O que o Brasil aprendeu em 2021 com a vacina��o contra COVID-19
Segundo ano da pandemia termina com quase 70% da popula��o totalmente imunizada contra o coronav�rus, recuo na m�dia de mortes e incerteza sobre pr�ximas etapas
Avan�o da vacina��o no Brasil dividiu o ano em um semestre de colapso total nos hospitais e outro de reabertura (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A chegada de 2021 fez os brasileiros se agarrarem na esperan�a de come�ar o novo ano com uma vacina contra COVID-19 no bra�o, depois das milhares de vidas perdidas durante a pandemia em 2020. Na v�spera da chegada de 2022, o recado deixado pelo ano que se encerra � de que o avan�o da imuniza��o no Brasil foi fundamental para conter o avan�o do coronav�rus, aliviar as redes p�blica e privada de sa�de e permitir um retorno ao t�o falado novo normal, apesar dos mais de 423 mil mortos somente este ano para a doen�a, que matou quase 620 mil moradores do pa�s desde mar�o de 2020, e a ame�a da variante �micron.
O primeiro semestre de 2021 foi marcado por uma segunda onda preocupante de novos casos e mortes pelo novo coronav�rus no Brasil. Os sistemas de sa�de p�blica e privada de v�rias cidades entraram em colapso e n�o existiam vagas suficientes para suprir a demanda de novos pacientes. No auge da crise, o pa�s chegou a registrar m�dias m�veis de 77 mil novos casos e 3 mil mortes di�rias pela doen�a, o que fez o Brasil se tornar um epicentro da pandemia em mar�o.
Enquanto na Europa e nos Estados Unidos a imuniza��o iniciada em dezembro de 2020 avan�ava, o Brasil comemorou a aplica��o de sua primeira dose somente em 17 de janeiro. “O Brasil poderia ter come�ado antes, n�o fosse a in�rcia e a frivolidade do governo federal, em n�o querer comprar a vacina em tempo h�bil.
A Pfizer ofereceu, houve um boicote no in�cio ao Instituto Butantan. Mas a despeito destas posturas inadequadas, a vacina muito por conta do sistema p�blico de sa�de e pelo programa de vacina��o ela avan�ou e muito bem”, afirma o m�dico infectologista Una� Tupinamb�s, integrante do Comit� de Enfrentamento da Pandemia da PBH.
Em 18 de janeiro, a vacina chegou em Minas. A primeira vacinada em Minas contra COVID-19 foi a t�cnica de enfermagem Maria Bom Sucesso Pereira, a Cec�, de 57 anos. A passos lentos, seguindo o Plano Nacional de Vacina��o do Minist�rio da Sa�de e com escassez de doses, a imuniza��o avan�ou no estado e no pa�s entre os grupos priorit�rios, como profissionais da sa�de, idosos e pessoas com comorbidades.
Um ano e duas realidades
Na virada para o segundo semestre, a chegada de milh�es de unidades de imunizantes permitiu incluir praticamente toda a popula��o adulta brasileira na campanha e, no in�cio de setembro, muitos prefeitos e governadores comemoravam o fato de que praticamente 100% dos cidad�os acima de 18 anos j� haviam recebido ao menos a primeira dose contra o novo coronav�rus.
Com isso, as curvas dos indicadores da pandemia come�aram a cair, embora tenham se mantido em patamares muito elevados durante os meses de julho e agosto. Em Minas, por exemplo, julho encerrou com 155.670 novos casos e 4.002 mortes. Em agosto eram 93.052 novos infectados e 2.375 �bitos e, ao longo de setembro, as m�dias m�veis estavam na casa dos 14 mil novos casos e 500 �bitos por COVID-19, n�meros que chegam a ser seis vezes menores do que o registrado no pico da segunda onda.
"As pessoas que est�o se infectando agora s�o as que n�o foram ao posto de sa�de receber a segunda dose ou o refor�o"
Maria Bom Sucesso Pereira, t�cnica de enfermagem
O al�vio abriu caminho para que infectologistas come�assem a discutir sobre uma terceira dose da vacina, para evitar a contamina��o com as variantes Delta e Gama. Ainda em setembro, a medida foi concretizada. Primeira a ser vacinada em Minas, Cec� comemora a dose de refor�o que j� recebeu e se mostra esperan�osa com os resultados da imuniza��o.
“Tenho f� em Deus que isso vai passar. O que eu vejo nesses onze meses � uma melhora muito grande. As pessoas que est�o se infectando agora s�o as que n�o foram ao posto de sa�de receber a segunda dose ou o refor�o”, comenta a t�cnica de enfermagem.
