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Estado de Minas COLET�NEA

Editora UFMG lan�a cole��o que reflete sobre os desafios dos continentes

Em seis volumes, cole��o 'Desafios globais' re�ne 130 autores que debatem a situa��o da �frica, Am�rica o Norte, Am�rica Latina, �sia-Pac�fico, Europa e �ndico


12/03/2021 04:00 - atualizado 12/03/2021 09:27

Mergulhada em velhos e novos desafios, com a vida pol�tica e econ�mica da maior parte de seus pa�ses colonizados por pot�ncias europeias sob a intimidadora presen�a de um gigante ao Norte, mas ao mesmo tempo ciente da ascens�o de uma nova pot�ncia ao Extremo Oriente, a Am�rica Latina se indaga qual � o grau de protagonismo que efetivamente cabe aos mercados emergentes na reconfigura��o da geopol�tica mundial.

A ascens�o da China, secundada por outros polos de poder e influ�ncia da �sia – �ndia, Jap�o, Coreia do Sul e Indon�sia – provoca o deslocamento do eixo pol�tico-econ�mico-militar e, por conseguinte, das rela��es internacionais – do Atl�ntico Norte para a Eur�sia.

Entre alinhamentos autom�ticos e sa�das aut�rquicas, h� espa�o para terceiras vias na pol�tica exterior? Eis a pergunta que se coloca aos latino-americanos. Em se tratando do Brasil, em que pese ser esperada maior cobran�a do vizinho democrata ao Norte em rela��o �s quest�es ambientais e de direitos humanos, h� converg�ncia entre republicanos e democratas sobre t�picos como a China e a Venezuela, o que imp�e � diplomacia brasileira o desafio de desenhar alternativa mais inteligente e equilibrada de pol�tica interamericana. 

Em cada regi�o do mundo, grandes e particulares s�o os grandes temas contempor�neos. No Oriente M�dio, a quest�o curda se soma ao dram�tico e longo conflito israelo-palestino em seu perverso desequil�brio de for�as. O barril de p�lvora � abastecido para a detona��o ora na S�ria, ora no L�bano – proxys da guerra dos interesses internacionais, principalmente dos Estados Unidos, Ar�bia Saudita, Israel, R�ssia e Ir�. 

Instabilidades pol�ticas e sociais n�o s� no Oriente M�dio, mas mundo afora, como na �frica e na Venezuela, produzem deslocamentos humanos em busca do fundamental direito aos meios de vida. A tem�tica das migra��es constitui o ponto de tens�o posta para a Europa e os Estados Unidos, com todo o seu potencial explosivo, � medida que abastece os movimentos de extrema-direita impulsionados pela ascens�o do ultranacionalismo.

Mais ao �ndico, ascende outro gigante, a �ndia, em suas contradi��es sociais profundas e economia em ritmo acelerado por novas tecnologias. Ao lado da China, mira outro futuro, em pesados investimentos na �frica. E quanto a ela? A ancestral �frica, continente de jovens, de s�culos futuros? Imersa em males ainda primitivos como a fome, a subnutri��o cr�nica e doen�as como a Aids, mal�ria e c�lera, ainda espoliada em suas diverg�ncias por conflitos, viol�ncias, instabilidade institucional, continua a enfrentar imensos desafios na travessia que, um dia, espera-se, alcan�ar� a Agenda 2063: a �frica que queremos. 

Ao lado dos desafios macrorregionais, o mundo converge para a m�e de todas as crises, a maior dos �ltimos 100 anos, a sanit�ria, e � crise econ�mica que dela deriva. Com estas, o globo tamb�m chacoalha com a pandemia dos fatos alternativos, que empurra a humanidade, em diferentes patamares, para o caos informacional. Tesouros do conhecimento acumulados pela civiliza��o s�o brutalmente questionados. A ci- �ncia e as universidades, atacadas. Busca-se quebrar a autoridade conquistada entre testes de hip�tese e avan�os para a humanidade. Em seu lugar, circulam os fatos alternativos, ao sabor dos interesses das megaplataformas que os financiam globalmente.

