M�dica em Manaus relata avalanche de casos a partir de 24 de dezembro

Fernanda Soares, especialista em cl�nica m�dica e aten��o domiciliar, conta que nunca trabalhou tanto na vida quanto na �ltima semana. A m�dica acompanha pacientes acometidos pela COVID-19 desde mar�o, quando a doen�a chegou a Manaus, mas relata que a situa��o nunca esteve t�o cr�tica quanto agora: se antes 75% dos pacientes que atendia testavam positivo para o novo coronav�rus, neste in�cio do ano 99% dos casos que chegam a ela s�o da COVID-19.

"O boom come�ou em 24 de dezembro. Vinha muito paciente, uma avalanche", afirma. Agora, ela sente que os profissionais de sa�de est�o "enxugando o gelo", porque a demanda por leitos, cuidados e tratamentos � muito mais alta do que a capacidade de atendimento dos hospitais.

O colapso da sa�de na capital do Amazonas envolve hospitais p�blicos e particulares, al�m do abastecimento de equipamentos essenciais, como os tanques de oxig�nio. Os ox�metros de pulso, que medem a satura��o do paciente, s�o f�ceis de usar em casa e normalmente vendidos em farm�cia, tamb�m est�o em falta.

O oxig�nio � essencial, explica a m�dica, porque um paciente com inflama��o pulmonar — muito comum na COVID-19 — tem a entrada de ar comprometida. Doentes com outras enfermidades tamb�m precisam do equipamento, o que torna a crise de desabastecimento ainda mais grave.

"Me sinto impotente. O paciente me chama, mas na verdade o que ele precisa mais do que um m�dico � o oxig�nio", desabafa Fernanda Soares. Ela relata que a situa��o fica ainda mais grande porque pacientes jovens tamb�m t�m apresentado queda na satura��o e falta de ar, circunst�ncia bastante incomum.

A m�dica atribui a crise a dois fatores: o primeiro � a aglomera��o em espa�os p�blicos. Ela conta que as ruas de Manaus est�o mais cheias hoje do que estavam no in�cio da pandemia, em mar�o e abril. O outro fator � a presen�a de nova cepa do coronav�rus na cidade. Apesar dos estudos sobre a muta��o ainda serem poucos, ela acredita que a maior capacidade de transmiss�o tamb�m seja respons�vel pela situa��o na capital amazonense.

Em meio a hospitais trabalhando acima da capacidade e funer�rias lotadas, a m�dica narra tamb�m os impactos emocionais da crise nos moradores de Manaus. “Toda rua tem algu�m doente, em toda casa algu�m j� perdeu algu�m. Parece que [a doen�a] est� batendo na porta”, explica.

Durante live no Instagram do Correio Braziliense com media��o da jornalista Roberta Pinheiro, a m�dica Fernanda Soares mostrou tamb�m que � preciso manter o otimismo. Ela acredita que a cidade vai ser prioridade na vacina��o e que isso � um motivo de esperan�a. Fez ainda um pedido ao resto do Brasil: “Orem por n�s”.

A m�dica afirma que tem visto muitos casos de hip�xia (falta de ar) silenciosa, quando o paciente n�o reclama de falta de ar ou n�o apresenta fadiga durante dias. Isso pode comprometer o diagn�stico e o tratamento. Por esse motivo, Soares recomenda que os n�veis de satura��o sejam sempre acompanhados.

Uma dica da especialista � prestar aten��o �s orienta��es para fazer os testes de coronav�rus, j� que cada tipo de exame tem pr�-requisitos diferentes. Se o teste for feito no per�odo errado, pode apresentar resultado falso negativo. "Est� com sintoma? Se isole", indica a m�dica.

Outro alerta � para a sa�de mental: a parte psicol�gica de lidar com a crise tamb�m deve ser trabalhada. “Em Manaus, al�m dos pacientes com covid, todo mundo est� doente: ansioso, aflito, depressivo, assustado, assombrado”, diz. E orienta: "Se isolem, se cuidem, se previnam".