E ela est� correta. De acordo com a plataforma Info Tracker, da Universidade de S�o Paulo (USP), entre 1° de mar�o e 15 de novembro de 2021, 79,7% das pessoas que morreram por COVID-19 no Brasil n�o haviam recebido nenhuma das doses da vacina. Ainda segundo a pesquisa, 81,7% dos indiv�duos internados com a doen�a neste per�odo n�o estavam vacinados. Desde mar�o, quando a segunda dose do imunizante passou a ser aplicada entre os brasileiros, as mortes pela doen�a despencaram 94%.
Primeira vacinada em Minas, a t�cnica em enfermagem Maria Bom Sucesso faz alerta para que popula��o n�o perca 2� dose e o refor�o (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
"Est�o esquecendo a segunda dose"
A t�cnica de enfermagem que recebeu a primeira dose de vacina contra COVID-19 em Minas diz que uma preocupa��o atual � fazer as pessoas entenderem a import�ncia de seguir o cronograma de imuniza��o. “� uma pena que todo mundo n�o esteja tendo a confian�a que eu tenho na vacina, porque tem muita gente que ainda n�o se vacinou. Est�o esquecendo a segunda dose, tomam a primeira e n�o voltam para a segunda. Se tomam a segunda, n�o querem tomar a terceira. � assim que estamos vivenciando esse ano”, lamenta.
A preocupa��o atual das autoridades de sa�de � com a variante �micron, identificada originalmente na �frica do Sul, e que tem se mostrado ser mais transmiss�vel. “Estamos ainda em um momento de cautela, n�o podemos desprezar esta variante. A Delta n�o causou o que imaginamos, em n�mero de casos de cont�gio e morte. Mas a �micron n�s precisamos de mais um tempo para ver qual vai ser seu impacto. Mas neste primeiro momento � avan�ar na vacina��o e tamb�m na terceira dose”, refor�a o infectologista Una� Tupinamb�s.
Incertezas sobre a �micron
Segundo ele, dependendo dos impactos desta variante mais recentes, o pa�s pode come�ar a avan�ar. “Os dados ainda s�o recentes, para a gente avaliar como vai ser esse comportamento. A partir da� a gente pode come�ar a prever uma fase de transi��o da pandemia para uma endemia. O que � endemia? Quando s�o poucos casos”, explica.
“Nas epidemias de H1N1 ocorreram cerca de 40 mortes por dia. Nas epidemias de H1N1, o Brasil n�o para, o mundo n�o para, as coisas ficam ‘normais’. N�s estamos em 200 (�bitos no Brasil) ainda, temos que baixar esta m�dia de morte por dia para um n�vel ‘aceit�vel’ para nos permitir um retorno sem grandes sobressaltos”, afirma.
Enquanto isso, as precau��es de Cec� devem ser seguidas. “Sempre estou alertando que n�o � o momento de abandonar as m�scaras e busco conscientizar o pessoal. Ainda mantenho o uso de �lcool em gel e evito ir a lugares com aglomera��o”, comenta. “Se a conscientiza��o da popula��o se mantiver, essa nova cepa n�o chegar� a n�s. E se chegar, vir� bem branda”.
Linha do tempo da vacina��o no Brasil em 2021
JANEIRO
A enfermeira M�nica Calazans foi a primeira moradora do Brasil a ser vacinada contra COVID-19, em 17 de janeiro, em S�o Paulo (foto: Nelson S�/AFP - 17/1/21)
Na primeira quinzena, o Brasil superava a marca de 200 mil mortes acumuladas por COVID-19 , enquanto Europa e EUA entravam no segundo m�s de imuniza��o. Em meio aos primeiros casos de novas cepas, Anvisa autoriza uso emergencial das vacinas CoronaVac e Astrazeneca e a enfermeira M�nica Calazans se torna, no dia 17, a primeira pessoa a ser vacinada no pa�s.
Vacina da Pfizer se torna a primeira a receber registro definitivo da Anvisa. Mesmo sem aprova��o t�cnica, o Minist�rio da Sa�de negocia a compra de imunizantes da R�ssia (Sputinik V) e da �ndia (Covaxin). Esta �ltima um dos estopins para a CPI da COVID. No fim do m�s, Brasil j� somava mais de 250 mil mortes um ano ap�s registrar o primeiro caso de infec��o, em fevereiro de 2020.
MAR�O
PF faz opera��o contra den�ncia de suposta compra ilegal e aplica��o de vacinas contra COVID-19 em garagem de �nibus em BH (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press - 26/3/21)
Minist�rio da Sa�de pede � Precisa Medicamentos a compra de mais 50 milh�es de doses da Covaxin, ainda sem autoriza��o da Anvisa. Bolsonaro escolhe Marcelo Queiroga para substituir Eduardo Pazuello no Minist�rio da Sa�de. Enquanto isso, investiga��o da Pol�cia Federal apura den�ncia de suposta compra e aplica��o ilegais de vacina feita por empres�rios em BH.
