergar o coletivo. Estamos enfrentando uma pandemia e na grande expectativa de desenvolvimento de uma vacina que possa frear essa doen�a (COVID-19) t�o grave que afeta todo o mundo.”


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