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Estado de Minas GUERRAS

'Vietn�: uma trag�dia �pica' exp�e marcas que voltam � tona na Ucr�nia

Livro do jornalista brit�nico Max Hastings mostra os detalhes da guerra que acabou com cerca de tr�s milh�es de vidas


18/03/2022 04:00 - atualizado 17/03/2022 22:33

Crianças vietnamitas
Crian�as vietnamitas correndo por uma estrada ap�s ataque com Napalm, em um vilarejo perto de Saigon (foto: UPI/ Divulga��o 6/8/1962)
“Viver � muito perigoso.” Publicado em 1956, “Grande sert�o: Veredas”, um dos maiores cl�ssicos da literatura brasileira, continua provocando in�meras reflex�es. Possivelmente, Jo�o Guimar�es Rosa, mineiro de Cordisburgo, estaria assustado com o momento em que vivemos. � verdade que a vida quer da gente coragem, mas tanto assim? Depois de dois anos de muita tristeza e apreens�o provocadas pela COVID-19, a expectativa era de que as coisas entrassem novamente nos eixos. Afinal de contas, gra�as � vacina��o, os n�meros de casos e �bitos provocados pela doen�a come�aram a cair. Por�m, logo em seguida, com o mundo ainda convalescente, a R�ssia decidiu invadir a Ucr�nia. Uma guerra pand�mica em um planeta doente.

Assim como no surgimento do novo coronav�rus, quando as pessoas queriam saber o que havia provocado o in�cio do surto da doen�a e quais poderiam ser as melhores formas de prote��o, agora as d�vidas passaram a ser sobre os motivos que levaram o presidente russo Vladimir Putin a iniciar uma invas�o ao territ�rio ucraniano. Entre as quest�es apontadas por especialistas est�o a poss�vel ades�o da Ucr�nia � Otan, a alian�a militar de 30 pa�ses liderada pelos EUA, e o desejo de Putin em restabelecer a zona de influ�ncia da extinta Uni�o Sovi�tica. Enquanto isso, imagens de m�sseis, tanques de guerra e bombas, paralelamente ao desespero de milhares de refugiados que buscavam abrigo em outros pa�ses, s�o divulgadas pelos ve�culos de imprensa e nas redes sociais.

Infelizmente, a lista de conflitos recentes n�o � pequena. Ainda est� fresca na mem�ria a tomada de Cabul, capital do Afeganist�o, organizada pelo grupo Talib�. As guerras do Iraque, da S�ria e da B�snia tamb�m s�o exemplos de crises da hist�ria contempor�nea. Se pesquisarmos mais a fundo, veremos que, nas �ltimas d�cadas, o homem, sistematicamente, vem recorrendo �s armas para “resolver” seus problemas. H� cerca de 70 anos, por exemplo, o padr�o se repetia: come�ava a Guerra do Vietn�, que se estenderia por muito tempo. O livro “Vietn�: uma trag�dia �pica”, do jornalista brit�nico Max Hastings, lan�ado no Brasil pela editora Intr�nseca, mostra com riqueza de detalhes o que estava por tr�s de todo esse problema na regi�o.

“Stop, com Rolling Stones / Stop, com Beatles songs / Mandado foi ao Vietn� / Lutar com vietcongs.” Na d�cada de 1990, a vers�o brasileira da m�sica “Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones”, interpretada pela banda ga�cha Engenheiros do Hawaii, foi um grande sucesso em todo o pa�s. A letra fala de um jovem convocado para servir aos EUA na guerra e que acaba morrendo. Artistas como Bob Dylan, Marvin Gaye, Jim Morrison e John Lennon tamb�m gravaram m�sicas sobre a guerra. Agora, sem os solos de guitarra, mas com a mesma empolga��o, Max Hastings contextualiza em uma �nica obra todo aquele conflito, que provocou a morte de, aproximadamente, tr�s milh�es de pessoas.

Tudo come�ou com a Guerra da Indochina, quando vietnamitas ligados ao Vietminh, um movimento revolucion�rio, lutaram contra as tropas francesas para colocar fim ao dom�nio colonial dos europeus na regi�o. Anos depois, com a Confer�ncia de Genebra, ficou estabelecida a independ�ncia do Vietn�, um pa�s pobre do Sudeste Asi�tico, formado por montanhas, florestas e arrozais. O territ�rio foi dividido em dois: a capital do Norte era Han�i, aliada � Uni�o Sovi�tica. A do Sul, Saigon, alinhada aos EUA. A ideia era que elei��es fossem realizadas em 1955 para a unifica��o definitiva do pa�s, mas a grande rivalidade entre as duas partes deu in�cio a um novo conflito: a Guerra do Vietn�.

O ex�rcito norte-vietnamita era composto por guerrilheiros vinculados � Frente Nacional de Liberta��o, conhecidos como vietcongues, os soldados regulares enviados pelo governo e o apoio da Uni�o Sovi�tica. Os sul-vietnamitas tamb�m tinham muitos combatentes, al�m da ajuda de tropas americanas, que ainda ofereciam armas e treinamento. Os dois grupos carregavam caracter�sticas ditatoriais, onde eram frequentes as viola��es aos direitos humanos. Para ilustrar toda essa batalha, o autor apresenta em “Vietn�: uma trag�dia �pica” v�rios relatos emocionantes de guerrilheiros, paraquedistas, estudantes e soldados narrando a situa��o pol�tica da �poca, o que permite ao leitor mergulhar profundamente em toda a hist�ria.