ABRIL
Uma comiss�o parlamentar de inqu�rito (CPI) � instalada no Senado para apurar eventuais irregularidades e omiss�es do Minist�rio da Sa�de e de governadores durante a pandemia de COVID-19. Em Belo Horizonte, a prefeitura suspende a vacina��o por falta de estoque, um impasse que provoca rusgas entre a o prefeito, Alexandre Kalil, e o governador, Romeu Zema.
MAIO
Anvisa emite nota t�cnica recomendando a suspens�o da vacina da Oxford/Astrazeneca para gr�vidas, alertando que a bula n�o recomendava o uso por gestantes sem orienta��o m�dica. O uso do imunizante em gr�vidas e pu�rperas sem comorbidades s� voltou a ser autorizado pela ag�ncia quase dois meses depois, depois que v�rios estados retomaram as aplica��es.
JUNHO
Primeiro dia de vacina��o da popula��o em geral contra COVID-19 em BH (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press %u2013 7/6/21)
No dia 7, BH inicia a vacina��o do p�blico em geral, a popula��o n�o inclu�da nos grupos priorit�rios. A primeira faixa et�ria foi a de moradores com 59 anos sem comorbidade. Nas filas de vacina��o, a sensa��o era de al�vio e questionamentos sobre a demora no envio dos imunizantes para as pessoas que n�o foram contempladas pelas etapas anteriores da campanha.
JULHO
M�s come�a com depoimento � CPI da COVID do PM mineiro Luiz Paulo Dominghetti, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply e relata suposto pedido de propina em negocia��o do Minist�rio da Sa�de por doses de vacina. Procuradoria-Geral da Uni�o pede abertura de inqu�rito para investigar se houve prevarica��o de Bolsonaro no caso Covaxin.
AGOSTO
Volta �s escolas em BH durante a pandemia avan�ou a partir de agosto de 2021 (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press %u2013 3/8/21)
Belo Horizonte come�a a vacinar moradores sem comorbidade que est�o na faixa et�ria dos 30 anos e se aproxima da imuniza��o da parcela mais jovem da popula��o. Enquanto isso, aulas presenciais nas escolas municipais retornam, assim como nas unidades de ensino da rede estadual da cidade para estudantes do 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do m�dio.
SETEMBRO
Brasil supera a meta m�nima de popula��o adulta totalmente vacinada contra COVID-19, estipulada pela OMS. Mais de 50 pa�ses naquele momento n�o tinham atingido a marca de 10%, a maioria deles localizados na �frica. No Brasil, mais de 42% de toda a popula��o estava completamente imunizada, atr�s da Uni�o Europeia (62%) e dos Estados Unidos (55%).
OUTUBRO
Final dos depoimentos na CPI da COVID foi marcado por relatos de parentes de v�timas do coronav�rus (foto: Pedro Fran�a/Ag�ncia Senado - 18/10/21)
A CPI da COVID apresenta o relat�rio final que sugere o indiciamento de 78 pessoas, entre elas o presidente Jair Bolsonaro, e duas empresas. O texto afirma que o governo federal agiu com o objetivo de expor os brasileiros ao cont�gio em massa, buscando a chamada imunidade de rebanho. O relat�rio incluiu um pedido de a��o no STF para afastar Bolsonaro das redes sociais.
Minist�rio da Sa�de anuncia dose de refor�o a todos com mais de 18 anos, inclusive de quem recebeu o imunizante Janssen. Enquanto isso, o Brasil ultrapassa os EUA na propor��o de pessoas completamente vacinadas e a descoberta de uma nova variante, a �micron, p�e o mundo em alerta e eleva barreiras sanit�rias em todo o mundo, especialmente na Europa.
DEZEMBRO
T�cnicos da Anvisa passaram a sofrer press�o e amea�as de morte ap�s libera��o para imunizar crian�as de 5 a 11 anos (foto: Marcelo Camargo/Ag�ncia Brasil - 17/12/21)
Anvisa aprova dose de vers�o pedi�trica da Pfizer para crian�as de 5 a 11 anos no Brasil e abre crise contra o Pal�cio do Planalto e o Minist�rio da Sa�de, contr�rios � medida. Caso chega ao Supremo, que d� prazo para o governo federal explicar o impasse. T�cnicos da ag�ncia s�o alvo de amea�as de morte e o Brasil fecha o ano com 90% do p�blico-alvo com ao menos uma dose.
*Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Rafael Alves
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