Nesse contexto, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) lan�a, pela Editora UFMG, a monumental cole��o “Desafios globais”, propondo-se a debater os desafios contempor�neos em diferentes macrorregi�es do planeta – �frica, Am�rica do Norte, Am�rica Latina, �sia-Pac�fico, Europa e �ndico. Seis s�o as �reas tem�ticas: sustentabilidade; sa�de e bem-estar; direitos humanos; novas tecnologias e fronteiras da ci�ncia; educa��o, cultura e arte; al�m da governan�a e regula��o. Tamanho esfor�o de compreens�o do mundo est� reunido nesta ampla produ��o de seis tomos, com mais de 2 mil p�ginas, 130 autores – com enfoques variados –, de 30 pa�ses, para a constru��o do conhecimento.

Organizada pelos professores Aziz Tuffi Saliba, da Faculdade de Direito da UFMG, e Dawisson Bel�m Lopes, diretor-adjunto de rela��es internacionais da UFMG, al�m de massiva presen�a de acad�micos, alguns tomadores de decis�o – como o ex-subsecret�rio-geral das Na��es Unidas Shashi Tharoor, o ex-secret�rio-geral da UNCTAD Rubens Ricupero e os ex-ministros brasileiros Celso Amorim e Nilma Lino Gomes – contribu�ram com os volumes. 

“A proposta editorial da cole��o consiste, fundamentalmente, em fazer discuss�o adensada e plural de alguns dos principais problemas contempor�neos enfrentados pela humanidade, valendo-se da expertise instalada, por interm�dio dos inovadores Centros de Estudos Regionais, tanto na UFMG quanto em suas mais de 450 institui��es parceiras em 60 pa�ses ao redor do mundo”, assinala a reitora, Sandra Goulart Almeida, ao prefaciar a obra.  � a obra da diversidade de valores, dos olhares, dos enquadramentos, na constru��o do conhecimento em di�logo sobre os desafios contempor�neos. 

A seguir, uma entrevista com os organizadores: Dawisson Bel�m Lopes e Aziz Tuffi Saliba (professores e organizadores da cole��o “Desafios globais”)

(foto: Foca Lisboa)
(foto: Foca Lisboa)
Aziz Tuffi Saliba e Dawisson Belém Lopes: professores da UFMG e organizadores da coleção(foto: Márcio Bonfim)
Aziz Tuffi Saliba e Dawisson Bel�m Lopes: professores da UFMG e organizadores da cole��o (foto: M�rcio Bonfim)


H� em curso no mundo uma cruzada para desacreditar institui��es focadas na produ��o do conhecimento, cruzada essa que se utiliza amplamente de fatos alternativos para questionar inclusive o repert�rio civilizacional do conhecimento acumulado, provocando um caos informacional. Esse � um desafio global?

Dawisson – Esta � uma articula��o global que pretende atingir os nossos reposit�rios de conhecimento, tesouros historicamente conquistados. � tamb�m uma forma de lidar com a verdade factual em manipula��o tamb�m �s regras do jogo democr�tico, para operar com narrativas descoladas do estrato emp�rico. E essa postura detratora em rela��o �s universidades, aos meios de imprensa, � a tentativa de operar registro pr�prio alternativo.

Isso conseguimos observar nas seis cole��es das v�rias partes do mundo. � um grande tema global, como enfrentar a verdade.  A ci�ncia quer ser uma produtora de narrativas verdadeiras sobre o mundo ao redor. Quando convidamos cientistas acad�micos e tamb�m outros perfis de autores, mas majoritariamente acad�micos, para dizer coisas sobre o mundo, estamos cruzando vis�es na expectativa de encontrar um denominador comum a essas vis�es, que possa nos conduzir com mais seguran�a sobre a verdade.

