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Estado de Minas LITERATURA

Montanhas de hist�rias, vozes e ideias em livro sobre os 300 anos de produ��o de literatura em Minas

Obra re�ne ensaios sobre movimentos, tend�ncias, grupos liter�rios e grandes autores nascidos no estado


25/09/2020 04:00 - atualizado 25/09/2020 08:42

Celebrar � gerar sentido. � expressar um modo de ser e de estar no mundo. � afirmar valores e escolhas. �, ainda, recusar o esquecimento e protestar contra a indiferen�a ou a ideia de que nada tem import�ncia. De comemora��es, rituais e s�mbolos � poss�vel extrair significados potentes, que ajudam a lidar com os desafios do presente e com as incertezas do futuro.

O tricenten�rio da autonomia pol�tica e administrativa de Minas Gerais n�o � uma data trivial. � hist�ria e mem�ria. Ponto para medita��o, merece ocupar as mentes e aquecer os cora��es daqueles que um dia nasceram em seu territ�rio ou dos que, de algum modo, se deixaram seduzir por seus encantos e mist�rios, identificando-se – ou intrigando-se – com a sua cultura e a riqueza de suas manifesta��es art�sticas. 

 

Exig�ncia da cidadania, lan�ar luz sobre os percursos trilhados em Minas e por Minas ao longo do tempo � gesto fundamental para a evolu��o das perspectivas sobre a sociedade que fomos capazes de levantar e a amplia��o de seus horizontes �ticos e est�ticos. � assim em qualquer �rea da atua��o humana. N�o seria diferente quando o assunto � a literatura que por aqui floresceu.

Complexo, o fen�meno liter�rio � enigma de decifra��o trabalhosa, a requerer pesquisa e empenho. Se, por d�cadas, ele irrompia sobretudo em alguns n�cleos beneficiados pela origem, a renda e a escolaridade, hoje, mais que nunca, permeia a experi�ncia de variados extratos da popula��o, estando por toda parte: nas aldeias, nos quilombos, nas comunidades, nas pris�es, nos becos e debaixo dos viadutos.

Fazendo ecoar vozes inesperadas, todas indispens�veis � escuta sens�vel da realidade, resulta na polifonia que Literatura mineira: trezentos anos pretendeu capturar, em 446 p�ginas, num painel em que a tradi��o e o contempor�neo dialogam em grande estilo.  

 

Sele��o abrangente          

 

Feita por Jacyntho Lins Brand�o,  professor em�rito da UFMG e meu confrade na Academia Mineira de Letras, a quem convidei para atuar como organizador, a sele��o dos temas e dos autores focalizados nos 30 ensaios do mencionado livro confirma o seu car�ter abrangente e inclusivo, atento ao ambiente multifacetado em que se insere, de que servem como exemplos os estudos sobre a literatura afrodescendente, ind�gena, marginal, er�tica.

A forma��o do grupo de especialistas tamb�m procurou dar visibilidade a diferentes institui��es universit�rias, tanto da capital quanto do vasto interior do estado, prestigiando, desse modo, o princ�pio da pluralidade.

 

Idealizado quando ainda presidia o BDMG Cultural, em janeiro de 2019, o volume surgiu da inten��o de olhar para os tr�s s�culos de Minas a partir do legado deixado pelos seus escritores e da vontade de divulgar massivamente tal contribui��o em formato capaz de sintetiz�-la e de comunic�-la a larga audi�ncia, em combate contra atitudes elitistas. Sua linguagem, por isso, � totalmente acess�vel, sem perder a precis�o e a corre��o t�cnica.

Como escrevi no texto de apresenta��o da obra, “(...) produto de interesse p�blico, este livro foi feito para habitar as salas de aula, as bibliotecas, os centros comunit�rios e os clubes de leitura de todos os cantos do Brasil. O seu destino � ganhar a estrada, sem limites, e inspirar a reflex�o, a cr�tica e as discuss�es entre alunos, professores e leitores – sejam quem forem, estejam onde estiverem – sobre esse importante patrim�nio de trezentos anos”.

