
A novidade chega quase 15 anos ap�s Rosana come�ar a publicar livros para crian�as e jovens. Durante uma reflex�o, a editora percebeu a necessidade de ter um foco espec�fico na publica��o de hist�rias que celebrem as literaturas afro-diasp�rica, afro-brasileira, africana e ind�gena.
"Este ano, a Lei 10.639/2003, que estabelece o ensino de hist�ria e cultura afro-brasileira, africana e ind�gena na educa��o b�sica, completa 20 anos. Achamos oportuno nos juntar aos esfor�os decoloniais da literatura brasileira e latino-americana", afirma Rosana.
As publica��es que inauguram o selo s�o "O rouxinol da mam�e" (Mama's Nightingale), de Edwidge Danticat, com ilustra��es de Leslie Staub, e "Um dia feliz", da professora doutora belo-horizontina Patr�cia Santana, com ilustra��es de Carol Fernandes.

As contadoras de hist�rias e escritoras Madu Costa, Sandra Lane, Anna Lirah, al�m da pr�pria Rosana, apresentam um conto cada uma. Al�m delas, comp�em o espet�culo o percussionista Babu Xavier e o bailarino afro e core�grafo Evandro Passos.
O novo selo coroa os 15 anos da Aletria. O embri�o da editora foi em 2005, como uma escola de forma��o de contadores de hist�rias. S� em 2009 que Rosana e a filha, Juliana Flores, come�aram a publicar livros de literatura infantil e juvenil.
O primeiro livro foi um sucesso. "Bichos", de Ronaldo Sim�es Coelho, com ilustra��es e projeto gr�fico de ngela Lago, ganhou v�rios pr�mios como o da Funda��o Biblioteca Nacional e da Funda��o Nacional do Livro Infantil e Juvenil. A obra tamb�m constou no c�lebre cat�logo "White Ravens" da Biblioteca de Munique, e foi divulgado na Feira do Livro Infantil de Bolonha, na It�lia. Atualmente, s�o mais de 120 t�tulos no cat�logo e diversas premia��es.
"Se quisermos atingir um outro degrau civilizat�rio, temos de investir na leitura, temos de formar leitores de boa literatura. Esse excesso de telas n�o ajuda a criar adultos pensantes, com apurado senso cr�tico. Pelo contr�rio, pode fragilizar as pessoas e afast�-las da vida real. Por isso aprender a ler, a praticar o que chamamos de 'leitura de fundo', � t�o importante. A leitura, de fato, abre portas para um novo mundo. Os pais que sonham com um futuro melhor para seus filhos devem incentivar, dar exemplo e investir mais em livros do que em telas. O futuro pertence aos leitores", conclui Rosana.
SERVI�O
Lan�amento do selo Alegri� e espet�culo "Mama �frica: contos afro-brasileiros"
Dia: S�bado (30/9)
Hor�rio: 14h
Hor�rio: 14h
Local: Teatro Santo Agostinho (Rua Aimor�s, 2679, Lourdes)
Gr�tis, com retirada de ingressos no Sympla.

ENTREVISTA
Rosana de Mont'Alverne
Se pudesse resumir a proposta do selo Alegri� em algumas palavras/frases, quais seriam?
R.: O Brasil � predominantemente preto. Ent�o, que os pretos contem suas pr�prias hist�rias. E quem melhor do que os povos origin�rios para contar os mitos de cria��o da nossa terra? O eurocentrismo, por s�culos, desqualificou o pensamento dos sujeitos coloniais. Agora, � tempo de permitir novas formas de contar e recontar as hist�rias, agregando valores e conhecimentos dos povos negros e ind�genas. Essa � a proposta da Alegri� para promover um di�logo mais plural e diverso com a sociedade e os povos que formam a hist�ria do Brasil.
Quais s�o os desafios de trabalhar com livros nos dias de hoje?
R.: � como a velha hist�ria do vendedor de sapatos que chega num pa�s onde ningu�m usa sapatos. Ele liga para o chefe e diz que vai voltar porque ali quem ia querer sapatos? O chefe manda outro vendedor que, ao constatar a situa��o, liga dizendo: "Chefe, tenho uma �tima not�cia! Aqui ningu�m usa sapatos! Vamos bater o recorde de vendas!" Trabalhar com livros no Brasil � mais ou menos assim: aqui metade da popula��o nunca abriu um livro sequer. Ent�o, h� tudo por fazer, e um p�blico leitor imenso a ser formado. Por isso � t�o importante elegermos governos nas tr�s esferas de poder - municipal, estadual e federal - que invistam em pol�ticas p�blicas para o livro, a leitura, a literatura, as bibliotecas, livrarias, editoras, enfim, que ajudem a fortalecer o mercado editorial, a formar mediadores de leitura e realizar feiras liter�rias por todo o pa�s. Est� mais do que provado que s� o livro de papel ajuda a fixar o conhecimento. Um estudo da pesquisadora Naomi S. Baron, professora em�rita de Lingu�stica da American University, aponta que quando lemos textos impressos - seja em livros, revistas, jornais etc - nossa mente ret�m mais informa��es do que ao ler um texto em dispositivo digital, como um smartphone ou notebook, por exemplo. O secret�rio de estado da Educa��o do governo de S�o Paulo recentemente voltou atr�s na decis�o de recusar os livros do PNLD e distribuir material digital. Se quisermos atingir um outro degrau civilizat�rio, temos de investir na leitura, temos de formar leitores de boa literatura.
O lan�amento do novo selo marca os 15 anos da Aletria. Qual a lembran�a mais importante que voc� destaca?
R.: Esses 15 anos foram intensos e desafiadores. Teve uma �poca que est�vamos no buraco. N�o t�nhamos um �nico real para publicar livros e dispensamos os funcion�rios (ficamos s� minha filha e eu numa salinha alugada na Pra�a Sete). Est�vamos � espera de um milagre. Um belo dia entrou na nossa sala uma mo�a muito elegante, linda, parecia uma miragem. Ela se apresentou e nos falou que ngela Lago havia dito a ela que se quisesse um livro bonito, que procurasse a Aletria. N�s amamos o texto dela, pedimos uma ilustradora que admiramos para fazer as ilustra��es e mandamos imprimir uma "boneca" (express�o que damos a uma r�plica do livro antes da impress�o final). Saiu o edital do Ita� "Leia para uma Crian�a" e s� t�nhamos aquela "boneca" para inscrever. Enviamos sem esperan�as, mas inscrevemos o livro. Afinal, grandes editoras de todo o pa�s inscrevem milhares de t�tulos nesse edital. Algum tempo depois, recebo uma mensagem de WhatsApp. Era minha filha:
- M�e!!!
- N�o vem com mais not�cia ruim...
- N�o, m�e!!! O Ita�, m�e!!!
- Que que tem o Ita�?
- Nosso livro foi escolhido!!!
- N�o brinca com essas coisas que eu infarto...
- � s�rio, m�e!!! Escolheram o "Tatu Bal�o"!!!
- Quantos exemplares? Uns cem mil exemplares? J� d� pra gente come�ar a acertar umas contas...
- N�o, m�e!!! Senta pra n�o cair...
- Fala logo, menina!
- M�e, nosso livro vai estrelar a campanha do Ita� Leia para uma Crian�a! Vendemos 2 milh�es e 200 mil exemplares, m�e!
E foi assim que o livro "Tatu Bal�o", texto de S�nia Barros, ilustra��es de Simone Matias, chegou �s m�os de crian�as no Brasil inteiro. S� mesmo um "tatu" pra tirar a Aletria daquele buraco.