Estamos na verdade jogando no time dos que est�o buscando proteger a integridade dos fatos, das narrativas precisas, e � tamb�m o time do bom jornalismo. Este projeto tem o m�rito de reconectar vis�es e pessoas, colocando-as juntas numa mesma dire��o para defender o tesouro do conhecimento acumulado pela humanidade, conquistado a duras penas. 

Aziz – A p�s-verdade � um outro modo de se referir � mentira. E na atualidade, naturalizou-se a distor��o dos fatos, passando a equaliz�-la como diverg�ncia de opini�o. Temos dois fen�menos, face de uma mesma moeda. Por um lado, nas bolhas de intera��o se recrudescem as posi��es, principalmente atrav�s da reafirma��o constante das ideias. E n�o raramente as bolhas trabalham com informa��es enviesadas e com informa��es completamente falsas: v�o desde um modo peculiar de ver as coisas at� a mentira deslavada.

N�o se trata da simples diverg�ncia. Essa tem papel salutar em diferentes esferas, como nos aponta o constitucionalista norte-americano Cass Sunstein na obra “Why societies need dissent”. A empresa que tem em seu board a diverg�ncia ter� ganhos maiores. O divergente tem um custo para expressar a sua opini�o. Mas faz com que os que est�o convergindo tenham de mudar os argumentos e avaliar a abordagem por outros �ngulos. Essa salutar diverg�ncia tem sido, atualmente, substitu�da por troca de insultos com risco para as rela��es pessoais e para a democracia.

Com o advento da internet, as pessoas recebem um volume de informa��o infinitamente maior do que a sua capacidade de process�-las. E est�o recebendo as informa��es de fontes nem sempre confi�veis. H� uma equaliza��o de um trabalho profissional com a de um blogueiro que escreve sobre tudo. As pessoas passam a dar o mesmo valor e em suas bolhas n�o colhem mais as informa��es que antes tinham acesso em geral de meios de comunica��o profissionais. Isso tem levado a essas dificuldades para as rela��es pessoais, para a sa�de e at� para a democracia.

A ci�ncia, em busca da verdade, est� sempre levantando hip�teses e procurando confirm�-las ou refut�-las a partir de um m�todo pr�prio, investigativo. Qual � o ponto de corte dessa busca, aquele ponto em que o conhecimento � dado como pacificado e passa a n�o ser aceit�veis as explica��es e vers�es alternativas do tipo “a terra � plana”?

Dawisson – Precisamos fazer um mergulho na hist�ria da ci�ncia, nas ci�ncias da vida, ci�ncias naturais, que t�m mais facilidade em operar consensos cient�ficos amplos. A verdade evolui, mas h� pontos de partida s�lidos. Einstein voc� n�o vai questionar do in�cio. Voc� pode questionar residualmente e a ci�ncia d� sentido ao avan�ar para o estado da arte. Nas ci�ncias humanas n�o h� problema em voltar dois mil anos e revisar o pensamento. Mas o que estamos vendo � que mesmo nas ci�ncias naturais, algumas funda��es s�o questionadas, como a condi��o esf�rica do planeta, a lei da gravidade, grandes ideias que estruturam o pensamento cient�fico universal. 

Aziz – A ci�ncia tem um m�todo que foi constru�do ao longo de s�culos. � falha e est� sempre testando e retestando hip�teses, o que traz certa perplexidade para alguns, porque ouvem de m�dicos e cientistas uma informa��o em rela��o a qual �poca pode ter havido consenso, mas depois pode ter sido reformulada. Mas com toda as suas falhas, a ci�ncia � o melhor m�todo de descobrir a realidade. Ainda n�o conseguimos um m�todo melhor. � uma vela na escurid�o. A vela n�o ilumina tudo, mas � aquilo que vai ajudar a humanidade a atravessar aquele caminho. A ci�ncia � isso. N�o vai nos revelar de uma vez tudo o que est� ao nosso redor. 

O que elegeria como o maior desafio da humanidade hoje?

