
Se �s 8h46 de 11 de setembro de 2001, quando o voo 11 da American Airlines colide com a Torre Norte do World Trade Center havia d�vidas se seria um acidente, 17 minutos depois, quando o segundo avi�o atinge a Torre Sul, essa hip�tese era descartada. �s 9h37, o terceiro voo desviado que parte do aeroporto internacional de Dulles se lan�a contra o Pent�gono. E �s 10h03, o voo 93 da United Airlines cai em Shanksville, na Pensilv�nia. As certezas, agora, prevaleciam: era um atentado de propor��es jamais vistas.
“O 11 de Setembro subverte de forma violenta um conjunto de expectativas da d�cada de 90 em rela��o � lideran�a inequ�voca dos Estados Unidos na geopol�tica internacional. A partir dali, fica clara a percep��o de que o pa�s era vulner�vel; e que mesmo aquele com o maior ex�rcito, com o maior investimento militar, com a maior economia, a maior capacidade cient�fica e acad�mica instalada, estava exposto � a��o de grupos rudimentares, sem grande ac�mulo de recursos, que, mesmo assim, com intelig�ncia, estrat�gia, atacou o cora��o financeiro e militar dos Estados Unidos”, considera o professor Dawisson Bel�m Lopes, da Faculdade de Filosofia e Ci�ncias Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diretor-adjunto de Rela��es Internacionais da UFMG.
Guerra Fria fora, entra em cena a Guerra ao Terror. Sob a perspectiva geopol�tica, o 11 de Setembro gesta um novo antagonista aos Estados Unidos: a guerra cultural, civilizacional, travestida de combate ao terrorismo, ocupa o superado cen�rio internacional da Guerra Fria, que reduziu o mundo ao confronto bipolar entre americanos e russos – sustentado pelo embate entre dois modelos econ�micos e sistemas pol�ticos, o liberalismo econ�mico e poder do livre mercado versus o socialismo e o planejamento estatal, afirma Dawisson Bel�m Lopes. Um novo antagonista emerge para os EUA.
“N�o somente pelas raz�es necess�rias de combat�-lo, mas como instrumento de pol�tica externa”, avalia o professor de Rela��es Internacionais Danny Zahreddine, diretor do Instituto de Ci�ncias Sociais da PUC Minas e l�der do grupo de pesquisa Oriente M�dio e Magreb (GOMM). “A luta contra o terrorismo passa a ser, para os Estados Unidos, tamb�m uma pol�tica de inser��o internacional e uma pol�tica de interven��o”, pontua Danny Zahreddine. Acrescenta Dawisson Bel�m Lopes: “A justificativa para os grandes choques dali em diante � o enfrentamento entre uma vis�o de mundo moderna e uma vis�o pr�-moderna, de reivindica��o de algumas tradi��es e de um certo conservadorismo, at� de um arca�smo que era simbolizado pela Al-Qaeda”.
“N�o somente pelas raz�es necess�rias de combat�-lo, mas como instrumento de pol�tica externa”, avalia o professor de Rela��es Internacionais Danny Zahreddine, diretor do Instituto de Ci�ncias Sociais da PUC Minas e l�der do grupo de pesquisa Oriente M�dio e Magreb (GOMM). “A luta contra o terrorismo passa a ser, para os Estados Unidos, tamb�m uma pol�tica de inser��o internacional e uma pol�tica de interven��o”, pontua Danny Zahreddine. Acrescenta Dawisson Bel�m Lopes: “A justificativa para os grandes choques dali em diante � o enfrentamento entre uma vis�o de mundo moderna e uma vis�o pr�-moderna, de reivindica��o de algumas tradi��es e de um certo conservadorismo, at� de um arca�smo que era simbolizado pela Al-Qaeda”.
Em nome da “guerra ao terror”, os Estados Unidos invadem o Afeganist�o, um dos pa�ses mais pobres do mundo, derrubam o Talib� e d�o seguimento ao conflito – em um pa�s afundado em guerras, � �poca, h� mais de duas d�cadas – que se estenderiam, com a nova invas�o, por outros 20 anos. Mas h� outros desdobramentos diretamente associados a 11 de Setembro. “O combate ao terrorismo foi utilizado para a��es em v�rios pa�ses, o principal deles o Iraque. Em 2003, os Estados Unidos invadem o Iraque, ca�am Saddam Hussein, matam-no, e quem ganha for�a? Os iranianos.
Mais de 60% da popula��o iraquiana � xiita. Saddam Hussein, que representava a minoria sunita de um quarto da popula��o, segurava a a��o dos radicais xi- itas e sunitas”, explica Danny Zahreddine. Ao alijar sunitas do poder no Iraque, por um lado, cresce a influ�ncia do Ir� sobre o vizinho a partir do maior contato entre as comunidades xiitas dos dois pa�ses; por outro lado, com o est�mulo da Al-Qaeda sobre o ressentimento sunita, nasce o Estado Isl�mico. “Esse novo ator constitui-se dentro da perspectiva jihadista mais radical, como um novo e importante foco de instabilidade para a regi�o”, avalia Danny Zahreddine.