Obviamente, qualquer cen�rio de guerra � cruel, mas o Vietn� tamb�m apresentava dificuldades peculiares. No ver�o, as temperaturas chegavam aos 49°C e a umidade relativa do ar a 85%. Os homens sofriam muito por causa de doen�as como a mal�ria e o berib�ri, eram v�timas de �lceras e ins�nias cr�nicas. A alimenta��o sempre foi extremamente prec�ria, muitas das vezes apenas ab�bora, espinafre e bananas. Mosquitos, sanguessugas, lacraias e cobras atacavam os dois lados, enquanto soldados febris com roupas encharcadas guerreavam com tiros de AK-47, AR-15 e M-16.

Família fugindo da guerra
Fam�lia fugindo pelas ruas de Nang, em meio a um tiroteio entre guerrilheiros e soldados sul-vietnamitas (foto: Revista O Cruzeiro/Acervo Estado de Minas-17/2/1968)

Destrui��o da natureza

Houve, tamb�m, a destrui��o sistem�tica da natureza com finalidade t�tica. Ao todo, cerca de 20 milh�es de gal�es de desfolhantes foram despejados na Indochina, quase metade contaminada com dioxina, “o agente laranja”, produto qu�mico altamente t�xico. O objetivo era privar os comunistas de rotas de comunica��o na selva, especialmente nos manguezais ao longo do Rio Saigon. Mas a perversidade n�o parava por a�: al�m de ataques com g�s lacrimog�neo, granadas e bombas, o napalm, gel composto por l�quido inflam�vel que gruda na pele, foi muito utilizado durante a guerra no pa�s.

“� noite, a floresta era um sem-fim de solu�os e uivos carregados pelo vento. Dava para ouvir p�ssaros gritando como seres humanos. Eles jamais voavam, apenas gritavam entre os ramos. E em nenhum outro lugar era poss�vel encontrar brotos de bambu de cor t�o horr�vel. Aqui, quando escurece, as �rvores e plantas gemem em espantosa harmonia. Quando come�a essa m�sica fantasmag�rica, a alma fica transtornada. N�o � um lugar para medrosos”, disse um soldado do ex�rcito norte-vietnamita.

O abuso de drogas era um problema que afligia, sobretudo, os mais jovens. Devido ao grande sofrimento, muitos deles se tornavam alco�latras. Sabendo disso, milhares de adolescentes americanos passaram a criar estrat�gias para evitar o recrutamento. A corrup��o era end�mica no Vietn� do Sul, onde redes de falsifica��o acabaram se institucionalizando. “Tudo, de cimento a congeladores, ve�culos, armas e muni��o estava � venda.” A promo��o por m�rito, tanto no Ex�rcito quanto na vida civil, era praticamente imposs�vel. Oficiais ficavam d�cadas no mesmo cargo por falta de influ�ncia ou de dinheiro.

A guerra custou aos EUA algo pr�ximo de US$ 150 bilh�es, bem menos do que a do Iraque duas gera��es depois. Por�m, o verdadeiro pre�o n�o foi pago em dinheiro, mas com o trauma que ela causou. “Muita gente morreu em troca de nada. Todos os monumentos de guerra homenageiam vit�rias. O Vietnam Memorial comemora tristeza e desperd�cio”, diz o jornalista Neil Sheehan. � imposs�vel falar dessa guerra sem lembrar a fotografia de terror e desespero protagonizada por uma menina nua, com o corpo queimado, e que fugia, ao lado de outras crian�as, dos efeitos de uma bomba qu�mica. A d�vida agora �: qual imagem angustiante ficar� da guerra na Ucr�nia? 

TRECHO

“O comandante do Corpo de Fuzileiros Navais lamenta profundamente informar que seu filho faleceu em 2 de junho de 1968. Ele foi ferido por estilha�os de um bombardeio a�reo amigo que n�o acertou o alvo. Seus restos mortais ser�o preparados, encaixotados e despachados sem qualquer custo para os senhores, acompanhados de um escolta, para um funer�ria ou cemit�rio nacional de sua escolha. Al�m disso, os senhores ser�o reembolsados por gastos n�o superiores a quinhentos d�lares com despesas de funeral e sepultamento. Por favor, informem ao Corpo de Fuzileiros Navais, por telegrama a cobrar, os seus desejos nesse sentido.” No fim daquele ano, milhares de telegramas desse tipo tinham sido recebidos nos Estados Unidos.


Vietn�: uma trag�dia �pica 1945 -1975
 
• De Max Hastings
 
• Tradu��o de Berilo Vargas
 
• Editora Intr�nseca
 
• 848 p�ginas
 
• R$ 79,90 (impresso) 
 
• R$ 27,48 (e-book)
 
livro
(foto: Amazon/Reprodu��o)
 


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