 

Tais prop�sitos foram elegantemente honrados pela competente jornalista Gabriela Moulin, minha sucessora na dire��o do BDMG Cultural, e pelo novo presidente do banco, S�rgio Gusm�o Suchodolski, quando garantiram plena continuidade ao projeto do livro – que ganhou um belo projeto gr�fico, baseado nas cores de nossa bandeira inconfidente, e uma expressiva tiragem –, assim reconhecendo a sua dimens�o como fonte e documento hist�rico e os seus poderosos efeitos no meio social, assegurados tanto por meio da distribui��o gratuita da vers�o impressa quanto pela veicula��o integral de seu conte�do no s�tio do Instituto Cultural do Banco de Desenvolvimento, na internet. 

 

Artigo de primeira necessidade, direito de todos, recurso para educar, informar, alegrar e entreter, literatura � para consumo amplo, geral e irrestrito, exigindo acesso f�cil e democr�tico, como preveem as pol�ticas de apoio e incentivo � leitura, todas amparadas e estimuladas pelo nosso ordenamento constitucional.

N�o h� sociedade avan�ada que se oponha ou restrinja de algum modo a vigorosa circula��o dos livros pelos seus espa�os. Criar obst�culos ao trabalho de qualquer dos integrantes de sua cadeia produtiva, como as editoras ou as livrarias, � claramente militar contra a intelig�ncia, a raz�o iluminista e o progresso. Ler ensina a pensar. E a desconfiar. Ler � libertar-se, � manter a coluna ereta e a cabe�a erguida, na condu��o do pr�prio destino, sem submiss�o a nenhum senhor ou guru. � renovar a aposta no sonho da civiliza��o, hoje t�o agredida pela ignor�ncia, pela trucul�ncia, pela pervers�o e pela barb�rie.

 

*Rog�rio Faria Tavares � jornalista, doutor em literatura e presidente da Academia Mineira de Letras.

 

Em verso e prosa 

Os autores analisados em ensaios

 

  • Ad�lia Prado
  • Alphonsus de Guimaraens
  • Bernardo Guimar�es
  • Carlos Drummond de Andrade
  • Carlos Herculano Lopes
  • Cl�udio Manuel da Costa
  • Concei��o Evaristo
  • Guimar�es Rosa
  • Henriqueta Lisboa
  • J�lio Ribeiro
  • L�cio Cardoso
  • Murilo Rubi�o
  • Murilo Mendes
  • Pedro Nava 

 

Do particular ao universal

Jacyntho Lins Brand�o

Especial para o EM

 

O pensamento 65 de Pascal ensina: “Diversidade: uma cidade, um campo, de longe � uma cidade e um campo, mas � medida que algu�m se aproxima, s�o casas, �rvores, telhas, folhas, ervas, formigas, pernas de formigas, ao infinito”. Em consequ�ncia, quanto mais algu�m se afaste, mais perceber� como tudo isso pode “envelopar-se sob o nome de campo” ou cidade.

� essa experi�ncia de varia��o sucessiva de escalas que orienta a organiza��o de Literatura mineira: trezentos anos. Com enfoques variados, o leitor � convidado ora a contemplar amplas paisagens, ora a concentrar-se em aspectos bem espec�ficos, indo do campo a pernas de formiga e vice-versa.

 

A come�ar pela analogia num�rica: sendo imposs�vel abarcar em detalhe 300 anos, esse tempo reverbera no espa�o impresso de 30 ensaios. Como a pretens�o n�o foi que a obra constitu�sse uma hist�ria da literatura mineira ou algum tipo de enciclop�dia, a cada um dos autores foi dada liberdade de tratar do tema que lhe foi proposto como considerasse mais adequado. Esses temas dividem-se em dois blocos: de um lado, 16 estudos sobre �pocas, g�neros, tend�ncias, movimentos e estilos; de outro, 14 escritores abordados em trabalhos a eles inteiramente dedicados.