Mais de 60% da popula��o iraquiana � xiita. Saddam Hussein, que representava a minoria sunita de um quarto da popula��o, segurava a a��o dos radicais xi- itas e sunitas”, explica Danny Zahreddine. Ao alijar sunitas do poder no Iraque, por um lado, cresce a influ�ncia do Ir� sobre o vizinho a partir do maior contato entre as comunidades xiitas dos dois pa�ses; por outro lado, com o est�mulo da Al-Qaeda sobre o ressentimento sunita, nasce o Estado Isl�mico. “Esse novo ator constitui-se dentro da perspectiva jihadista mais radical, como um novo e importante foco de instabilidade para a regi�o”, avalia Danny Zahreddine.
Em poucos anos, o Estado Isl�mico – que em princ�pio se chamava Al-Qaeda do Iraque – se fortalece, chega a controlar dois ter�os do territ�rio iraquiano e igual propor��o do territ�rio s�rio, explica Danny Zahreddine. “Onde h� enfraquecimento do poder estatal, o Estado Isl�mico entra. Por isso, a Primavera �rabe, que a partir de 2010, da Tun�sia, se alastra pela Arg�lia, L�bia, Marrocos, chega � S�ria em 2011, onde vai resultar numa d�cada perdida em guerra, cat�strofe humanit�ria, movimentos migrat�rios for�ados, que tamb�m carreiam instabilidade ao vizinho L�bano”, avalia o especialista em Oriente M�dio e Magreb.
O caos da regi�o, que tamb�m se espalha pelo Sud�o e I�men, � o retrato da desola��o. Danny Zahreddine lembra que, na S�ria, se em princ�pio a inten��o dos Estados Unidos era derrubar Bashar Hafez al-Assad – o que promove o alinhamento da R�ssia ao campo oposto, em apoio ao governo s�rio –, quando avalia o fortalecimento do Estado Isl�mico muda o foco para o combate ao grupo radical. “Nesse momento, os Estados Unidos tamb�m est�o no Iraque, junto aos curdos, no combate ao Estado Isl�mico; assim como tamb�m as mil�cias xiitas, com o apoio iraniano, atuam no Iraque com o mesmo prop�sito”, afirma.
O caos da regi�o, que tamb�m se espalha pelo Sud�o e I�men, � o retrato da desola��o. Danny Zahreddine lembra que, na S�ria, se em princ�pio a inten��o dos Estados Unidos era derrubar Bashar Hafez al-Assad – o que promove o alinhamento da R�ssia ao campo oposto, em apoio ao governo s�rio –, quando avalia o fortalecimento do Estado Isl�mico muda o foco para o combate ao grupo radical. “Nesse momento, os Estados Unidos tamb�m est�o no Iraque, junto aos curdos, no combate ao Estado Isl�mico; assim como tamb�m as mil�cias xiitas, com o apoio iraniano, atuam no Iraque com o mesmo prop�sito”, afirma.
A jornalista Simone Duarte, mestre em rela��es internacionais e autora de “O vento mudou de dire��o: o Onze de Setembro que o mundo n�o viu” (Editora F�sforo), assim resume a guerra americana contra o Afeganist�o, apresentada ao mundo nas dram�ticas imagens da retirada das tropas de Cabul: “Os Estados Unidos levaram 20 anos, US$ 1 trilh�o e quatro presidentes para substituir o Talib� pelo T00alib�. Come�ou uma guerra desnecess�ria, uma ocupa��o estrangeira num pa�s de cultura tribal, que tem a tradi��o de n�o ser subjugado por for�a estrangeira – derrotou o Imp�rio Brit�nico tr�s vezes, derrotou o imp�rio sovi�tico numa guerra que se tornou palco da Guerra Fria, em que os mujahedins, �rabes que vinham de outros pa�ses, foram treinados e financiados pela CIA”, sustenta.
“O Afeganist�o est� com 43 anos seguidos de guerra, os �ltimos 20 anos com ocupa��o estrangeira liderada pelos Estados Unidos, e na verdade o talib� nunca deixou de existir. Estava dentro h� muito tempo, inclusive com pleno controle de diversas regi�es do pa�s. A maior parte dos afeg�os se sente enganada, porque de todo o trilh�o de investimento, esse dinheiro chegou muito pouco para a maior parte do pa�s. Houve muita corrup��o”, conclui ela.
“O Afeganist�o est� com 43 anos seguidos de guerra, os �ltimos 20 anos com ocupa��o estrangeira liderada pelos Estados Unidos, e na verdade o talib� nunca deixou de existir. Estava dentro h� muito tempo, inclusive com pleno controle de diversas regi�es do pa�s. A maior parte dos afeg�os se sente enganada, porque de todo o trilh�o de investimento, esse dinheiro chegou muito pouco para a maior parte do pa�s. Houve muita corrup��o”, conclui ela.
