Livro faz viagem at� o s�culo 16 e inclui jogo para o leitor

Ao leito de morte, Dom Marcus da Beira da Ladeira, arqueduque da Cova da Beira, chama o filho Diogo e transmite o �ltimo conselho: heran�a material n�o h�, mas a hist�ria da vida dele poder� render-lhe alguma coisa. O filho se espanta. Afinal, o que de interessante a ser contado poderia haver na vida do pai, um engenheiro do Minist�rio da Marinha, que nunca sa�ra de seu escrit�rio? Ouve a r�plica de Dom Marcus: “Mas algu�m vai ter que colocar um ponto final na minha hist�ria. E esse algu�m s� pode ser eu”. Indica ao filho um amigo e mestre em “dar um sabor ao p�o bolorento”. .

Encorajado pelos sonhos do pai, Diogo, useiro em montar em seu quarto miniaturas de “navios, barcos, canoas, fragatas, corvetas, gale�es espanh�is e caravelas portuguesas”, embarca em sua pr�pria aventura. Se a vida t�o comum de Dom Marcus fora pela imagina��o transformada num turbilh�o de viagens fant�sticas, tamb�m a dele, a partir dali, seria digna de grandes notas. Diogo re�ne a tripula��o de amigos. Para sonhar juntos, embarcam na caravela Esquilo Voador, que se pretende situar no s�culo 16 – �poca dos grandes descobrimentos – a servi�o do rei de Portugal, dom Manuel I, cujo reinado se estende entre 1495 e 1521.

� no contexto desta viagem imagin�ria que os autores Marcus Nascimento e Jacqueline Guimar�es lan�am neste s�bado a obra infantojuvenil Nave ave vaga voa. As ilustra��es s�o de Maurizio Manzo. Este � o segundo trabalho reunindo Marcus Nascimento, Maurizio Manzo e Jacqueline Guimar�es. Em 2014, os tr�s criaram o �lbum de poeminhas, com poemas do Marcus impressos em figurinhas adesivas, no verso das quais, em vez da tradicional numera��o para a montagem, foram impressas palavras funcionais, como pronomes, artigos, preposi��es etc., encontradas nos diversos espa�os de colagem.

Contemplado pelo Fundo Municipal de Cultura, o projeto Nave ave vaga voa tamb�m se apresenta em livrouvido. “Tentamos desenvolver algo que estivesse entre as antigas novelas de r�dio e jograis e que pudesse possibilitar �s pessoas, principalmente �quelas com defici�ncia visual, uma aproxima��o diferente com as aventuras do Esquilo Voador na aus�ncia de imagens”, explica Jacqueline Guimar�es. No livrouvido, 18 pessoas d�o voz a 35 personagens que em diferentes momentos, tempos e espa�os saltam � hist�ria. Em refer�ncia a Pero Vaz de Caminha, o ator de voz Aggeo Sim�es, respons�vel pela grava��o e edi��o, interpreta o papel do escriv�o da caravela Esquilo Voador: narra a expedi��o.

Toda a hist�ria � ambientada com 13 m�sicas do compositor Guilherme Nascimento, extra�das de seu �lbum duplo M�sica de c�mara (2009). A partir dessas pe�as, que incluem forma��es camer�sticas e orquestra, foram extra�dos 82 trechos sonoros que funcionam como efeitos e como trilhas. O livro pode ser encontrado, em sua vers�o digital, no site naveave.com.br, projetado pelo programador S�rgio Mendes. Por entre caminhos e descaminhos dessa cruzada imagin�ria dos grandes descobrimentos, o tempo e o espa�o se atropelam em refer�ncias que pin�am pe�as do mosaico de eventos hist�ricos, espa�os geogr�ficos, obras de arte e livros que integram o cabedal de s�culos da enciclop�dia civilizat�ria.

Fragmentos aqui e acol� s�o reintegrados a uma narrativa que, ao observador bem-informado, sugeriria uma colagem non sense. Contudo, a ruptura do tempo e espa�o n�o apenas � permitida �s perip�cias da imagina��o de Diogo, mas, antes de tudo, � uma express�o da fragmenta��o dos repert�rios cognitivos cada vez mais intensa na era das grandes navega��es pela internet. A hist�ria passa �s est�rias, numa colagem desordenada.

“Como o acesso � informa��o � muito grande, criam-se refer�ncias sem linha, sem espa�o, sem tempo, porque se alcan�a qualquer informa��o na internet. Procuramos constituir um di�logo liter�rio com jovens que convivem com essas m�ltiplas realidades. Estamos no livro, por meio desse formato intencional, o tempo todo desafiando-os em suas refer�ncias”, explica Jacqueline Guimar�es.

Foi pesquisando linguagens que o livro Nave ave vaga voa tornou-se uma proposta mais ampla, afirma Jacqueline. “Acessando o site pelo celular ou computador, as pessoas podem ler o livro em sua vers�o digital ou ouvir a hist�ria no livrouvido sendo contada por seus personagens, como se fosse uma radionovela. H� tamb�m jogos de montagem de imagem, racha-cucas e uma s�rie de quizzes”, acrescenta a autora, lembrando que h� ainda um caderno para os leitores que queiram compartilhar as suas pr�prias hist�rias.