Dawisson – Hoje, temos um desafio que � a pandemia. � claramente uma conjuntura muito especial que chega aos quatro quadrantes e atinge todo o mundo. Mas h� desafios de fundo, estruturais, muito s�rios. N�o vou me ater a um. Os temas de sustentabilidade e do meio ambiente e a forma como nos relacionamos com o meio ambiente ganharam em relev�ncia. S�o temas que nos obrigam a inventar solu��es para que continuemos a habitar este planeta. Os �ngulos s�o muitos para explorar essa tem�tica. Por exemplo o manejo do lixo e dos res�duos s�lidos comparece em mais de um volume desta cole��o.

Estamos produzindo muito lixo, impactando o meio, e n�o temos solu��o efetiva pelo momento. As queimadas, a forma como estamos ceifando a biodiversidade, aparecem tamb�m. Ao mesmo tempo, temos a seguran�a alimentar: teremos de alimentar popula��o de 8,5 bilh�es de pessoas em 2030. A maior parte das pessoas com fome est�o em zonas mais empobrecidas, como a �frica, a Am�rica Latina, o Sul da �sia. Temos de lidar ao mesmo tempo com o desafio enorme de levar desenvolvimento a essas partes do mundo, mas ao mesmo tempo controlar o impacto que uma industrializa��o acelerada traz sobre o meio ambiente.

Mas h� tamb�m temas relativos �s institui��es, � governan�a e � regula��o que s�o muito centrais na cole��o: a tarefa de encontrar institui��es que possam canalizar os esfor�os da humanidade, nos conduzir por sendas de mais prosperidade, isso � muito dif�cil. E temos visto, sob a perspectiva da democracia, a ascens�o de autoritarismos, quebras democr�ticas, golpes de Estado.

Aziz – Neste momento, o principal desafio de todos n�s � o enfrentamento da pandemia, que ter� de ser global, n�o tem como ser local, j� que as diferentes muta��es do v�rus podem inclusive colocar em risco as popula��es daqueles pa�ses que as tiverem extirpado em seu territ�rio. � o principal desafio da humanidade desde a Segunda Guerra Mundial. Mas para al�m da pandemia, diria que o maior desafio � a p�s-verdade. Al�m desta, destaco outros desafios relevantes, como mudan�a clim�tica ou concentra��o de renda.

E por v�cio de forma��o, eu tamb�m apontaria a inseguran�a jur�dica. Avan�amos em rela��o � outrora, mas institui��es ainda produzem resultados discrepantes do que se esperaria num exame objetivo das regras vigentes. E a previsibilidade das rea��es institucionais � um aspecto fundamental para a liberdade e para o desenvolvimento. Podemos imaginar, equivocadamente, que se trata de um problema nacional, mas o exame global nos mostrar� o contr�rio.

Ao lado das narrativas calcadas em fatos alternativos, o mundo assiste tamb�m � dissemina��o da ideologia antiglobalista. Que risco isso traz para o equil�brio internacional?

Dawisson – A campanha antiglobalista contra a diplomacia global, contra os f�runs internacionais, � muito s�ria, pois podemos perder plataformas de coordena��o. Se n�o houver a ONU e a OMS, como vamos colocar todos os pa�ses numa sala para coordenar o enfrentamento �s quest�es globais? E o custo da descoordena��o � alt�ssimo. Essas estruturas que temos hoje – ONU, FMI, OMC, Otan, OEA –, todas elas v�m no rescaldo da Segunda Guerra Mundial. Foi necess�rio o trauma enorme para que a humanidade se desse conta de que seriam necess�rias essas estruturas de coordena��o global. Numa grande pandemia, vimos a OMS sendo questionada em seus prop�sitos, em suas motiva��es. Dois grandes feixes sustentabilidade e governan�a. 

Aziz – Como quase todos os temas relevantes de nosso tempo, o antiglobalismo –  nacionalismo ou anticosmopolistimo – funda-se em alguns fatos, como a mudan�a de empresas para outros pa�ses e a consequente perda de empregos e, tamb�m, muitas falsas narrativas. Muitas dessas narrativas descredenciam o importante papel de organiza��es multilaterais, �s vezes por incompreens�o, outras por m�-f�. Por exemplo, pol�ticos brit�nicos se valeram de informa��es manifestamente falsas para conduzir o Reino Unido ao Brexit, mergulhando o pa�s numa das maiores crises pol�ticas de sua hist�ria contempor�nea.