 

No primeiro bloco, o leitor encontrar� ensaios sobre grupos liter�rios, como o do Suplemento, sobre movimentos, como o Modernismo, e �pocas, como a literatura colonial, mais a abordagem da literatura de autoria feminina, afrodescendente, period�stica, ind�gena, marginal, infantojuvenil e er�tica, al�m de estudos sobre os g�neros cr�nica, romance, poesia, teatro e a pr�pria cr�tica liter�ria.

A isso se somam, na segunda parte, os textos dedicados a Concei��o Evaristo, L�cio Cardoso, Cl�udio Manuel da Costa, Alphonsus de Guimaraens, Pedro Nava, Murilo Rubi�o, Ad�lia Prado, Bernardo Guimar�es, Henriqueta Lisboa, J�lio Ribeiro, Guimar�es Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Carlos Herculano Lopes e Murilo Mendes.

 

No jogo de aproxima��o e distanciamento que a leitura de Literatura mineira prop�e, s�o passados em revista, alguns de maneira breve, outros de forma mais detida, mais de mil escritores, como se pode constatar do �ndice onom�stico que fecha o volume. Mesmo esse milhar, contudo, n�o � nem se pretende que seja a totalidade dos autores mineiros, mas se acredita que representem bem o legado de tr�s s�culos que se comemora.

Pode-se dizer que Literatura mineira constitui uma esp�cie de balan�o, como compete fazer nos momentos de contagem e comemora��o. Se a heran�a que nos cabe nesses 300 anos tem muito de lament�vel – gan�ncia, corrup��o, destrui��o da natureza, espolia��o das popula��es ind�genas, escravid�o, marginaliza��o, pobreza –, � preciso saber exercer o direito de escolher que tem todo herdeiro, descartando o que h� de negativo e elegendo o que tem valor, n�o s� para ressaltar o que h� de positivo, como para abrir perspectivas de renova��o para o futuro.

 

Nesse sentido, deve-se reconhecer que uma das partes mais valiosas da heran�a que nos cabe � justamente a literatura, inclusive porque permite refletir sobre o pr�prio conjunto de nossos males e bens tricenten�rios. Mais importante, ao permitir a cada um ver o mundo com os olhos de outro, a literatura impulsiona o percurso do particular ao universal, do mesmo ao diferente, da propriedade � diversidade.

 

Como na experi�ncia de Pascal (que agora, a um simples toque, se pode ter no googlemapas), do ponto de vista mais elevado o que vislumbra � esse amplo conjunto que, com justi�a, se pode denominar “literatura mineira”. N�o de uma perspectiva bairrista, como sin�nimo de mineirice, nem mesmo de mineiridade, mas como um modo pr�prio de se expressar no conjunto da literatura brasileira e da literatura universal.

Quanto mais se ajusta o foco, mais o leitor poder� acompanhar como cada �poca e cada autor processou a sua inser��o nesse espa�o mais amplo, desde os primeiros que buscaram imprimir em Minas alguma identidade, como Cl�udio Manuel da Costa ao cantar o Ribeir�o do Carmo, at� os que investem na subvers�o dessa mesma identidade, como faz Cacaso: “Mar de mineiro �/ inho/ mar de mineiro �/ v�o/ mar de mineiro � ch�o/ mar de mineiro � margem”.

 

Enfim, na rede que se tece entre escritores e ensa�stas, Literatura mineira pretende ser n�o s� um olhar que se lan�a para o passado e desenha um contorno, mas tamb�m uma proje��o voltada para o futuro, no sentido do que ensina Carlos Drummond de Andrade ao garantir que “as coisas findas/ muito mais que lindas/ estas ficar�o”.

 

*Jacyntho Lins Brand�o � escritor, tradutor e professor em�rito da UFMG

 

Literatura Mineira: 300 anos

 

Edi��o BDMG Cultural
446 p�ginas
Distribui��o gratuita para as bibliotecas p�blicas do estado.
O conte�do integral pode ser acessado gratuitamente no site bdmgcultural.mg.gov.br


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