Dom Diogo – que do pai herdou certa “cultura e discernimento, refor�ados por alguns livros contrabandeados da Fran�a”, como Rousseau, Voltaire, Jacques-Yves Cousteau – dispara o brado em convite � viagem: “Me lan�o ao mar”. Entre “marinheiros e grumetes”, o narrador tamb�m se alista para que, “assim como Pero Vaz de Caminha”, torne-se o escriv�o da expedi��o de Dom Diogo, capit�o-mor do Esquilo Voador.

Entre o c�u e o mar, o mar e o c�u, passaram por esta aventura da Terra do Nunca ao Novo Mundo. “Os ventos, esses s�tiros muito safados, s�o imprevis�veis em seus humores e adoram vadiar por a�. Espalham palavras ao l�u. � prudente evit�-los, procurar um lugar � sombra, quieto como um deserto, tendo apenas um livro diante de si e seguir a desordem das palavras, do sem sentido da vida”, narram os autores. E era exatamente isso o que fazia dom Diogo, j� s�, ao final das andan�as, em “retorno” de onde partira, � improv�vel Cova da Beira: lia em sua casa a obra de �talo Calvino, As cidades invis�veis. Dela, toma emprestada a emblem�tica passagem: “Chegar� o dia em que o meu �nico desejo ser� partir. Sei que n�o devo descer at� o porto, mas subir o pin�culo mais elevado da cidadela e aguardar a passagem de um navio l� em cima. Algum dia ele passar�? N�o existe linguagem sem engano”.

E foi “acariciando as suas saudades do Brasil”, que Diogo “brinca com os seus pensamentos e as pe�as em miniatura de uma caravela chamada Nave Ave Vaga Voa”. O jovem navegante lan�a a sua �ncora ao futuro. “Mas vai pra frente. Empurrado pelo vento. Todo o resto fica para tr�s. Uma espuma. – Voltei para um lugar onde nunca estive antes, arremata o capit�o. Cova da Beira, 8 de novembro de 2089.”

. De Marcus Nascimento e Jacqueline Guimar�es 

. Ilustra��es: Maurizio Manzo

. Editora independente

. 88 p�ginas

. R$ 20 

. Vers�o digital: naveave.com.br

. Lan�amento: amanh� (23), a partir das 11h, na Quixote Livraria, na Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi, BH 

Marcus nascimento 

escritor          

A motiva��o inicial foi a partir de uma palavra: esquilo-voador. Essa palavra surgiu numa conversa que ouvi do meu filho com os colegas de escola. Achei intrigante, porque achava que n�o existia o animal. Comecei a viajar em torno da ideia e pensei que esquilo-voador poderia ser nome de um navio em que algumas crian�as iriam embarcar numa aventura imagin�ria, com uma tripula��o em caravela portuguesa do s�culo 16, �poca dos descobrimentos. Mais tarde, quando escrevia, vim a saber que existe o animal esquilo-voador. A Jacqueline Guimar�es entra como coautora em certa altura. Escrevemos pela Lei Municipal de Incentivo � Cultura. Enquanto esper�vamos a aprova��o, fomos mexendo no texto, o livro estava muito perdido em eventos, n�o tinha uma narrativa com fio da meada. Ela deu esse norte � narrativa, al�m de contribuir com o texto e ideias.

Estamos evitando estipular faixa et�ria. Foi pensado em princ�pio como livro infantojuvenil. Mas o livro tem v�rias refer�ncias a eventos hist�ricos, outros livros, autores, ent�o pode tamb�m interessar ao p�blico adulto. Al�m da primeira camada de aventura do livro, tem outras reflex�es de ordem liter�ria, metalingu�stica e existencial.

Est� na pr�pria palavra que deu origem ao livro, o esquilo-voador. A princ�pio, partiu-se da ideia que ach�vamos que era imagin�ria. De um animal imagin�rio. S� que no meio do caminho descobrimos que o animal existe. Mas colocaria a reflex�o sobre a import�ncia da fic��o dentro da realidade e a realidade dentro da fic��o. S�o dois universos que se misturam e s�o t�o reais, os dois se interpenetram e muito necess�rios para a vida da gente.

 

 

Pedro e os amigos est�o em volta de um mist�rio que assombra as planta��es de uma aldeia ind�gena. Ao conhecerem o curumim Ca�que eles ficam curiosos para descobrir o motivo dessas queimadas e dar um fim a elas. A partir da uni�o do grupo em busca de solucionar esse mist�rio � que se desenvolve a trama de O mist�rio da Mata da Alpineia – A chama do r�ptil, de Ari�lisson Freitas, de 32 anos, que lan�ou, em 2016, O mist�rio da Mata da Alpineia – La�os de sangue, primeiro volume da s�rie. O primeiro lan�amento da obra foi realizado em 21 de novembro. O segundo ser� amanh� (23). O livro sai pela P�ginas Editora.

A chama do r�ptil trabalha temas relacionados � natureza, bullying, fam�lia e amizades e � destinada ao p�blico infantojuvenil. Para criar as personagens, Ari�lisson pesquisou o folclore brasileiro, com a finalidade de construir o mundo fant�stico da Alpineia. “Eu fa�o parte de uma gera��o �rf� de Harry Potter, que teve contato com o S�tio do Picapau Amarelo na inf�ncia. Essas s�o as minhas principais refer�ncias, da� a vontade de escrever para o p�blico jovem”, explica o autor.

. De Ari�lisson Freitas

. P�ginas Editora

. 100 p�ginas

. R$ 36

. Lan�amento: amanh� (23), �s 14h, no Del�cias da Mari – Rua dos Atleticanos, 592,    Bairro Milion�rios, BH