Do mesmo modo que outrora alguns colocaram na conta da Organiza��o Mundial de Com�rcio a perda de empregos, assistimos, agora, � aloca��o de responsabilidade pela pandemia para a Organiza��o Mundial da Sa�de. Em certos grupos pol�ticos, � comum ouvir que a ONU pretende ser um governo mundial. Em todos esses processos, a legitimidade de organiza��es multilaterais – e �s vezes do pr�prio Estado – foi arranhada.

“Desafios globais” 
.Organizadores: Aziz Tuffi Saliba e Dawisson Bel�m Lopes
.Editora UFMG
.Edi��o digital gratuita a partir de hoje no site www.ufmg.br/dri/desafiosglobais
.Os volumes podem ser acessados separadamente. 
.Edi��o impressa prevista para maio, com pre�o a definir.

Os continentes em cada volume

Am�rica Latina
Um dossi� da Am�rica Latina, mergulhada em velhos e novos desafios. Com a estimulante pergunta “O que se entende por Am�rica Latina?”, Dawisson Bel�m Lopes, Manoel Leonardo Santos e Aziz Tuffi Saliba, que organizaram e apresentam a colet�nea, instigam � leitura dos 13 artigos, elaborados por 26 autores de diferentes institui��es acad�micas e expertise. O que os 22 pa�ses – que tiveram singular trajet�ria de liberta��o de seus co- lonizadores, Espanha e Portugal – t�m em comum?

Quais as for�as da globaliza��o que incidem sobre as heterog�neas sub-regi�es da assim chamada Am�rica Latina? Como pa�ses e sociedades com tantas diferen�as e tamb�m semelhan�as transitaram das ditaduras ao final do s�culo passado para a redemocratiza��o? Como se reestruturam as institui��es e as economias? E, de fato, qual � o grau de protagonismo que efetivamente cabe aos mercados emergentes? A sustentabilidade energ�tica puxa a agenda nesta regi�o rica em recursos f�sseis e que, ao mesmo tempo, ostenta a maior participa��o de fontes renov�veis em sua matriz energ�tica quando comparada a outras regi�es do mundo.

As quest�es administrativas e fiscais dos Estados nacionais premidos por desigualdades sociais que, a essas respondem com a amplia��o do estado de bem-estar social e pol�ticas sociais de redu��o das desigualdades; o federalismo e a autonomia dos entes subnacionais, minados pelo centralismo autorit�rio; o acesso universal � sa�de; e a educa��o no contexto da constitui��o dos sistemas educacionais e desenvolvimento dos pa�ses s�o igualmente desafios abordados na obra, assim como, em se tratando de tecnol�gico e governan�a institucional, a experi�ncia do Sistema Geod�sico de Refer�ncia (Sirgas, po- sitivamente retratada.

Europa
A ascens�o da China, secundada por outros polos de poder e influ�ncia da �sia – �ndia, Jap�o, Coreia do Sul e Indon�sia – levou ao deslocamento do eixo pol�tico-econ�mico-militar e, por conseguinte, das rela��es internacionais – do Atl�ntico Norte para a Eur�sia. Essa � a met�fora que sintetiza o c�mbio de hegemonia, for�ando os pa�ses do mundo, e em particular a Europa, a se reposicionar no plano internacional, apontam Aziz Tuffi Saliba, Dawisson Bel�m Lopes e Jamile Mata Diz, organizadores deste volume.

A tem�tica das migra��es � um importante desafio posto, com todo o seu potencial explosivo, � medida que abastece os movimentos de extrema-direita numa Europa amea�ada pela ascens�o do ultranacionalismo. Mas h� tantos outros, perpassados pelas fronteiras tecnol�gicas e a sustentabilidade, que impactam o Velho Continente, cujo substrato acalenta as no��es de direitos humanos, da opini�o p�blica, da civilidade e do racionalismo, que, segundo os autores que apresentam a obra, mereceram do historiador Robert Darnton a defini��o: “A Europa �, de fato, um estado de esp�rito”. 

�sia-Pac�fico
A por��o oriental da �sia – que se conecta com a Oceania – em suas sub-regi�es do Nordeste Asi�tico – China, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Jap�o, Mong�lia e o extremo leste da R�ssia – e do Sudeste Asi�tico, alcan�ando ainda a Austr�lia, a Nova Zel�ndia e as diversas ilhas soberanas do Pac�fico Sul, � o espa�o geogr�fico objeto desta colet�nea. Regi�o colonizada e explorada pelo Ocidente – num processo hist�rico que legou defasagens em rela��o ao Ocidente que pareciam insuper�veis –, foi a partir da Segunda Guerra Mundial que este bloco asi�tico deu in�cio � retomada em dire��o � tese de sua “irrefre�vel marcha” rumo ao protagonismo mundial, conforme assinalam Dawisson Bel�m Lopes, B�rbara Malveira Orfan� e Aziz Tuffi Saliba, que organizaram e apresentam o volume.

Sejam nos investimentos na educa��o de seus povos, o que permitiu a guinada da Cor�ia do Sul, Jap�o e China; seja por fatores econ�micos e tecnol�gicos – com redes produtivas articuladas e associadas �s pol�ticas p�blicas de investimentos industriais, tecnol�gicos e cient�ficos –, o Extremo Oriente e o Sudeste asi�tico alcan�am vantagens competitivas no com�rcio internacional de bens intensivos em capital e conhecimento. Aos �ndices tecnoecon�micos do Leste e Sudeste asi�tico soma-se o poderio militar e estrat�gico dos pa�ses banhados pelo Pac�fico. � em meio a muitos desafios – como o ambiental e marcadamente no campo dos direitos humanos – que essa regi�o reconfigura o centro de gravidade do poder mundial, fato que est� a exigir maior representa��o asi�tica nos organismos internacionais multilaterais. 

Am�rica do Norte
Os Estados Unidos e o Canad� t�m o foco principal neste volume. Considerados “g�meos siameses” por Dawisson Bel�m Lopes, Arist�teles G�es-Neto e Aziz Tuffi Saliba, autores que organizaram e apresentam-no, comungam da coloniza��o europeia, das popula��es origin�rias, da plurietnicidade, do hist�rico de imigra��o em massa, da influ�ncia da religi�o crist� protestante, da base idiom�tica da anglofonia e das bordas territoriais, al�m de ter economias estruturalmente conectadas e o meio acad�mico –cient�fico, indissoci�vel. Apesar de partilhar tantas similaridades com os Estados Unidos, � com o Brasil que o Canad� comunga um atributo determinante: ambos t�m as suas vidas pol�tica e econ�mica entrela�adas e potencialmente � sombra do outro gigante de dimens�o continental.

Os autores chamam a aten��o para o fato de o Brasil e o Canad� ensaiarem nos �ltimos 15 anos maior aproxima��o em torno do principal elemento, que constitui a possibilidade de assinatura do Acordo de Livre-com�rcio Canad�-Mercosul este ano. Assim como a Europa, o Canad�, e sobretudo os Estados Unidos, t�m sido t�m sido destinos pre- ferenciais dos migrantes que buscam meios de vida, tornando este um desafio permanente. A este, soma-se a sa�de p�blica resultante de escolhas sociais pr�vias, e, tamb�m, em desdobramento da pandemia, a contamina��o da economia dos dois pa�ses, superando as expectativas iniciais mais pessimistas.

Mas entre os in�meros desafios que enfrentam, est� o ambiental, com o registro de que a regi�o � ber�o de movimentos negacionistas do aquecimento global, e s�o frequentes as batalhas entre cientistas favor�veis e contr�rios �s hip�teses cient�ficas do ambientalismo.

�ndico
Ber�o de tr�s das maiores religi�es da Terra – hindu�smo, budismo e sikhismo –, a refe- r�ncia territorial imediata para o �ndico � o Sul da �sia, conceito geogr�fico que usualmente cobre Bangladesh, But�o, �ndia, Maldivas, Mianmar, Nepal e Paquist�o. Gigante do �ndico, de economia que cresce em ritmo acelerado e alcan�a relev�ncia em novas tecnologias, como intelig�ncia artificial e a rob�tica, e em n�o t�o novas, como a explora��o do espa�o sideral, a �ndia vive tamb�m, nas palavras de Dawisson Bel�m Lopes, Eduardo Bastianetto e Aziz Tuffi Saliba, autores que organizam e apresentam o volume, as suas “afli��es de grande magnitude”.

Entre essas est� a tens�o com o Paquist�o em torno da Caxemira, zona mais militarizada do mundo. Mas o �ndico tamb�m alcan�a o Oriente M�dio, tanto na acep��o do oceano que se encontra com o Mar Ar�bico como no entendimento mais amplo, de espa�o de fluxos. Dessa forma, este volume aborda o Grande �ndico, tratando de uma ampla faixa do Isl�, em que a religi�o mu�ulmana penetra e se faz hegem�nica.  Zona lim�trofe entre Europa, �frica e �sia, o Oriente M�dio notabiliza-se pelos conflitos de cunho �tnico-religioso com ra�zes profundas, a� inclu�da a “quest�o curda” e o longo conflito israelo-palestino, que, com a guerra de 2008/2009, contribuiu para o retorno de uma direita radical em Israel, representada pela coaliz�o articulada pelo partido Likud, de Benjamin Netanyahu.

Na vertente institucional, � fr�gil o equil�brio pol�tico nessa regi�o, sobretudo a partir da chamada Primavera �rabe, quando revoltas de grandes propor��es iniciadas em 2010 expuseram a falta de solidez de regimes antes considerados irremov�veis, por meio de uma revolta difusa, sem l�deres e sem ideologia clara, mas de dimens�o transnacional, com forte atua��o das redes sociais e da m�dia. 

�frica
�frica diversa. As muitas �fricas est�o delimitadas pela literatura em categorias regionais tamb�m adotadas pela Uni�o Africana: �frica do Norte, Costa Ocidental, Costa Oriental, Central e do Sul. Intr�nseca a todas elas, a vari�ncia de dar vertigem, registram Aziz Tuffi Saliba, Dawisson Bel�m Lopes e Marcos Ant�nio Alexandre, organizadores do volume em sua apresenta��o.

O continente ancestral, tamb�m chamado “jovem continente” por guardar 40% de sua popula��o menor de 15 anos – preferido de arque�logos e antrop�- logos, ao mesmo tempo em que frequentemente secundarizado na geometria do poder da pol�tica internacional –, se debate entre imensos males. Os autores enumeram: “AIDS, mal�ria, c�lera, subnutri��o cr�nica e outras doen�as sobrecarregam rotineiramente os sistemas de sa�de p�blica; pobreza extrema, desigualdade, corrup��o, baixos �ndices de industrializa��o e de urbaniza��o, subdesenvolvimento e mazelas afins conformam um cen�rio economicamente insatisfat�rio; d�ficits de educa��o, democracia e seguran�a resultam em descontrole e m� governan�a”.

Em comum neste diverso mosaico continental est� a aspira��o por desenvolvimento econ�mico:  este, no topo da pauta das li- deran�as africanas, cientes de que China e �ndia, que respondem entre 6% e 12% das exporta��es locais, com investimentos maci�os na regi�o, jogam um papel central no porvir, expresso na persistente ideia do pan-africanismo, associado � Agenda 2063: a �frica que queremos, adotada pelos chefes de Estado e de governo presentes � 24ª Assembleia Geral da Uni�o Africana, em janeiro de 2015.


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